terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Crítica: True Lies | Um Filme de James Cameron (1994)


Harry Tasker (Arnold Schwarzenegger) tem uma vida dupla. Embora sua esposa Helen (Jamie Lee Curtis) acredite que ele não passe de um entediante vendedor de computadores, Harry é na verdade um renomado agente secreto do governo disfarçado para sua família se manter em segurança. No entanto, quando sua atenção está totalmente voltada para um perigoso grupo de terroristas que estão de posse de armas nucleares, algo inesperado vem a surpreendê-lo. Harry descobre que sua esposa tem se encontrado com outro homem, um mero vendedor de carros mentiroso que se diz espião, para com isso encontrar uma fuga da vida desinteressante que leva sendo apenas uma boa esposa. Assim Harry busca com muito jogo de cintura impedir que os fanáticos terroristas destruam o mundo, ao mesmo tempo em que procura conferir a sua esposa um pouco de aventura. Mas para sua surpresa seus dois problemas se colidem e seus segredos são revelados, como a difícil tarefa de salvar o mundo se intensifica pelo fato dele ter que salvar antes de tudo sua esposa raptada pelos terroristas. “True Lies” (Idem, 1994) é um filme de ação e espionagem dirigido pelo megalomaníaco James Cameron. Tendo como base um longa-metragem francês de 1991, chamado “La Totale” (um filme pouco conhecido realizado por Claude Zidi), seu remake é em suma uma fonte equilibrada de ação eletrizante e humor bem realizado que resulta numa genial obra de entretenimento que melhor aproveita as qualidades dos envolvidos e justifica o estrondoso sucesso de bilheteria da época e as inúmeras críticas positivas que colecionou ao longo dos anos.


Se Arnold Schwarzenegger é o que é, foi graças ao James Cameron (já que ambos estão simultaneamente envolvidos em dois dos maiores sucessos do cinema contemporâneo materializados nos episódios iniciais da franquia “O Exterminador do Futuro”),  e “True Lies” é o que é em função dos dois. Cameron é um dos poucos cineastas que conseguiram equilibrar como nenhum outro realizador as deficiências dramáticas do astro e aproveitar com êxito seu carisma e talento para a comédia. Por isso, quando Cameron mesclou um roteiro bem estruturado (de responsabilidade de Claude Zidi, Simon Michael e Didier Kaminka) com um elenco inspirado de protagonistas aos coadjuvantes (Arnold Schwarzenegger, Jamie Lee Curtis, Tom Arnold e Bill Paxton), criou cenas de ação geniais permeadas com efeitos visuais de primeira linha acrescentando uma dose refinada de humor repleto de boas piadas. O cineasta criou de certa forma uma sátira aos filmes de James Bond tão bem feita que chegou a ser superior ao homenageado na época. James Cameron famoso pelos orçamentos milionários, seus filmes geralmente são associados com otimismo ao critério custo e benefício (cada sequência mirabolante da ação criada pelo cineasta justifica o investimento pelo alcance positivo do resultado). Enfim, “True Lies” é um daqueles filmes impossíveis de não agradar ao espectador. Mesmo após quinze anos do seu lançamento, essa produção resiste à prova do tempo como poucos exemplares desse gênero. Engraçado e emocionante, impecável nos quesitos técnicos, esse filme é desprovido de falhas incômodas.

Nota:  8,5/10
                

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

Retrospectiva Cinéfila 2014

De quantos filmes é preciso para se fazer uma retrospectiva cinéfila? Talvez uns 300 para se fazer uma retrospectiva realmente abrangente e satisfatória, sendo que o ucraniano Nikita Malko entrega um vídeo trailer com um pouco mais que isso. Entre vários vídeos de mesma proposta, o seu se destaca ao mesclar com habilidade e harmonia mais de 300 filmes (que se alternam entre gêneros e qualidade) em pouco mais de oito minutos de cenas de várias produções lançadas no ano de 2014. Parece um trailer de um filme gigantesco, editado com esmero e com uma trilha sonora mais do que bem escolhida. Convenhamos: não basta mesclar tudo e por uma música de fundo para decorar. É preciso dar harmonia ao que se mostra, e isso o editor ucraniano mostra que sabe fazer como ninguém. Para maiores informações sobre o vídeo, a lista de filmes que compõem o material como a própria trilha sonora, acesse seu blog e confira alguns detalhes:

domingo, 28 de dezembro de 2014

Crítica: Maze Runner – Correr ou Morrer | Um Filme de Wes Ball (2014)


Sem saber por que ou ao menos aonde, Thormas (Dylan O’Brien) desperta assustado do interior de um elevador que se abre para um mundo desconhecido. Com dificuldades de lembrar seu próprio nome, ele passa a integrar um grupo de adolescentes aprisionados em uma clareira rodeada por enormes murros que delimitam um perigoso labirinto cercado de mistérios. Aos poucos ele passa a se familiarizar com a metódica rotina do lugar e com as regras que tem que seguir para coexistir com os demais membros do grupo. Assim como Thomas, nenhum dos garotos que estão ali sabem como chegaram lá, e o por quê. Mas sabem que todas as manhãs as portas do labirinto se abrem e a noite se fecham, como também a cada trinta dias um novo membro surge do mesmo elevador do qual Thomas saiu. E muitos segredos e mistérios que permeiam a vida desses jovens, sobretudo no labirinto, podem encontrar revelações na memória de Thomas, como no surgimento da primeira garota dessa prisão. Mas a rotina dada como certa por boa parte dos membros vai se alterando com a presença de Thomas e a possibilidade de fuga dessa prisão cada vez se torna mais alcançável e proporcionalmente perigosa. “Maze Runner – Correr ou Morrer” (The Maze Runner, 2014) é uma produção de ficção cientifica e mistério baseada no grande sucesso literário de 2009 publicado por James Dasher com o mesmo título do filme. Com roteiro de Noah Oppenheim e direção de Wes Ball, essa produção tem suas raízes em mais um exemplar literário direcionado a jovens adultos. Enquanto “Jogos Vorazes” usufrui dos benefícios de seu pioneirismo e “Divergente” aspirava ser um concorrente a altura nesse subgênero, “Maze Runner – Correr ou Morrer” corre por fora (desculpem o trocadilho) e se mostra uma surpresa agradável e inesperada.


