quarta-feira, 29 de outubro de 2014

Crítica: A Estrada | Um Filme de John Hillcoat (2009)


Após um cataclismo que devastou toda civilização, aniquilando a fauna e a flora até onde os olhos do homem podem alcançar, poucos anos após o evento ainda persistem alguns sobreviventes que caminham pelos destroços da civilização humana. Nesse cenário desolador em que a sociedade se encontra diante da inóspita condição do meio ambiente, um pai (Viggo Mortensen) e seu filho (Kodi Smit-McPhee) rumam em direção ao sul com a esperança de buscar algum refúgio. Mas o canibalismo passa a ser uma forma de sobrevivência adotada pelos mais fortes e cruéis sobreviventes que vagam pelos restos da civilização na caça de vítimas. O perigo desse comportamento é constante e o estado de alerta nunca deve ser diminuído. Por isso, nessa jornada de esperança pai e filho sobrevivem em meio a inúmeros obstáculos e dificuldades, onde cada dia vivo é uma conquista que gera um aprendizado a ser preservado com a mesma determinação que a vida. “A Estrada” (The Road, 2009) é um road movie estadunidense de grande impacto baseado na obra de Cormac McCarthy (premiado escritor ganhador do Pulitzer pela obra que inspirou essa produção). Dirigido por John Hillcoat (Os Infratores, 2012) e roteirizado por Joe Penhall, esse longa-metragem de contornos apocalípticos extremados apresenta um filme de atmosfera pesada, melancólico e de ritmo lento com doses incessantes de tensão muitas vezes aterrorizante.


Embora “A Estrada” tenha nomes de conceito no elenco como Robert Duvall, Guy Pearce (totalmente irreconhecíveis) e Charlize Theron numa presença ínfima de flashbacks que retratam o princípio dos tempos negros, Viggo Mortensen entrega um personagem marcante de aparência e psicologia, obviamente seguido de perto pelo jovem e inexperiente  Kodi Smit-McPhee em uma atuação sensível e tocante. Ainda que os tempos sejam difíceis, Mortensen busca além de se manter vivo como prioridade, procura sistematicamente ensinar ao seu filho conceitos de civilidade anteriores a situação em que a sociedade se encontra, ainda que numa reação mais do que humana, sugere se desviar eventualmente em reações bipolares em função das circunstâncias. É a lógica combinada com emoção que resulta numa experiência cinematográfica forte aos olhos e delicada aos sentidos. Sobretudo, “A Estrada” é um filme unicamente de atmosfera. Favorecido por uma direção de arte e fotografia bem escolhida, o desprendimento do ser humano de convenções racionais materializadas na constante ameaça do canibalismo (a descida ao porão de uma casa nunca foi tão aterrorizante quanto nessa produção) faz desse longa-metragem uma experiência tensa, e às vezes amedrontadora, como nenhuma outra produção de premissa apocalíptica. Por isso, a combinação acertada do conjunto técnico com inspiradas atuações fazem de “A Estrada” um filme marcante, com uma mensagem de esperança inspiradora para tempos difíceis que se grava na memória facilmente.

Nota: 8/10

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Crítica: Na Natureza Selvagem | Um Filme de Sean Penn (2007)


Quem vê cara, não vê coração! Para quem conhece o famoso ator Sean Penn desde a época em que figurava em nervosos escândalos de tabloides por sua vida pessoal conturbada, nem imaginava que ele fosse capaz de conduzir um longa-metragem de difícil transposição como "Na Natureza Selvagem" (Into the Wild, 2007), filme escrito e dirigido por Sean Penn. Ele passou quase uma década namorando o projeto antes de finalmente materializa-lo. Trata-se de uma história contada na forma de um road movie, de modo emocionalmente intenso, sensível e de desenvolvimento desafiador devido a sua inspiração ser baseada em fatos reais, bem diferente dos seus trabalhos anteriores como realizador (A Promessa, 2001, Acerto Final, 1995 e Unidos pelo Sangue, 1991). Embora também tenha exercido a função de diretor com habilidade e arrematado boas críticas com esses trabalhos, é em "Na Natureza Selvagem" que ele mostra seu verdeiro talento. Visto isso, que esse trabalho lhe rendeu duas indicações ao Oscar (Melhor Ator Coadjuvante e Melhor Montagem) e um prêmio no Golden Globe de Melhor Canção (pela música "Guaranteed") entre outros. Baseado no livro de Jon Krakauer sobre a vida de Chris McCandless, que com cerca de 22 anos abandonou sua estável vida de classe média rumo a uma aventura pelo desconhecido mundo selvagem do território americano em direção ao Alasca, onde o jovem também abandona seu nome verdadeiro como qualquer regalia turística. Ele passou a ser Alexander Supertramp (Emile Hirsch), um jovem sedento de liberdade e determinado a se livrar das amarras da sociedade contemporânea.


