terça-feira, 30 de junho de 2015

Crítica: Fúria | Um Filme de Paco Cabezas (2014)


Paul Maguire (Nicolas Cage) demonstra ser um homem respeitado de negócios da comunidade do Alabama e que está acima de qualquer suspeita. Um empresário de sucesso e um autêntico pai de família. Mas as aparências enganam, ou pelo menos as coisas nem sempre foram assim. Ele esconde um passado obscuro, marcado de violência e disputas com um grupo de mafiosos russos que parecia estar esquecido para todos. Mas quando sua filha é raptada e morta ele traça um plano de vingança sobre os responsáveis desse crime que fará com que seu passado volte a atormentá-lo e ressuscite um Paul Maguire adormecido. “Fúria” (Tokarev, 2014) é um longa-metragem de ação e suspense policial dirigido pelo espanhol Paco Cabezas (responsável por “Carne de Neon”, filme de 2010), o qual foi escrito por Jim Agnew e Sean Keller. Trata-se de uma produção que foi extremamente criticada negativamente pela crítica especializada, a qual enfatizou vários aspectos contraproducentes em volta de seu desenvolvimento. O veredicto para o resultado: um filme desnecessário e pouco atraente. Visto que não há um quadro ou uma palavra sequer no roteiro provido de alguma originalidade, Paco Cabezas entrega um filme de conclusões preocupantes para os envolvidos e desgastante ao espectador, que esperançoso quanto a ressureição de Nicolas Cage de antigamente é alvejado com mais um filme que não agrega nada a ninguém.

Nicolas Cage é um experiente motorista de ônibus cheio de passageiros ansiosos que já faz tempo que não leva ninguém a lugar nenhum. E “Fúria” se mostrou mais um exemplo de como isso não é apenas o rumo da carreira desse astro, mas o próprio destino desse ator que angariou milhares de fãs ao longo do tempo, e que vivem de adorá-lo em virtude de seus sucessos do passado. A cada novo lançamento surge uma expectativa em volta de sua participação, mas se dissipa rapidamente após sua estreia. É inegável que seus melhores filmes são anteriores a última década (com algumas raras exceções como em “Joe”, um drama regional de 2013), mas para desgosto daqueles que apreciam seu trabalho, os filmes mais recentes são ruins e que vão de desagradáveis a uma completa inutilidade. Em “Fúria” o ator entrega outra performance acomodada, repetitiva e sem profundidade. Mas querendo ou não, todo o conjunto desse longa-metragem segue essas características: o roteiro é um amontoado de clichês batidos, mal filmados (as cenas de ação marcadas de violência a moda antiga são de pouca emoção e nenhuma criatividade) e que não conferem nada de novo ao conjunto. Desperdiça uma boa gama de atores conhecidos (Rachel Nichols, Peter Stormare e Danny Glover) em personagens óbvios. No final das contas, “Fúria” parece um piloto de série de televisão que dificilmente iria ultrapassar a primeira temporada. Indicado aos fãs de Nicolas Cage (que como eu) não acreditam que talento se perde com o ganho de rugas.

Nota:  4,5/10

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Crítica: Kingsman: Serviço Secreto | Um Filme de Matthew Vaughn (2014)


Depois de perder seu pai em um combate militar quando ainda era uma criança, Gary “Eggsy” Unwin (Taron Egerton) cresceu culpando políticos insensíveis e intocáveis aristocratas alheios aos perigos que seu pai se submetia na função militar que exercia. Mas Gary apenas ficou verdadeiramente consciente das circunstâncias de sua morte, quando conheceu com transparência a figura de Harry (Colin Firth), um experiente agente secreto de uma agência de espionagem chamada Kingsman. Harry teve uma forte ligação quanto ao destino fatal daquela missão que levou o pai de Gary a morte, e que preocupado com o rumo desordeiro que Gary direcionava sua vida, decide recruta-lo para a agência desde que consiga a aprovação num elitizado processo de seleção. Avaliado por Merlin (Mark Strong), ao mesmo tempo em que tem sido acompanhado de perto por Harry, em paralelo um perigoso vilão, o milionário Richmond Valentine (Samuel L. Jackson) executa um plano de conspiração contra o mundo e que se mostrará o mais ávido teste, tanto para ele como para todos no ingresso de Gary nessa centenária agência de espionagem. “Kingsman: Serviço Secreto” (Kingsman Secret Service, 2014) é uma produção de ação e espionagem adaptada da série de quadrinhos de Mark Millar e Dave Gibbons (publicada em 2012), e que tem a sua transposição cinematográfica no roteiro de Jane Goldman e Matthew Vaughn. Dirigido também por Matthew Vaughn, o cineasta mistura com uma rara competência uma série de sacadas saídas de bem-sucedidos filmes de espionagem, com uma ação estilizada de qualidade impecável que oferece aos espectadores um resultado inebriante.


Kingsman: Serviço Secreto” não busca ser necessariamente inovador. Entretanto, o cineasta aproveita a oportunidade de desconstrução de alguns aspectos marcantes que geralmente habitam filmes do gênero e consegue uma boa dose de inovação do resultado. O cineasta britânico Matthew Vaughn tem se mostrado um dos melhores diretores e roteiristas que surgiram nos últimos anos no cinema mainstream. Sua especialidade: filmes de ação. Em “Kingsman: Serviço Secreto” ele recheia seu trabalho com inúmeras homenagens a icônicos filmes de espionagem (há várias passagens que remetem a franquia 007), agrega de modo equilibrado elementos estéticos arrojados que resultam em sequências de ação brilhantemente estilizadas, reúne uma gama de atraentes referências da cultura pop e uma boa dose de humor requintado. A ação e a fantasia se completam em prol desse longa-metragem, que brinca com as expectativas do espectador surpreendendo o público desavisado do estilo de seu realizador. Se cenas como as que ocorrem na igreja surpreendem pela violência exacerbada e repentina, a explosão descontrolada de cabeças de colaboradores do vilão em fogos de artifícios coloridos marca o tom da empreitada de Matthew Vaughn. Esse mesmo aspecto é presente em outro trabalho do cineasta: “Kick Ass – Quebrando tudo”, que também é a desconstrução de outro subgênero do cinema (o alvo são os filmes de super-heróis). Com um roteiro afinado e atuações inspiradas, com destaque para Colin Firth como o agente especial da Kingsman e Samuel L. Jackson, que mesmo num papel clichê materializa um vilão impressionante, “Kingsman: Serviço Secreto” comprova toda a habilidade de seu realizador em fazer filmes no mínimo divertidos. Embora essa produção não venha a ser memorável para fãs do gênero, no entanto ela seguramente diverte como poucas.