A razão pela qual “Maze Runner – Correr ou Morrer” se mostra uma produção digna de alguma atenção se resume numa palavra: competência. Há sinais de capacidade em sua realização. Na primeira hora do desenvolvimento dessa produção há todos os elementos necessários para despertar a atenção do espectador, e a direção Wes Ball mescla tudo de forma orgânica. O ambiente em que se passa a trama é bem criado, seja pelos efeitos visuais discretos e de funcionalidade inquestionável ou pela forma elegante em que apenas se apresentam. A ação tem ritmo e distanciamento de qualquer sensação de tédio. O elenco desprovido de grandes astros funciona dentro da proposta, como Dylan O’Brien se destaca merecedoramente entre o grupo (sua busca por uma saída da prisão não é um desafio somente material, mas psicológico bem interpretado). Há uma exploração acertada em relação dos mistérios que cercam o passado e o futuro desses jovens, como também há uma ameaça verdadeiramente aterrorizante materializada em perigosas criaturas que rondam os corredores do labirinto e distanciam os jovens de alcançar o sucesso de encontrar uma saída deste confinamento. Se para a maioria das transposições cinematográficas é interessante (embora quase nunca realmente necessária) que o espectador tenha um conhecimento aprofundado de sua base literária, essa produção dispensa maiores informações. Tudo que o espectador precisa saber decorre em tela numa medida bem equilibrada com o formato de cinema. Embora o desenvolvimento não apresente nenhuma surpresa avassaladora, como as reviravoltas não se mostrem tão intensas quanto necessitavam, além do desfecho apressado marcado de exageros simplistas e injustificáveis, “Maze Runner – Correr ou Morrer” não decepciona como era de se esperar de um retardatário. Com um gancho pouco criativo para uma sequência que deixa uma promessa de melhoras significativas para o futuro da franquia, talvez essa produção ainda venha a ganhar momentos de liderança no coração de muitos espectadores sendo que “Jogos Vorazes” tem se aproximado do fim e não anda tão fascinante como nos primórdios da série.  

Nota:  7,5/10

sábado, 27 de dezembro de 2014

O Escolhido Foi Você


Um raio nunca cai no mesmo lugar. Em se tratando de cinema, essa regra definitivamente não vale. Afinal de contas, o lançamento de filmes com a mesma temática são comuns em Hollywood. E mais comum ainda é eles serem lançados quase que um em seguida do outro, aproveitando a memória fresca do longa-metragem anterior. Em 2014, a bola da vez foi à figura mitológica do herói grego Hércules. Prestigiado com três filmes (“Hercules Reborn” de Nick Lyon, “The Legend of Hercules” de Renny Harlin e “Hercules” de Brett Ratner), todos possuem propostas que se diferenciam em foco e qualidade. Curiosamente a proposta cética de Brett Ratner sobre Hércules e seus doze trabalhos que marcaram a trajetória da fama do herói ganha disparado de qualquer coisa feita às margens dessa produção. E considerando que nenhum filme em live-action até então recebeu uma transposição que exibisse com tanta fluidez cinéfila os aspectos que o fizeram um lenda histórica familiar a qualquer um, independente ou não, de estar familiarizado com a mitologia grega, a atuação de Dwayne Johnson pode até não convencer, mas diverte o suficiente.         

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Crítica: The Rover: A Caçada | Um Filme de David Michod (2014)


Dez anos após a sociedade sofrer um colapso econômico e social, a Austrália tornou-se uma terra desolada, árida e perigosa. Com poucos resquícios de um regime social controlado, as pessoas tentam desesperadamente cada um ao seu modo, sobreviver em meio a muita violência e paranoia nesse inóspito cenário. E quando um sujeito sem nome (Guy Pearce) tem seu carro roubado durante a fuga atrapalhada de uma quadrilha de ladrões (Scoot McNairy, Tawanda Manyimo e David Field), o sujeito parte sem hesitação na busca de seu único bem em uma violenta jornada de resgate. Mas a certa altura de sua caçada o sujeito encontra Rey (Robert Pattinson), um tipo mentalmente problemático e membro da gangue responsável pelo roubo do seu carro que foi deixado para trás para morrer e pode ajudar a encontrar os responsáveis pelo roubo. “The Rover: A Caçada” (The Rover, 2014) é um thriller dramático australiano que se passa em um futuro distópico nos escaldantes desertos australianos. Com história de Joel Edgerton e roteiro de David Michod, a direção também fica a cargo de David Michod que entrega uma produção de atmosfera pesada pela violência e desesperança que toma o ambiente que se desenrola os acontecimentos. Curiosamente a coisa mais fascinante nessa produção está no alcance que sua história ganha e a forma como é desenvolvida para o espectador. Portanto, “The Rover: A Caçada” é uma surpresa nascida de uma premissa simplista. Apesar das condições climáticas ensolaradas da Austrália, esse país já rendeu filmes de natureza intensamente sombria (“Mad Max” talvez seja o mais famoso), como também originou realizadores de talento como John Hillcoat (outro cineasta australiano responsável pelo perturbador “A Estrada), cineasta este que entregou um filme bem capaz. Por isso essa produção entra para uma seleta lista de filmes habilmente estabelecidos na Austrália.


