quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Crítica: A Entrevista | Um Filme de Seth Rogen e Evan Goldberg (2014)


Alguns filmes fazem muito barulho por nada. Certos filmes em fase de pré-lançamento acabam ganhando muito mais notoriedade perante a mídia do que às vezes é merecedor. E isso é em função de alguns aspectos polêmicos que envolvem sua produção. O cinema está repleto de exemplos desse fenômeno, onde após uma olhada mais concisa do público e da crítica se acaba chegando a esse remate. E esse é o caso de “A Entrevista” (The Interview, 2014), uma comédia estadunidense politicamente incorreta, a qual o roteiro de Dan Sterling (com base na história criada por Sterling, Seth Rogen e Evan Goldberg) e direção conjunta de Seth Rogen e Evan Goldberg, os espectadores podem chegar a essa conclusão. Em sua trama acompanhamos o produtor de um famoso programa de entrevistas, Aaron Rapaport (Seth Rogen) e seu popular entrevistador, Dave Skylar (James Franco). Mesmo com o programa fazendo muito sucesso, Aaron não está satisfeito com o nível de seu trabalho e anseia por conferir mais relevância ao programa. E quando descobrem que o temido ditador norte-coreano Kim Jong-um (Randall Park) aprecia o programa, a dupla busca fazer uma entrevista com ele. Curiosamente o ditador aceita o convite, e a CIA aproveita a inusitada situação elabora um destemido plano conjunto com os dois para envenenar o ditador e por fim a ameaça nuclear que Kim Jong-um oferece aos Estados Unidos. Mas de cara, Skylar e o ditador já viram amigos, o que se mostra o começo de uma série de confusos que a CIA nem imaginava que poderiam acontecer.


A Entrevista” conheceu a fama antes mesmo de ser lançado. A comédia ganhou abrangência mundial, após cair em conhecimento público de estar fazendo um retrato negativo sobre a figura de Kim Jong-um. E quando veio a tona algumas notícias sobre o vazamento de informações na Sony Pictures Entertainment devido a ataques de hackers norte-coreanos, cancelamentos e adiamentos de estreia por medo de retaliação, uma série de ameaças de bombas caso o filme fosse lançado e um punhado de outras manchetes alarmantes em volta dessa produção, fez com que esse filme conhecesse a fama antes mesmo do sucesso. Muito barulho por nada. Na verdade, em termos políticos “A Entrevista” não alveja diretamente a Coréia do Norte, e sim atira para todos os lados (e é nas piadas que tiram sarro da própria cultura que conseguem um nível melhorado de eficiência). Embora o enredo tenha surgido aos olhos de muitos como uma imperdoável e arriscada afronta ou ameaça ao governo coreano, o filme em si não tem força alguma para se mostrar relevante como imaginado. Através de muito humor que visto por muitos, como de mau gosto, escatologia e piadas infames, o filme se apoia simplesmente no carisma da dupla de protagonistas para se manter em destaque. Embora tenha algumas boas piadas, onde os dois evidentemente se divertem mais do que o próprio espectador, essa produção alcança um nível de funcionalidade mediano que inclusive não agrada todo mundo na mesma proporção. Quase que sendo um repeteco da parceria anterior realizada em “É o Fim” (2013), comédia bem-sucedida também co-dirigida por Seth Rogen e estrelada por James Franco, “A Entrevista” não é aquilo tudo (ainda que ligeiramente divertida), e muito menos ainda uma ameaça a alguma nação dominada por algum regime militar totalitário.

Nota: 6/10

terça-feira, 29 de setembro de 2015

Crítica: 3 Dias para Matar | Um Filme de McG (2014)


Ethan Renner (Kevin Costner) é um veterano agente da CIA que descobre estar com uma doença terminal logo após uma desastrosa missão de campo. Afastado da CIA em função da doença que lhe confere poucos meses de vida, ele se dispõe a um último serviço oferecido pela agente Vivi Delay (Amber Heard) em troca de droga experimental que pode prolongar um pouco mais seus dias. O serviço: identificar e matar um perigoso traficante de armas alemão chamado o Lobo (Richard Sammel), que também foi o responsável pelo desastre de sua missão anterior, e que possivelmente Ethan é o único que pode reconhecer. Mas mesmo com essa difícil missão, seu maior temor está no processo de reconciliação com sua filha adolescente, Zooey (Hailee Steinfeld) a qual não via há muitos anos e precisa corrigir seus erros do passado como pai ausente porque o tempo é curto devido a sua condição física. "3 Dias para Matar” (3 Days For Kill, 2014) é um filme de ação escrito por Luc Besson e Adi Hasak e dirigido por McG (responsável pelos filmes “As Panteras” 1 e 2). Ainda que essa produção não ofereça nenhuma novidade ao tentar erguer um fiapo de história a um nível de excelência anos luz distante de ser materializado, curiosamente ela reserva ao mesmo tempo algumas surpresas.

