sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Crítica: The Rover: A Caçada | Um Filme de David Michod (2014)


Dez anos após a sociedade sofrer um colapso econômico e social, a Austrália tornou-se uma terra desolada, árida e perigosa. Com poucos resquícios de um regime social controlado, as pessoas tentam desesperadamente cada um ao seu modo, sobreviver em meio a muita violência e paranoia nesse inóspito cenário. E quando um sujeito sem nome (Guy Pearce) tem seu carro roubado durante a fuga atrapalhada de uma quadrilha de ladrões (Scoot McNairy, Tawanda Manyimo e David Field), o sujeito parte sem hesitação na busca de seu único bem em uma violenta jornada de resgate. Mas a certa altura de sua caçada o sujeito encontra Rey (Robert Pattinson), um tipo mentalmente problemático e membro da gangue responsável pelo roubo do seu carro que foi deixado para trás para morrer e pode ajudar a encontrar os responsáveis pelo roubo. “The Rover: A Caçada” (The Rover, 2014) é um thriller dramático australiano que se passa em um futuro distópico nos escaldantes desertos australianos. Com história de Joel Edgerton e roteiro de David Michod, a direção também fica a cargo de David Michod que entrega uma produção de atmosfera pesada pela violência e desesperança que toma o ambiente que se desenrola os acontecimentos. Curiosamente a coisa mais fascinante nessa produção está no alcance que sua história ganha e a forma como é desenvolvida para o espectador. Portanto, “The Rover: A Caçada” é uma surpresa nascida de uma premissa simplista. Apesar das condições climáticas ensolaradas da Austrália, esse país já rendeu filmes de natureza intensamente sombria (“Mad Max” talvez seja o mais famoso), como também originou realizadores de talento como John Hillcoat (outro cineasta australiano responsável pelo perturbador “A Estrada), cineasta este que entregou um filme bem capaz. Por isso essa produção entra para uma seleta lista de filmes habilmente estabelecidos na Austrália.


O enredo de “The Rover: A Caçada” não passa de uma viajem repleta de encontros violentos numa terra de pouco controle. A vida humana tornou-se fútil, o dinheiro quase inútil e o policiamento tornou-se quase impossível em uma sociedade quebrada que tenta se equilibrar em meio ao caos. As ruas intermináveis acentuam o clima de desolação vivido pelos personagens. E esses personagens ganham uma profundidade interessante saída de sutis dicas e poucas palavras que transpõem ao espectador uma série de emoções ocultas. Se o inglês naturalizado australiano Guy Pearce é o grande nome do elenco, ao mesmo tempo em que Robert Pattinson possa ser o mais atraente a determinados públicos, tanto um quanto o outro se mostram escolhas perfeitas e completamente entregues as condições da proposta dessa produção, embora Pearce se destaque solenemente. Embora o desenvolvimento mostre categoricamente que o sujeito interpretado por Guy Pearce quer apenas o carro de volta, o que desperta curiosidade pela sua cega obstinação, a trama dá pistas de que há algo a mais nessa obsessão que se esclarece no desfecho que deixa para trás a carnificina e dá lugar a uma forte emoção. Com uma belíssima direção de fotografia que contribui para dar o clima árido que o enredo necessita e uma trilha sonora pontual nos momentos vibrantes, “The Rover: A Caçada” é de uma frieza que pode ser incômoda a alguns espectadores. Mas a construção de uma narrativa plausível, atuações intensas e uma história que mostra mais do que aparenta a primeira vista, faz do trabalho de David Michod um bom filme que merece ser descoberto.

Nota:  7,5/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário