terça-feira, 4 de julho de 2017

Crítica: Três Reis | Um Filme de David O. Russell (1999)


Após o final da Guerra do Golfo Pérsico, entre comemorações e inexpressivos relatos jornalísticos obtidos pela jornalista Adriana Cruz (Nora Dunn), um pequeno grupo de soldados americanos comandados pelo Major Archie Gates (George Clooney), junto com os soldados, Troy Barlow (Mark Wahlberg), Elgin (Ice Cube) e Conrad Vig (Spike Jonze) se aventuram pelo deserto do Iraque com um mapa que eles acreditam que os levará a uma reserva de ouro escondida que foi roubada durante a invasão do Kuwait pelas tropas iraquianas. A missão ilícita que a principio seria apenas uma espécie de sigilosa caça ao tesouro, os conduz a uma série de descobertas inesperadas que levanta alguns questionamentos morais e indispensáveis ações heroicas. “Três Reis” (Three Kings, 1999) é um drama de guerra escrito e dirigido por David O. Russell (responsável por filmes como “O Vencedor”, de 2010; “O Lado Bom da Vida”, de 2012 e “Trapaça”, de 2013). Numa válida tentativa de reinvenção da roda que o grande público cedeu ao esquecimento, David O. Russell não desperdiça tiros para compor seu conto cômico de guerra que se mostrou um dos melhores filmes do fim da década de 90. Lançando um olhar bastante original sobre a guerra do Oriente Médio, até então pouco explorada pelo cinema, “Três Reis” conseguiu de um modo bastante criativo ser divertido e deixar a sua mensagem.

Durante muito tempo filmes como “Nascido para Matar”, “Apocalipse Now”, “Platoon” e “O Resgate do Soldado Ryan”; e diretores de reputação conhecida como Stanley Kubrick, Francis Ford Coppola, Oliver Stone e Steven Spielberg mostraram que a guerra nunca teve muito espaço para retratações criativas. Desde então havia um método definido que sempre foi respeitado e seguido religiosamente, como o conflito a ser retratado. Durante muito tempo a Segunda Guerra e o Vietnã serviram em sua maior parte como à única inspiração para o cinema de guerra. David O. Russell ignorou as regras e lançou sua visão nada convencional do que foi a Guerra do Golfo. Ousado, divertido e imponderado, a trama arquitetada por Russell consegue sempre apresentar uma surpresa para o espectador. Seu material é uma solução exclusiva; a ausência de disputas bélicas, cenas de sanguinolência descontrolada e atos performáticos de heroísmo são deixados de lado, para ser sobreposto por cenas amargas que entram em contraste com piadas politicamente incorretas (a cena onde a vaca é usada como exercício de guerra é tão hilária quanto chocante). Russell acerta no equilíbrio e obtêm do elenco ótimas performances. Destaque para o trio de soldados que formaram um grupo excelente e bem entrosado. Embora nos bastidores o filme tenha sido um verdadeiro campo de batalha também (George Clooney e o diretor estiveram em constantes conflitos durante as filmagens) é curioso como isso não atrapalhou ou pelo menos não se mostrou perceptível no resultado final. 

Três Reis” é um pioneiro no que diz respeito à retratação da Guerra do Oriente Médio. Mas seu pioneirismo também abrange outros aspectos, pois logo no início do filme há um aviso familiarizando o espectador sobre algumas características das imagens (sobre o formato de tela usado nas filmagens e a saturação das cores) de tão incomum que era uma adoção estética dessas para uma produção dramática de guerra. Pessoalmente vi isso como uma espécie de quebra de tabu. Sobretudo, “Três Reis” funciona muito bem em vários aspectos, sem glorificar atos de guerra e enaltecendo as virtudes da natureza humana com bom humor e bastante originalidade. É divertido e consegue ser um interessante retrato dos acontecimentos da primeira invasão dos Estados Unidos no Iraque no início da década de 90. 

Nota:  8,5/10

2 comentários:

  1. É um ótimo filme e como você bem citou, o diretor David O. Russell foge do esquema drama de guerra para criar uma obra cínica e até divertida.

    Abraço

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    1. Gosto do clima desprendido que prevalece nesse filme. Ao mesmo tempo não reduz sua importância a longo prazo.

      Abraço

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