Há duas formas de ver "3 Dias para Matar”:

1 - Parece ser: Um suspense de espionagem frenético, de roteiro internacional que passa pela Rússia e Paris e que tem como protagonista, um experiente ator de desempenho dramático, como também aparentemente preparado para cenas de perseguição e tiroteio no melhor estilo Busca Implacável. O trailer sugere isso, como o cartaz confere um tom de mistério típico dos suspenses de espionagem que possuem seus mistérios próprios (uma combinação de ideias que culmina no protagonista). Tanto o título, como o próprio enredo transparece a urgência da ação (apenas 3 dias) para que o mocinho descubra o paradeiro do vilão e salve o dia numa jornada de perigos e uma enxurrada de clichês hollywoodianos. Além disso, o herói ainda consegue fazer as pazes com seu passado ao buscar uma reconciliação com sua filha, o que disponibiliza uma dose de emoções dramáticas interessantes para um filme onde praticamente o espectador busca apenas ação e reviravoltas bem pontuadas por um condicionamento técnico arrojado.


2 - Realmente é: Se muito do que parece ser está presente na fórmula de sucesso dessa produção, uma coisa é certa: o trabalho do diretor, como a própria atuação do Kevin Costner está mais para comédia do que outra coisa. Toda violência estética e a brutalidade que se esperaria de um filme desses não só é suavizada pelo tom cômico com que é conduzida, como pode-se dizer que substitui esse aspecto. Se não dá para ficar impressionado com o a ação, que demostra um evidente destempero, pelo menos dá para tirar boas risadas do desconcerto da paternidade do agente Ethan Renner. Cenas como a que quando um dos capangas do grande vilão (um pai de três meninas que passou algumas cenas antes dando dicas de como educar filhas) pergunta para Ethan porque ele não o mata, a resposta traça o objetivo dessa produção. É apenas para divertir toda família. Embora tenha e siga uma série regras dos filmes aos quais se inspirou (ou por assim dizer, que Luc Besson está habituado a criar), o espectador precisa estar preparado para dar algumas boas risadas e esquecer uma infinidade de furos de roteiro e soluções surreais que conciliam a vida de um agente com o exercício da paternidade presente.

Por fim, “3 Dias para Matar” está longe de fazer justiça ao talento do astro Kevin Costner, ator ligado a filmes icônicos como “Dança com Lobos” (1990), “Robin Hood: O Príncipe dos Ladroes” (1991), “JFK” (1991) e “O Guarda-Costas” (1992), embora tenha todos os trejeitos de seu realizador, que oriundo do universo do vídeos musicais da moda, não deixa de cuidar da trilha sonora de seus filmes com o mesmo afinco do resto.

Nota:  6,5/10   
   

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Crítica: O Exterminador do Futuro: Gênesis | Um Filme de Alan Taylor (2015)


Em 2029, depois de anos lutando com a resistência humana na guerra contra as máquinas, John Connor (Jason Clarke) líder da resistência executa uma manobra tão inevitável quanto imprescindível nessa guerra. Consciente das intenções da Skynet de enviar um perigoso exterminador ao passado objetivando assassinar sua mãe Sarah Connor (Emilia Clarke), antes do seu nascimento, já que as máquinas vislumbram uma eminente derrota, John envia em seguida o sargento Kyle Reese (Jai Courtney) ao ano de 1984 com a intenção de garantir a segurança dela. Mas algo de estranho aconteceu, pois quando Reese chega ao presente planejado encontra um passado diferente do esperado, no qual Sarah já tem como protetor outro guardião, o T-800 (Arnold Schwarzenegger), que foi enviado para protegê-la desde quando ainda era uma criança. Diante de uma nova e desconhecida versão do passado descrita por Connor, Reese tem uma missão muito mais difícil quanto inesperada: redefinir o futuro. “O Exterminador do Futuro: Gênesis” (Terminator Genysis, 2015) é uma produção estadunidense de ficção científica escrita por Laeta Kalogridis e Patrick Lussier. Dirigida por Alan Taylor (realizador de “Thor – O Mundo Sombrio), essa produção é o quinto filme da cinessérie iniciada em 1984 por James Cameron. Esse filme teve uma icônica sequência (O Exterminador do Futuro: O Dia do Julgamento Final) em 1991, mencionada por muitos como uma das mais influentes obras da ficção científica dos últimos tempos, um terceiro episódio (O Exterminador do Futuro 3: A Rebelião das Máquinas) em 2003, ligeiramente espelhado no segundo filme e um quarto longa-metragem de guerra (O Exterminador do Futuro: A Salvação) lançado em 2009.


