quinta-feira, 11 de maio de 2017

Crítica: Fragmentado | Um Filme de M. Night Shyamalan (2017)


Os melhores filmes do cineasta indiano M. Night Shyamalan sempre foram os mesmos aos quais ele também era responsável pela história e o roteiro. Ainda que também tenha havido alguns poucos tropeços desagradáveis de sua total autoria desde o fascinante suspense “O Sexto Sentido” (1999), é unanime afirmar que os projetos que ele assumiu apenas a direção foram inquestionáveis desapontamentos para os seus fãs. Shyamalan mostrou-se ao longo dos anos um cineasta ligeiramente autoral, flexível às tendências e competente na criação de atmosferas adequadas para seus filmes, mas completamente incapaz de corrigir e compensar através de seu envolvimento histórias rasas de ideias e interesses equivocados de grandes estúdios. “Fragmentado” (Slipt, 2017), um suspense de terror escrito e dirigido por Shyamalan é a prova de que a balança do sucesso tem se voltado a seu favor novamente. Se em “A Visita” (2016), uma produção de baixo orçamento que foi muito bem recebida pelo público ele já demonstrava uma ascensão, agora com seu mais novo lançamento o cineasta somente confirma suas capacitações. Em “Fragmentado” acompanhamos Kevin Wendell Crumb (James McAvoy), um sujeito com transtorno dissociativo de identidade (DID), que possui 23 personalidades diferentes que se revezam constantemente no corpo de Kevin. Certo dia, Kevin sequestra três adolescentes e as mantem em cárcere sob o olhar atento dessas suas múltiplas personalidades. Mas o maior perigo não se encontra necessariamente nesse inesperado aprisionamento, mas no que está por vir, pois uma vigésima quarta personalidade está prestes a aflorar e a vida dessas jovens corre um grande risco por isso.

Fragmentado” é preciso em sua forma e ritmo. Alimentado com toda informação necessária para que o espectador entenda os distúrbios psiquiátricos que se passam involuntariamente na cabeça do protagonista através da presença Dra. Karen Fletcher (Betty Buckey), a psicóloga que tem acompanhado a evolução da doença de Kevin, a história se desenvolve de modo adequado. Shyamalan não poupa o espectador de informações e teorias comportamentais, além de dar pistas de seu verdadeiro propósito para “Fragmentado”. A perspectiva das três jovens que foram subitamente sequestradas no estacionamento da lanchonete é outro ponto crucial. Nada decorre como se podia imaginar em relação ao cárcere, e as surpresas e a criação de expectativas quanto a uma possível fuga vão crescendo ao decorrer da duração do filme. Mas Shyamalan não entrega um produto necessariamente previsível. O cineasta explora com bastante foco as possibilidades de seu projeto. Principalmente em relação de seu protagonista, pois não se trata de um filme de criação de heróis, mas da criação de um vilão; doente, imprevisível e perigoso. Se os demais membros do elenco entregam personagens bastante funcionais, bastante coerentes às pretensões dessa produção, McAvoy nos apresenta um personagem irretocável. Provavelmente uma de suas melhores interpretações desde sua descoberta.

Embora “Fragmentado” tenha em seu foco a lapidação de um grande vilão, coisa que se deve afirmar que foi concluída com grande impacto, houve uma perda indesejada no conjunto. O arco da história das adolescentes, em especial em relação ao de Casey Cooke (Anya Taylor-Joy), uma jovem solitária de um passado traumático não obteve a profusão de emoções e lágrimas que supostamente Shyamalan intencionava. É sentido uma estranha perda do seu potencial dentro do conjunto da obra, ainda que irrelevante diante do resultado final. Sobretudo, “Fragmentado” além de ser uma produção que exibe tanto Shyamalan quanto McAvoy em sua melhor forma, ainda é indispensável aos fãs do cineasta que o acompanham fielmente de longa data.

Nota:  8/10

4 comentários:

  1. Fragmentado é o grande retorno do Shyamalan. Aquele cineasta com histórias fascinantes (O Sexto Sentido, Corpo Fechado). O final é diferente dos outros filmes do diretor ligando este com Corpo Fechado e que será finalizado em "Glass". Agora é só aguardar por James McAvoy, Willis e Jackson, três grandes atores para a conclusão desta série ousada, hipnotizante e angustiante.

    Abraço.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Isso mesmo. Disse pouco e falou tudo. Obrigado pela visita.

      abraço

      Excluir
  2. O filme tem muito de João e Maria, e não convém contar muito mais deste novo filme, para não diminuir o impacto do primeiro contato. Se tem uma coisa que eu não gosto nos filmes de terror atuais, são os screamers, e o que eu mais gosto é o terror psicológico. Gostaria que vocês vissem pelos os seus próprios olhos filme A Coisa Se ainda não viram, deveriam e se já viram, revivam o terror que sentiram. Depois de vê-la você ficara com algo de medo, poderão sentir que alguém os segue ou que algo vai aparecer.

    ResponderExcluir