Nota:  8/10

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Hitman: O Agente 47 | Pôster e Trailer


quarta-feira, 24 de junho de 2015

Crítica: Alfie O Sedutor | Um Filme de Charles Shyer (2004)


Em Nova York, Alfie (Jude Law) é um charmoso motorista de limusine solteirão que é um hábil conquistador de mulheres. Constantemente ocupado em suas aventuras amorosas, seu charme e carisma confere a ele o prazer de saltar de cama em cama com inúmeras mulheres diferentes. Mas essa fachada glorificada de vida começa apresentar rachaduras visíveis quando ele passa a se confrontar com uma série de dilemas morais sobre a vida que está levando e dúvidas quanto ao seu futuro. “Alfie O Sedutor” (Alfie, 2004) é uma comédia romântica e dramática estadunidense escrita, produzida e dirigida pelo cineasta americano Charles Shyer (o responsável por filmes como “O Pai da NoivaI e II”, entre outros filmes conhecidos do grande público). Sendo um longa-metragem que é uma refilmagem de um filme de 1966 estrelado por Michael Caine, comparações são inevitáveis. Mas como me encontro na posição de leigo quanto ao material original, também me isento da obrigação e do direito de medir méritos de duas produções que tem quase quatro décadas de diferença de idade e consequentemente suas particularidades ligadas ao seu tempo. O que eu sei é que Charles Shyer entrega uma produção de atuações agradáveis, inteligentemente montado e bem produzido, e que, portanto resulta num filme simpático, com uma carga de humor elegante e uma ótima trilha sonora de grande representatividade no resultado, e que mesmo tendo algumas falhas consegue agradar com um bom nível de sucesso.


Alfie O Sedutor” aproveita bem a presença de tela de seu protagonista, seja nos aspectos visuais de homem galanteador ou nos aspectos narrativos onde profere eloquentemente monólogos didáticos de sua ciência de sucesso entre as mulheres com grande arrojo. O astro é um ator que dispensa endossamento de seu talento e que não é a primeira vez que salva o desenvolvimento de um filme de poucas inovações. Mas se Jude Law se mostra um acerto de elenco, nomes como de Marisa Tomei e Susan Sarandon detêm papéis tão bons quanto do protagonista título, mas de qualidade que oscila entre boas atuações e situações previsíveis. A história é simplista, mas ao mesmo tempo carismática. Porém, Charles Shyer tem pretensões para sua obra são pouco claras ao espectador: o filme é capaz de fazer o espectador sorrir, dar risada e chorar com pequenos intervalos. Inicia-se de modo suave e descompromissado e vai ganhando contornos dramáticos trágicos ocasionados por uma cadeia de eventos infelizes que vão sendo bombardeados sobre o protagonista e consequentemente sobre o espectador. O que estabelece uma linha confusa de objetivos que pode desagradar alguns espectadores. Curiosamente essa produção foi um fiasco de bilheteria para época de seu lançamento e que faturou um pouco mais da metade de seu orçamento (custou 60 milhões e faturou 35 milhões de dólares). Mas “Alfie O Sedutor” não é um filme ruim; talvez apenas incompreendido por sua pretensão de querer abraçar mais do que era capaz e superar o status do original. Trata-se de um filme indicado para fãs de Jude Law, para pessoas que acreditam no amor e para mulheres que acreditam que há um bom moço prestes a se revelar sob as condições certas por trás de todo canalha fútil.

Nota:  7,5/10

terça-feira, 23 de junho de 2015

Pouso Forçado das Naves de Star Wars

Mesclar fantasia e realidade não é nenhuma novidade. Os mais variados fotógrafos fazem isso o tempo todo. Mas um talentoso artista chamado Nicolas Amiard (um diretor de arte de uma agência de publicidade com sede em Paris) criou uma série de fotos realistas onde ele mistura de modo bastante curioso o universo da cinessérie criada por George Lucas (Star Wars) com paisagens turísticas do mundo. Com fotos bem retocadas, o artista confere um nível de excelência fantástico a essa série. Confira abaixo alguns dos resultados:  

 Paris

 Tóquio

 Rio de Janeiro

 Veneza

 Londres

 São Francisco

Moscou

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Crítica: RoboCop | Um Filme de José Padilha (2014)


O ano é 2028. A OmniCorp é uma empresa de tecnologia cibernética que atua em vários segmentos da atualidade nos quais desenvolve implantes robóticos para pessoas que sofreram amputações e exo-esqueletos que potencializam a força e a velocidade humana. Além é claro, da produção de produtos direcionados para áreas de segurança, como sofisticados drones e gigantescos robôs utilizados em vários cantos do mundo como suporte para as autoridades com o foco na dissipação e preservação da paz. Mas nos Estados Unidos da América, esses robôs ainda são proibidos legalmente devido ao fato de que uma grande parcela da população tem receio em delegar a sua segurança a máquinas desprovidas de emoção. E com pretensão de expandir seus negócios, a OmniCorp busca uma solução mesclando homem e máquina no mesmo corpo, o que tornaria possível aumentar a lucratividade da empresa. Porém, quando a Omnicorp tenta suprimir a presença do homem dentro da máquina, anulando seu livre arbítrio e suas tomadas de decisões humanas para torna-lo mais eficiente encontra um obstáculo inesperado, pois a máquina jamais conseguirá anular por completo a presença do homem como simplesmente imaginavam. “RoboCop” (RoboCop, 2014) é um remake de ficção cientifica estadunidense de um clássico dos anos 80. Redesenhado pelas mãos do cineasta brasileiro José Padilha, o clássico cult oitentista ganha contornos diferentes ao apresentar um produto atualizado de boas ideias, elegante e imaginativamente potencializado pelos recursos do cinema contemporâneo, mas que ao mesmo tempo se mostra limitado diante do potencial que sua premissa proporciona.