Numa mistura desequilibrada de reboot com continuação, “O Exterminador do Futuro: Gênesis até pode ser uma reapresentação significativa para novos espectadores, mas ainda assim se mostra muito decepcionante aos familiarizados com o status do personagem principal e, sobretudo da franquia. Entre os cinco filmes, talvez esse seja o menos envolvente. E muito disso se deve a intenção dos produtores em dar um novo gás inesperado à franquia. Assim sendo, a regra em vigor nessa produção é a seguinte: Por que simplificar se nós podemos complicar ainda mais o que já era visto com um difícil entendimento? Os roteiristas não poupam os espectadores de soluções confusas que nem o próprio Arnold Schwarzenegger consegue chegar perto de provavelmente entender (questões sobre espaço tempo contínuo e paradoxos temporais), onde tudo é arremessado sobre o público sem embasamento, que atordoado por sequências de ação deslumbrantes fica refém do que pode ser apenas apreciado com os olhos. Em meio ao resgate de elementos familiares da franquia (o policial interpretado por J. K. Simmons) combinados com novas e reveladoras ideias (agora a gente sabe como os humanos tiveram acesso à máquina do tempo), peca em inutilizar por completo sua fascinante e conhecida história. Essa repaginada soa forçada em várias passagens, e embora tenha tido um acabamento técnico surpreendente e muito melhorado em comparação aos filmes anteriores, algumas sequências de ação principalmente ganham uns contornos incômodos (uma perseguição de helicópteros parece saída de um filme de “Star Wars).

Infelizmente o elenco não contribui em muito em comparação aos nomes do passado. Se Arnold Schwarzenegger está à vontade no papel do T-800, embora prejudicado pelo roteiro, Emilia Clarke não tem a força de Linda Hamilton. Enquanto Jason Clarke não tem a presença de tela de Christian Bale, Jai Courtney interpretando Kyle Reese (um dos personagens que até então não tinha sido devidamente explorado na franquia) não consegue conferir simpatia a seu personagem. De resto, as familiaridades se encerram nas figuras ainda que se preserve algumas características (o policial líquido que dá ritmo a uma grande parte do corre-corre). Por fim, a franquia do Exterminador é uma daquelas que insiste em não morrer enquanto trouxer lucratividade. Mas si caso “O Exterminador do Futuro: Gênesis vier a ser um último episódio, infelizmente resultou num filme medíocre diante de seu potencial.

Nota:  5/10    

sábado, 26 de setembro de 2015

Crítica: Um Toque de Pecado | Um Filme de Jia Zhang-Ke (2013)


Ganhador do prêmio de melhor roteiro no Festival de Cannes 2013, “Um Toque de Pecado” (A Touch of Sin, 2013) é um longa-metragem dramático realizado na China que foi escrito e dirigido por Jia Zhang-Ke (responsável por documentários como “Em Busca da Vida” e “O Mundo). Através dessa obra, o cineasta transporta o espectador para uma China contemporânea e apresenta através de um olhar crítico arrepiante e, sobretudo pessimista, a realidade de uma nação marcada de violência e desumanidade que absorveu mal a mudança dos tempos. A essência de seu olhar se foca no apodrecimento das relações humanas em meio às mudanças econômicas e cultuais que a China é submetida nos últimos anos. Em sua trama acompanhamos quatro histórias sucessivas, onde seus personagens principais se cruzam em um breve momento da narrativa. Iniciada com a história de Dahai (Wu Jiang), um empregado insatisfeito com a corrupção na empresa em que trabalha e no vilarejo onde mora, toma uma atitude drástica para dar um basta nesse panorama. Essa parte é seguida pela trajetória de Xiao Yu (Tao Zhao), uma desolada recepcionista de uma sauna, que envolvida com um homem casado relutante em abandonar a esposa, acaba sendo brutalmente assediada no trabalho. Por sua vez, acompanhamos um trecho da vida de Zhou San (Baoqiag Wang), um jovem que é naturalmente capaz de matar e roubar para garantir a sobrevivência de sua família, como o recém-contratado Xiao Hui (Lanshan Luo), um jovem determinado e cheio de sonhos de prosperidade, se sente acuado e perdido numa China implacavelmente capitalista.


Em “Um Toque de Pecado” não acompanhamos um percurso muito longo da vida de seus personagens, mas um momento de transformação peculiar na vida deles transpostos de uma forma minuciosamente crua e violenta (embora justificável pelo rumo do enredo). A China não é mais como aquela que mantínhamos em nosso imaginário, e as mudanças estruturais de política e economia do país desencadearam alguns efeitos negativos sobre a população. O que inclusive pode causar certo choque aos espectadores. As diferenças de classe estão visíveis, e o tratamento dado e levado a elas também. A solidão e o abandono em que se veem alguns de seus personagens são traços marcantes dos personagens. Embora seu desenvolvimento se mostre vagaroso e excessivamente meditativo à primeira vista, onde a câmera do cineasta desenha cuidadosamente para o espectador a mistura do passado com o presente e recheia a obra com os mais diferentes elementos contundentes de uma China desfigurada de tradições, é nas pequenas e brutais passagens de cada história onde o cineasta ganha o público. Imprevisíveis, sombrios e válidos a proposta do cineasta, o método de causar reflexão do diretor é não é claro e muito menos de fácil digestão. Os pecados resultantes das mudanças são pequenos desfechos que buscam causar uma autorreflexão no espectador. O filme pode proporcionar os mais variados significados dependendo de espectador para espectador ao tocar em vários pontos dessas mudanças. Portanto, “Um Toque de Pecado” é uma experiência cinematográfica gratificante, bem explorada e profundamente tocante. 
  