O enredo de “The Rover: A Caçada” não passa de uma viajem repleta de encontros violentos numa terra de pouco controle. A vida humana tornou-se fútil, o dinheiro quase inútil e o policiamento tornou-se quase impossível em uma sociedade quebrada que tenta se equilibrar em meio ao caos. As ruas intermináveis acentuam o clima de desolação vivido pelos personagens. E esses personagens ganham uma profundidade interessante saída de sutis dicas e poucas palavras que transpõem ao espectador uma série de emoções ocultas. Se o inglês naturalizado australiano Guy Pearce é o grande nome do elenco, ao mesmo tempo em que Robert Pattinson possa ser o mais atraente a determinados públicos, tanto um quanto o outro se mostram escolhas perfeitas e completamente entregues as condições da proposta dessa produção, embora Pearce se destaque solenemente. Embora o desenvolvimento mostre categoricamente que o sujeito interpretado por Guy Pearce quer apenas o carro de volta, o que desperta curiosidade pela sua cega obstinação, a trama dá pistas de que há algo a mais nessa obsessão que se esclarece no desfecho que deixa para trás a carnificina e dá lugar a uma forte emoção. Com uma belíssima direção de fotografia que contribui para dar o clima árido que o enredo necessita e uma trilha sonora pontual nos momentos vibrantes, “The Rover: A Caçada” é de uma frieza que pode ser incômoda a alguns espectadores. Mas a construção de uma narrativa plausível, atuações intensas e uma história que mostra mais do que aparenta a primeira vista, faz do trabalho de David Michod um bom filme que merece ser descoberto.

Nota:  7,5/10

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Crítica: O Fabuloso Destino de Amélie Poulain | Um Filme de Jean-Pierre Jeunet (2001)


Amélie Poulain (Andrey Tatou) é uma jovem parisiense cuja infância foi equivocadamente reprimida por razões errôneas em relação a sua saúde. Seus pais convencidos de ela ter um grave problema cardíaco a superprotegiam do mundo a obrigando consequentemente a criar um universo fantástico de sonhos. Já adulta, morando sozinha num apartamento no subúrbio de Paris e trabalhando em uma lanchonete como garçonete, ela continuava a conferir certa magia ao mundo que a cercava. Certo dia quando encontra uma pequena caixa, um tesouro perdido pertencente ao ex-ocupante de seu apartamento, ela traça um plano para devolver o bem ao antigo dono. E com esse nobre objetivo, Amélie Poulain ainda confere de modo naturalmente mágico um apoio às figuras que diariamente estão envolvidas com sua vida, além de inesperadamente encontrar no processo um verdadeiro amor. “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” (Le Fabuleux Destin d’Amélie Poulain, 2001) é um longa-metragem francês do gênero comédia-dramática que se mostrou um sucesso de público pelo mundo. Essa produção recebeu inúmeras indicações a prêmios em diferentes eventos pelo mundo. Dentre todas as indicações angariou vários prêmios em diferentes áreas, como também o filme recebeu (e ainda recebe) ao longo dos anos demonstrações mais do que merecidas de afeto e carinho do público e da crítica especializada. Escrito por Guillaume Laurant, o cineasta Jean-Pierre Jeunet entrega um filme sensivelmente charmoso, delicado nos detalhes e expressivamente otimista.


O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” é pura poesia cinematográfica. Visualmente impecável, suas cores são brilhantes e cheias de vida que se enriquecem pelos enquadramentos bem utilizados. Inclusive em momentos onde a história de Amélie Poulain soe sendo ligeiramente triste, como em sua infância, a direção de fotografia de Bruno Delbonnel confere de forma inexplicável uma estranha alegria a passagem. Uma perfeita combinação de talento de interpretação e criação de uma atmosfera de conto de fadas que tem um equilíbrio exemplar. O efeito da fotografia adotado é a sobreposição de cores (vermelho e verde), que segundo o responsável tem inspiração no trabalho do pintor Juarez Machado, além de ter referência na obra de Vincent Van Gogh. O roteiro que gera várias situações divertidas, ora carregadas de emoção como também de bom humor (o arco da trama envolvendo o anão de jardim é genial), fazem do desenvolvimento da trajetória da protagonista uma bem-vinda história feita sob medida para agradar até aos mais sensatos dos espectadores. Andrey Tatou, uma atriz revelação que casa bem com a personagem encabeça o elenco que ainda está repleto de figuras delicadas e envolventes. Outra riqueza dessa produção se encontra na trilha sonora, de belas canções combinadas com uma orquestra instrumental influente que é impossível passar despercebida aos ouvidos. Essa mistura de comédia e drama presente em “O Fabuloso Destino de Amélie Poulain” resulta num filme envolvente do começo ao fim por encontrar magia nas pequenas coisas da vida. Tornou-se facilmente uma obra cult e um clássico moderno que a cada ano cativa mais fãs. 