RoboCop” é a incursão do cineasta José Padilha na bem-sucedida e lucrativa Hollywood. Trata-se de uma estreia auspiciosa e dotada de coragem, já que as refilmagens de grandes clássicos é um território ligeiramente perigoso a ser percorrido por desencadear inevitáveis comparações que nem sempre surgem de forma agradável. Mas o RoboCop de Padilha (como por muitos foi chamado) tem o seu brilho próprio mais impulsionado pelo contemporâneo do que pelo nostálgico. Numa única comparação pode-se afirmar que ele entrega um filme bem diferente do original dirigido pelo holandês Paul Verhoeven, e que somente por isso já merece alguma atenção, ainda que em sua essência o personagem como o próprio enredo original esteja de certo modo presente nas quase duas horas de duração sem o mesmo peso. E isso resulta numa funcionalidade questionável: se no passado o original que ostentava uma irônica crítica sócio-política da cultura norte-americana fortemente ligada à era da presidência Reagan, essa refilmagem não ambiciona nada mais do que fazer uma modernização sofisticada e elegante do personagem. Na verdade o filme em si busca muito mais se aprofundar no personagem do que no ambiente propriamente. Mas curiosamente se perde em conferir um aprofundamento significativo aos personagens principais, ao qual tem no elenco atores como Joel Kinnaman no papel principal e se completando com Abbie Cornish, Gary Oldman, Michael Keaton, Samuel L. Jackson e Jay Baruchel.

Embora o longa-metragem possua em sua originalidade a canção “If I Only Had a Heart” do famoso filme “O Mágico de Oz”, de (1939) em uma cena chave do filme, são canções como “Hocus Pocus” da banda Focus e “I Fougth The Law” do The Clash que dão a sonoridade ideal ao produto que tem um foco visivelmente comercial em seu renascimento. No final das contas, “RoboCop” pré-moldado de Padilha entrega boas cenas de ação com um toque de modernidade bem-vindo ao gênero da ficção científica, uma remodelagem estética bem realizada e algumas boas ideias de funcionalidade digna de aplausos, mas no fim tudo resulta num filme que causa a triste sensação de ausência de algo mais inédito. Infelizmente o icônico personagem merecia algo mais relevante para anular o rumo desagradável que sua figura teve através de equivocadas sequências posteriores ao trabalho de Verhoeven. Vale apenas como um bom produto de entretenimento.

Nota: 7/10

domingo, 21 de junho de 2015

Crítica: Mad Max: Estrada da Fúria | Um Filme de George Miller (2015)


Mad Max: Estrada da Fúria” (Mad Max Road Fury, 2015) é um alívio aos fãs da famosa franquia firmada na década de 80. Em seu quarto filme desde o último episódio, onde acompanhamos Max Rockatansky (imortalizado pela atuação de Mel Gibson) em mundo pós-apocalíptico infestado de perigos, o cineasta australiano George Miller surpreende a todos com um dos melhores filmes de ação desse ano e uma sequência a altura do status de obra-prima conquistado através do tempo. Com a franquia iniciada em 1979, teve sua sequência em 1981 (Mad Max 2: A Caçada Continua) e seu terceiro episódio em 1985 (Mad Max Além da Cúpula do Trovão).  Após um hiato de quase 20 anos, o cineasta George Miller volta aos holofotes revisitando seu legado (como diretor, produtor e co-escritor do material) e entrega um filme que transborda adrenalina em sequências fantásticas e ação. Em sua trama acompanhamos Max (agora interpretado por Tom Hardy) ainda atormentado pelo seu inquieto passado. Convencido de que sua sobrevivência está diretamente ligada à necessidade de total autonomia das outras pessoas e uma posição alheia ao mundo que o cerca, o destino o leva a ser capturado e o une a um grupo de rebeldes em fuga liderado por Furiosa (Charlize Theron) de um pequeno território dominado pelo déspota Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne). Caçados pelos escaldantes desertos da Austrália por um exército de impiedosos malfeitores, se inicia uma corrida pela sobrevivência que deixará um rastro de mortes nunca antes visto nesse caótico mundo.

Há algo de legitimo em “Mad Max: Estrada da Fúria” evidenciado nos inúmeros trailers disponibilizados pela produtora. Trata-se sim, de um imbatível filme de ação de encher os olhos e estremecer os nervos. Isso de forma frenética, violenta e incessante como poucos exemplares do gênero. Fiel as suas origens, curiosamente essa produção não se rende aos costumeiros avanços tecnológicos do momento, embora faça uso de um pouco deles, e aproveita o generoso orçamento milionário (com cerca de 150 milhões de dólares) para estruturar de forma tradicional a construção de um deplorável mundo de atmosfera distópica perfeita. Com um visual que se destaca brilhantemente, a condução de Miller aproveita bem sua aparência. Ainda que sua trama se apresente de maneira simples (o filme é praticamente uma corrida continua pela sobrevivência que evita a inserção de desnecessárias tramas paralelas), George Miller consegue o que seria algo impossível nas mãos de um realizador inapropriado: conferir alguma profundidade aos inúmeros personagens lançados em tela em meio ao caos da narrativa onde não cessa o ritmo frenético. Se Tom Hardy tem demonstrado cada vez mais talento a cada novo lançamento, Charlize Theron se mostra uma parceira de cena que rouba os olhares do espectador, menos por sua inquestionável e conhecida beleza e mais por sua performance e sólida composição de personagem que a muito não se via em seus personagens. Um filme tecnicamente impecável, com efeitos sonoros gritantes e um visual que mescla criatividade e apelo num só produto. É incrível a variedade de cartazes de divulgação dessa produção, oficiais ou de fanart disponíveis na internet (simplesmente é um mais bonito do que o outro).