Nota:  8,5/10

terça-feira, 22 de setembro de 2015

Snoopy


"Snoopy e Charlie Brown - Peanuts O Filme" (The Peanuts Movie) é uma animação baseada nas histórias em quadrinhos de Charles Schulz que foi lançada em 1950, na qual acompanhamos um cão da raça Beagle chamado Snoopy (Peanuts no original) numa divertida parceria com o garoto Charlie Brown. após uma bem sucedida passagem pelo televisor. A animação é dirigida por Steve Martino (Horton e o Mundo dos Quem) e é erguida pelos mesmos estúdios de "Rio" e "A Era do Gelo". Lançamento nacional previsto para 14 de janeiro de 2016.

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

007 Contra Spectre Em Revista


domingo, 20 de setembro de 2015

Crítica: O Franco Atirador | Um Filme de Pierre Morel (2015)


Jim Terrier (Sean Penn) é um frio mercenário que atua como um agente de segurança para uma ONG no território do Congo. Envolvido em um ligeiro romance com uma médica humanitária, Annie (Jasmine Trinca) enquanto trabalha numa dupla atuação na região, esse relacionamento acaba assim que Jim assassina um membro do Governo e foge do país, virando suas costas para a sua história no país. Cerca de oito anos depois, quando ao voltar ao Congo ele é confrontado com uma tentativa de assassinato o fazendo se dirigir a Europa,  Jim busca encontrar seus antigos aliados de guerra, Cox (Mark Rylance) e Felix (Javier Bardem) que embrenhados em conflitos mais arrojados e diferentes do que os do passado, todos percebem que voltar aos caminhos da guerra não são tão fáceis quanto esperam, como Jim, ao reencontrar sua paixão abandonada no Congo, também tem um grande desafio a ser executado. “O Franco Atirador” (The Gunman, 2015) é um produção de ação baseado no romance La Position du Tireur Couché, de Jean-Patrick Manchette. Com o roteiro escrito por Don Macpherson, Pete Travis e Sean Penn, o filme tem a direção do francês Pierre Morel (um frequente colaborador do produtor e cineasta francês Luc Besson). Pierre Morel, um especialista em filmes de ação estilizados, é o responsável pela ignição da franquia de sucesso crítico e comercial chamada “Busca Implacável”, em 2008. O diretor tem um objetivo claro com esse novo produto: reutilizar as consagradas fórmulas de seu grande sucesso e iniciar uma nova franquia nos mesmos moldes. Mas o tiro saiu pela culatra.


Se “Busca Implacável” apresentava uma tendência de ritmo ágil e, sobretudo, incessante, “O Franco Atirador” é mais burocrático. Sua estrutura tem um desenvolvimento de personagens mais rigoroso, com um foco no peso dramático do grande elenco intercalado com boas cenas de ação (três sequências de peso na verdade). Embora a experiência cinematográfica seja válida de certo modo, ainda assim perde seu brilho. Mas esse foco voltado para a história, acima de tudo sobre os personagens se perde um pouco pela imprecisão do roteiro, que não consegue destilar de forma enxuta sua inspiração literária e se perde com o excesso de tramas indigestas que não se adaptam bem com o formato de cinema e as competências de seu realizador. Porém, Sean Pen que é um ator de grande talento e que exibe isso em tela nessa produção também, prova estar apto a desempenhar papéis de desempenho físico extremos. E ao lado seu nome, temos outros talentosos atores como Javier Bardem, Ray Winstone, Mark Rylance, Jasmine Trinca, Peter Franzen e Idris Elba em performances funcionais, mas sem grandes destaques que façam valer suas comprovadas experiências. Suas performances são sufocadas pelas falhas do roteiro e a ausência de uma maior atenção no foco da ação. O desejo do espectador de conferir um thriller de ação revitalizado com novos rostos e um experiente realizador, não é atendido à altura da expectativa. Por fim, “O Franco Atirador” é um filme de resultado mediano, tecnicamente bem realizado e mantido pelo rico elenco, mas que tenta abraçar um mundo maior que é capaz.

Nota:  6/10

sábado, 19 de setembro de 2015

Crítica: O Apostador | Um Filme de Rupert Wyatt (2014)


Jim Bennett (Mark Wahlberg) é um professor de literatura que tem uma visão do mundo tão estupida quanto arriscada. Para ele é tudo ou nada. Para ele o sucesso é como se fosse uma benção divina, onde ser bom não basta e ser o melhor é a meta. E por isso, levando a sua vida de forma extrema em função dessa perspectiva a ser alcançada, sobre a superação, Bennett não pestaneja um segundo sequer em fazer apostas suicidas. E considerando sua visão da vida que associada ao seu desenfreado vício pelo jogo, não é nenhuma surpresa que esteja completamente afundado em dívidas quase impossíveis de serem quitadas com agiotas e gângsters. E para piorar, a cada oportunidade de saldar suas dívidas ele encontra uma forma de piorar suas condições mais ainda. Mas quando uma jovem estudante e promissora escritora, Amy Phillips (Brie Larson) e um jovem jogador de basquete e seu aluno, Lamar Allen (Anthony Kelley) passam a se envolver em sua fracassada jornada de apostas, Jim Bennett terá uma última chance de provar que nem tudo depende de sorte quando se trata de apostar. “O Apostador” (The Gambler, 2014) é uma tragicomédia estadunidense escrita por William Monahan (de “Os Infiltrados”) e dirigida por Rupert Wyatt. Trata-se também de refilmagem de filme de 1974, escrito por James Toback e estrelado por James Caan. Com um desempenho razoável de bilheteria no exterior, essa produção foi lançada diretamente em vídeo por aqui, a qual divide público e crítica. Sobretudo, trata-se de um filme simplesmente arrojado, dinâmico e com um nível de funcionalidade comercial agradável.


