quinta-feira, 5 de maio de 2016

Crítica: As Duas Faces de Janeiro | Um Filme de Hossein Amini (2014)


Quando menos se espera, algo de ruim pode acontecer. O que diga esse elegante cavalheiro que atende pelo nome de Chester MacFarland (Viggo Mortensen), um empresário de aparente sucesso que está de férias com sua linda esposa, Collette (Kirsten Dunst) na cidade de Atenas, na Grécia no ano de 1962. Entre um ponto turístico e outro, sempre deslumbrados com as fascinantes belezas de Acrópole e sua região, o casal apaixonado não poupa gastos e nem se censura em dar uma extensa continuidade ao seu programa de viagens internacionais. Porém certa noite nas dependências do hotel ao qual o casal está hospedado, um homem intimidador que busca esclarecimentos quanto a certas dívidas de Chester deixadas nos Estados Unidos é assassinado acidentalmente. Disposto a não responder pelo crime, Chester contrata um ganancioso guia turístico chamado Rydal (Oscar Isaac) a quem conheceu em sua passagem por Atenas e que vai ajuda-los a se livrar do corpo e escapar das autoridades locais. No entanto, durante a necessária jornada de fuga em direção à Turquia o relacionamento do trio de foragidos se inflama e a acordo de cumplicidade firmado pelos dois homens se deteriora por divergências em seus pontos de vista e pelo ciúme que Chester tem por Collette. Assim à medida que se distanciam das provas do crime rumo à impunidade, o cadáver deixado na lembrança começa a ser apenas um dos muitos pecados que ainda estão por vir. “As Duas Faces de Janeiro” (The Two Faces of January, 2014) é um thriller de suspense baseado no romance de Patricia Highsmith, e é a estreia da direção do iraniano-inglês Hossein Amini, um conhecido roteirista de famosos filmes de sucesso do cinema internacional e que também assina o roteiro.


As Duas Faces de Janeiro” se mostra uma farsa. A premissa intrigante se perde num desenvolvimento maçante. Porém, ainda que se mostre também uma estreia interessante para Hossein Amini, o filme carece de força ao que se propõe e se desenvolve de forma ligeiramente indecisa em seu foco. Se em algum momento a direção pretendeu realizar uma espécie de homenagem ao mestre Hitchcock, falha ao desenvolver a atmosfera correta para isso. Ainda que os aspectos técnicos sejam impecáveis (a reconstituição do período em que se passa a trama e a direção de fotografia é mais do que primorosa), o ritmo se mostra arrastado de modo estranho. É perceptível a ausência de algo mais que nunca surge na tela. E se Oscar Isaac se destaca em sua atuação com um punhado de facetas e um personagem de psicologia muito mais complexa do que se pode constatar a primeira vista, possibilitando a entrega de uma atuação coadjuvante bastante agradável, o casal composto por Viggo Mortensen e Kirsten Dunst se mostra o calcanhar de Aquiles desse longa-metragem, já que demonstram uma ausência de química excessivamente visível e consequentemente decepcionante. No final das contas, “As Duas Faces de Janeiro” não chega ser um filme necessariamente ruim, mas de pouco alcance. A homenagem é apenas um rascunho do que poderia ser; o romance nunca esquenta os ânimos; o suspense é escasso e as medidas de urgência tomadas no enredo para conseguir a impunidade nunca realmente se mostram urgentes de verdade. Assim sendo, o trabalho de Hossein Amini está mais para uma tragédia grega do que para uma memorável homenagem aos thrillers de suspense da década de 60.

Nota:  5,5/10


2 comentários:

  1. Eu gostei um pouco mais, mas reconheço que a narrativa torna o filme irregular e frio em alguns momentos.

    A fotografia é ótima.

    Abraço

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    1. A fotografia é ótima mesmo Hugo. Já o resto pode muito bem dividir opiniões. Adoro o trabalho de Viggo Mortensen, mas nesse filme não deu... mesmo.

      abraço

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