segunda-feira, 18 de julho de 2016

Crítica: Os Oito Odiados | Um Filme de Quentin Tarantino (2015)


O destino é tão implacável quanto irônico, quando algum tempo após o fim da Guerra Civil de Wyoming, o destino reúne um pequeno grupo de diferentes sobreviventes sob o mesmo teto durante uma insuportável nevasca. Começando pelo caçador de recompensas, John Ruth (Kurt Russel) que está transportando uma famosa prisioneira de um bando de malfeitores, Daisy Domergue (Jennifer Jason Leigh), que será levada para a cidade de Red Rock para responder a justiça. Ao longo da estrada, eles encontram o Major Marquis Warren (Samuel L. Jackson), outro caçador de recompensas. Posteriormente Chris Mannix (Walton Goggins), um homem que afirma ser o novo xerife da cidade de Red Rock. Perdidos em uma terrível tempestade de neve, o pequeno grupo busca refúgio no Armazém da Minnie, um abrigo conhecido e bastante procurado nas redondezas. Quando chegam lá, são recebidos por alguns rostos desconhecidos: por Bob (Demián Bichir) um mexicano que afirma estar cuidando do lugar na ausência de Minnie; Oswaldo Mobray (Tim Roth), o carrasco de Red Rock; Joe Cage (Michael Madsen) um cowboy que está de passagem e Sanford Smithers (Bruce Dern), um confederado aposentado. À medida que a tempestade cessa esses oito personagens vão descobrindo os segredos um dos outros que os leva a um inevitável confronto sangrento. “Os Oito Odiados” (The Hateful Eight, 2015) é uma produção estadunidense de faroeste escrita e dirigida pelo cultuado cineasta Quentin Tarantino. Em seu oitavo filme, Tarantino cria uma inesperada peça teatral cheia de mistério e ótimas atuações.


Os Oito Odiados” é uma peça de teatro disfarçada de cinema. Embora o filme tenha as costumeiras cenas externas de um típico filme de western, praticamente todo desenvolvimento da sua simples premissa se passa no interior de um único cenário: o Armazém da Minnie. Todo o desenvolvimento da história é dividido em seis atos, onde a narrativa segue a fórmula de uma peça teatral brilhantemente customizada por um enredo que se revela um intrigante suspense de mistério policial. Acompanhar a revelação dos segredos dos oito personagens que se refugiam no interior do armazém é a grande sacada dessa produção, embora o filme não se esforce de nenhuma maneira em torna-los agradáveis para o espectador. Na verdade, aparentemente ninguém presta em cena, e que apenas permite ao público aguardar através de alguma brilhante reviravolta o porquê disso. Mais uma vez, Tarantino esbanja criatividade em sua mais nova empreitada, que mesmo sem o brilhantismo de alguns de seus filmes anteriores consegue imprimir seu estilo pessoal a esse longa-metragem. E como é de costume, Tarantino cria enredos de uma argumentação primorosa que possibilita que talentosos atores consigam apresentar o seu melhor desempenho. Os diálogos como sempre são de um requinte afiado, onde atores escolhidos a dedo como Samuel L. Jackson e Tim Roth apresentam interpretações fascinantes desde a primeira vogal. Agora, para a surpresa do público, atores como Kurt Russel e Michael Madsen que normalmente entregam desempenhos bem medianos em filmes ruins, curiosamente é sob a condução de Tarantino que acabam conseguindo se destacar de maneira no mínimo elogiável. Isso sem falar de Jennifer Jason Leigh resgatada do ostracismo, quase irreconhecível e de grande importância ao conjunto da obra.

Uma parte do filme foi filmado em 70mm como nos clássicos filmes de westerns (engrandecendo as cenas externas) enquanto o restante no tradicional formato 35mm. Porém pouco se aproveita desse diferencial aspecto, ainda que curioso pela adoção, sendo que as cenas externas onde melhor se destaca o recurso desse empenho acabam sendo muito mais raros do que se poderia esperar de um típico filme de faroeste. Sobretudo, a beleza visual é garantida como a trilha sonora de Ennio Morricone (habitual colaborador do cineasta) que se destaca nas mais variadas passagens. Embora esse mais recente exemplar assinado por Quentin Tarantino divida o público, muito se deve ao desfecho arrebatador marcado de violência e sangue que soou aos olhos de muitos como forçado, “Os Oito Odiados” tem todas as qualidades de seu realizador, como as derradeiras semelhanças com seus trabalhos anteriores.

Nota:  8/10

10 comentários:

  1. Tarantino dá um tapa no politicamente correto e escorcheia as tensões raciais e de gênero na sociedade americana com esse 'chamber western' cheio de atores formidáveis.

    Cumps.

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    1. Verdade. O elenco é o grande trunfo desse western as avessas.

      abraço

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  2. Os dois primeiros terços do filme até a sequência do envenenamento são ótimos, principalmente pelos diálogos afiados.

    O banho do sangue da parte final é normal ao estilo Tarantino, mas faz o filme perder alguns pontos.

    Abraço

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    1. O desfecho peca sim. Talvez seja a perda de uma oportunidade de fazer desse longa-metragem algo realmente memorável. Faltou uma grande sacada que não veio. Uma pena, ainda tenha sido um ótimo filme.

      abraço

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  3. eu quero muito ver esse filme, amo o diretor. quase vi nos cinemas. mas eu tinha dois outros filmes que estavam em cartaz na época que queria ver muito mais. beijos, pedrita

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    1. Eu também não vi no cinema, mas assisti em casa com mais atenção o que não diminuiu a intensidade da experiência de assistir a mais um filme de Tarantino.

      bjus

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  4. O Diretor deve ser o "must" para quem entende de cinema.
    Para mim é tudo muito violento.
    Tenho até medo de assistir.

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    1. Verdade. Quentin Tarantino não pega leve com os espectador para contar suas histórias. Esse aqui é um bom exemplo disso, ficando atrás apenas de "Cães de Aluguel".

      bjus

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  5. Ainda é meu filme favorito dele, embora eu não tenha visto todos os seus outros, mas uma maioria. Vi no cinema, e gostei ainda mais revendo em casa. É o exato oposto do Mad Max que saiu na época: tem camadas bem construídas, dubiedades.

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    1. É um ótimo filme do cineasta, embora seu trabalho mais marcante apesar do tempo ainda é o "Pulp Fiction", de 1994.

      abraço

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