Nota:  8,5/10

sexta-feira, 19 de dezembro de 2014

O Surrealismo de Thomas Dagg | Star Wars invade a realidade

Mesclar elementos fantásticos com cenas ou paisagens comuns do cotidiano não é nenhuma novidade. Mas não precisa necessariamente ser fã da icônica franquia de aventura e ficção cientifica criada por George Lucas (Star Wars) para não deixar as fotografias fotoshopadas de Thomas Dagg passarem despercebidas. O artista um fã incondicional dessa franquia épica desde garoto, o fotógrafo canadense elabora um trabalho visual em que insere digitalmente sabres de luz, naves espaciais e personagens dos filmes em momentos corriqueiros do dia-a-dia. Confere imaginativamente um realismo impecável as imagens. Se as fotos naturalmente já detinham um certo charme sem as modificações, com elas ele cria uma série deslumbrante até para quem não é fã desse clássico do cinema. 
Confira abaixo o resultado do seu trabalho realístico:  










      

quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Uma Série Limitada Sem Limitações


Em um evento onde a Metro-Goldwyn-Mayer anuncia o surgimento de seu novo longa-metragem da série 007 (intitulado como “007: Spectre), o filme virá em 2015 para dar continuidade a uma boa fase da série. Trata-se de uma produção que será dirigida por Sam Mendes e estrelada por Daniel Craig, Rory Kinnear, Bem Whishaw, Naomie Harris, Christoph Waltz e Andrew Scott.  Embora a produção esteja repleta de astros, outro elemento que roubou a cena nessa apresentação inicial foi o Aston Martin DB 10, um esportivo grã-turismo desenvolvido especificamente para o novo filme (foram construídos 10 carros para as filmagens). O personagem James Bond sempre gerou ícones, pessoais e materiais. Ao longo dos anos, o mais famoso agente secreto do cinema já dividiu a tela com as mais variadas máquinas (e não estou me referindo a nenhuma BondGirl necessariamente) e sim aos automóveis mesmo. Os carros, que em muitos casos se tornaram clássicos sempre foram uma parte importante dos filmes do agente secreto. E por isso, basta dar uma olhada rápida para ver que em seu próximo filme não será diferente. Além do mais, nem precisa de opcionais de espionagem para dizer que já está bom demais assim, original de fábrica

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Crítica: Autómata | Um Filme de Gabe Ibáñez (2014)


O ano é 2044. Devido a poderosas explosões solares que desencadearam mudanças climáticas irreversíveis, a Terra tornou-se um local inóspito com pequenas localidades habitáveis ilhadas por um deserto radioativo. E os sobreviventes dessa catástrofe, que expostos às dificuldades desse desolador cenário tornaram-se por fim relativamente dependentes de robôs criados de acordo com uma programação que preza priorizar a proteção e uma cega servidão a população. E quando Jacq Vaucan (Antonio Banderas), um agente de seguros que investiga casos onde os robôs violam sua programação inalterável, Vaucan descobre que algo estranho está acontecendo com essas máquinas. Diante de algumas atitudes incomuns desses robôs, Vaucan descobre uma rede de mistérios que se mantem em segredo nos bastidores da empresa em que trabalha e que certos segredos sobre esses robôs irão trazer consequências para o futuro da humanidade. “Autómata” (Automata, 2014) é um drama de ficção cientifica escrito por Gabe Ibáñez, Igor Legaretta e Javier Sanchez Doe. Dirigido pelo espanhol Gabe Ibáñez e estrelado por Antonio Banderas, essa produção tem ao seu modo um enredo ligado às três leis da robótica criadas por Isaac Asimov. Mas ainda que tenha uma base sólida para consolidar sua premissa, o trabalho de Ibáñez não acrescenta muito aos familiarizados com o trabalho do escritor russo ou aos fãs e conhecedores de filmes como “Blade Runner – O Caçador de Androides”, de Ridley Scott e até mesmo “Eu, Robô”, de Alex Proyas. De aparência inspirada, o visual de “Autómata” pode ser infelizmente o único grande trunfo desse longa-metragem que está aquém do esperado.


Embora surjam ocasionalmente comparações do trabalho de Gabe Ibáñez com outros filmes, como nos citados acima, “Autómata” não cai na armadilha de plagiar qualquer influência. Pelo contrário, considerando que essa produção tem a autossuficiência necessária para no máximo surgir como uma sempre bem vinda homenagem, também nunca demonstra capacidade de superar suas inspirações. O trabalho de Ibáñez tem sim o seu charme, visual e narrativo, mas carece de emoções mais intensas e um aprofundamento mais envolvente em volta do tema principal (a revolução das máquinas sobre a ditadura humana), como um desenvolvimento de personagens mais interessante. O roteiro dessa produção segue um enredo previsível em torno do tema principal, armado de um punhado de boas sacadas, mas que não prendem a atenção do espectador com eficiência ao longo de sua duração. Além do mais, o ritmo lento e arrastado típico do cinema europeu prejudica a eficácia das reviravoltas, que ainda por cima são poucas. Se Antonio Banderas se mostra fantástico no papel que desempenha, e Robert Forster uma grata surpresa, a presença de Melanie Griffith como a doutora Drupe se resume a um desperdício de um grande nome do elenco (embora ela empreste a voz a uma importante personagem robotizada), a presença da esposa de Vaucan é uma completa incógnita dentro da trama por sua presença de duvidosa relevância.