Se há um aspecto que faz de "Na Natureza Selvagem" uma produção exemplar dotada de genialidade em sua proposta, é a trilha sonora de responsabilidade Eddie Vedder (vocalista da icônica banda Pearl Jam), que combinada com imagens fantásticas de puro lirismo, acentuam o desenvolvimento da jornada de auto-conhecimento e reflexão de Emile Hirsch de modo tão orgânico quanto belo. Imagens deslumbrantes não faltam como belas e sonoras canções, que intensificam as interpretações de elenco igualmente afinado em suas entregas de personagens. Se a atuação de Emile Hirsch impressiona pela entrega ao personagem que completamente despreparado parte em uma viagem tão audaciosa quanto tentadora para muitos espectadores, atores e atrizes como Willian Hurt, Marcia Gay Garden, Hal Holbrook, Vincent Vaughn, Catherine Keener e Kristen Stewart não ficam para trás e contribuem de modo impecável na construção dessa lição de vida proferida pela história de Jon KrakauerDestaque surpresa para o experiente ator americano Hal Holbrook, famoso por seu papel de Garganta Profunda no longa "Todos os Homens do Presidente" (1976). Em resumo, "Na Natureza Selvagem" é um filme fantástico que merce ser descoberto (como o livro), e que sofre do mal de não ganhar seu devido reconhecimento seguido de seu lançamento, mas que nasceu para ser cultuado da mesma forma que sua fonte de inspiração (a obra literária de Jon Krakauer) é para milhares de fãs. De uma força inexplicável e de uma sensibilidade extremamente singela, esse longa nos ensina de uma forma belíssima a dar valor as pequenas coisas. Sobretudo, Alexander Supertramp não apenas se descobriu e transformou-se diante das circunstâncias, mas transformou no ensejo todos os que tiveram contato com ele, como "Na Natureza Selvagem" é capaz de transformar até hoje o espectador.  

Nota:  8/10 


quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Crítica: O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro | Um Filme de Marc Webb (2014)


A maior batalha de Peter Parker (Andrew Garfield) sempre foi àquela luta diária com sua consciência. Suas responsabilidades como super-herói sempre se rivalizaram com a rotina de responsabilidades de Parker como um simples cidadão. Salvar a cidade de Nova York de ameaças em potenciais nem sempre se mostraram um desafio tão preocupante para Parker quanto manter em paralelo a harmonia em sua vida pessoal. E com uma inevitável instabilidade rodeando seu relacionamento com Gwen Stacy (Emma Stone), o ressurgimento de um antigo amigo de Parker, o herdeiro da Oscorp, Harry Osborn (Dane DeHaan) e a aparição de um novo e poderoso vilão, Electro (Jamie Foxx), o Homem-Aranha terá uma difícil batalha que vai requer dele forças e convicção de suas escolhas para continuar sua jornada solitária de heroísmo. “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” (The Amazing Spider-Man 2, 2014) é uma produção cinematográfica de ação e aventura escrita a três mãos (por Alex Kurtzman, Roberto Orci e Jeff Pinkner) e dirigida por Marc Webb, também responsável pelo reinício da franquia iniciada em 2012. Se o longa “O Espetacular Homem-Aranha” foi uma produção que dividiu plateias pelo mundo, essa sequência, embora não seja dotado de melhoras unânimes se mostra inegavelmente superior ao primeiro longa. Alguns aspectos que Marc Webb antes apenas sugeriu querer abordar no desenvolvimento do heroico personagem aracnídeo, como algumas verdades sobre quem eram os pais de Peter Parker, sendo que era de conhecimento público (graças ao sucesso da franquia dirigida por Sam Raimi entre 2002 a 2007), que ele foi praticamente criado pelos tios, seu realizador consegue entregar um filme simplesmente superior às expectativas que se poderia ter de uma sequência oriunda de uma refilmagem que muitos a julgavam como precoce, se mostrando muito mais autossuficiente do que o anterior.


