sábado, 29 de agosto de 2015

Crítica: Noite Sem Fim | Um Filme de Jaume Collet-Serra (2015)


Em uma terceira colaboração entre o diretor Jaume Collet-Serra e o astro Liam Neeson, o thriller de ação “Noite Sem Fim” (Run All Night, 2015) vem para confirmar uma bem sucedida parceria de filmes de ação dos novos tempos. Enquanto um, o ator Liam Neeson se firma já algum tempo no gênero da ação frenética ligado a outros colaboradores, o que gerou uma genial franquia chamada Busca Implacável, Jaume Collet-Serra tem mais dois filmes em parceria com o ator (“Desconhecido” e “Sem Escalas”), aos quais ambos apresentam resultados extremamente competentes e de grande envolvimento. Esse terceiro longa-metragem mantem um nível considerável de excelência para o agrado de fãs do ator e do gênero no qual habita, embora não supere os filmes anteriores de seu realizador. Em sua trama acompanhamos Jimmy Conlon (Liam Neeson), o qual um dia já foi um notório empregado de um chefe da máfia local, Shawn Maguire (Ed Harris). No entanto, hoje ele não passa de uma decepção do que já foi, onde se afogando em sucessivas doses de uísque para lidar com o sangue que leva nas mãos pela morte de pessoas que matou no exercício de seu trabalho é atormentado por seus fantasmas. E para complicar, o detetive Harding (Vincent D’Onofrio) sempre o lembra das vítimas deixadas no esquecimento alheio, como a ausência do filho, Mike (Joel Kinnaman) que também reprova sua postura passada que impossibilita uma provável aproximação futura. Mas quando após um evento fatídico onde Jimmy pode ser a única salvação para seu filho, ele terá que decidir se irá travar uma batalha contra seu antigo empregador ou tentar corrigir seus erros do passado.

Noite Sem Fim” se passa no tempo de uma noite, genialmente bem preenchida com uma perseguição bem orquestrada que articula momentos de família e diálogos bem compostos com sequências de tiroteios e bravura que só podem ganhar os necessários contornos atmosféricos genuínos de um bom thriller em função da presença de Liam Neeson. O ator compõe uma série emoções criveis na tela, seja com uma arma em punho ou em desabafos sentimentais, onde seu realizador explora as várias camadas de seu personagem. Mais uma vez Jaume Collet-Serra equilibra com habilidade dramaticidade com momentos de adrenalina. Se Ed Harris lidera o exército da vingança contra os personagens de Liam Neeson e Joel Kinnaman, numa transição serena de amizade a ódio, também é no personagem de Common, um assassino profissional contratado por Harris que se encontra o maior rival na jornada de fuga e resistência do pai e filho. Mas há inúmeros outros personagens vitais para trama, formidavelmente mesclados ao enredo, com uma inclusiva presença de Nick Nolte a certa altura da correria pela sobrevivência. Embora “Noite Sem Fim” não mostre nada de novo em comparação aos bons exemplares assinados por Jaume Collet-Serra, ainda que ele tente empregar alguns aspectos narrativos inéditos ao seu trabalho combinados com alguma intensificação de momentos dramáticos, esse seu trabalho se resume a mais um trabalho competente e igualmente agradável saído dessa promissora parceria que o ator e o diretor fundaram desde 2011 e nada mais que isso.

Nota: 7/10  
   

sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Crítica: Corrente do Mal | Um Filme de David Robert Mitchell (2015)


Jay (Maika Monroe) é uma jovem que tem preocupações e ocupações típicas de uma adolescente de sua idade. Entre a escola, o planejamento de suas paqueras e momentos de relaxamento descompromissados nos arredores de seu bairro, ela vive uma vida tranquila com a família e amigos. Mas certa noite, após ter tido uma relação sexual com um garoto que há poucos dias havia conhecido, descobre ter sido contaminada com uma força maligna que lhe foi e somente é possível ser transmitida sexualmente. Descrente das possibilidades disso ser verdade, logo ela percebe que é real mesmo. A ameaça existe e está em seu encalço aonde quer que vá. Essa maldição que carrega obriga a fugir de uma entidade aterrorizante que somente ela consegue ver e a segue aonde ela vá, e que se a pegar irá mata-la violentamente. A única forma de se livrar dessa corrente maligna seria como o garoto fez: passando para outra pessoa da mesma forma que adquiriu a maldição. “Corrente do Mal” (It Follows, 2015) é uma produção de terror indie que se mostra uma das mais novas sensações do gênero dos últimos tempos. Escrita e dirigida por David Robert Mitchell, o filme tem um elenco completamente desconhecido do grande público e teve um mísero orçamento de 2 milhões de dólares para sua realização. Com uma divulgação intensa marcada de informalidade (boca a boca) em redes sociais e sites cinéfilos, essa produção consegue criar consequentemente um novo e promissor mito de terror para o futuro e um genial programa para o momento.


É fácil alegar que “Corrente do Mal” talvez seja um dos melhores filmes de terror de 2015. Embora não seja também necessariamente original em sua totalidade, demonstra um encantador vigor em sua proposta. Desenvolvido a partir de uma premissa relativamente simples, o filme tem um acabamento bem delineado por uma produção eficiente, onde o combustível motor de sua trama (a constante eminência da morte de sua protagonista) consegue prender a atenção e gera uma incessante atmosfera de tensão e suspense. Em tempos em que cenas fortes de carnificina e banhos nojentos de sangue vêm sendo adotadas com mais frequência no gênero, à direção de David Robert Mitchell ganha o espectador no terror psicológico e nas possibilidades do imprevisível acontecer a qualquer momento. Mas isso de forma elegante e sem exageros desnecessários. Interessantemente associado por muitos críticos como uma metáfora, onde o mal que segue a atriz Maika Monroe faz menção a doenças venéreas que ameaçam a vida de jovens, o espectador acima de tudo deve se ligar ao material sólido que decorre pela película, que já se mostra o suficiente para instigar os sentidos do público. O roteiro que explora bem as possibilidades, não faz revelações precoces sobre o enredo, como também não entrega com facilidade para inevitáveis questionamentos que possam surgir no decorrer do desenvolvimento (Qual é a origem desse mal que não cessa na lenta perseguição sobre o amaldiçoado?). E isso estrategicamente possibilita uma promissora continuação.

