quarta-feira, 25 de março de 2015

Crítica: Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes | Um Filme de Guy Ritchie (1998)


Eddy (Nick Moran), Tom (Jason Flemyng), Soap (Dexter Fletcher) e Bacon (Jason Statham) são quatro membros da classe trabalhadora de Londres que ocasionalmente se lançam em alguns trambiques para ganhar algum dinheiro fácil. Embora todos tenham suas atividades profissionais honestas, esse pequeno grupo ambiciona algo mais do que um emprego honesto numa cidade que não gera grandes oportunidades. E é na habilidade de Eddy com as cartas que eles apostam uma pequena fortuna num jogo de pôquer de apostas altas, mas que para a surpresa do grupo, não sai como o esperado. A mesa é fraudada por Harry Lonsdale (P.H. Moriarty), um perigoso gângster, fazendo com que Eddy caia numa armadilha e saia da mesa em dívida com pouco tempo para pagar. E assim começa uma cruzada repleta de planos equivocados para juntar o dinheiro em uma semana antes que o prazo final se esgote. “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” (Lock, Stock and Two Smoking Barrels, 1998) é uma produção independente de crime escrita e dirigida por Guy Ritchie (diretor britânico que ficou famoso no final da década de 90 por se tornar o marido da estrela pop Madona, a qual hoje não se encontra mais casado). Embora tenha obtido grande sucesso com “Snatch – Porcos e Diamantes” (2000), foi com a adoção de um olhar arrojado sobre o universo dos gângsters, que essa produção conferiu um grato impulso rítmico sobre esse subgênero. Se “Snatch” é inegavelmente bom, talvez até sendo seu melhor trabalho, foi através de seu longa-metragem de estreia que ele surpreendeu muita gente.


Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” possui várias qualidades, que vão de aspectos técnicos aos criativos. Recheado de engenhosas subtramas, entregue por um roteiro afinado com excelentes diálogos, Guy Ritchie acerta ao alternar tudo com um toque de humor inglês bem equilibrado. Cenas de violência e humor se equilibram de modo bem orgânico dentro do conjunto. O filme possui um ritmo curiosamente frenético semelhante a um vídeo clipe musical, exibindo canções geniais ao seu decorrer, mas bem pausado por momentos eficientes de interpretação. Curiosamente essa produção lançou atores que na época eram desconhecidos, como Jason Statham e Vinnie Jones, e hoje são nomes bem conhecidos do grande público. Na verdade, o filme está repleto de ótimas atuações marcadas por um tom levemente teatral, que se encaixa bem dentro do conjunto. Com uma notável edição de imagens e uma montagem extremamente criativa, tudo é marcado por um modo de câmera estilizado, onde o cineasta mescla bem as tramas paralelas com a história principal. Durante muitos anos o cineasta Guy Ritchie ficou sendo comparado a outros famosos cineastas (Quentin Tarantino, Danny Boyle, Martin Scorcese), embora tenha aos poucos provado que seu trabalho não tenha base em plágio, mas numa sabida decisão de estética a qual ele sabe bem lidar. “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes” é em resumo puro entretenimento, divertido como deve ser. Essa produção reúne uma série variada de qualidades numa proposta cinematográfica arrojada, dinâmica e que foi o começo de uma carreira promissora.

Nota:   9/10