Mad Max: Estrada da Fúria” é um típico blockbuster que não tem do que se envergonhar de ser. Renascido com certo atraso aos olhos de muitos fãs da franquia, recheado com cenas de ação rápida e acrobacias surpreendentes e uma abordagem que dispensa cerimônias cansativas e tramas complexas como igualmente descartáveis, George Miller não faz feio em seu ressurgimento. Pelo contrário, já que sua proposta honesta e direta consegue ganhar preciosos pontos pelo seu posicionamento objetivo e magistralmente bem orquestrado. É impressionante como certos filmes de aparência supostamente desastrosa ainda são capazes de surpreender e serem estrondosos. É por isso que eu adoro o cinema.

Nota:  9/10     

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Crítica: Até o Fim | Um Filme de J.C. Chandor (2013)


Alguns filmes são como remédios. Embora sejam eficientes para se alcançar a tão desejada e necessária cura do paciente, também não são para todos os doentes. Ainda que alguns filmes sejam marcados de alguma competência, também não são obras indicadas para todos os espectadores. “Até o Fim” (All Is Lost, 2013) é um drama escrito e dirigido pelo cineasta norte-americano J.C. Chandor, no comando do seu segundo longa-metragem (ele é o responsável pelo interessante “Margin Call – O Dia Antes do Fim). De certo modo, “Até o Fim” não se trata de um filme necessariamente ruim, mas também não justifica todo o esforço da crítica especializada em criar os mais variados adjetivos para imprimir sua relevância. Isso se pode conferir através das inúmeras indicações de prêmios que levou nos mais variados festivais de cinema norte-americanos. Em sua história acompanhamos o ator Robert Redford interpretando um experiente velejador que está prestes a enfrentar um grande desafio em alto mar. Estando a cerca de 1700 milhas do Estreito de Sumatra, um container a deriva se choca contra o seu veleiro causando danos ao casco e a alguns equipamentos de navegação. Medidas de urgência são tomadas, mas as condições do tempo mudam drasticamente e suas opções começam a se esgotar a partir do momento que percebe, que independente do que sua experiência lhe favorece, seu destino torna-se cada vez mais incerto. Entre fortes tempestades, o perigo eminente de tubarões e pouca comida, o grande objetivo desse velejador se torna a luta pela sobrevivência.

Até o Fim” possui alguns aspectos curiosos que o categorizam como um filme corajoso. Estruturado apenas com um ator em cena, o filme é praticamente desprovido de diálogos, com uma rara exceção. A trajetória de vida do velejador anterior à ação é um mistério como o seu próprio nome, jamais revelado, dificultando a criação de laços de empatia com o protagonista. A história é o que decorre em tela e mais nada. Embora Robert Redford seja um grande ator conhecido por seu talento e que consegue materializar bem as nuances de um personagem como o que interpreta nessa produção (a respiração, as expressões e as angustia das circunstâncias), perfeitamente capturado pela câmera de Chandor, é difícil se conectar emocionalmente com as dificuldades do protagonista. E isso não é ausência de talento por parte de Redford, mas uma escolha de narrativa que gera obstáculos ao ator. E por assim dizer, é na maneira como diretor decide contar a historia que isso pode desagradar a maioria dos espectadores. O filme é lento, de longa duração em comparação a profundidade do material (nunca 100 minutos foram tão extensos), demasiadamente silencioso e distante da ação aventuresca que alguns trailers sugeriam. Trata-se de um filme mais atraente para espectadores que apreciam histórias que buscam elucidar a luta pela sobrevivência ou o confronto do homem com a mãe natureza.

Até o Fim” é em resumo um filme diferente, distante do círculo Hollywoodiano e que infelizmente conta com a paciência do espectador para alcançar um veredicto positivo. Embora trace seu objetivo narrativo com base num sentimento comum (o desejo de sobrevivência do homem em meio às adversidades), falha em se conectar com o espectador num relacionamento de introspeção. Filmes como “O Náufrago” (outro filme em podemos acompanhar a trajetória de um náufrago), longa-metragem de 2001 dirigido por Robert Zemeckis e estrelado por Tom Hanks encontra muito mais sucesso nesse aspecto, além é claro de conferir muito mais bagagem ao material do que J.C. Chandor. O resultado aqui é um filme ligeiramente cansativo que vale pela experiência narrativa corajosa de seu realizador, mas que não agrada em sua plenitude.

Nota:  6,5/10


quarta-feira, 17 de junho de 2015

Crítica: Os Suspeitos | Um Filme de Denis Villeneuve (2013)


Keller Dover (Hugh Jackman) é um cidadão comum da cidade de Boston e que leva uma vida pacata ao lado da esposa Grace (Maria Bello) e seus filhos. Mas algo terrível acontece durante o feriado de Ação de Graças e que vai tirar toda a serenidade dessa família. Em visita a casa de amigos, os vizinhos Franklin (Terrence Howard) e Nancy (Viola Davis), sua pequena filha desaparece subitamente dos arredores da propriedade. Após uma busca sem sucesso pelos arredores a polícia é acionada, onde o detetive Loki (Jake Gyllenhaal) prende um possível suspeito, o problemático Alex (Paul Dano), mas o liberta pela ausência de provas consistentes que impliquem em sua ligação com o crime. Alex possui sérios problemas cognitivos que causam grandes deficiências o assemelhando com discernimento de uma criança de pouca idade. Embora tenha sido descartado pelas autoridades como o responsável do sequestro, Dover acredita profundamente na culpa de Alex e irá ultrapassar todo e qualquer limite para obter pistas do paradeiro de sua filha desaparecida. “Os Suspeitos” (Prisioners, 2013) é um longa-metragem de suspense realizado por Denis Villeneuve (o responsável pelo ótimo “Incêndios”, de 2011, longa-metragem indicado ao Oscar de Melhor Filme de Língua Estrageira). Com o roteiro de Aaron Guzikowski, Villeneuve entrega um filme inquestionavelmente competente, de atmosfera assombrosa e sufocante chamando para si a responsabilidade de compreender o poder dessa história. Imensamente elogiado pela crítica especializada, essa obra lança um olhar sobre questões morais relevantes através de contornos tristes e desconfortáveis.

