sábado, 27 de maio de 2017

Crítica: Campo Minado | Um Filme de Fabio Guaglione e Fabio Resinaro (2016)


Depois da tentativa fracassada de alvejar um líder extremista no meio do deserto do norte da África, o soldado e franco-atirador Mike Stevens (Armie Hammer), que após uma complicada fuga, tem o azar de pisar em uma mina terrestre em um campo minado esquecido. Qualquer movimento em falso pode ser fatal para sua integridade física. Exposto a todas as perigosas adversidades do deserto, agora o tempo é seu maior inimigo, pois sua sobrevivência depende de sua capacidade de resistência de suportar o impacto físico e psicológico de uma espera de socorro que ocorrerá no prazo de 52 horas. “Campo Minado” (Mine, 2016) é um suspense psicológico escrito e dirigido pelos estreantes Fabio Guaglione e Fabio Resinaro. Numa tentativa de criar um conto de guerra mais dramático e menos pirotécnico, os diretores tentam através de um elenco mínimo encabeçado por Armie Hammer fazer isso. Ambientado em um árido deserto que usou a Espanha como locação para as filmagens, a produção recria uma atmosfera de combate bastante familiar aos espectadores que tem acompanhado os mais recentes filmes de guerra dos últimos tempos. Vietnã, Pearl Harbor e Hiroshima são coisas do passado. Assim os diretores se arriscam em estabelecer uma história de um homem que sob uma circunstância extrema e inesperada ocorrida dentro de um solitário campo de batalha contemporâneo, situar a partir desse ponto um confronto pendente e adormecido com seu próprio passado onde seus demônios internos se mesclam de modo inteligente com as emoções do contexto de guerra presente.

O aspecto mais admirável de “Campo Minado” se encontra mais em sua pretensão do que no resultado final apresentado pela estreia de seus realizadores. Filmes compostos por um elenco enxuto muitas vezes são tão complexos em sua materialização e comercialmente arriscados quanto produções com um número avolumado de personagens. Além é claro, da estranheza da ausência de retumbantes confrontos armados que presumidamente devem habitar filmes que retratam a guerra. Mesmo que haja tiros, eles não ocorrem na mesma proporção de muitos outros filmes de reputação conhecida do gênero. Algo que equivocadamente deve haver segundo o imaginário de muitos espectadores. A densidade do trabalho dos diretores e da própria atuação de Armie Hammer é mais focada numa visão filosófica e existencial, do que estratégica e explosiva. Trata-se mais de um estudo de personagem do que da exploração das possibilidades de uma história. Hammer segura bem à responsabilidade do papel que desempenha e confere bons momentos de atuação inéditos para sua carreira através do personagem do qual foi incumbido. Porém, nas mesmas proporções de acertos e escolhas adequadas para a proposta dessa produção há também uma quantidade de falhas e deslizes incômodos. Há uma desconcertante ausência de refinamento técnico no comportamento militar no qual é ambientada a história. As circunstancias improváveis em que ocorreram o fracasso da operação, o método tão atrapalhado quanto improvisado de evasão do local da missão e a forma como Hammer agiu diante de um companheiro de serviço ferido causa consequentemente estranheza (ao invés de pegar o rádio desesperadamente para entrar em contato com o comando como primeira ação, eles não deveriam encontrar um meio de estancar o sangue?).

Armie Hammer que participou em filmes comoO Cavaleiro Solitário”, “O Agente da U.N.C.L.E.”, “Rede Social” entre outros mais; o ator é um pouco prejudicado por alguns excessos narrativos que monopolizam a terceira parte do filme. O uso desenfreado de flashbacks e alucinações de miragens combinados com a presente realidade do protagonista se mostram tão confusas para o espectador quanto para o personagem. Embora esse aspecto tenha conferido um arrojo de clímax que marca o conjunto da obra, “Campo Minado” apenas se mostra um bom filme de ser acompanhado com calma, mas que poderia ter sido facilmente elevado a algo mais.

Nota:  6,5/10

28 comentários:

  1. Anotei este filme para conferir, gosto do tema.

    Abraço

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    1. Espero que goste. Na minha opinião chega na beirada de uma experiência gratificante.

      abraço

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  2. Perdi uma hora e quarenta e seis assistindo esse filme

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  3. o tema realmente é bom, mas ficou dificil saber o que era ilusão e realidade no decorrer do filme...

