quarta-feira, 6 de maio de 2015

Crítica: Ela | Um Filme de Spike Jonze (2013)


Numa Los Angeles futurista, Theodore (Joaquin Phoenix) é um talentoso escritor de cartas às quais são endereçadas para pessoas sob a encomenda de seus remetentes. Recém-separado de sua esposa, Theodore vive solitário após o divórcio com evidentes dificuldades de se adaptar ao seu novo estado civil. Nessa solidão, ele adquire um surpreendente sistema operacional que se auto intitula Samantha (que usa a voz de Scarlett Johansson) que tem a promessa de amenizar as dores do abandono de sua esposa e do consequente distanciamento social que esse evento resultou.  Sendo uma entidade provida de intuições e conhecimentos adequados perfeitamente ao seu usuário, esse programa interativo torna-se fascinante desde o primeiro momento. Mas para sua surpresa, Theodore acaba se apaixonando pela personalidade do software onde que se inicia uma estranha relação amorosa. “Ela” (Her, 2013) é uma produção estadunidense escrita, produzida e dirigida por Spike Jonze (responsável por filmes como “Quero Ser John Malkovich”, “Onde Moram os Monstros”, entre outros). Flertando com vários gêneros de modo inusitado (ficção cientifica, fantasia e comédia), Jonze surpreende o espectador com sua obra. Para todos os efeitos, essa produção se inicia como uma comédia dramática genial. Passada num futuro distópico imensamente criativo até se mostrar um delicado romance, Jonze recheia sua estranha história de amor com uma forte crítica ao modo como o homem contemporâneo lida e se relaciona com os avanços da tecnologia, e cada vez menos com o ser humano.


Ela” é um longa-metragem típico de seu realizador. Responsável por filmes ligeiramente estranhos e imensamente criativos, Spike Jonze não se distancia de seu estilo e marca essa produção também com sua originalidade. Conferindo perspectivas pessimistas para o futuro evidenciado por mudanças sociais contemporâneas onde cada vez mais as pessoas trocam as relações humanas legítimas por interações digitais, sua obra vem no tom alerta ao espectador. É certo que esse fenômeno retrata muito do presente, e seu realizador antenado com isso cria uma obra que retrata uma tendência crescente da atualidade com visão e genialidade. Curiosamente esse aspecto é encarado com muita naturalidade dentro do enredo do trabalho de Jonze, e abrilhantado ainda mais pela interpretação de Joaquin Phoenix, um ator sempre aberto a novos desafios de atuação. Após a separação, Theodore se afunda na solidão embora esteja completamente cercado de pessoas. Sua resignação é uma consequência comum de sua condição, mas solucionada com uma medida extraordinária muito bem explorada pelo roteiro, que toca em vários aspectos dessa situação e abrange de forma original o seu destino. Tanto que o roteiro de “Ela” foi premiado como o Melhor Roteiro Original no Oscar 2014, embora ainda tenha tido indicações outras categorias e sido premiado em outros eventos de grande importância. Mas esse longa possui outros requintes, que se encontram no elenco de apoio afinado com a proposta, como na aparência do filme em si que demonstra elegância e leveza.

Sobretudo, Ela” pode ser considerado um drama romântico de ritmo lento em sua maior parte, quase totalmente, mas de uma profundidade instigante pelo cenário em seu contexto tão próximo da realidade. Embora a crescente evolução da tecnologia seja sempre recepcionada com muito anseio e satisfação, um orgulho da aproximação de cabeças pensantes da grande massa, em contrapartida também pode ser considerada um retrocesso evolutivo de comportamentos antiquados ainda que saudáveis. Por isso, “Ela” pode ser entre tantas coisas, também um acessório de reflexão para onde caminha a humanidade.

Nota:   8/10

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