                                          
Os Suspeitos” é um drama tocante, de desenvolvimento impactante e repleto de qualidades que vão dos aspectos técnicos as demais escolhas. O desempenho entregue pelo elenco principal é inegavelmente fantástico, onde Hugh Jackman (distante das transposições de HQs) entrega uma de suas melhores performances de sua carreira, ao mesmo tempo em que Jake Gyllenhaal compõe mais uma vez um personagem denso e intrigante. Porém, Paul Dano também tem uma atuação impecável extraída de um personagem extremamente complexo de se materializar (as suas deficiências mentais são o combustível para prolongar todo o desfecho do filme). Assim sendo que as deficiências do seu personagem também são um leque de oportunidades para atores talentosos, e que Paul Dano as aproveita muito bem. E curiosamente, tudo é muito bem explorado pelo roteiro de Guzikowski, seja nas delicadas nuances da história ou nas passagens gritantes que causam descompasso no coração dos espectadores (as cenas de tortura que permeiam a trama são de uma crueza e um realismo perturbador), e como Villeneuve explora com maestria todo o conjunto de elementos que compõe a obra. A direção de fotografia de cores frias como a própria trilha sonora bem pontuada acentua todo esse conjunto de acertos. “Os Suspeitos” (um título nacional pouco criativo para um filme tão promissor como este) foi uma das melhores estreias de 2013, como um dos melhores filmes de seu realizador até então, seja pelo desenvolvimento fascinante que adota para a sua obra, seja pela forma como prende a atenção e surpreende até o último minuto de duração.

Nota:  8,5/10  
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terça-feira, 16 de junho de 2015

Homem-Formiga | Nem tudo é arte...

Se o Homem-Formiga tem a desvantagem de seu tamanho em comparação aos demais super-heróis da Marvel, tudo indica que isso vai mudar. E se depender do estúdio isso vai mudar em breve com a estreia em 17 de julho. A associação do personagem de pouca popularidade a outros mais famosos é prioridade como forma de divulgação. Por está razão surgiu esses cartazes que priorizam marcar no imaginário de fãs e espectadores, o quanto ele está envolvido na iniciativa dos Vingadores de proteger o mundo. Por isso nem tudo é arte, muito também é marketing.   






segunda-feira, 15 de junho de 2015

Crítica: Twister | Um Filme de Jan De Bont (1996)


Toda região do Oklahoma sempre sofreu com devastadores incidentes causados por tornados, e numa crescente onda de poderosas tempestades que tem surgido nos últimos tempos, dois grupos de pesquisadores, um brilhantemente preparado liderado pelo inescrupuloso Jonas Miller (Cary Elwes), e o outro irreverente e sem recursos composto por Bill Harding (Bill Paxton) e Jo (Helen Hunt), surge à expectativa da vinda de um grande tornado que possibilite o uso de um equipamento que se funcionar irá ajudar no futuro em como prever esse perigoso evento climático. Mas o problema surge na forma da realização do teste: o aparelho deve ser inserido no centro do tornado para que ele possa ser sugado e os seus sensores devem ser devidamente espalhados pelo gargalo do tornado. Uma tarefa muito difícil e perigosa de ser concretizada e que transforma esse bem-intencionado e necessário experimento científico numa verdadeira aventura de vida e morte. “Twister” (Twister, 1996) é uma produção estadunidense de cinema-catástrofe dirigida pelo cineasta holandês Jan De Bont. Depois de exercer uma promissora carreira como diretor de fotografia em filmes de grande sucesso, ele estreou como diretor no fantástico “Velocidade Máxima”, de 1994. Um verdadeiro sucesso de bilheteria e crítica que surpreendeu a todos por sua premissa despretensiosa, esse filme resultou num emocionante filme de ação. Seu segundo trabalho como diretor não ficou por menos, pois “Twister” é em resumo uma eletrizante jornada de emoções e efeitos visuais realísticos sobre o poder da natureza em confronto com a determinação humana.

Há algo de surpreendente em “Twister” que se mantem intocado até hoje. Os efeitos em CGI adotados para o filme ainda se mostram de uma funcionalidade impecável mesmo depois de quase duas décadas de sua realização. Realizado numa época escura para esse recurso que ainda passava por difíceis fases de descoberta, o trabalho de Jan De Bont exibe um nível de competência assombroso combinado com vários outros recursos de produção que culminaram em uma enlouquecida aventura. A adrenalina desencadeada por cenas de ação competentes são impressionantes. O que poderia ser apenas um desfile de efeitos bem realizados, também se mostra uma ferramenta para potencializar o enredo, que embora simples bastante funcional. E filmes catástrofes como esse ou Inferno de Dante, como filmes de ficção cientifica lançados na mesma época (como “Independency Day”) eram convidativos trabalhos para exercitar essa área em expansão do cinema. Assim reunido um talentoso elenco com nomes que passavam pelo auge (Helen Hunt e Bill Paxton) e outros que estavam por escrever sua história no cinema contemporâneo como Philip Seymour Hoffman, que combinados como uma história bem ritmada por uma trilha sonora empolgante (de responsabilidade de Mark Mancina) e efeitos especiais realísticos de poucas falhas, “Twister” se mostra um longa-metragem que envelheceu de modo saudável. Se invariavelmente a cada ano surge um novo filme catástrofe para reavivar esse subgênero, o trabalho do cineasta se mantem ainda um exemplar imperdível aos fãs de filmes que tem em seu enredo um terrível desastre.

