quinta-feira, 19 de maio de 2016

Crítica: O Abutre | Um Filme de Dan Gilroy (2014)


Louis Bloom (Jake Gyllenhaal) sempre foi um ladrãozinho qualquer de Los Angeles que agia as margens da sociedade na busca por dinheiro fácil. Mas até a vida do crime não tem lhe conferido moleza alguma, já que estava cada vez mais difícil sobreviver através de pequenos roubos. Comunicativo, inteligente e aparentemente ingênuo, o ar de cordialidade que ele costumeiramente busca estampar no seu comportamento também escondia a faceta de um homem frio e calculista que ambiciona encontrar o sucesso. E quando seus problemas financeiros se intensificam, é no acaso que surge na profissão de cinegrafista freelancer, que grava as consequências de desastrosos acidentes e cenas de crimes dos mais variados, a revelação de uma nova e recém-descoberta profissão que pode lhe conferir o tão famigerado sucesso. O material de suas gravações era oportunamente vendido pela melhor oferta aos noticiários locais que os exibem em horários nobres de forma pouco criteriosa. Louis demonstrava ter o temperamento certo para prosperar na função, considerando que esse jornalismo sensacionalista tem crescido no gosto popular na mesma proporção que tem sido possível captura-lo pela lente da câmera. Mas algo terrível pode estar acontecendo quando Louis começa a ultrapassar a linha tênue entre observador a fabricante de notícias. “O Abutre” (Nightcrawler, 2014) é um thriller policial neo-noir escrito e dirigido pelo californiano Dan Gilroy. Responsável pelo roteiro de filmes comerciais como “Freejack”, “Uma Loira em Apuros”, “Gigantes de Aço” e “O Legado Bourne”, produções onde todos os filmes oscilavam entre uma qualidade mediana e esquecível, Dan Gilroy surpreende com sua estreia na direção.

Diferentemente do roteiro de seus filmes anteriores, “O Abutre” é o resultado de uma superação. Se tivesse sido realizado por diretores de filmografias mais sérias não seria nenhuma surpresa. Mas por ter saído da mente e das mãos de Gilroy, somos apresentados a um promissor cineasta em ascensão. Sua retratação visceral de um mundo que existe nas sombras da sociedade é mais do que promissora. Polêmico, crítico e coeso com uma realidade contemporânea impactante, Dan Gilroy entrega um filme surpreendente que explora todas as possibilidades de sua premissa e do enredo em si. De roteiro bem escrito e atual, o filme é genialmente bem filmado (a direção de fotografia que intensifica o visual noturno de Los Angeles e as locações decadentes da cidade é tudo de uma qualidade e escolha impecável). E a história que retrata a proliferação de profissionais como o de Louis Bloom (interpretado por Jake Gyllenhaal), uma consequência de uma crescente audiência por esse tipo de informação, é outro ponto forte dessa produção. Porém o filme é favorecido, sobretudo pela atuação brilhante de Jake Gyllenhaal, um retrato bastante autoral de uma figura sociopata dos novos tempos. Porque se trata de um profissional criticado por muitos e idolatrado por outros. Personagens como a de Romina (Rene Russo), também esposa do diretor Dan Gilroy é outro ponto forte do filme, tanto por sua atuação como por sua relevância dentro do panorama abordado pela produção.

O Abutre” é um filme imperdível a todo e qualquer tipo de cinéfilo. Sua retratação dos rumos que o jornalismo tem tomado numa disputa por audiência; a responsabilidade ou a irresponsabilidade com que a televisão tem com seus espectadores; a ganância desenfreada que move muitos profissionais ligados aos meios de comunicação são temas ligeiramente dissecados e presentes em “O Abutre”. Mas o que faz dessa produção um produto surpreendente é que tudo foi genialmente mesclado com crime e uma atmosfera de cinema formidável.

Nota:  8/10


4 comentários:

  1. É um ótimo filme, com uma bela fotografia noturno de Los Angeles e uma história que explora o mercado dos "consumidores de tragédia".

    Outra grande interpretação de Jake Gyllenhaal.

    Abraço

    ResponderExcluir
  2. realmente surpreende e incomoda muito. foi realmente muito bem realizado pq não teve medo de ir longe, longe demais. o protagonista tb, sempre com olhar frio. a efusão da jornalista, animada com os horrores do q foi captado. incrível filme. beijos, pedrita

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Um dos grandes filmes de 2014. História forte, ótimas atuações e um desfecho atípico visceral.

      abraço

      Excluir