Por fim, “Corrente do Mal” pode surpreender uma expressiva gama de espectadores tanto quanto a sua protagonista. O filme tem entre seus vários méritos, principalmente a respeito dos aspectos simbólicos encrustados na obra, a capacidade de causar a sensação de introspecção no espectador. Imaginar um ameaça sobrenatural te seguindo de forma incessante, que até lhe concede algumas pausas falsas de descanso, mas que se aproxima lentamente nas mais diferentes formas independente de onde e com quem esteja, e que se te alcançar será fatal, pode render um programa tão fascinante quanto se possa imaginar. Mesmo tendo seguido um leque de clichês do gênero, essa produção autoral de terror ainda vai render muito pano pra manga para o futuro.

Nota:  8/10

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Crítica: Missão Impossível: Nação Secreta | Um Filme de Christopher McQuarrie (2015)


São poucas as franquias de cinema que chegam ao quinto episódio acumulando ao decorrer do tempo críticas positivas. O empreendimento de dar uma delongada continuidade a certos sucessos de público, que na maioria dos casos se arruína automaticamente com o decorrer do tempo e das continuações equivocadas, não é um fenômeno raro na indústria cinematográfica. Há inúmeros exemplos de grandes sucessos do passado que envelheceram negativamente devido a continuações desastrosas. Mas esse não é o caso da cinessérie de ação e espionagem Missão Impossível (franquia de espionagem protagonizada pelo agente Ethan Hunt que foi baseada numa série de televisão dos anos 60). Desde o primeiro episódio lançado em 1996 e dirigido por Brian De Palma, já se foram cinco filmes de estilos bem distintos, de tramas autônomas e resultados que vão de bons a espetaculares. E “Missão Impossível: Nação Secreta” (Mission: Impossible – Rogue Nation, 2015), uma produção estadunidense de ação escrita por Drew Pearce, Will Staples e Christopher McQuarrie, ao qual esse último também assume a direção, é a confirmação do rumo de excelência que atingiu. Em sua trama acompanhamos Ethan Hunt (Tom Cruise) em sua descoberta: o Sindicato, uma organização criminosa formada por ex-agentes secretos que tem como um de seus objetivos prioritários eliminar a existência da IMF, realmente existe. Durante muito tempo Hunt seguiu os passos do que as autoridades julgavam ser uma fantasia dele, a ponto de encarar seu desejo de encontra-la apenas como uma justificativa para a permanência da agencia em atividade. Assim o Sindicato, encarado pelas autoridades mundiais como um mito, fazem do agente Hunt, expatriado e caçado pela CIA como um desertor juntar forças com os sobreviventes leais da IMF e traçar um plano para expor definitivamente as atividades do Sindicato e responsabilizar os verdadeiros criminosos.


Missão Impossível: Nação Secreta” é uma experiência incrível, embora não seja superior ao seu antecessor (Missão: Impossível – Protocolo Fantasma), de 2011. Ainda que o trabalho de Christopher McQuarrie se assemelhe em muito ao estilo que o diretor Brad Bird implantou no quarto episódio, o filme não tem a profusão do mesmo ou superior. Mas em contrapartida, tem o seu charme próprio, com novas e inventivas cenas de ação que somente essa franquia consegue possibilitar aos espectadores (com destaque para a cena de abertura e uma decolagem arriscada que estampa um dos cartazes de divulgação da produção), além é claro, das imprescindíveis evidências de amadurecimento. Com Tom Cruise extremamente à vontade no papel do agente secreto Ethan Hunt, a produção recheia a trama com rostos conhecidos da franquia como o de Ving Rhames, Simon Pegg e Jeremy Renner, também surgem novas e funcionais caras como a da atriz Rebecca Fergunson, no papel de Ilsa Furst, uma femme fatale espirituosa que desencadeia as melhores reviravoltas da trama. O que não são poucas, obviamente possibilitadas pela genialidade do roteiro. Tendo ainda a participação de Alec Baldwin como o diretor da CIA burocrático de atitude esquerdista que se mostra uma escolha bem-sucedida ao propósito de seu papel, também somos surpreendidos pela presença de um antagonista interessante chamado Salomão Lane, interpretado pelo ator Sean Harris, e talvez a figura mais fraca do elenco de importância. Apresentando ótimas sequências de ação possibilitadas por um conjunto técnico sólido e boas doses de humor carregadas de sarcasmo e ironia, Christopher McQuarrie entrega um filme atento às necessárias qualidades da franquia e de uma competência de direção que não faz feio aos realizadores dos filmes anteriores. Por isso, “Missão Impossível: Nação Secreta” é um ótimo divertimento enlatado que captura com inteligência bastante da essência do que já foi feito até agora, e que promete e vai ainda render outras sequências tão bem-sucedidas quanto essa se levada com a mesma seriedade com que surgiu em meados da década de 90.