Nota:  8/10

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Crítica: Entre Abelhas | Um Filme de Ian SBF (2015)


Essa produção protagonizada pelo famoso Fábio Porchat chamada “Entre Abelhas” (2015) tem um toque de genialidade incomum para o cinema nacional. Para começar pela escalação de Porchat, talentoso comediante que é para uma enorme gama de espectadores uma figura difícil de ser associada a um drama sério. Filme que após anos ficou sendo idealizado em parceria com diretor Ian SBF, finalmente o roteiro ganha a viabilização de ser realizado. Porchat, famoso por compor o elenco do programa humorístico Porta dos Fundos, sua presença pode surpreender o espectador de modo agradável (esse filme é sua incursão num papel dramático). O ator já estrelou outros filmes para o cinema, mas todos os projetos eram ligados firmemente à comédia. Aqui se trata de um drama, embora esboce contornos de tragicomédia em sua essência. E depois, outro aspecto interessante é a sua curiosa premissa enigmática de realismo fantástico que são os alicerces e fazem da proposta dessa produção um projeto louvável para os filmes sensação que tem tomado às atenções do público que busca conferir filmes nacionais. Embora o conjunto não tenha a força desejada e se destaque como imaginado, esse longa-metragem possui um punhado de boas intenções que conferem algum diferencial ao resultado. Em sua trama acompanhamos Bruno (Fábio Porchat) que após se separar da esposa (Giovanna Lancelotti) começa inexplicavelmente a deixar de ver as pessoas. Aturdido com a situação, Bruno somente passa a contar com a ajuda de sua mãe (Irene Ravache) e de seu amigo (Marcos Veras) para descobrir o que está acontecendo.


Entre Abelhas” está longe de ser uma obra-prima do cinema nacional, mas confere uma boa dose de surpresas ao espectador. Com atuações funcionais por parte de todo o elenco (com destaque para Irene Ravache), uma direção de fotografia bem cuidada e uma condução inesperadamente harmoniosa por parte de Ian SBF, esse longa-metragem possui boas qualidades. A principal delas, talvez seja ser de quem é. Há outros colaboradores do Porta dos Fundos em papéis de importância nessa produção como Letícia Lima e Luis Lobianco com desempenhos no mínimo interessantes. E embora o roteiro se mostre perfeitamente ajustado à proposta, ele também peca por não explorar as múltiplas possibilidades que o contexto possibilita através das indagações que gera. Por que Bruno está parando de enxergar as pessoas? O que ocasionou isso? E tentar explicar isso de forma acessível ao espectador trás como consequência que é a perda de um de seus maiores atrativos: o mistério. Sobretudo, sua lógica tem fundamento e se conecta bem com o enredo e os aspectos emocionais que rondam o protagonista. É certo dizer que “Entre Abelhas” não tenta se promover com o nome do protagonista, ou promove-lo também. Trata-se de um filme alheio as tendências comerciais que tem vigorado em produções nacionais contemporâneas e que demonstra interesse, ainda que mais em pretensão do que em qualidade, de ser algo mais do que um produto meramente de entretenimento fácil e descartável.

Nota: 7/10

quarta-feira, 10 de junho de 2015

Crítica: A Espiã Que Sabia de Menos | Um Filme de Paul Feig (2015)


Susan Cooper (Melissa McCarthy) é uma agente da CIA que trabalha nos bastidores da ação. Ela é os olhos e ouvidos de um experiente agente de campo, Bradley Fine (Jude Law), por quem Susan também é apaixonada. Diante de uma série de problemas pelos quais a CIA está passando, que vai da perda de um precioso agente ao desconhecido paradeiro de uma bomba nuclear, Susan tem sua função na agência alterada para agente de campo onde sua missão é impedir que uma perigosa vilã (Rose Byrne) venda a bomba para terroristas, ao mesmo tempo em que precisa impedir que um agente renegado, Rick Ford (Jason Statham) estrague toda a operação que visa impedir um desastre mundial. “A Espiã Que Sabia de Menos” (Spy, 2015) é uma produção de ação e comédia que parodia os icônicos filmes de espionagem do cinema. Dirigida por Paul Feig (responsável por “Menores Desacompanhados) o diretor é figura marcada pelos corredores de Hollywood onde já trabalhou como ator, produtor e roteirista e tem seu nome ligado a várias séries televisivas de sucesso. Esse é o terceiro filme com que ele trabalha com Melissa McCarthy (os outros foram “Missão Madrinha de Casamento” em 2011, e o “As Bem Armadas”, em 2013), e que pelo resultado dessa produção, demonstra ser uma parceria de sucesso. 


A Espiã Que Sabia de Menos” deixa qualquer sutileza de lado e não faz cerimônias ao tirar sarro da franquia 007 e caminha no mesmo rumo que o “Agente 86”. O resultado é no mínimo curioso: afundada em clichês, personagens estereotipados e uma trama nada original, o desenvolvimento abusado dessa produção surpreende pela forma fluida do conjunto. Ao canalizar toda uma gama de aspectos de filmes de espionagem do passado (carros potentes, gadgets extravagantes, luxo e ostentação em uma trama pra lá de batida) com um toque pessoal dos envolvidos, “A Espiã Que Sabia de Menos” consegue gerar inúmeras passagens de humor bem equilibradas com uma ação planejada de primeira linha. E muito da qualidade dessa produção se deve ao arrojo dos envolvidos. Com diálogos onde palavras como fudeu, bichona e merda são disparadas pela dupla de astros Melissa McCarthy e Jason Statham na mesma proporção que as balas dos capangas dos vilões, a certeza que os melhores momentos dessa comédia ficam a cargo deles. Na verdade, não há um sequer momento em que os dois não dividam a tela e não desencadeie uma boa risada no espectador. Embora todo elenco cumpra com o seu papel dentro da proposta despretensiosa do filme, esses dois se destacam diante dos demais com uma distância considerável. Se o roteiro chacoteia com a incursão estranha de McCarthy em filmes de ação, ele também brinca de modo inteligente com a fama que Statham obteve após estrelar dezenas de filmes de ação em sua carreira.