A truculência da urbanização da cidade em que Banderas reside, a aridez do deserto que envolve a jornada de redenção do protagonista combinada com uma direção de arte que acentua o futuro distópico dessa produção, mostra de modo fantástico o quanto à Bulgária serve convenientemente ao orçamento mirrado com que Gabe Ibáñez tem que lidar, como os robôs que mais parecem ter saído de uma feira de ciências melhorada combina com as condições desfavoráveis do enredo. Por isso a aparência desse longa, seja pelos elementos técnicos como também artísticos (a direção de fotografia é esplendida), mostram o quanto “Autómata” foi bem cuidado em alguns aspectos. Porém, pode até haver algumas novas ideias em volta do tema em que o trabalho do cineasta toca, mas ainda sim carece de um aprofundamento mais simpático e armado de verdadeiras novidades para escrever que essa produção vai se tornar memorável.

Nota:  6/10

sábado, 13 de dezembro de 2014

Eu sempre tive medo do Mr. Bean


Ao contrário da maioria das pessoas, eu sempre me senti meio desconfortável diante do olhar congelado e singular do ator Rowan Atkinson. O Mr. Bean, personagem cômico típico do humor britânico criado por seu próprio intérprete, pode ser para a maioria sinônimo de risadas, mas eu sempre vi nos olhos esbugalhados do personagem uma natureza sinistra de psicopata prestes a ser revelada. E como eu imaginava, não somente eu via isso. Misha Colbourne tem um canal no YouTube que explora esse lado psicopata do personagem. Criando um trailer falso chamado "Bean",  a responsável pinta a figura do Mr. Bean como um assassino em série em um tenso suspense policial de uma genialidade louvável. Com um trabalho de montagem genial e uma trilha sonora adequada, o vídeo transparece com facilidade sua natureza doentia a ponto de causar receio. Confira abaixo o trailer:       

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Crítica: No Limite do Amanhã | Um Filme de Doug Liman (2014)


O Major Will Cage (Tom Cruise) é uma espécie de relações públicas do exército dos Estados Unidos que vai a Londres para ajudar a melhorar a imagem das Forças Armadas. Embora seja um militar, Cage não passa de um burocrata que vende ao mundo uma difícil vitória sobre uma raça alienígena denominada Miméticos que tem devastado a Europa e se espalha pelo mundo. A única vitória memorável foi protagonizada por Rita Vrataski (Emily Blunt), uma habilidosa combatente que lhe conferiu a alcunha de “O Anjo de Verdun”. Totalmente alheio ao campo de batalha, Cage é surpreendido com a notícia de que iria cobrir pessoalmente a operação Derrocada, uma importante incursão militar que se mostra rapidamente uma inevitável sentença de morte aos soldados. Praticamente jogado no front totalmente despreparado para o combate, apenas contando com a sorte como sua aliada, Cage é vitimado por um raro alienígena que lhe confere a capacidade de voltar no tempo e repetir o tão famigerado dia inúmeras vezes numa espécie de looping do tempo. Se no começo ele iria vender uma vitória inalcançável sobre a ameaça alienígena e depois acabou lutando uma guerra impossível de ser vencida, com a ajuda Rita Vrataski e seu incomum dom de voltar no tempo, agora ele pode com muita persistência fazer toda a diferença nessa desfavorável guerra contra o fim do mundo. “No Limite do Amanhã” (Edge of Tomorrow, 2014) é uma produção de ação e ficção científica baseada no conto de mangá “All You is Kill” escrito por Hiroshi Sakurazaka. Com roteiro escrito a três mãos (de responsabilidade de Christopher McQuarrie, Jez Butterworth e John-Henry Butterworth), o cineasta Doug Liman entrega seu melhor filme desde “Identidade Bourne” (2002).


No Limite do Amanhã” é uma grata surpresa da ficção cientifica que surgiu esse ano. Acompanhar a aparente e interminável jornada de morte e renascimento de Will Cage em sua cruzada para mudar o curso da história é estranhamente divertido aos sentidos. Isso porque as constantes repetições de determinadas sequências (que muito se assemelham a uma fase de jogo de difícil superação) poderiam muito bem se tornar cansativas a certa altura, curiosamente se mostram ao fim divertidas em função de uma inteligente montagem que confere ritmo e emoção a premissa. Com um desenvolvimento que esbanja humor da melhor qualidade e efeitos especiais de um requinte hollywoodiano, além de atuações inspiradas do elenco principal onde tanto Emily Blunt quanto o próprio Tom Cruise estão irretocáveis, Doug Liman acerta no tom de seu trabalho. Ainda que haja certas falhas (faltou um desfecho a altura do desenvolvimento), de certo modo irrelevantes se o espectador embarcar na viagem do tempo de Cruise, as vidas extras ganhas pelo protagonista não se convertem em desperdício de tempo do espectador. Sua trama se arma de algumas referências (a batalha fatídica contra os alienígenas em muito se assemelha ao desembarque da infantaria americana na praia da Normandia retratada em “O Resgate do Soldado Ryan), como seu desenvolvimento gera algumas rápidas definições de rótulo (seu desenvolvimento parece à combinação de outros filmes que tem a viagem no tempo como base para a sua trama), mas que não ofendem suas supostas referências como também não ferem o resultado dessa produção. Ao final das contas, “No Limite do Amanhã” é puro entretenimento.