Nota:  8/10

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Crítica: Larry Crowne - O Amor Está de Volta | Um Filme de Tom Hanks (2011)


O mercado de trabalho pode muitas vezes ser injusto com os trabalhadores. Larry Crowne (Tom Hanks) era um impecável líder num hipermercado desde a época que se afastou da função de marinheiro. Confiável, competente e bem-visto por seus subordinados, ele foi surpreendido com a negativa notícia de sua demissão por causa de não ter formação universitária. Passando por dificuldades financeiras e encontrando obstáculos em sua recolocação no mercado de trabalho, Larry decide voltar a estudar ingressando num curso universitário onde acaba conhecendo a professora de oratória, Mercedes Tainot (Julia Roberts), uma mulher desiludida com o casamento e sua profissão. Se antes ele tinha todos os motivos do mundo para acreditar que sua vida estaria completamente estagnada e seu futuro definido sem grandes surpresas, é nesse recomeço que Larry irá aprender novas e inesperadas lições. "Larry Crowne - O Amor Está de Volta" (Larry Crowne, 2011) é uma produção estadunidense do gênero comédia romântica escrita por Nia Vardalos e Tom Hanks, onde Hanks também assume a direção do filme como protagoniza o longa-metragem ao lado de Julia Roberts. Com alguma experiência atrás das câmeras por alguns trabalhos de direção para a TV e um longa-metragem de 1996 (The Wonders - O Sonho Não Acabou), Tom Hanks abraça com segurança sua história e entrega um filme essencialmente simples e despretensioso para o gênero das comédias românticas que pode agradar ou não, dependendo das expectativas do espectador.

"Larry Crowne - O Amor Está de Volta" está longe de ser a reinvenção da roda e se apoia unicamente no carisma dos espectadores por seus protagonistas. E que dupla de protagonistas, diga-se de passagem. Tanto  Tom Hanks quanto Julia Roberts são figuras capazes de arrastar multidões aos cinemas sem grande esforço, embora não tenham angariado novos fãs na mesma proporção do passado. Assim sendo, mesmo com dois grandes nomes de Hollywood ligados ao filme, o resultado carece de um pouco de ousadia e arrojo, seja na trama em si ou na forma convencional com que é apresentada. Ao amontoar uma infinidade de clichês comuns aos filmes do gênero (o que é quase impossível de não nos fazer lembrar de outros filmes curiosamente estrelados por eles), Hanks entrega um filme muito simplório e previsível que demora um pouco para se desenrolar devido ao ritmo lento e sua busca por sorrisos fáceis em um enredo excessivamente romanceado (histórias de perdedores que conseguiram dar a volta por cima já tiveram outras transposições muito mais interessantes no cinema do que essa). E se ainda que tenha suas qualidades (boa trilha sonora, um elenco de apoio competente e algumas ideias simpáticas encrustadas no roteiro), essas mesmas não rivalizam com as pontas soltas dos contornos dessa produção. Considerando que o trabalho de Hanks se mostra uma proposta de continuidade competente ao que dá certo sem se colocar sob riscos desnecessários, seus méritos também podem se voltar contra ele. O doce de sua proposta também pode se tornar enjoativo. Por isso, Larry Crowne - O Amor Está de Volta" é um daqueles filmes de entretenimento que nos fazem sentir-se bem, nos trás alguma agradável felicidade de momento, mas que não nos confere saudade a longo prazo.

Nota:  6/10

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Crítica: Conduta de Risco | Um Filme de Tony Gilroy (2007)


Michael Clayton (George Clooney) é um talentoso advogado que a muitos anos presta serviço a uma das maiores firmas de advocacia de Nova York. Entre seus maiores talentos está a sua habilidade de moldar os fatos para a justiça segundo o interesse de seus clientes. Dissimular atitudes ilícitas tomadas no calor do momento e forjar provas mediante o interesse de seus clientes é entre muitas das tarefas sujas desempenhadas por Clayton. Embora esteja desagradado com seu trabalho e motivado a abandoná-lo, Clayton não pode tomar essa decisão devido a uma série de dívidas acumuladas em função de seu divórcio, seu vício em jogatina e alguns investimentos malsucedidos. E quando Arthur Evans (Tom Wilkinson), um dos mais renomados advogados da empresa surta num ataque esquizofrênico no meio de uma transição de diretoria importante e começa a sabotar importantes casos da firma, Clayton é incumbido a contragosto de tomar uma atitude para solucionar o problema, e que como sempre, requer uma conduta nem sempre tão honrada que percorre um território arriscado agora para sua segurança. “Conduta de Risco” (Michael Clayton, 2007) é um thriller escrito e dirigido por Tony Gilroy, o homem por trás do roteiro da famosa franquia de espionagem Bourne. Em seu filme de estreia como diretor, Tony Gilroy entrega um filme elegante, que recebeu inúmeras indicações merecidas a prêmios (o filme foi vencedor do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante, onde a estatueta foi dada a Tilda Swinton). Com uma atmosfera ligeiramente sombria que joga um olhar sobre certas figuras críveis do mundo corporativista, Tony Gilroy entrega um filme bem diferente do que se esperaria do sujeito.  

Distante de ter o ritmo ágil e explosivo dos filmes que o lançaram no mercado hollywoodiano, “Conduta de Risco” tem uma abordagem mais cerebral, lenta e freada no que realmente interessa: na história; onde conspirações e crises de consciência criadas em seu roteiro e pela sua condução se destacam num desenvolvimento encantador e ganham a devida atenção do espectador com a mesma fluência com que as sequências de ação que eram permeadas nos filmes do agente Jason Bourne conseguiam. Óbvio que se trata de um filme cujo público alvo é outro, mas tem boas chances de agradar a uma gama variada de espectadores. Naturalmente se trata de uma experiência cinematográfica pouco soletrada e que requer uma boa dose de atenção do espectador, embora não se arme de grandes reviravoltas típicas do gênero. Repleto de atuações de contornos profundos, onde desempenhos físicos são irrelevantes diante da necessidade de materializar diálogos inteligentes e performances marcadas de eloquência (o surto psicótico de Tom Wilkinson é bárbaro) e sutilezas (as emoções reflexivas que marcam o personagem Michael Clayton não são entediantes em momento algum), nomes como de George Clooney, Tom Wilkinson, Tilda Swinton e Sydney Pollack, são atores vitais para conferir credibilidade à proposta. Assim sendo, esse thriller de suspense é no mínimo interessante de ser conferido, e que seu personagem principal, Michael Clayton é um indivíduo marcado de imperfeiçoes de caráter comum nas pessoas e que mesmo com boas intenções, é dizimado pelo sistema ao seu redor.