Com uma produção de cerca de 65 milhões de dólares, Paul Feig demonstra ter feito um bom gasto desse dinheiro ao saber injetar uma boa dose de ação competente em sequências bem feitas sem perder a mão da comédia necessária (quando a ação cessa a comédia toma a tela até o último minuto). Com um humor que oscila entre o cômico e o escatológico, “A Espiã Que Sabia de Menos” é uma excelente comédia que dificilmente não irá agradar ao espectador ciente de sua proposta. Embora não apresente quase nada de novo, muito menos de original, tem a seu favor o melhor de seus envolvidos que demonstram saber o que estão fazendo. É em resumo, divertido como deve ser.

Nota:  8,5/10

domingo, 7 de junho de 2015

Cartazes Alternativos de Filmes Inspirados em Suas Armas

Muitas vezes as armas que aparecem em certos filmes se tornam tão icônicas quanto as próprias obras. Pensando nisto, o inspirado artista gráfico Caique Gomes criou uma série de cartazes alternativos de filmes famosos com destaque para as armas que estrelam nessas produções. De cores suaves e de traços minimalistas, o artista apresenta um trabalho relativamente simples e fiel as suas inspirações: Confira logo abaixo o resultado: 








Fonte | Aqui

sexta-feira, 5 de junho de 2015

Crítica: Controle Absoluto | Um Filme de D. J. Caruso (2008)


Se dependesse do curso natural da vida, Jerry Shaw (Shia Labeouf) e Rachel Holloman (Michelle Monaghan) jamais teriam se conhecido. Mas quando o estranho telefonema feito por uma mulher desconhecida ameaça suas vidas e de suas famílias, a desconhecida voz os envolve em perigosas situações que os une enquanto algo estranhamente grave os cerca. Monitorados e controlados constantemente pela mulher que fez contato com eles, ambos se tornam os fugitivos mais procurados do país e precisam ser muito espertos para descobrirem o do porque de tudo isso. “Controle Absoluto” (Eagle Eye, 2008) é uma produção de ação e suspense dirigida por D.J. Caruso. Inspirado numa ideia de Steven Spielberg (onde um dia as pessoas serão monitoradas 24 horas por dia sem saber) o cineasta passou anos conservando essa ideia em banho-maria até que estivesse no ponto certo de realização. Com o roteiro escrito em conjunto por John Glenn, Travis Wright, Hillary Seitz e Dan McDermott, a ideia foi realizada por D.J. Caruso, tendo como protagonista Shia Labeouf (na época costumeiro colaborador das grandes produções de Spielberg na franquia “Transformers) e Michelle Monaghan, atriz competente e de nome familiar em produções hollywoodianas. Caruso entrega um filme interessante, de ritmo ágil e limitado justamente por suas qualidades: a impossibilidade de tornar crível a ideia em si. Embora realizado corretamente, nesse corre-corre de teorias de conspiração que rondam seu desenvolvimento, o conjunto não agrada de modo diferenciado.

Controle Absoluto” é um quebra-cabeça de aparência complexa, antenado com as possibilidades e que busca um desfecho fantástico a altura de seu desenvolvimento. Entretanto, quando ocorre isso depois de inúmeras reviravoltas em volta do casal de protagonistas e sequências de ação que vão do fantástico ao absurdo, também não surpreende ou fascina o espectador. Ainda que as dicas da essência da proposta dessa produção tenham sido dadas com a devida competência, em pequenas doses e com pouca clareza, o real vilão dessa conturbada jornada pela busca da inocência de Jerry Shaw por crime contra a nação e a salvação da família de Rachel Holloman não mexe com o imaginário do espectador. Sem falar do maniqueísmo das situações que levam a ação, que procura desencadear alguma reflexão em volta das parafernálias que nos cercam diariamente (GPS, celulares, câmeras de monitoramento são o calcanhar de Aquiles da dupla em fuga), onde o roteiro tenta convencer que a vigilância total do cidadão é um mal necessário. Mas no final das contas é um bom filme, com boas intenções e recheado de falhas e principalmente de carências (se no principio a ausência de uma face aterradora causa mistério e fascínio no desenvolvimento, a revelação mostrou-se desinteressante). Produzido com a competência de grandes produções hollywoodianas, conduzido de modo arrojado por D.J. Caruso e ambicioso em sua proposta, “Controle Absoluto” não chega a ser uma perda de tempo. Na verdade ele cumpre o que promete, mas sem a força necessária para causar algum espanto. Entretêm o espectador, mas não causa espanto que seja do jeito que é.

Nota:  6/10

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Crítica: Água para Elefantes | Um Filme de Francis Lawrence (2011)


Jacob Jankowski (Hal Holbrook) já passou dos 90 anos e não consegue esquecer um marcante período de sua juventude passado nos anos 30. Nessa época devido a difícil situação econômica do país, em plena Grande Depressão, Jacob Jankowski (Robert Pattinson), um ex-estudante de veterinária afligido pelas dívidas acumuladas da família foi levado a buscar emprego numa companhia circense onde conheceu para seu desgosto a forma brutal como homens e animais são tratados, ao mesmo tempo em que conheceu a mulher por quem se apaixonou.  Essa mulher era a grande estrela do espetáculo do circo, a encantadora de cavalos Marlena (Reese Whiterspoon), e também esposa do proprietário do circo, August (Christoph Waltz), um homem aparentemente carismático, embora extremamente perigoso quando suas maiores paixões, o circo e sua esposa, estão sob a ameaça de serem perdidas. “Água para Elefantes” (Water for Elephants, 2011) é um drama romântico histórico baseado no best-seller de mesmo nome lançado em 2006 por Sara Gruen. Sua transposição cinematográfica segue a risca a linha de sua inspiração literária: a história é narrada através do depoimento de Jacob Jankowski na forma de lembranças, enriquecidas por suas impressões sobre o cenário circense da época e as pessoas que o integravam; isso tudo perfeitamente romanceado pela magia dos anos 30. Sendo assim o cineasta austríaco Francis Lawrence (responsável por sucessos como “Constantine” (2005), “Eu Sou a Lenda” (2007) e “Jogos Vorazes – Em Chamas” (2013)) consegue entregar um longa-metragem carregado de inspiração e repleto de detalhes visuais, mas carente de uma paixão memorável que prepondere força.


