terça-feira, 1 de abril de 2014

Crítica: Elysium | Um Filme de Neil Blomkamp (2013)


Após o sucesso de “Distrito 9” em 2009, o cineasta sul-africano Neil Blomkamp tornou-se um fenômeno de realizador que angariou muitos fãs pelo mundo. Mas junto com o derradeiro sucesso que todo grande realizador anseia alcançar veio às consequentes responsabilidades que a fama concede, principalmente quando aportou em Hollywood. Se o cineasta conseguiu fazer muito com pouco, imaginem o que ele faria tendo uma imensidade de recursos? Estrutura técnica de primeiro mundo para materializar até o mais absurdo delírio visual, um elenco de estrelas que funcionaria como grande chamariz para um lançamento de causar inveja. Entretanto, a mesma estrutura que dá também tira, que no caso de Hollywood é a liberdade criativa de seu realizador. “Elysium” (Elysium, 2013) é uma produção de ficção cientifica e ação que realizada sob os moldes da indústria cinematográfica americana, e dependendo do ponto de vista, sob as amarras da mesma, apresenta um raso confronto de classes que não gera uma reflexão fluente (como em seu trabalho citado acima) sobre os problemas da exclusão social com o devido embasamento que merecia, embora se mostre visualmente atrativo aos olhos dos espectadores. Em sua trama somos apresentados ao mundo no ano de 2154, onde o planeta Terra vive em um completo caos, excessivamente povoado, degradado e sob o comando de um governo negligente e corrupto. Enquanto a Terra se decompõe gradativamente, os ricos e poderosos habitam uma estação espacial chamada Elysium que é vista como a única chance de sobrevivência para muitas pessoas doentes em virtude de sua estrutura tecnológica possibilitar a cura a qualquer doença. Assim acompanhamos Max Costa (Matt Damon) um órfão criado por freiras em um orfanato e que se tornou um ladrão de carros, mas que tenta a todo custo se regenerar com um trabalho honesto numa linha de produção de uma fábrica. Ao sofrer uma exposição nociva de radiação em seu trabalho e abandonado a própria sorte pela empresa, Max se alia a um grupo de traficante de pessoas que envia clandestinamente alguns enfermos a Elysium para se curar. Com pouco tempo de vida, poucos recursos e sem grandes chances de sucesso, Max pode sem saber fazer toda a diferença do mundo nesse contexto de desigualdade que assola o planeta.


Escrito e dirigido por Neil Blomkamp, todo o arrojo visual exibido nessa produção se perde pelo contexto social e político mal enfatizado e simplista (os pobres são vítimas e os ricos são vilões egoístas). O problema da desigualdade social, tanto em suas causas quanto nas consequências, transparece ter uma lógica muito mais complexa do que um dia “Elysium” sonhou apresentar. Portanto, o trabalho de Blomkamp se resume em apresentar um pouco do mesmo de sempre, com uma abordagem comprometida com um espetáculo recheado de cenas de ação explosivas e efeitos visuais de encher os olhos, já que esse aspecto recebeu toda a atenção que a estrutura disponibilizada poderia proporcionar. E com o mau aproveitamento da história (que em premissa até se mostra interessante) vem outra consequência: o desperdício do elenco principal. Matt Damon faz o papel do herói predestinado pelas circunstâncias, como os vilões surgem em transformações tão rápidas quanto o próprio desenvolvimento que é marcado por incessantes correrias. O ator Sharlto Copley é um bom exemplo da perda do potencial de um personagem afundado em clichês, embora numa disputa homem a homem, o ator brasileiro Wagner Moura (em sua estréia em Hollywood) se sai muito melhor do que o experiente e competente William Fichtner. Como a presença de Jodie Foster, elegante e que confere uma atuação convincente se perde pelas mudanças de rumo da trama, confirmando estranhamente o brilho de Alice Braga nessa produção, embora todos os atores sejam prejudicados pelos rumos traçados pela trama de Blomkamp. Por fim, “Elysium” se mostra pouco ambicioso ao se tornar um filme de ação convencional que desperdiça uma boa ideia que poderia render um filme impecável. O talento dos nomes envolvidos (tanto da direção de Blomkamp quanto do elenco) nessa produção não anula o debilitado roteiro, que buscou soluções fáceis para seu desenvolvimento. “Elysium”  precisava de algo mais para se tornar memorável como "Distrito 9"; precisava de muito mais. Ninguém espera que o fim da desigualdade social, como da segregação racial venha a acabar, ou pelo menos diminuir na melhor das hipóteses com apenas um reset.

Nota:  6/10
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2 comentários:

  1. Concordo, depois de ter assistido Distrito 9 fica dificil acreditar que o mesmo diretor fez um filme desse nivel. Parece que um yankee qualquer copiou o estilo visual dele e aplicou numa historia bem mais ou menos.

    No principio achei estranho o filme ter falas em espanhol, mas depois percebi que esse elemento tava ali pra agradar uma parcela do publico americano.

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    1. Qualquer um que gostou de "Distrito 9" com certeza desaprovou "Elysium". Infelizmente para seus envolvidos... já que esse filme poderia ter sido único!

      abraço

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