Nota:  8/10


terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Baseado em Fatos Reais


Sinceramente não sei o quanto dessa revelação é real. Na verdade, quando eu li a umas noites atrás o rápido depoimento de um jovem estudante norte-americano (tentei sem sucesso resgatar a fonte para disponibiliza-la aqui) que descreve ligeiramente que em uma aula de história sobre a Guerra do Vietnã o professor responsável utiliza como forma de enriquecimento educacional a imagem acima numa apresentação de slides para ilustrar de modo mais atrativo para os olhos dos estudantes os eventos ocorridos em uma das mais importantes guerras em que os Estados Unidos da América se envolveram, eu fiquei tão intrigado quanto incrédulo. Se não for de conhecimento público a imagem se refere ao longa-metragem “Trovão Tropical” (Tropic Thunder, 2008), uma comédia de ação estrelada por Ben Stiler, Robert Downey Jr. e Jack Black. A milhares de anos luz distante de estar retratando fatos em seu desenvolvimento, já que esse filme não se categoriza no gênero documental de modo algum, seria no mínimo curioso contemplar uma imagem dessas (tendo consciência de sua origem) em uma aula de história. Me resta imaginar o contexto do enredo em que essa imagem surge. Independente de ser verdade ou não o que li, isso deve ser uma piada. 

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Crítica: Cães de Aluguel | Um Filme de Quentin Tarantino (1992)


Quando um grupo de bandidos decide realizar um assalto a uma joalheria em busca de uma coleção valiosa de diamantes não imaginam que suas vidas irão mudar com esse roubo. Sendo que durante a ação eles são surpreendidos pela policia no local do assalto, fica visível a suspeita de que um dos integrantes é um delator e possivelmente um policial disfarçado na quadrilha. Todos os membros eram completos desconhecidos, se referindo uns aos outros apenas como nomes de cores, o que possibilitava que qualquer um dos membros poderia ser o delator. Numa fuga atrapalhada poucos escapam, e escondidos e acuados pelas autoridades no esconderijo, um refém é levado com eles como garantia de segurança e como uma chave para desvendar a identidade do traidor da quadrilha. “Cães de Aluguel” (Reservoir Dogs, 1992) é um suspense policial estadunidense escrito e dirigido por Quentin Tarantino. Com nomes como Harvey Keitel, Steve Buscemi, Michael Madsen, Tim Roth e Chris Penn no elenco, o cineasta Quentin Tarantino entrega um filme sem atrativos visuais ou reviravoltas estonteantes no roteiro, mas que curiosamente tornou-se um clássico moderno que preparou terreno para o nome do cineasta vir a ser definitivamente gravado na memória de uma geração de espectadores. Se “Pulp Fiction - Tempo de Violência” de 1994 é visto como seu trabalho mais marcante, uma obra cult sem igual, é nessa produção que o cineasta reúne todos os elementos que viriam a ditar ao longo dos anos seguintes a estética de um cinema vanguarda (violência estilizada, referências à cultura pop e narrativa não-linear). O sucesso de seu segundo trabalho levou muitos espectadores a descobrir essa produção independente que demonstrava que seu realizador ainda tinha muito a oferecer a sétima arte.

Embora “Cães de Aluguel” tenha uma história relativamente simples, é nos diálogos afiados e nas atuações impecáveis que reside as maiores qualidades dessa obra. Além do mais, o curioso fato do cineasta não mostrar o tão famigerado assalto chama a atenção. Por questões orçamentarias ou escolha narrativa, esse longa tem vários aspectos que chamam a atenção, isso dentro e fora das telas. Idealizado com um orçamento mínimo, a produção ganhou um gás com o envolvimento de Harvey Keitel como co-produtor e estrela do elenco, possibilitando conferir ao projeto um ar realmente profissional. Objetivo mais do que atingido, já que o filme é constantemente lembrado pela crítica com observações elogiosas e mencionado como uma das brilhantes produções independentes do cinema. Violento ao extremo, recheado com uma série de termos chulos que lhe conferem realismo e diálogos fantásticos proferidos por talentosos atores em situações de tensão de uma atmosfera bem criada pelo cineasta, fazem dessa produção um filme genial. Ainda que seu segundo filme seja lembrado por fãs como seu melhor trabalho, “Cães de Aluguel” tem seu brilho próprio, considerando que se trata do filme de estreia do diretor. Embora seu envolvimento em Hollywood anterior ao reconhecimento que o diretor tem atrás das câmeras pode ser conferido no roteiro de “Amor a Queima Roupa” e “Assassinos por Natureza”, dois filmes de grande impacto, foi com esse filme que Tarantino iniciou sua carreira de sucesso como diretor na indústria cinematográfica.

Nota:  8/10

sábado, 6 de dezembro de 2014

Crítica: November Man: Um Espião Nunca Morre | Um Filme de Roger Donaldson (2014)