Se há algo interessante no trabalho de Webb, essencialmente em “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro”, é que sua visão do personagem está muito diferenciada do trabalho de Raimi. Menos alegórico e colorido do que o trabalho de Raimi, e sem se firmar assumidamente no terreno explorado por Christopher Nolan na franquia Batman, Webb entrega um filme de fórmula precisa dono de bons momentos visuais e dramáticos. Inclusive, esse investimento maior na dramaticidade é um ganho significativo a narrativa que no gênero no qual habita, busca metodicamente se apoiar mais em atributos visuais. Essa produção acerta em cheio no equilíbrio. Com um elenco bem sintonizado no enredo, com destaque para Dane DeHaan e seu sinistro Duende Verde, o ator vem a ser o personagem mais fascinante e infelizmente, menosprezado pelo desenvolvimento. Mesmo que Andrew Garfield seja a grande figura da trama, isso com ou sem máscara (e muito mais carismático do que anteriormente fazendo da tarefa de combater o crime tão divertida quanto perigosa), como Emma Stone é de um grande talento que confere delicadeza e uma importância vital a trama, que acaba gerando um dos melhores momentos do filme na decisão. Enquanto Jamie Foxx, de fã incondicional do herói a uma grande ameaça ao povo de Nova York (ainda que se mostre pouco ameaçador e até mesmo boboca em algumas passagens), Dane DeHaan rouba a cena a cada aparição e surge acertadamente como um vingativo oponente para dar um gás a um terceiro episódio dessa franquia. E se as cenas de ação e os efeitos visuais tem um acabamento genial de qualidade impecável típica de filmes desse gênero (e de exclusiva responsabilidade da Marvel), é na atmosfera dramática e nas profundezas psicológicas dos personagens que Webb ganha o espectador. Isso sem mencionar que “O Espetacular Homem-Aranha 2: A Ameaça de Electro” possui ótimos momentos de humor que fazem dessa produção um produto acessível e inegavelmente divertido como deve ser.

Nota:  8/10     
    

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Errata: Falhas Acontecem


Dentre todos os desafios de compor um texto genial que exprima as qualidades e nuances de uma produção cinematográfica específica, o momento de resenhar uma necessária e breve sinopse é a que me oferece a maior ameaça. Não foram poucas as vezes que fui arremetido por esse terror que a tela em branco impôs. Essa pressão de não cometer falhas, tanto as sutis quanto as gritantes sempre me ofereceram uma aterrorizante preocupação. Espremer em poucas palavras a essência do enredo sem deixar escapar spoilers indesejados ou cair em alguma outra armadilha do inconsciente e se desviar do foco do enredo, são erros tão fáceis de cometer como são amedrontadores para mim. Como sempre gosto de ler, as vezes até mais do que o próprio texto ao qual me levou a determinada página na internet, eu acabei através da leitura de um comentário descobrindo uma sinopse que sucumbiu aos meus temores. Em resumo: o filme ao qual assisti não tem praticamente nada haver com a sinopse disponibilizada pelo site. Ou pelo menos, passa uma ideia totalmente errada do que está por vir. Descoberta feita pelo acaso que compreendo que pode sim, acontecer com qualquer um. Curiosamente me sinto mais seguro após essa descoberta.      