Em “Conduta de Risco” o espectador tem uma obra de realismo inabalável em confronto com uma história de conflitos morais bem transposta, seja por seu refinamento ou apenas pelo rumo dado a ela, como algumas críticas corporativistas novas dadas aos velhos problemas. Sucesso de crítica, esse trabalho de estreia ainda pode surpreender, apesar do tempo que se passou desde seu lançamento, já que a indústria investe pouco nesse gênero devido ao seu modesto apelo de público.

Nota:  8/10

domingo, 16 de agosto de 2015

Crítica: Homem-Formiga | Um Filme de Peyton Reed (2015)


Scott Lang (Paul Rudd) acaba de ser libertado da prisão após cumprir três anos de pena pelo crime de roubo. Proibido de ver sua filha pelas dificuldades de conseguir um emprego, e muito se deve ao fato de ser um ex-presidiário, o reabilitado cidadão encontra no solitário cientista Hank Pym (Michael Douglas), uma oportunidade para reverter todo o mal que causou. Mas para isso ele deve ironicamente cometer um último crime: roubar de seu ex-pulpilo, Darren Cross (Corey Stoll), que de posse de um protótipo de um traje que permite o encolhimento do usuário, Cross pretende vender essa tecnologia para organizações perigosas e evitar uma eminente ameaça global, ao mesmo tempo em que pode, sobretudo, reconquistar o respeito de sua família. “Homem-Formiga” (Ant-Man, 2015) é uma produção estadunidense de ação e comédia oriunda do universo da Marvel Comics e finalizadora da segunda fase de transposições cinematográficas da Marvel Studios. Com roteiro de Adam Mckay, Paul Rudd, Edgar Wright e Joe Cornish, o filme tem a direção de Peyton Reed. O filme vivia um complicado processo de gestação desde 2006, onde o personagem fundador dos Vingadores nos quadrinhos ganha finalmente uma improvável adaptação de cinema e consegue para a surpresa de muitos que não acreditavam no potencial da minúscula figura heroica (já que nos quadrinhos seus poderes não conferiam grandes momentos), surpreender de modo agradável os espectadores a despeito do pouco tamanho.

E o sucesso de “Homem-Formiga” em muito se deve a competência de seu realizador. Longe de ser um diretor autoral, Peyton Reed, responsável por filmes legais como “Teenagers – As Apimentadas” (2000), “Separados Pelo Casamento” (2006) e “Sim Senhor” (2008) se adaptou bem as necessidades do padrão Marvel de fazer cinema, que alia de modo equilibrado ação e comédia no mesmo produto. Trata-se de uma equação vista pela crítica como uma fórmula ou formato bem simpático para gênero (que diga os fãs de “Homem de Ferro”, de 2008). Sem ter o propósito de ser inovador, “Homem-Formiga” busca dar segmento ao que tem funcionado com um nível considerado de satisfação. E unindo a essa equação algumas boas sacadas de roteiro (trazer a figura de Hank Pym, o primeiro Homem Formiga para o enredo foi uma ótima ideia); atuações convincentes que oscilam entre carisma e competência, mostrando uma excelente escolha de elenco, tanto nos personagens de destaque quanto no elenco de apoio; efeitos visuais de um tratamento técnico impecável típico dos produtos da Marvel que foi possibilitado pelo orçamento de cerca de 100 milhões; boas cenas de ação de uma grande inventividade e que aguçam os sentidos; o resultado do trabalho Peyton Reed entra para um seleto rol, sendo uma das melhores adaptações solo até então produzidas com o selo Marvel Studios. E como não poderia faltar, há duas cenas extras ao longo das quase duas horas de duração (uma no meio e outra no fim dos créditos finais).

Por fim, “Homem-Formiga” é mais um produto de entretenimento eficiente (que como “Guardiões da Galáxia” surpreendeu muita gente), que está descompromissado com a substância que move o mundo, mas relevante ao universo da Marvel que não para de se conectar com tanto esmero e conferir alegria a um crescente número de fãs pelo mundo.

Nota:  8/10  
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sábado, 15 de agosto de 2015

Crítica: Quarteto Fantástico | Um Filme de Josh Trank (2015)


Desde a infância Reed Richards (Miles Teller) demonstrava ter a inteligência e a obstinação necessária para mostrar a todos que ele estava certo sobre o dizia, ainda que muitos nem soubessem do que ele estava falando. Com a ajuda de seu amigo Ben Grimm (Jamie Bell) ele consegue a principio ganhar visibilidade para isso, quando acolhido pelo Instituto Baxter é incumbido da tarefa de construir uma máquina que teletransporta matéria para outra dimensão. Unido a um pequeno grupo de adolescentes igualmente geniais, onde conhece Johnny e Sue Storm (Michael B. Jordan e Kate Mara) e Victor von Doom (Toby Kebbel), esses jovens conseguem um espantoso êxito nessa primeira etapa da empreitada. Mas algo dá errado após alguns testes e um desastre confere a eles poderes especiais nunca antes imaginados, como também cria consequentemente um vilão potencialmente perigoso ao planeta. “Quarteto Fantástico” (Fantastic Four, 2015) é um reboot de ação estadunidense escrito por Simon Kinberg, Jeremy Slater e Josh Trank, ao qual esse último também assume a direção. Baseado nos personagens em quadrinhos da Marvel Comics criados por Jack Kirby e Stan Lee durante a década de 60, o quarteto de super-heróis já tiveram várias transposições para o cinema. Josh Trank (responsável pelo promissor “Poder Sem Limites) o homem por trás da incumbência da entrega da mais recente transposição cinematográfica, no entanto apresenta um produto que se mostra inegavelmente afetado pelas divergências entre realizador e estúdio que ocorreram nos bastidores das filmagens.