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    1. Verdade Vagner. Inclusive mencionei esse detalhe. Tentaram dar contornos épicos e montagem estragou.

      abraço

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  4. Um bom filme. Poderia ter uns 10 minutos a menos.
    Uma dúvida, no final, os corpos dos cachorros somem... Ou foi ilusão tbm?

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    1. Também fiquei intrigado quando assisti ao filme. É difícil dizer com certeza, pois pode ser uma falha da produção (o que ao meu ver é mais provável) ou uma alucinação. Só que as alucinações fortes foram lançadas na tela mais além desse ponto e por isso eu acho que foi uma falha mesmo. Mas é tudo uma questão de ponto de vista eu acho.

      abraço

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  5. Gostei.
    Mas algo em mim Não foi claro. O senhor (juntamente com a sua filhinha) Que ajudou o mike, era ilusao? porque pessoas normais Não desaparecem assim do nada!

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    1. Eu acho que a primeira aparição dele era real, lá no horizonte. Dali para frente virou miragem. Mas também posso estar enganado, pois algo no enredo me deixava crer que se tratava de Intervenção Divina. Ao meu ver, a presença dos dois funcionaram como uma metáfora para que Mike desse mais valor a vida. Só que a terceira parte é muito caótica e deixa muitas pontas soltas. Uma pena.

      Abraço

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    2. Assisti o filme com uma visão totalmente espiritual, na realidade estava à procura de um outro filme e assisti este, acreditando ser o que procurava... no início o colega que faleceu cita esse fato de espiritualidade do atirador, pela reverência à cerimônia de casamento. Na segunda vez que assisti, compreendi coisas através dos detalhes que passaram desapercebidos na primeira. Ao meu entendimento o autor se aprisiona ao medo por conta de sua criação, o medo o impedia de reagir às situações e ele deixava de tomar decisões que custaria sua vida. À medida que sofria, agarrava-se à mágoa. Por exemplo: num certo ponto do filme ele pensa em suicídio, pq não tirar o pé, já que teria coragem para se matar? Pq muitos somos assim, resistimos parados por medo de dar um passo libertador e quando acreditamos não ter mais forças, desejamos a morte como sendo uma saída. É uma grande reflexão! O soldado espera o tempo todo por ajuda, acredita que as pessoas devam fazer algo para ajudá-las.
      O senhor que aparece ao meu ver é real, sua filha já faleceu conforme ele descreve o episódio. Mais um motivo pra eu ter uma visão espiritual do filme. Os cães, não sei se tratava realmente de cães pois na visão que aparece sendo cães ele estava alucinado. Mas existiam animais pq ele aparece ferido na cabeça e não notei esse ferimento antes da aparição dos cães. Quando ele finalmente perdoa e se perdoa, fica leve, sem medo, sem culpa e não se importa mais se vai ou não morrer como antes se importava. Então ele caminha sem perceber e por fim descobre que não pisou na mina, mas sim na latinha que as crianças deixaram ali, a menininha morta... assim ele compreende que tinha medo fora do comum e fica liberto da opressão que criou em sua mente. O medo que tinha de seguir era tão grande que ele não conseguia sequer seguir à um casamento, como se ele determinasse que o futuro dele seria só sofrer e morrer. No final ele encontra-se com sua amada. Eu gostei do filme! Com essa visão, me trouxe uma excelente reflexão. Tanto que tomei até uma decisão para minha vida que tem me trago grandes alegrias!!!

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    3. Interessante a sua perspectiva sobre o filme. Parabéns!

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    4. Tive a mesma opiniao sobre o filme, traz muitas reflexoes ao decorrer do filme e uma delas que achei bem interessante foi que, mesmo que se ele desse o proximo passo morresse, ele deveria dar de qualquer forma se quisesse ser livre, nao so ali, mas em varios pontos da vida que nos pegamos em uma situacao dificil e exitamos em tomar uma decisao, mesmo que seja errada, pois tem horas que o mais importante e dar o primeiro passo, nao importa se e o certo, segundo a reflexao do rapaz que aparece pra ajudar ele, que é real pois é ele quem pegou o radio pro soldado. Foi uma das reflexoes que o filme traz, pra quem assistir com a mente aberta vai ser um otimo filme.