Há algo que é imprescindível que seja dito sobre “Água para Elefantes”. O filme é simplesmente lindo aos olhos. Isso do mais simples enquadramento aos planos mais longos. Com uma direção de arte competente, fotografia virtuosa e figurinos deslumbrantes, esse longa-metragem tem em sua aparência suas melhores qualidades. E não se trata de um visual meramente fantasioso marcado de exageros comuns nem nada, mas uma sólida reconstituição de época fina e elegante como poucas. O resultado dessa produção valoriza a magia circense como poucas numa época de pouco encanto. O realismo da Grande Depressão se contrasta de forma natural o universo circense. Trata-se de um trabalho rico em detalhes muito bem combinados que enriquecem o desenvolvimento da ação que acompanha o trio amoroso composto por Robert Pattinson, Reese Whiterspoon, Christoph Waltz e uma elefanta cheia de personalidade chamada Rosie. O roteiro de Richard LaGravenese segue a base da obra literária, e explora com bom nível de profundidade temas universais como o encontro do destino, como a da própria liberdade em meio as diferentes escolhas da vida, o do amor que também é margeado pelo ciúmes. E se o jovem casal (Robert Pattinson e Reese Whiterspoon) entrega atuações funcionais ao conjunto, Christoph Waltz entrega mais uma brilhante interpretação de um personagem de personalidade complexa que oscila entre o carisma envolvente e aversão desencadeada por suas atitudes.

Água para Elefantes” consegue trazer a vida todo um período da história norte-americana através de uma montanha-russa de emoções que desencadeia tanto risos quanto lágrimas. Agradável para fãs do trabalho de Sara Gruen, interessante para ser descoberto por fãs de filmes de época, o trabalho realizado por Francis Lawrence tem as suas qualidades, embora ainda esteja longe de ser realmente memorável. Com vários elementos que remetem a lembrança de um Titanic sobre trilhos, o trem de August, como de sua própria companhia circense percorreu um terreno intensamente acidentado da vida até culminar numa tragédia memorável. Curiosamente, se a trajetória de Jacob Jankowski não desencadeia a mais intensa das emoções no espectador, a passagem onde Hal Holbrook a relata no final com revelações do rumo de sua vida após a tragédia é de um singelo toque quase impossível de não amolecer o coração.

Nota:  7,5/10

quarta-feira, 3 de junho de 2015

Crítica: Kick-Ass 2 | Um Filme de Jeff Wadlow (2013)


Depois de motivar as pessoas pela busca da justiça, o mascarado justiceiro Kick-Ass, o jovem Dave Lizewski (Aaron Taylor Johnson) sofre de uma forte frustração pelo rumo pitoresco com que sua vida tomou. Decidido a retomar seu papel na luta contra o crime, ele busca uma parceria com a adolescente Mindy (Chloe Grace Moritz), a famosa Hit-Girl, que agora órfã de pai, está sob os cuidados do policial Marcus (Morris Chestnut). Tanto um quanto o outro, não conseguem se adaptar a normalidade de suas vidas. Mas Mindy sofre de uma pressão de ter o destino fatal de seu pai. E por causa disso, enquanto Dave passa a se associar a outros vigilantes que conheceu pela internet, Mindy sofre duras penas para se tornar uma adolescente normal a pedido de seu tutor. Enquanto isso o perturbado Chris D’Amico (Christopher Mintz Plasse), o Red Mist, passa a contratar bandidos para vingar a morte do pai e espalhar o terror pela cidade. Mas não demora muito para o que destino coloque esses heróis e vilões frente a frente num épico confronto, tão estranho quanto perigoso. “Kick-Ass 2” (Kick-Ass 2, 2013) é uma produção de ação baseada nos personagens da HQ de Mark Millar e John Romita e publicada pela Marvel Comics. Dirigido por Jeff Wadlow e produzido pelo cineasta londrino Matthew Vaughn (responsável pelo primeiro filme: “Kick-Ass – Quebrando Tudo”, de 2010), Wadlow entrega um filme de continuidade orgânica, se não igualmente surpreendente como o primeiro (o filme misturava ação de primeira, violência ao estilo “Pulp Fiction” e uma dose acertada de humor negro), mas a altura como um bom entretenimento juvenil.


Se beneficiando do sucesso da empreitada independente de Matthew Vaughn, “Kick-Ass 2” alcança um nível agradável de sucesso também. Menos audacioso do que Kick-Ass – Quebrando Tudo, mais cômico do que o esperado e ainda realizado com competência, o retorno do elenco original e a própria direção de Jeff Wadlow se mostra mais do que satisfatória a essa sequência. Repleto de personagens estranhos, que oscilam entre o cômico e o caricato, o roteiro simples de Jeff Waldow explora bem as possibilidades em volta do enredo e gera bons momentos de humor, como de ação violenta e esteticamente ajustada aos moldes dessa produção de heróis com mais motivação do que com poderes. E esse aspecto chama muito a atenção, onde a busca da identidade dos personagens se rivaliza com os obstáculos naturais impostos. As cenas de luta continuam deslumbrantes, e embora o roteiro não busque um aprofundamento mais inovador sobre as figuras de Kick-Ass e Hit-Girl e suas relações com os demais vigilantes, há uma preservação de ideias intocada que garante o divertimento do espectador. Essa produção surge com uma reafirmação do potencial da história em quadrinhos lançada em 2008, como também do próprio formato cinematográfico adotado por Matthew Vaughn. Obviamente “Kick-Ass 2” não supera seu antecessor nem de longe, e se o primeiro filme passou a morar no coração de muitos espectadores sem aviso (o filme foi uma grata surpresa para o gênero), esse segundo obteve seu sucesso em apenas prender a atenção dos fãs se causar decepção.

Nota:  7,5/10

terça-feira, 2 de junho de 2015

Pawn Sacrifice | De gênio e louco, todo mundo tem um pouco!