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

As Crianças de Tim Burton


Todo longa-metragem lançado pelo cineasta Tim Burton é sempre aguardado com ansiedade. Trata-se de um dos cineastas americanos mais autorais em atividade constante, e dono de grandes sucessos de bilheterias e obras cult que são incessantemente relembradas por fãs e admiradores. "Big Eyes" não deve ser diferente. Em tempos onde já se fala de possíveis indicados ao Oscar em 2015, essa produção deve ser observada com atenção. Curiosamente Burton abandona seu estilo gótico marcante (sua marca registrada) como ao mesmo tempo, surpreendemente conta uma história diferente das ricas fábulas e fantasias as quais estamos habituado. Seu trabalho aqui é baseado no drama biográfico escrito por Scott Alexander e Larry Karaszewski da pintora americana Margaret Keanu (Amy Adams), cujos créditos de seu trabalho foi tomado por seu marido, Walter Keanu (Christoph Waltz), durante a década de 1950 e 1960. Seus quadros ficaram famosos pela características avantajadas dos olhos das crianças retratadas. Com um divórcio em estado de guerra com o marido, Margaret acusou ele de ter roubado suas pinturas. Com lançamento previsto para 25 de dezembro de 2014 (por aqui em 15 de Fevereiro de 2015), "Big Eyes" com ou sem indicação é promessa de surpresa. 

Confira o trailer: 

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Crítica: O Melhor Lance | Um Filme de Giuseppe Tornatore (2013)


Giuseppe Tornatore ficou mundialmente conhecido pelo clássico filme “Cinema Paradiso” (1988). E de lá para cá, pouco fez de notório no cenário internacional do cinema, embora “Malena” (2000), um interessante longa-metragem estrelado pela belíssima Monica Bellucci tenha suas qualidades enraizadas em seu melhor trabalho. Porém, “O Melhor Lance” (La Migliore Offerta, 2013) o mais recente trabalho de Giuseppe Tornatore é estranhamente diferente do que poderia se esperar de seu realizador. Vencedor dos principais prêmios no David di Donatello Awards (uma espécie de Oscar italiano), Giuseppe Tornatore é famoso por conferir uma visão sensível e poética sobre seu trabalho, mas “O Melhor Lance” é em suma desprovido dessas características que tornaram o seu trabalho tão atraente, seja pela temática a qual aborda ou pela estrutura previsível da trama. Em seu desenvolvimento acompanhamos Virgil Oldman (Geoffrey Rush), um renomado leiloeiro e especialista em obras de arte, cujo talento e prestígio somente se equiparam a sua difícil personalidade. Aliando seu conhecimento a sua ganância, ele usa constantemente a figura de Billy Whistler (Donald Sutherland), um pintor anônimo e mal valorizado por seu trabalho para comprar valiosas obras de arte por pechinchas em seus leilões. Contratado por Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks) uma jovem atormentada por uma incomum doença de ansiedade extrema (agorafobia), Virgil Oldman prepara-se para leiloar seus bens herdados. Mas durante os preparativos do tão famigerado leilão, o velho rabugento e a jovem doente passam a se envolver emocionalmente com a ajuda de Robert (Jim Sturgess), um habilidoso restaurador de obras de arte mecânicas, muito simpático e popular entre as mulheres. Mas deixando de lado obstáculos e preconceitos, a estranha relação desses personagens no cotidiano de Virgil Oldman terá uma influência surpreendente e inesperada em sua vida.


Entre “Cinema Paradiso” e “O Melhor Lance” há um hiato de 25 anos recheado de outros projetos ligeiramente interessantes que habitam nos mais variados gêneros, mas que como essa produção nem ao menos se igualam a superioridade de seu projeto que conquistou público e crítica no final dos anos 80. Sobretudo, “O Melhor Lance” é uma realização elegante, com toques de mistério e algumas informações curiosas sobre o mundo da arte e outras sobre as nuances que habitam os bastidores de um leilão. Mas trama em si, cujo roteiro também é de responsabilidade de Giuseppe Tornatore peca pela previsibilidade. Ainda que magistralmente interpretada pelo grande nome do elenco, Geoffrey Rush, um ator capaz de conferir toques de brilhantismo ao mais ordinário dos personagens, o desenvolvimento transparece o destino da trama com uma antecipação precoce, restando ao espectador apenas aguardar a forma como os fatos serão apresentados. Tecnicamente o filme é bem realizado (o que até justifica ter conquistado prêmios nas categorias de Melhor Trilha Sonora, Figurino e Design de Produção no David di Donatello Awards), isso decorrente da experiência de seu realizador, já que as transições de tela são serenas e os personagens transitam por locações de grande beleza visual que nem sequer requerem cuidados e requintes cinematográficos. Mas se Giuseppe Tornatore procurou entregar um filme enigmático com toques de mistério policial bem definidos através de “O Melhor Lance”, ele falhou, o resumindo a uma bela obra em aspectos estéticos, mas limitada narrativamente o que causou uma inevitável frustração no espectador que é difícil de ser contida.