Quarteto Fantástico” é a confirmação do que todos que acompanhavam o desenrolar do processo de filmagens já imaginava, como as próprias declarações de seu realizador indicavam à beira da estreia: o resultado está muito abaixo do esperado. Embora superproduções como “Guerra Mundial Z”, cuja metade do filme aos créditos finais foi quase que completamente refilmado a pedido dos produtores ao gosto do estúdio e se revelou um trabalho espetacular, o trabalho Josh Trank transparece gritantemente na tela os malefícios causados pelo conturbado processo de materialização do longa-metragem. Iniciando a trama expondo a gênesis do grupo com uma valorização mais profunda de personagens e uma narrativa ousada e pouco pitoresca, o filme passa para a construção da ferramenta que instala o caos bem conectada com um filme de ficção científica, que também estabelece o nível de cumplicidade do grupo, até culminar no clímax adrenalinesco solicitado pelo estúdio e esperado por muitos fãs do gênero. Mas o trabalho de Trank se mostra um produto desconjuntado da metade em diante, em tom e estrutura. E é nesse ponto que nota-se a pressa do roteiro (sem o dedo de Trank, e sim, de Simon Kinberg no comando) em conferir alguma ação ao espectador. Mas decorrente do raso peso dramático conferido por algumas passagens da introdução do enredo, até a chegada das falhas gritantes como o repentino ressurgimento de Victor von Doom sem motivações claras para seu desempenho de vilão, o filme se perde na proposta iniciada. 

Embora o Quarteto Fantástico tenha boas escolhas de elenco para os papéis de Senhor Fantástico (Miles Teller) e Doutor Destino (Victor von Doom), em suas performances de apresentação, como efeitos visuais expressivos para a criação do Coisa (Jamie Bell) e o Tocha Humana (Michael B. Jordan), tanto seus desempenhos como algumas boas ideias em relação aos seus personagens (a justificativa inconsequente que motivou os jovens cientistas a testarem pessoalmente a eficiência da criação deles baseada no fato de que ninguém sabe o nome dos cientistas que possibilitaram o primeiro passo sobre a lua) são prejudicados pela história e tom mal suturado. Assim sendo, “Quarteto Fantástico” está longe de ser comercialmente eficiente como pretendido. Ainda que tenha boas ideias, também está repleto de falhas incômodas de âmbito técnico e no desenvolvimento apressado de enredo que resultaram num presumível fracasso de público e principalmente de crítica. Sobretudo, o caminho traçado por Josh Trank se mostrou até certo ponto o caminho certo a ser percorrido, mas que se perdeu a certa altura de seu desenvolvimento arruinando o resultado do filme, selando o destino da franquia e provavelmente de seu realizador sob a tutela de um grande estúdio por alguns anos.

Nota:  6/10

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Crítica: Curtindo a Vida Adoidado | Um Filme de John Hughes (1986)


Indiscutivelmente um dos melhores filmes adolescentes de todos os tempos, “Curtindo a Vida Adoidado” (Ferris Bueller’s Day Off, 1986) é uma comédia estadunidense de grande sucesso dos anos 80. Escrita e dirigida por John Hughes (considerado por muitos o mestre dos filmes adolescentes da década de 80), o longa-metragem tem em sua essência o poder mágico de devolver os sabores singulares da juventude aos espectadores. Hoje, trata-se de uma comédia perfeita para se assistir na telinha, tanto que é quase impossível você não ter cruzado com ela alguma vez na vida nesse formato. Politicamente incorreta e divertidamente sedutora ao mais virtuoso dos estudantes, deliciosamente nostálgico para uma enorme parcela de fãs, a mais ampla gama de espectadores tem nessa obra um clássico moderno para todas as idades. Em sua trama acompanhamos Ferris Buller (Matthew Broderick), o aluno mais popular da escola que não hesitou uma vez sequer durante o ano em matar aula. Mas agora, na reta final do último semestre o leva desta vez decidir levar junto com muito estilo, sua namorada (Mia Sara) e o seu melhor amigo (Alan Ruck) a bordo de uma rara Ferrari pelos quatro cantos da cidade. No entanto, no rastro de trio de adolescentes se encontra o diretor da escola, Ed Rooney (Jeffrey Jones) muito perto do encalço de Ferris, e tomado pelo imensurável desejo de desmascara-lo a qualquer custo diante de todos.


Campeão de audiência da Sessão da Tarde, o longa-metragem “Curtindo a Vida Adoidado” é uma experiência que desencadeia saudades aos conhecedores da obra, e ao mesmo tempo capaz de causar espanto aos espectadores iniciantes. Oscilando entre clássico e obra cult, esse filme se destaca entre muitos outros filmes do gênero lançados na época. Embora tenha um elenco de apoio primoroso capacitado para roubar várias cenas ao longo de sua duração de 102 minutos (com destaque para Jeffrey Jones e suas caras e bocas), o filme é impecavelmente dominado por Matthew Broderick, que amparado por seu carisma e perfeitamente conectado com o espectador, transporta a plateia para uma experiência marcada de cumplicidade com a plateia numa de suas atuações mais marcantes de sua carreira. Some a essa composição perfeita de elenco, uma direção experiente e segura do produto desejado, ótimas piadas perfeitamente distribuídas por todo o filme, uma trilha sonora fantástica com canções memoráveis como “Oh, Yeah”, do Yello, e “Love Missile”, do Sigue Sigue Sputnik, e ao final tem-se uma comédia icônica repleta de passagens inesquecíveis e divertidas. Em resumo, “Curtindo a Vida Adoidado” é uma diversão de primeira que não causa cansaço após inúmeras reprises, insuperável no gênero no qual habita e que sempre causa uma sensação de nostalgia deliciosa e sem igual.

Nota:  10/10

terça-feira, 11 de agosto de 2015

Os Top 10 Filmes Mais Bonitos de Todos os Tempos

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Exagerado...