Acompanhar a revoltante trajetória do personagem de Mark Wahlberg em “O Apostador” pode ser tão irritante quanto interessante. Sendo que a forma como ele se afunda em milionárias dívidas de jogo de modo tão consciente quanto inconsequente, antes da chegada da reviravolta entregue num clímax cinematográfico de grande funcionalidade, talvez o processo de desenvolvimento da trama não seja uma experiência totalmente agradável. Sua descida a miséria é mais jogada do que desenvolvida em tela. Embora suas motivações sejam abordadas, das mais diferentes maneiras, e a atuação de Wahlberg esteja brilhantemente entregue por um desempenho que expõe o melhor do ator, é inegável que seja recoberto por um verniz comercial de grande artificialidade (o tom suavemente cômico com que os credores lidam com o personagem de Wahlberg transparece isso). Mas o filme detém uma série de bem-sucedidos méritos em sua essência: bons diálogos atribuídos pelo texto temerário do roteirista William Monahan; atuações divertidas com destaque para John Goodman; uma ótima trilha sonora e uma montagem repleta de boas sacadas visuais e narrativas; fazem dessa produção um bom exemplar da filmografia de Rupert Wyatt (responsável pela ressureição da franquia “O Planeta dos Macacos), como a do próprio protagonista, onde Mark Wahlberg entrega um desempenho notável repleto de passagens vibrantes. Embora esteja longe de ser uma decepção, “O Apostador” é acima de tudo, um filme mais indicado aos fãs do astro. Sua história simples, sua estética arrojada e seu desfecho feliz mais do que esperado nem sempre pode ser o que todo mundo gostaria de ver. O estúdio que produziu essa refilmagem nem especulou essa possibilidade.

Nota:  7/10  

domingo, 13 de setembro de 2015

Crítica: O Maravilhoso Agora | Um Filme de James Ponsoldt (2013)


Inconsequente é a palavra que define Sutter Keely (Milles Teller). É impressionante o seu desprendimento natural com o futuro, pois o jovem leva uma vida totalmente despreocupada onde mesmo não terminando os estudos, abusando do álcool e se aproveitando de um roteiro de festas e de seu tato para entrar e sair de relacionamentos amorosos, esse jovem de apenas dezoito anos não percebe o período de transição que passa: o fim da juventude é agora. Embora sinta isso, resiste em aceitar o mesmo. E para sua surpresa, após um porre que supera sua tolerância ao álcool, ele adormece ao relento e acorda em um gramado ao lado da jovem solitária Aimee Finicky (Shailene Woodley), e que possibilita uma relação tão fascinante quanto improvável entre essas duas diferentes figuras. “O Maravilhoso Agora” (The Spectacular Now, 2013) é uma comédia dramática do cenário indie norte-americano escrita por Scott Neustadter e Michael H. Weber e dirigida por James Ponsoldt. Baseado no romance de mesmo nome de Tim Tharp, sua transposição para a película entra no gênero de produções independentes que aborda um período complicado da juventude. Encantador, sincero e de contornos muito simples, o diretor aproveita o roteiro (dos mesmos realizadores de “500 Dias Com Ela) e entrega um filme oriundo do cenário independente que pode ser considerado um passeio agradável pelo gênero.

Embora tenha estreado no Festival Sundance de Cinema, ao qual angariou inúmeras críticas elogiosas, o longa-metragem “O Maravilhoso Agora” foi lançado por aqui diretamente em vídeo (provavelmente consequente do mau desempenho que teve nas bilheterias). E relevando seu mau desempenho comercial, eu deixo a dica: essa produção é um filme adolescente a espera de ser descoberto pelo público. Em um estudo profundo sobre alguns conflitos sempre revisitados pelo cinema sobre a natureza humana que engloba paixões estudantis, educação, trabalho e família; “O Maravilhoso Agora” presenteia o espectador com performances naturais de uma beleza estética e narrativa sem igual, com situações criveis e personagens envolventes bem desenvolvidos pelo o roteiro e a direção. O filme não se prende a fórmulas de sucesso comprovado e apresenta uma visão mais atual do panorama que envolve os protagonistas. O filme é bem sintonizado com a juventude da atualidade. A dupla de protagonistas é outro acerto dessa produção. Miles Teller retrata o personagem Sutter Keely com carisma e de forma envolvente, enquanto a atriz Shailene Woodley confere certa efervescência à personagem Aimee Finicky. Enquanto o elenco principal, como o elenco de apoio que propiciam um desenvolvimento saudável da adolescência de forma contemporânea distante de estereótipos, todos entregam desempenhos maduros e honestos possibilitados por uma condução precisa de James Ponsoldt.