Nota: 5,5/10

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Crítica: Transcendence – A Revolução | Um Filme de Wally Pfister (2014)


O Dr. Will Caster (Johnny Depp) é um grande pesquisador de inteligência artificial que é uma verdadeira referência ao mundo. Atualmente ele está trabalhando numa máquina que concilia a lógica com a consciência e emoções humanas ao nível da perfeição. Mas trata-se de um projeto que ao mesmo tempo se mostra surpreendente, também vem carregado de controvérsia por parte de alguns extremistas que são contra certos avanços da tecnologia. E por isso, após uma tentativa de assassinato que o leva a uma morte lenta por radiação, Will Caster convence sua esposa Evelyn (Rebecca Hall) e seu grande amigo, Max Waters (Paul Bettany) a transferir sua consciência aos limites de sua invenção. Porém o que a princípio parecia ser o rompimento de uma barreira em direção a uma inacreditável revolução, também se mostra uma perigosa catástrofe ao mundo despreparado. “Transcendence – A Revolução” (Transcendence, 2014) é um suspense de ficção científica que é a estreia de direção do diretor de fotografia Wally Pfister, que embora apresente uma boa premissa erguida sobre uma ideia ambiciosa que está sempre em alta no cinemão (a evolução da tecnologia ao inimaginável), seu realizador entrega um longa-metragem extremamente indeciso, exagerado em vários aspectos e desinteressante por não saber discutir com fluência as ideias delicadas que ressoam sobre o enredo. Lamentavelmente Wally Pfister desperdiça alternadamente as qualidades que marcam essa produção (os temas ao qual o argumento cita invariavelmente é de grande valor em uma sociedade cada vez mais conectada ao artificial), e uma atualizada perspectiva cinematográfica sempre se mostra interessante, isso quando vinda de modo envolvente. No entanto, seu realizador investe numa trama pouco atraente e por vezes tediosa focada na relação amorosa de Johnny Depp e Rebecca Hall. Consequentemente o subdesenvolvimento de qualquer ideia possivelmente promissora sabota completamente o resultado de estreia de seu realizador.


Curiosamente Wally Pfister mira alto em sua estreia. E isso se volta de modo positivo ao resultado. Se “Transcendence – A Revolução” não se mostrou tão revolucionário como ambicionava (o que consta inclusive nesse subtítulo nacional), pelo menos pode render um passatempo daqueles que ocupa o tempo e não acrescenta nada ao espectador que não espera muito dessa produção: um filme agradável por existir e desnecessário ao longo prazo. Recheado de efeitos visuais distante da vanguarda, mas funcionais aos delírios de seu realizador (a maioria deles materializados na aplicação dos benefícios da nanotecnologia) e uma direção de arte criativa e fotografia inspirada, as qualidades técnicas desse longa-metragem tem o seu valor. Mas os problemas dessa produção estão mais restritos aos aspectos humanos do que propriamente aos artificiais do desenvolvimento. O camaleônico ator Johnny Depp se mostra desinteressado em sua performance e indubitavelmente prejudicado pelo roteiro que não estabelece com confiança o caráter de seu protagonista. Além é claro, a forma como o desenvolvimento desperdiça talentos como a de Rebecca Hall (o grande nome que alavanca a trama) e o de Paul Bettanny (o fio condutor do espectador entre o passado e a degradação presente resultante dos eventos do desenvolvimento). Quanto a Morgan Freeman não é nenhuma surpresa. “Transcendence – A Revolução” está longe de ser uma ficção científica revolucionária. Dividido entre dilemas religiosos e avanços da evolução, que repousam sobre um relacionamento amoroso nada cativante, Wally Pfister não acerta o tom e o rumo de sua trama. Aparentemente seu trabalho tenta combinar uma séries de possibilidades com diferentes elementos (muito mais do que um longa-metragem poderia conciliar de modo orgânico) sem se firmar com precisão em nenhum deles. Pior, a optada pelo roteiro (focada no romance post-mortem em uma trama de conspiração) não se mostra nem de longe a melhor escolha.