Enquanto muitos vão ao cinema para ver os maiores sucessos do cinema de todos os tempos e da última semana (a fila não pára de andar), eu fui para ver, motivado por uma resenha radicalmente intitulada, o maior desastre que o gênero de filmes baseados em histórias em quadrinhos acaba de lançar. Achava quase impossível que fosse verdade e por isso eu precisava conferir com meus próprios olhos. O filme, abarrotado de críticas negativas que fazem menção a sua estreia vexaminosa, vindas das mais variadas direções (de grandes portais a blogs cinéfilos), não pude deixar de conferir o resultado aquém do esperado de "Quarteto Fantástico", um filme da Marvel dirigido por Josh Trank ao qual detinha certo anseio por assistir. Meu veredicto: Decepcionado. Não necessariamente pelo filme pouco envolvente, inquestionavelmente distante do que estamos nos habituando, mas por alguns exageros. Em resumo: o inusitado quarteto de super-heróis está longe de protagonizar o pior filme do gênero, embora esteja longe também de habitar a lista de um seleto grupo que não para de impressionar. Em breve post uma resenha com minhas impressões gerais sobre o filme e encerro o assunto por definitivo.    

domingo, 9 de agosto de 2015

Crítica: Carta Selvagem | Um Filme de Simon West (2015)


Em Las Vegas, Nick Wild (Jason Statham) é um habilidoso guarda-costas de eventuais clientes que o contratam por sua letais habilidades marciais. Ex-militar e viciado em jogatina, Nick é um subproduto do ambiente que Vegas fabrica com facilidade. Durante um de seus trabalhos de segurança em que protegia um jovem milionário, Cyrus Kinnick (Michael Angariano), uma ex-namorada (Dominik Garcia Lorido) o procura após ser espancada por um perigoso mafioso, o que desencadeia uma violenta vingança. "Carta Selvagem" (Wild Card, 2015) é filme de crime e ação estadunidense estrelado por Jason Statham e dirigido por Simon West, duas figuras frequentes do cenário de filmes de ação que não se resguardam de fazer hora extra nesse gênero. Tanto Simon West que tem se especializado cada vez mais nesse gênero de filme e não tem demonstrado grandes melhoras nos últimos anos considerando que apenas tem entregado filmes pouco fluentes, Jason Statham tem demonstrado uma escolha de papéis repetitivos que apenas tem agradado seus fãs em mais ninguém. Há uma urgente necessidade de melhorias no foco de sua carreira, que trabalha regularmente, mas que cujo trabalho não se difere muito de um filme para outro. Por isso, "Carta Selvagem" não é em nada especial, e mesmo sendo um filme no máximo mediano, o astro interpreta o mesmo personagem de vários filmes anteriores descaradamente. 

De enredo simples e estrutura técnica competente, "Carta Selvagem" é o que se espera dele: um filme de ação com pretensões comerciais que vão agradar os espectadores com diferentes níveis de satisfação. Isso varia de espectador para espectador, sendo que acompanhar Statham em mais uma jornada de vingança não tem o mesmo sabor que tinha como a uma dúzia de filmes anteriores. Ainda funciona, mas com uma eficiência diminuta se comparado a filmes como "Carga Explosiva", de 2002, "Adrenalina", de 2006 ou mesmo, "Os Especialistas", de 2011. Com bons efeitos de câmera, em cenas de luta de grande beleza estética, as sequências de ação protagonizadas por Statham continuam irretocáveis como na maioria de seus filmes (mas bem que poderiam estar numa quantia superior). O elenco de apoio concede desempenhos razoáveis; a história ganha contornos mais dramáticos ao tocar na delicada condição de jogador inveterado que Nick assume no enredo; mas onde tudo é erguido como pretexto para gerar boas cenas de ação. Por fim, "Carta Selvagem" não chega a ser um filme ruim, mas apenas gritantemente sem novidades e repetitivo. Num gênero que lança cada vez menos produções com algum toque de reinvenção, é bom saber que Jason Statham está associado a uma ("Os Mercenários", de 2010) que também já deu o que falar.

Nota: 6/10

sábado, 8 de agosto de 2015

Crítica: Lago Perdido | Um Filme de Ryan Gosling (2014)


Billy (Christina Hendricks) passa por enorme dificuldade financeira como todos na cidade de Lost River. Mãe solteira de dois filhos em uma cidade sem oportunidades, ela é levada a trabalhar em uma casa de espetáculos macabros para quitar suas dívidas e salvar sua casa de uma eminente demolição. Ela deseja preservar sua casa de sua infância e manter sua família unida. A sua margem está seu filho mais velho, Bones (Iain De Caestecker), numa incessante corrida de gato e rato com um degenerado gangster chamado Bully (Matt Smith), por causa de canos de cobre roubados de prédios abandonados que essa tosca figura se diz dono. E por fim, Rats (Saoirse Ronan), uma vizinha que tem um rato de estimação e uma avó tão fantasmagórica quanto possível. Nesse cenário e em meio a esses personagens, alguns mistérios sobre uma misteriosa maldição que assola a região em função da mudança do leito de um rio que acabou por inundar as cidades vizinhas vêm a tomar a atenção de Bones. “Lago Perdido” (Lost River, 2014) é um drama neo-noir que busca combinar horror e mistério em um trabalho escrito e dirigido por Ryan Gosling. Extremamente criticado pelos conceituados formadores de opinião durante sua estreia, o filme foi mal recebido pelo público e vaiado no Festival de Cannes sem perdão durante a subida dos créditos finais. E em partes, a causa dessa odiosa recepção se deve, ainda que tenha contornos até interessantes aos olhos, o resultado desse longa-metragem foi incessantemente comparado a outros filmes consagrados num nivelamento muito mais reduzido do que tolerado por seus apreciadores.