O cinema está repleto de obras genéricas semelhantes a esse drama adolescente com bem-vindos toques de humor que retratam um período geralmente complicado, e que nem sempre são dignos de alguma discussão. A queda do verniz cinematográfico geralmente presente em filmes assim, talvez seja uma das maiores sacadas desse longa-metragem. O romance estudantil estendendo-se por seus dramas familiares é outro dos méritos presentes nessa obra. Embora “O Maravilhoso Agora” não seja perfeito em sua totalidade, se igualando a obras clássicas do gênero, a adaptação de Tim Tharp não deixa de ser um exemplar agradável e bastante interessante de ser conferido.

Nota:  7,5/10  

sábado, 12 de setembro de 2015

Crítica: Filth | Um Filme de Jon S. Baird (2013)


Bruce Robertson (James McAvoy) é um policial escocês corrupto repleto de particularidades. Viciado em cocaína, ninfomaníaco e de uma bipolaridade cada vez mais frequente, ele está de olho numa bem-vinda promoção no trabalho. Para sua sorte, um crime brutal acaba de acontecer e ele foi incumbido da tarefa de desvendar o crime e isso pode ser o trampolim necessário para conseguir sucesso entre os demais concorrentes na corrida pela promoção, ao mesmo tempo em que ativa um jogo de mentiras incontroláveis que joga seus colegas de trabalho um contra o outro numa rede de intrigas. Mas seu passado, uma esposa desaparecida, seus excessos com álcool e bebidas vem a atrapalhar seus planos, deixando transparecer aos olhos de todas as pessoas ao seu redor algumas de suas facetas, tanto por sua gritante falta de noção da realidade, quanto por suas falhas de caráter. “Filth” (Idem, 2013) é comédia dramática de humor negro que foi escrita e dirigida por Jon S. Baird. Adaptada de um livro de mesmo nome escrito por Irvine Welsh (também autor de Trainspotting), o filme não se censura em mostrar ao seu modo o pior do pior da Escócia em contraste com seus feitos: a televisão, a máquina a vapor, o golfe, o whisky e a penicilina. O orgulho de ser escocês se confronta com a vergonha da trajetória de seu protagonista e resulta numa louca viagem que explora o melhor do mau gosto com uma boa trilha sonora e algumas passagens bem iluminadas pelo conjunto de ideias.

Filth” é sem surpresa a combinação de muito do que já foi feito antes. Portanto sua funcionalidade se deve mais pela competência da sua forma física e narrativa, do que propriamente por sua originalidade. Com traços de “Trainspotting, de “Psicopata Americano”, de “A Recompensa” e até mesmo de “Clube da Luta”, essa produção bebe de muitas fontes e se nutre da inspiração alheia para dar o devido embasamento a sua trama de humor e mistério. Ainda que surja como um chocante exemplar de comédia negra (o sexo é tratado como a causa e o objetivo que move o mundo), as drogas legais ou não transbordam em tela sem limites, Jon S. Baird entrega um filme delirante e deveras alucinado. E não apenas pela atuação impressionante James McAvoy (que exagera um pouco mais do habitual em sua performance) e de um punhado de outros atores bem escolhidos que compõem o elenco de apoio, mas também pelo enredo que explora de maneira estilística todas as possibilidades da insanidade em tela alternando o recurso cômico com o apelo dramático que o filme toma a certa altura do desenvolvimento da história. Entretanto, se o filme começa desde sua premissa com o objetivo de ser engraçado ao espectador, que fique certo que seu destino é perturbador em sua essência, trágico por consequência e interessante pelo conjunto (mas McAvoy deixa uma bem-sucedida piada antes dos créditos finais para o agrado daqueles que buscaram essa produção para dar risada). Por fim, “Filth” é um filme de ritmo ágil, politicamente incorreto e de poucas surpresas e alguma excelência em sua proposta, que tira do espectador algumas boas risadas e alguma compaixão por seu caótico protagonista que esconde por trás de uma cortina de fumaça de excessos alguns segredos inesperados e tocantes.