Pierce Brosnan não é nenhum novato no gênero da espionagem. Depois de interpretar o agente James Bond em quatro produções da cinesérie 007, onde inclusive obteve até certa altura muitos elogios, o ator esteve nos últimos anos meio afastado desse gênero. Por isso, não deixa de ser uma surpresa aos espectadores atentos a sua carreira vislumbrarem esse retorno. “November Man: Um Espião Nunca Morre” (November Man, 2014) é um thriller de espionagem e ação baseado na obra literária de Bill Granger (adaptado por Michael Finch e Karl Gajdusek) e conduzido por Roger Donaldson, antigo conhecido de Brosnan (os dois trabalharam juntos em “Inferno de Dante” de 1997). Donaldson também não é nenhum iniciante no gênero dos thrillers de espionagem, sendo que ele dirigiu o funcional “O Novato” (2003), estrelado por Al Pacino e Colin Farrel e que tinha sua trama rolando nos bastidores da CIA em um jogo de conspiração onde nada era o que parecia. Aliando a habilidade do diretor em conduzir tramas de conspiração de modo positivo com o carisma do protagonista, “November Man” não é que até convence bem. Em sua trama acompanhamos Peter Deveraux (Pierce Brosnan), um agente da CIA aposentado que mantem viva na memória uma fracassada missão onde um inexperiente agente, David Mason (Luke Bracey) comete um erro trágico. Alguns anos depois, Deveraux é recrutado para uma missão de resgate de uma informante que detêm informações preciosas do presidente da Rússia, Arkady Federov (Lazar Ristovski) sobre crimes de guerra. No entanto tudo sai errado e Deveraux se envolve numa trama de conspiração onde uma assistente social, Alice Fournier (Olga Kurylenko) pode ser a chave para provar sua inocência e levar os verdadeiros à justiça.


November Man: Um Espião Nunca Morre é um thriller de espionagem que tem a estética ligeiramente realista que tem predominado nas produções do gênero (a mesma que tem sido adotada pela franquia 007). De atmosfera bem desenvolvida e ritmo ágil, seu desenvolvimento prende a atenção do espectador de forma eficiente. Embora a ação não seja impressionante por não conseguir apresentar nenhuma novidade visual ou narrativa, e seu enredo ser um amontoado de clichês batidos, Roger Donaldson aproveita todo potencial da presença de seu protagonista, que a muito não entrega a seus fãs um desempenho tão intenso como nessa produção. Pierce Brosnan tem carisma, o charme e passa a credibilidade de saber do que está falando em tela, como também convence em suas abordagens mais violentas do que se podia esperar de seu personagem. Na verdade, Brosnan é o maior trunfo dessa produção. Embora o personagem de Luke Bracey em seu embate contra Brosnan venha gerar bons momentos de interpretação para o jovem ator, e Lazar Ristovski componha um criminoso ameaçador crível, o agente Deveraux rouba a cena ofuscando inclusive a presença da belíssima Olga Kurylenko já infelizmente prejudicada pelo roteiro que lhe confere grande importância sem um fundamento bem elaborado. Sobretudo, November Man: Um Espião Nunca Morre tem tudo que se julga necessário em teoria num filme de espionagem convencional: reviravoltas na trama, traições eminentes, shows pirotécnicos e perseguições para incitar as mais variadas emoções no espectador. Ainda que a trama procure abraçar mais elementos do que é possível condensar em sua duração e busque ser mais do que é, como geralmente é de costume em produções desse gênero (vejam “Jack Ryan Operação Sombra), esse retorno de Brosnan ao ramo da espionagem se mostra bem agradável.

Nota:  7/10


quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Algumas Homenagens Nunca São Excessivas

Para quem é aficionado por cartazes de cinema exclusivos, o site Mondo frequentemente disponibiliza para comércio verdadeiras obras de arte. Criados sob encomenda pelos mais talentosos artistas gráficos do mundo, é cada vez mais comum vermos em sua página grandes filmes ganhar homenagens bem elaboradas. Curiosamente pela primeira vez o cineasta americano Quentin Tarantino recebeu o mérito de ter uma de suas obras ganhando vida pelas mãos de um grande artista (com resultado sendo exclusivamente disponibilizado no site para venda). Uma merecida homenagem ao cineasta e uma grata oportunidade de compra aos fãs. Impresso pelo Mondo, o cartaz do clássico moderno “Pulp Fiction” (1994) ganha uma merecida homenagem vinda das mãos talentosas e da mente criativa do ilustrador Laurent Durieux. O cartaz reúne de modo genial as referências do longa-metragem como também alguns personagens em uma mistura bem equilibrada de cores e estilo. Confira abaixo o resultado da homenagem:



Fonte | Aqui

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Crítica: A Menina que Roubava Livros | Um Filme de Brian Percival (2013)


Durante a Segunda Guerra Mundial, em pleno regime nazista a Morte vem a nos apresentar uma de suas descobertas mais fascinantes: a história de Liesel Meminger (Sophie Nélisse), uma doce menina cuja mãe perseguida pelo regime nazista a envia para o subúrbio de uma cidade alemã para ser cuidada pelo casal Hans Hubermann e Rosa Hubermann (Geoffrey Rush e Emily Watson) em troca de uma esperada pensão enquanto a guerra se arrasta e devasta o território alemão. Logo após a morte do irmão, no enterro, durante seu sepultamento ela rouba o seu primeiro livro que inicia sua jornada de descobertas capaz de influenciar a todos a sua volta. De um jovem garoto que se torna o seu melhor amigo, a um fugitivo judeu que é mantido em sigilo no porão de sua casa, todos terão um papel marcante em sua vida. “A Menina que Roubava Livros” (The Book Thief, 2013) é um drama de guerra estadunidense inspirado no best-seller de mesmo nome do escritor australiano Markus Zusak publicado em 2005. Dirigido pelo diretor britânico Brian Percival, com base no roteiro de Michael Petroni, esse longa-metragem mostra pelos olhos de uma criança os trágicos acontecimentos de uma guerra frequentemente revisitada pelo cinema. Com a história contada através de uma narração em off pela figura sobrenatural da Morte (um dos aspectos mais interessantes do trabalho de Zusak), o diretor Brian Percival adota uma previsível atmosfera adocicada próxima a sua inspiração para descrever os horrores da guerra, mas sem ser comprovadamente capaz de conferir emoção ou tensão a uma história que enaltece o alcance da literatura e a força da vida num período histórico contundente.