Odeio comparações, mas em se tratando de “Lago Perdido” elas são inevitáveis. Associar esse longa-metragem a filmes de David Lynch, mais especificamente “Cidade dos Sonhos”, de 2001, ou a filmes de Nicolas Winding Refn como Apenas Deus Perdoa”, de 2013, é muito fácil. Mas infelizmente o trabalho de Ryan Gosling carece de corpo. Sua história até possui um repertório intrigante de elementos interessantes e bem-intencionados, que oscilam entre a sugestão e a ação, mas unidos numa combinação indigesta mal escrita que não leva o espectador a lugar algum. Ryan Gosling se traiu ao conferir a sua estreia na direção os mesmos contornos adotados por Refn, que não possuem um apelo comercial bem-vindo, ainda mais quando extremados como foram nessa produção. Embora lance ao espectador um visual estonteante, repleto de passagens de grande beleza e lirismo, seja nas cores ou nas luzes brilhantemente escolhidas por uma direção de fotografia competente, esse recurso não sustenta a atenção do espectador perante uma infinidade de outras carências (obviamente Gosling apostou na boa recepção da estética de seus trabalhos com Nicolas Winding Refn e se deu mal). Atores de talento considerável, com destaque para Saoirse Ronan, atriz a qual o trabalho eu aprecio muito, mas que mal aproveitados pela história que não detêm uma substância condizente com leito do lago em questão, é outro aspecto que prejudica a experiência que Ryan Gosling busca proporcionar ao espectador. A aparência de cinema arte que se busca evocar nesse longa-metragem se mostra no fim, mais pretensão do que realização. Em resumo, “Lago Perdido” é uma papinha artística difícil de engolir.

Nota:  5/10

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Crítica: Olhos Grandes | Um Filme de Tim Burton (2014)


Baseado em fatos reais, “Olhos Grandes” (Big Eyes, 2014) é um drama biográfico estadunidense no qual o espectador acompanha a conturbada trajetória de vida de Margaret Keane, uma talentosa pintora que cujo trabalho artístico foi fraudulentamente reivindicado na década de 50 e 60 por seu marido. Escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski, essa fantástica história de vida foi adaptada para o cinema pelo fenomenal cineasta Tim Burton. Distante da estética marcante que se encontra presente em seus trabalhos anteriores, Burton entrega um filme de aparência convencional, sem contornos fantasiosos, góticos e sombrios comuns em sua vasta filmografia. Escapando da armadilha que armou para si mesmo, Burton mostra com pouco esforço que tem talento de sobra para contar uma história com nível agradável de eficiência sem a necessidade de artifícios visuais ou floreios narrativos mais do que esperados quando se trata de seu trabalho. Em “Olhos Grandes”, além de entregar interpretações fascinantes, também serve como um sólido estudo sobre a repressão do período em que se passa, além de um, dos muitos enganos do mundo da arte. Em sua trama acompanhamos o relato da dona de casa Margareth Keane (Amy Adams), uma mulher que abandona o marido e leva a pequena filha (Delaney Raye) para morar em San Francisco. Sem aptidões profissionais e experiência para o mercado de trabalho, ela consegue um simples emprego de pintura que aproveitava seu talento que antes apenas o exercia como hobbie para garantir o seu sustento. Após algum tempo, ela conhece o carismático pintor Walter Keane (Christoph Waltz), com quem logo se casa. Quando ambos buscam vender seus quadros, para a surpresa deles os quadros pintados por Margareth, onde mostravam crianças com olhos grandes são as obras que se destacam. Mas Walter toma para si a autoria dos quadros e consequentemente o sucesso comercial das pinturas. No entanto, Margareth não podia permitir que essa mentira que se prolongou por muitos anos continuasse em sigilo.


Olhos Grandes” certamente não está entre os trabalhos mais fascinantes da autoria de Tim Burton, todavia, ainda assim tem o seu valor. E não somente por marcar uma mudança de estilo que se mostrava repetitiva aos olhos de muitos espectadores, mas pelo nível de excelência e competência que confere ao trabalho em si. Com uma abordagem menos decorativa e mais objetiva, o cineasta se volta com interesse à necessidade de contar acima de tudo a história de Margareth Keane com alma (cujo aval recebeu da própria artista que hoje possui exatamente 87 anos e se agradou em saber que o filme seria realizado pelo cineasta). Com uma reconstituição de época impecável, seja na direção de arte ou apenas nos figurinos que acomoda com precisão toda a atmosfera da década em que se passam os fatos (que aborda a vida suburbana idílica americana da classe média em contraste com os aspectos do poder do homem sobre a mulher daquela época), a dupla de protagonistas se mostram escolhas certeiras para seus papéis. Enquanto Christoph Waltz continua entregando um desempenho tão fascinante quanto arriscadamente repetido, embora distante de causar desagrado aos seus fãs, Amy Adams tem evoluído a cada papel justificando sua crescente presença nas mais variadas produções de destaque nos últimos anos. Entre obras dramáticas de peso e filmes comerciais que visam lucratividade, a atriz consegue nesse longa-metragem conferir com habilidade matéria aos anseios e sofrimentos da artista de modo fino e afiado. “Olhos Grandes” é um filme simples, consequentemente mediano se comparado aos trabalhos anteriores de seu realizador que não se voluntaria em contar apenas alguns eventos dos bastidores do mundo da arte, mas também de retratar dramaticamente de forma crítica uma política social marcada de abusos que se misturam aos fatos.

Nota:  7/10

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Crítica: Sorria, Você Está Sendo Filmado! O Filme | Um Filme de Daniel Filho (2014)


Mathias (Bruce Gomlevsky) é um solitário redator de humor que trabalha na Rede Globo de televisão. Por razões desconhecidas ele aciona seu computador e posiciona a webcam diretamente ativada diante dele e se suicida com um tiro fatal na cabeça. O disparo ecoa pelo condomínio, e não demora muito para que o porteiro do prédio, Geneton (Lázaro Ramos), a faxineira Neide (Roberta Rodrigues), o síndico Valdir (Otávio Augusto) e sua esposa Vera (Susana Vieira), cheguem ao apartamento antes de inúmeras outras figuras inusitadas. Enquanto esse pequeno grupo de pessoas tão diferentes aguardam a chegada da polícia e a remoção do corpo, os mais variados assuntos são abordados sem pudor e tudo vai sendo perfeitamente acompanhado pela webcam que continua em pleno funcionamento. “Sorria, Você Está Sendo Filmado! O Filme” (2014) é uma comédia diferente de baixo orçamento (todo bancado com dinheiro de seu realizador) dirigida por Daniel Filho. Baseado num longa-metragem sérvio pouco conhecido chamado “Morte de um Homem nos Bálcãs”, realizado por Miroslav Momcilovic em 2012, o conhecido cineasta Daniel Filho (sujeito carimbado dos corredores da Rede Globo) adapta com as características nacionais tanto a premissa como a própria metodologia de filmagem de sua inspiração, e entrega um filme no mínimo interessante em contraste as inúmeras comédias nacionais que vem dominando o cenário nacional de cinema.