Nota:  7/10

sexta-feira, 11 de setembro de 2015

Crítica: Busca Implacável 3 | Um Filme de Olivier Megaton (2014)


Bryan Mills (Liam Neeson) está tentando viver em paz após os eventos do passado. Buscando ser um pai presente para Kim (Maggie Grace) e próximo de reatar seu relacionamento com sua ex-esposa, Lenore (Famke Janssen), ele vê tudo ruir quando passa a ser acusado de assassinato de Lenore. Obviamente que a culpa da morte de Lenore foi planejada para se voltar sobre ele, Bryan é forçado a fugir das autoridades de Los Angeles. Numa caçada liderada por Frank Dotzler (Forest Whitaker) pela cidade, toda polícia segue obstinadamente seu encalço pelas ruas enquanto Bryan tenta a todo custo descobrir quem o incriminou e limpar seu nome e levar justiça aos verdadeiros criminosos. “Busca Implacável 3” (Taken 3, 2014) é um thriller de ação e suspense escrito por Luc Besson e Robert Mark Kamen e tem a direção de Olivier Megaton. Sendo o terceiro e último episódio de uma franquia de sucesso iniciada em 2008, essa produção que é uma das maiores consagrações do astro Liam Neeson em sua reinvenção de carreira (de ator dramático sério a astro de filmes de ação) é a entrega do que se espera de um filme do gênero, e acima de tudo, da franquia. Embora não tenha a profusão do primeiro, a atmosfera dramática do segundo, dessa vez Olivier Megaton (o diretor também foi responsável pela direção do segundo episódio) entrega um filme de menor força comparado aos anteriores.

A ação frenética da franquia Busca Implacável desta vez aporta nos Estados Unidos, diferentemente dos filmes anteriores. Os sublimes ares europeus que acomodavam as façanhas heroicas do ex-agente da CIA Bryan Mills agora ganham sede em Los Angeles e uma louvável tentativa de reinvenção para a perigosa perseguição conduzida por Forest Whitaker. Se Liam Neeson tem abandonado os dramas pesados e de profundidade dramática e se dado bem no gênero dos thrillers de ação, o ator Forest Whitaker (de “O Último Rei da Escócia”) com bem menos produções do gênero no currículo, não tem se dado tão bem (o longa-metragem “O Último Desafio” é um bom exemplo de desempenho abaixo da média). Há um desequilíbrio de qualidade na carreira de ambos. Embora o maior vilão desse desequilíbrio seja a trama ligeiramente repetitiva em seus contornos, há deixando semelhante a uma infinidade de outras produções estadunidenses, o filme ganha pontos pela excelência das qualidades que herda dos filmes anteriores. Com um bom elenco de apoio, algumas reviravoltas atraentes e um clímax explosivo, suas falhas não são pecados capitais dentro de um gênero do qual pouco se espera. Sobretudo, ainda que “Busca Implacável 3” não seja impressionante, o filme possui sequências de ação de riqueza técnica apropriada a proposta, frases de efeito e um ritmo ágil e mais do que esperado de um filme de Olivier Megaton (praticamente um especialista nesse gênero) essa produção não é um final ruim para uma trilogia que preza apenas a diversão.

Nota:  7/10


domingo, 6 de setembro de 2015

Os Top 10 Vilões de Todos os Tempos

sábado, 5 de setembro de 2015

A Evolução do Cavaleiro das Trevas

quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Crítica: Sniper Americano | Um Filme de Clint Eastwood (2014)


De caubói sem rumo na vida a membro das Forças de Operações Especiais da Marinha dos Estados Unidos, Chris Kyle (Bradley Cooper) é enviado para o Iraque para desempenhar sua função estratégica a qual foi treinado: atirador de elite. Sua tarefa é proteger, de longe e do alto seus colegas de trabalho durante as incursões em áreas de perigo no território inimigo. Talentoso e compenetrado no que faz sua precisão salva inúmeras vidas no campo de batalha. E isso automaticamente gera histórias sobre sua coragem que se espalham e enaltecem seus feitos e que inclusive ressoam sobre as tropas inimigas. Porém, essa reputação também lhe confere um inevitável alvo em sua cabeça em meio aos insurgentes. Mas se ele tem travado uma difícil batalha nos ingratos destroços de um país assolado pela guerra, seu maior conflito também reside no fato do desamparo de sua família em casa em contraste com as sequelas da guerra em sua alma. “Sniper Americano” (American Sniper, 2014) é um drama biográfico de guerra escrito por John Hall e dirigido por Clint Eastwood. Baseado na autobiografia American Sniper: The Autobiography of the Most Lethal Sniper in Military History, de Chris Kyle, sobre sua trajetória nas forças armadas, onde sendo atirador de elite detinha 255 mortes (160 confirmadas pelo Pentágono) que lhe conferiu o mérito de ser o mais letal atirador da história militar dos Estados Unidos. Sua transposição cinematográfica se mostra intensa, gratificantemente emocional e esteticamente bem realizada.

Embora negativamente associado a uma cogitada glorificação da guerra na forma de uma inocente propaganda militar, o espectador precisa compreender algo sobre “Sniper Americano” para se ter uma experiência realmente gratificante. O filme está mais para uma homenagem a um herói americano do que para uma proposta propositalmente tendenciosa. O cinema estadunidense está cheio de homenagens do gênero, que vão de desconhecidos técnicos de futebol até figuras de atitudes nobres restritas de seu universo cultural e econômico. Por isso, o trabalho do cineasta Clint Eastwood deve ser mais visto pelo que mostra realmente (uma obra que reproduz com precisão toda a alienação que a guerra pode causar em seus combatentes), do que pelo contexto de ideias ao qual pode ser associado. Acompanhar as idas e vindas de Bradley Cooper ao Oriente Médio e consequentemente sua dificuldade de se reintegrar a sociedade que com tanta devoção defendia é onde morra a verdadeira essência do trabalho, tanto de seu protagonista quanto de seu realizador. Tecnicamente impecável, a construção dos eventos que se passam no cenário de guerra são de um esmero e realismo tático impressionante. A combinação de atuações fortes, com recursos de som e uma montagem muito bem elaborada, fazem do desenvolvimento da história contada por Clint Eastwood uma experiência rica em emoções e suspense que são intercaladas com sequências de ação pirotécnica de um nível formidável.