O trabalho de Brian Percival reúne estrategicamente as melhores passagens de emoção e tensão presentes na obra literária, mas que transparecem estar ligeiramente desconectadas com a essência da obra de Markus Zusak (um livro sensível capaz de desencadear as mais variadas emoções). A transposição cinematográfica de A Menina que Roubava Livros embora tenha tido um acabamento impecável em relação aos aspectos técnicos (a direção de arte é rica na reconstituição do período em que se passa a história e a direção de fotografia é belíssima nas cores adotadas, além é claro, da reconhecida trilha musical que conferiu a essa produção uma indicação a John Willians ao Oscar de Melhor Trilha Sonora), o filme perde negligentemente no roteiro de Michael Petroni a imprescindível presença do incomum narrador (onde sua materialização se encontra na voz de Roger Allam), o desenvolvimento da história o deixa ofuscado com extensas ausências de suas impressões pessoais dos fatos e da vida. A figura da Morte, elemento tão importante na obra literária e que cujo aspecto a diferenciava de um punhado de outras obras que também tem sua narrativa erguida sobre o olhar de uma criança, causa uma infeliz sensação de desenvolvimento incompleto. Sobretudo, mesclar um elemento fantástico como esse a uma história de contornos clássicos também não é uma tarefa das mais fáceis, o que explica a razão de ter sido deixada em segundo plano. Em contrapartida, o filme entrega atuações bem positivas com destaque para o experiente Geoffrey Rush, um talentoso ator que sempre é garantia de agrado. Por fim, a excelente origem literária de A Menina que Roubava Livros gerou um longa-metragem agradável a quem desconhece o trabalho de Zusak e distante de se tornar memorável ou fazer frente a outros exemplares semelhantes como “O Menino do Pijama Listrado” de 2008.

Nota:  6,5/10

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Crítica: Vamos ser Tiras | Um Filme de Luke Greenfield (2014)


Ryan (Jake Johnson) e Justin (Damon Wayans Jr.) são grandes amigos que vivem estagnados na vida. Após incessantes fracassos na vida profissional e pessoal, ambos estão prestes a se darem por vencidos pelo destino e voltar para sua cidade natal. Principalmente quando, ao ver que todos os seus conhecidos do passado se deram bem, menos eles, ambos começam a perceber que jamais irão alcançar o sucesso. Mas quando resolvem a ir a uma festa de máscaras de antigos colegas do colegial vestidos de policiais, eles são surpreendidos com o fato de que todas as pessoas pelas quais cruzam o seu caminho os veem como verdadeiros policiais, esses dois encontram nessa fantasia um estranho objetivo para dar sentido à vida. No entanto, esses falsos policiais cruzam o caminho de perigosos mafiosos e se veem obrigados a travar uma verdadeira e perigosa luta contra o crime. “Vamos ser Tiras” (Let’s Be Cops, 2014) é um filme de comédia estadunidense dirigido pelo nova-iorquino Luke Greenfield (de “Um Show de Vizinha” de 2004 e “O Noivo da Minha Melhor Amiga” de 2011). Escrito pelo próprio Luke Greenfield em parceria com Nicholas Thomas, essa produção vem para surpreender o espectador desavisado ao mesmo tempo em que pinta um grande alvo no peito para críticos mais severos com filmes desse gênero. Por isso, a trama em si se mostra corajosa, embora seja bobinha e surreal. O enredo que leva a brincadeira infantil do faz de conta (polícia pega ladrão), em suma não se deve levar a sério por mais divertida que possa ser. Assim, se o espectador embarcar nessa proposta improvável onde dois adultos convictos fazem do uniforme de policial uma bem-vinda terapia ocupacional, pode-se por fim se tirar um bom proveito dessa produção.


Tendo um desenvolvimento que corre em alguns aspectos semelhantemente na linha de “Um Tira Muito Suspeito” (1999), o filme “Vamos ser Tiras” apresenta situações cômicas clichês em uma trama policial tosca ao extremo. Até aí tudo bem, algo mais do que previsível em produção dessas. Mas a carismática performance da dupla de protagonistas, combinada com situações bem aproveitadas fazem dessa produção um filme para ser apenas assistido desarmado de observações céticas, que o elevam a um nível de excelência acima da média. Tanto Jake Johnson como Damon Wayans Jr. estão ótimos em suas interpretações para uma comédia despretensiosa que arranca boas risadas do espectador que se coloca diante de um filme esperando apenas um bom divertimento. E a crítica especializada goste ou não, isso já basta para não condenar o trabalho de Luke Greenfield. O despreparo da dupla diante de ações policiais que requerem atitude gera momentos muito divertidos. Ainda que seja mais atrativo para ser visto diretamente na telinha, talvez ganhe algum reconhecimento merecido no cinema, embora eu volto a afirmar que sua narrativa se encaixe bem ao formato televisionado. Boas piadas são permeadas por toda produção e seu desenvolvimento ainda tem um fator de dissipar uma mensagem positiva ao espectador. Por isso, com uma estrutura cinematográfica previsível que nos leva a um clímax convenientemente sincero, “Vamos ser Tiras” é hilariante sem ser forçado (nas mãos de um Adam Sandler com certeza sairia um outro tipo de filme). Vale assistir pela leveza do coração bem intencionado que reside nas suas quase duas horas de duração.

Nota: 7,5/10