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  6. Também fiquei com essa dúvida no ar, Keiser. Eu deduzi que tudo depois da morte do amigo dele foi fruto de uma alucinação para que ele pudesse superar aquilo tudo. O final poderia ter sido trabalhado melhor, mas é um filme muito inspirador.

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    1. Verdade. Faltou esmero em alguns aspectos de seu desfecho como do próprio desenvolvimento, já que os contornos épicos do desfecho mais confundem do que seria permitido. Também acho que a trajetória do soldado possui uma visão inspiradora. Só lamento que o filme poderia render um pouco mais se fosse melhor trabalhado.

      abraço

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  7. Achei o filme muito bom.
    Interpretações diferentes? Ainda bem que isso aconteceu nesta obra. Não seria tão boa se não fosse deste jeito.
    Nos acostumamos a efeitos,"comida mastigada" ou elocubrações fictícias. Este filme é simples por nos dar direito a interpreta-lo também.

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    1. O filme tem os seus momentos de brilhantismo como também deixou passar boas oportunidades. Gostei mais da proposta do que do filme em si. Acho que faltou alguma coisa a mais na mistura para dar mais consistência ao produto.

      Abraço

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  8. Como o tema e o visual sugere ação e guerra, eu também esperava algo mais "realista" dentro do contexto sugerido.
    Mas o filme aborda muito de psicologia e comportamento humano.
    Se reparar a cada passo ele aciona um gatilho que em estudos comportamentais referem-se a algo que dispara uma reação instintiva, geralmente de raiva ou medo.
    Ele repete o comportamento do pai em diversos momentos,geralmente, agredindo alguém e até mesmo brigando com a noiva,tal qual seu pai fazia com sua mãe.
    Sempre que ele apoia o pé,durante suas lembranças, e ouve o estalo(gatilho) em seguida ele está apanhando ou batendo em alguém...
    As hienas, aparentemente, são os medos que o perseguem e o homem que conversa com ele é seu inconsciente...
    Para quem estuda PNL,psicologia ou hipnose vai encontrar vasto material no filme...
    Outro detalhe que parece não ter sentido,é a recusa em alvejar o pai do noivo, mas fica muito claro que a figura paterna e relacionamentos são pontos que ele trabalha durante as horas que passa ali preso ao medo...
    Sei que me alonguei bastante mas o filme trás muito sobre a mente humana...

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    1. A pouca clareza que é dada a certos momentos prejudicaram o conjunto do filme. Acho o filme bom de certo modo, mas é inegável que poderia ser melhor se seus realizadores não tivessem conferido tanto caos a certos momentos. Os aspectos que você mencionou tem o seu valor ao conjunto, mas se perdem por causa de uma apresentação repleta de falhas.

      abraço

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  9. Gostei bastante. Adorei as metáforas psicológicas do filme e da atuação de Armie Hammer

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    1. Particularmente acho ser um produto de boa iniciativa, mas carente de maior lapidação.

      abraço

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  10. bom filme para quem aprecia estudos em "humanas", entrei neste blog para ver se alguém tinha entendido o mesmo que eu, se a garotinha no deserto era um "espírito" ou uma "alucinação" já que o soldadinho dela estava dentro da latinha ... Mas ficou claro que o enredo permeia "motivação" para quem assiste, e seja de maneira espiritual ou psíquico, meu tempo não foi perdido!! #SupereSempre

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  11. Sendo bem objetivo. Me pareceu uma mistura de 72 horas com a arvárv da vida, nos últimos 10 ou 15 minutos. Fraco!

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  12. Certamente foi uma falha, pois o morador aparece para curar seus ferimentos ou seja, houve um embate, o fato que me preucupa é ele ter dito que perdeu a filha achando a mina sendo que essa explosão que levou ele a conhecer a mãe dessa menina

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  13. Vi o vilme e o tema é a copia de um filme Portugues dos anos 80 em que um soldado pisa uma minha durante a guerra colonial Portuguesa... e no final não é mina nenhuma... Será convergência de criatividade ou cópia????

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  14. Ótimo Filme..Que filme em!!! Nós mostra que não devemos ficar presos a um passado, e que sim temos que perdoa e deixar Aquilo para trás e seguir em frente..Não viver com está culpa e com esses medos.

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