Sorria, Você Está Sendo Filmado! O Filme” é um filme de um único plano-sequência. Pelo menos é o que parece em seu desenvolvimento. Sobretudo, ainda assim houve cerca de 15 cortes imperceptíveis no decorrer de sua duração que se estende por 80 minutos. Após três dias de ensaios, alguns testes necessários em função da diferente narrativa de longos planos que não permitiam erros que pudessem ser contornados numa sala de montagem, rodou o filme em 2 dias entregando um filme de desenvolvimento fluente em sua proposta. Diferente e que pode facilmente desencadear estranheza em alguns espectadores habituados a narrativas convencionais. Mas o filme tem o seu valor: com atuações bacanas de conhecidos nomes de atores globais (com um grande destaque para Otávio Augusto como o síndico alcoólatra), com um desenvolvimento simples, mas distante de ser arrastado, e uma proposta tão nobre quanto audaciosa em termos estéticos, “Sorria, Você Está Sendo Filmado! O Filme” tem corpo e alma de cinema independente feito com afinco. Algo raro considerando as figuras que compõem essa produção. E somente por isso já merece alguma atenção. Além do mais, para minha surpresa já que não aprecio muito os grandes sucessos de bilheteria realizados por Daniel Filho (responsável por “Chico Xavier” e pelos dois “Se Eu Fosse Você), foi em seu menor trabalho, pelo menos em proporção e contornos, que encontrei a minha maior satisfação.

Nota:  7,5/10

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Fan Art


Ilustração: Designer Gráfico Tyler Wetta

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Crítica: Inferno Vermelho | Um Filme de Walter Hill (1988)


Ivan Danko (Arnold Schwarzenegger) é um capitão da polícia soviética que traça um audacioso plano para capturar Viktor Rostavilli (Ed O’Ross), um perigoso chefão das drogas russo. Mas seu plano fracassa deixando um rastro de mortos além de permitir que seu alvo fuja da União Soviética com destino para os Estados Unidos. Para surpresa de Danko, que atormentado pelo fracasso da missão que levou o seu parceiro a ser morto, algum tempo depois Viktor é preso em Chicago por um pequeno delito. Num acordo de cooperação entre as nações, ficou decidido que Viktor seria despachado para seu país. Enviado para os Estados Unidos para escolta-lo de volta a Moscou para responder por seus crimes, Viktor consegue escapar da custódia das autoridades e consequentemente desencadear uma inesperada parceria. Danko passa a trabalhar ao lado do descolado Sargento Art Ridzik (James Belushi), parceria essa que resultara numa violenta caçada pelas ruas de Chicago. “Inferno Vermelho” (Red Heat, 1988) é um filme de ação policial oitentista dirigido por Walter Hill. O slogan adotado para a venda dessa produção na época define muito sua essência: “O detetive mais durão de Moscou. O policial mais louco de Chicago. Pior que deixa-los com raiva é torná-los parceiros.” Filmes policiais compostos por duplas inusitadas são muito comuns no cinema estadunidense, embora poucas se mostrem relevantes de forma longínqua e memoráveis de modo inquestionável. Portanto, Schwarzenegger (nome que ainda hoje é capaz de arrastar multidões aos cinemas) e Belushi (ator carismático associado a inúmeros sucessos da década de 80 e 90) a dupla encontra um equilíbrio agradável, apesar das falhas decorrentes de seu tempo.

Certamente que “Inferno Vermelho” não foi à primeira produção estadunidense que une um par de policiais muito diferentes, tampouco foi à última. A fórmula de sucesso (a combinação de ação e comédia) permanece vívida nos estúdios de cinema do mundo todo até hoje e ainda rende bons exemplares de entretenimento fácil aos espectadores. Walter Hill entrega um bom filme proveniente dessa fórmula. Ligeiramente subestimado por fãs desse gênero de cinema, “Inferno Vermelho” lança ao espectador boas passagens de humor apresentadas pelo desempenho de James Belushi, ao mesmo tempo em que apresenta uma boa dose de ação a cargo da presença de Arnold Schwarzenegger. Na verdade, relevando a trama e os personagens clichês, a carência de um apuro técnico mais competente (há uma enorme quantidade de falhas de montagem que causam insatisfação em algumas sequências de ação) a falta de uma direção de Walter Hill mais inspirada como em filmes em que trabalhou com Eddie Murphy (nos filmes “48 Horas” e “48 Horas: Parte II), é na dupla de protagonistas que mora os melhores momentos dessa produção. São em passagens onde se conhecem, dividem lembranças e trocam ideias é que os dois se fazem valer dentro da proposta, e principalmente o tempo do espectador. Embora haja colaborações interessantes no elenco de apoio também, como a presença do próprio criminoso interpretado por Ed O’Ross e sua namorada, Gina Gerson, como a de Pete Boyle. “Inferno Vermelho” não é uma comédia acima de qualquer suspeita, muito menos um filme de ação icônico. De certo modo, sua beleza reside muito mais no prazer nostálgico de uma revisão do que na sua descoberta.  

Nota:  7/10
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domingo, 2 de agosto de 2015

Dispensa Apresentações