Nota:  5/10

sábado, 11 de outubro de 2014

Crítica: Mulher-Gato | Um Filme de Pitof (2004)


Patience Phillips (Halle Berry) é uma tímida designer que trabalha numa empresa de cosméticos. Quando ela acidentalmente descobre um segredo da empresa que trabalha, Patience se vê envolvida numa conspiração corporativa que não imaginava até então o perigo de vida que corria. Os eventos seguintes fazem com que ela se transforme em uma perigosa justiceira, onde ganha força, agilidade, velocidade e uma sensibilidade natural de um gato. Com esses poderes e recém-adquiridos, Patience tornar-se a Mulher-Gato. “Mulher-Gato” (Catwoman, 2004) é uma produção estadunidense de ação baseada no personagem da DC Comics diretamente ligado ao universo dos quadrinhos conectado ao personagem Batman. Escrita por John Rogers, John Brancato e Michael Ferris, o filme é dirigido por Pitof (cujo nome verdadeiro é Jean Christophe Comar), um especialista em efeitos visuais que trabalhou em vários filmes como “Alien: A Ressureição”, “Joana D’arc de Luc Besson” e “Asterix e Obelix Contra César”; mas nunca encontrou o seu espaço no cinema convencional após realizar filmes que oscilavam entre o ruim e mediano. Em “Mulher-Gato” não é diferente. O filme é muito ruim, o qual fracassou nas bilheterias e foi fuzilado pela crítica especializada que inclusive deu ao filme inúmeras indicações ao prêmio de “Framboesa de Ouro” (uma espécie de Oscar de pior filme) na cerimônia de 2005.

Mulher-Gato” é um conjunto de escolhas infelizes para um personagem de reputação conhecida nos quadrinhos, no cinema e televisão. Essa produção pegou o nome conhecido e desfigurou suas características. Apenas inspirado no personagem da Mulher-Gato, o roteiro é uma onda de escolhas malfeitas, personagens secundários sem presença e uma infinidade de truculências (as roupas da Mulher-Gato chegam a ser bizarras). As cenas de ação não empolgam e muito menos impressionam o espectador. Halle Berry que ganhou milhões para interpretar a personagem que contracenava com a estrela do cinema, Sharon Stone, são os nomes principais de quase todo um elenco que entrega desempenhos constrangedores. Embora Halle Berry tenha sido muito criticada por seu desempenho, era impossível fazer algo de respeito com um material tão desfigurado quanto habita em “Mulher-Gato”. Pudera, já que o roteiro não ajuda em nada com suas liberdades poéticas dotadas de preguiça, uma direção inexperiente por parte de Pitof e uma produção sem força para criar a ambientação e atmosfera de um bom exemplar do submundo do crime de Gotham. Por isso, “Mulher-Gato” é uma de algumas transposições da DC que tanto fãs e seus realizadores gostariam de se esquecer que foram realizadas.

Nota:  3/10


segunda-feira, 6 de outubro de 2014

47 Ronin - Uma motocicleta superesportiva limitada por sua inspiração


Inspirada no longa-metragem “47 Ronins”, lançado em 2013 e estrelado pelo astro Keanu Reeves (no qual um grupo de 47 samurais do século XVIII se vingam do assassinato de seu mestre) a Ronin Motorworks, uma subsidiária da Magpul anunciou o lançamento de uma arrojada motocicleta intitulada Ronin 47.  Com previsão de fabricação de apenas 47 unidades desse modelo, onde cada uma delas será batizada com o nome de um dos samurais que compõem o grupo de Ronins citados na produção cinematográfica. Com o preço estimado de 95 mil reais, o modelo é anunciado pelo fabricante como uma evolução de outra moto, a Buell 1125. Extremamente futurista, arrojada e sedutora no design, “Ronin 47” é em suma tão surpreendente quanto o próprio filme. É uma tristeza que não foram 47.000 ronins. Mais detalhes: aqui.   