Merecedor das 6 indicações ao Oscar 2015 (Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Edição de Som, Melhor Mixagem e Melhor Edição), “Sniper Americano” também sofre de ser um drama supervalorizado por uns e odiado por outros. Ainda que os muitos temas abordados em seu desenvolvimento não sejam totalmente inéditos ao gênero (vide “Guerra ao Terror), é inegável que Clint Eastwood entrega um filme que simplesmente transporta o espectador para os perigosos territórios de combate ensolarados do Oriente Médio de forma visualmente impressionante, ao mesmo tempo em que Bradley Cooper carregou em seus ombros uma grande responsabilidade de materializar os aspectos mais particulares de um herói com uma grande competência.

Nota:  7,5/10  
  

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

Crítica: O Protetor | Um Filme de Antoine Fuqua (2014)


Se aparentemente Robert McCall (Denzel Washington) parece ser um pacato e solitário cidadão da cidade de Boston, algo deve ser dito a seu respeito: isso é certo que nem sempre foi assim. Se agora ele não passa de um competente funcionário numa loja de materiais de construção e ferramentas, seu passado está marcado de segredos que invariavelmente desperta a curiosidade das pessoas que tem contato com ele, como colegas de trabalho ou uma sonhadora garota com quem conversa em suas madrugadas de insônia numa lanchonete próxima de sua casa. Mas seu adormecido passado volta a ser reacendido, quando perturbado pela violência com que um grupo de gangsteres russos que agencia jovens garotas de programa estava tratando Teri (Chloë Grace Moretz), McCall tenta comprar sua liberdade sem sucesso, isso desencadeia uma brutal solução. O que parecia dado como encerrado por McCall, sua atitude fez com que um perigoso capanga a serviço da máfia russa, Teddy Benson (Marton Csokas), fosse enviado pelo chefe desse império criminoso incumbido da tarefa de descobrir o autor do desastre que tem assolado as operações em Boston e eliminá-lo a qualquer custo. O que iniciou uma guerra pela justiça nas ruas dessa cidade e a criação de um herói dos indefesos. “O Protetor” (The Equalizer, 2014) é um thriller de ação estadunidense escrito por Richard Wenk e dirigido por Antoine Fuqua. Baseado numa série de televisão dos anos 80, que acompanhava as ações extremadas de justiça de seu protagonista, o filme é reaproximação de uma parceria de sucesso entre Denzel Washington e Antoine Fuqua. Os dois já haviam trabalhado juntos em “Dia de Treinamento” (2001), um longa-metragem policial que rendeu o Oscar de Melhor Ator a Denzel Washington por sua interpretação sensacional pelo policial corrupto Alonso.

São poucos os atores em atividade capazes de conferir credibilidade a personagens de contornos tão ajustados quanto o que protagoniza “O Protetor”. E Denzel Washington é um deles, seja em pequenas nuances atribuída por um gesto ou um simples olhar, ou apenas no soberbo ato de proferir seu texto que se alterna entre frases de efeito e reflexão de modo magistral. É certo que “O Protetor” tem um enredo clichê materializado por um roteiro espaçosamente previsível, mas a atuação do astro combinada com a visão arrojada de seu realizador faz dessa produção uma experiência que prende a atenção do espectador. Mesmo tendo algumas falhas, principalmente por alguns excessos como a inquestionável superioridade de seu personagem no confronto com seus oponentes, sobretudo o filme decorre bem em tela. O estilo de Fuqua é presente em inúmeras passagens do filme (como em estilosos detalhes concedidos ao espectador em slow motion que antecedem momentos de brutalidade extrema), e contrasta bem com a proposta oferecida. Embora não confira nada de novo ao gênero, onde ambos têm seus melhores trabalhos em outros filmes, é imprescindível dizer que o desenvolvimento apresenta cuidados técnicos acima das expectativas e uma atmosfera envolvente além do esperado. Tudo o que é necessário para fazer dessa produção um programa de entretenimento adequado com toques de ousadia. Com boas sequências de ação em passagens bem ritmadas, um antagonista que colide com harmonia com a presença do astro e algumas boas sacadas narrativas, “O Protetor” é capaz de agradar tanto a fãs do protagonista como os apreciadores do gênero. O filme aproveita bem seu orçamento de 55 milhões e fatura alto nas bilheterias, o que consequentemente não seria nenhum crime aproveitar o estratégico gancho dado no final, para uma bem-vinda continuação.

Nota:  7/10