sábado, 4 de outubro de 2014

Organizado e Perigoso


Adaptado da HQ de Mark Millar e Dave Gibbons, "O Serviço Secreto" (Kingsman The Secret Service, 2014) é o novo projeto de Matthew Vaughn (dos ótimos "X-Men: Primeira Classe" e "Kick-Ass - Quebrando Tudo") em parceria com o oscarizado Colin Firth (de "O Discurso do Rei"). Em sua trama acompanhamos um jovem rebelde que recebe uma segunda chance vinda das mãos de Colin Firth, um renomado agente especial, para que com o devido treinamento ingresse numa competitiva agencia de espionagem ao mesmo tempo que passa a combater uma grande ameaça mundial. Charmoso, visualmente arrojado e com um bom toque de humor embutido na fórmula (além de um elenco que esbanja primor com nomes como Samuel L. Jackson, Mark Strong e Michael Caine), "O Serviço Secreto" pode não não mudar a vida dos envolvidos, como a do espectador, mas promete ser bem divertido. 

Confira o trailer:

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Boa Sorte Liam Neeson

Crítica: Celebridades | Um Filme de Woody Allen (1998)


Não é possível estar no auge o tempo todo. Ainda mais quando se trata de um artista cujo trabalho já atravessa décadas. É inevitável que todo grande cineasta tenha ao decorrer de sua carreira, no currículo, entre as obras icônicas que são incessantemente relembradas por fãs ou exploradores afortunados, não é nada incomum que tenha alguns filmes menores. Filmes de proposta agradável e resultado mediano, que não caem em desgraça ao mesmo tempo em que não alcançam o céu. Filmes de valor limitado para a maioria, mas de grande importância na lapidação de um grande realizador. “Celebridades” (Celebrity, 1998) é uma comédia dramática escrita e dirigida pelo cineasta nova iorquino Woody Allen que possui essas características. De cara e corpo independente (embora estampe nos créditos grandes nomes no elenco, o longa-metragem foi todo filmado em preto e branco), “Celebridades” materializa através do olhar atento e do humor ácido de seu realizador o universo dos bastidores de pessoas que buscam sair do anonimato e virar uma celebridade. Sonho este cheio de obstáculos às vezes quase insuperáveis. Em sua trama acompanhamos Lee (Kenneth Branagh), um típico repórter de celebridades que busca seu lugar ao sol entre elas. Cheio de contatos promissores que a seu ver são mais do que necessários para se alcançar seus objetivos e uma decorrente aspiração de ser um escritor e roteirista de cinema, ele ao poucos percebe a cruel ironia do destino quando passa a ser confrontado com algumas estranhas figuras que estão no mesmo barco que ele, enquanto sua ex-esposa, a qual recém se separou vai conquistando o mundo.


Distante de ser um dos melhores filmes de Woody Allen, se observado com atenção “Celebridades” tem o seu valor. Trata-se de um longa-metragem de trama simplista que transparece o estilo de seu realizador, onde a envolvente complexidade desse trabalho reside na figura dos personagens e não necessariamente na trama que se desenvolve ao redor deles. Além do mais, os personagens ligeiramente clichês (Brandon Darrow numa quebra de quarto de hotel que parece ter saído do longa-metragem “Medo e Delírio”) ganham preciosíssimos pontos pelas interpretações bem entregues pelos grandes nomes do elenco (Kenneth Branagh, Winona Ryder, Melanie Griffith, Judy Davis, Joe Mantegna, Charlize Theron, Leonardo Di Caprio, entre outros). O destaque fica por conta de Kenneth Branagh, que interpreta o alter-ego do diretor de modo explícito, inclusive em seus conhecidos trejeitos. Woody Allen materializa sem conferir nenhum aspecto audacioso ao desenvolvimento, mas de modo carismático e fluente em algumas nuances dos altos e baixos da fama e da fortuna que se lida no universo das celebridades. Com muito humor, em doses ácidas dependendo da passagem, essa produção apresenta um resultado positivo em relação a certas reflexões e circunstancialmente divertido. Por fim, “Celebridades” não é extraordinário igual a outros filmes de seu realizador. Mas tem o seu estilo, o que basta para agradar o espectador consciente e desavisado de sua autoria, e além do mais, ainda que se trate de um filme mais antigo, muito do que se passa na película tem muito com o nosso tempo presente. Vale assistir, seja pelas brilhantes intepretações ou pela belíssima direção de fotografia adotada para produção (desprovida de cores) num mundo cada vez mais pintado de forma colorida.

Nota: 7/10