sábado, 27 de setembro de 2014

Crítica: Seita Mortal | Um Filme de Kevin Smith (2011)


Quando os três adolescentes, Travis (Michael Angarano), Billy-Ray (Nicholas Braun) e Jared (Kyle Gallner) saem na noite em busca de diversão na forma de sexo com uma mulher mais velha nas redondezas do meio oeste americano tudo pode acontecer. Ao seguirem um tentador anúncio de internet com a promessa de uma orgia eles não conseguem imaginar na enrascada em que estão prestes a se meter. O que prometia ser somente uma festa livre de proibições torna-se uma viagem horrenda, isso porque, membros de um culto religioso radical armaram através desse tentador chamariz uma armadilha para castigar pecadores como preparativo antes da chegada do apocalipse. Mas as autoridades já estavam de olho nesta seita, o que por fim acaba se tornando um violento confronto armado entre os dois lados. “Seita Mortal” (Red State, 2011) é um filme de terror independente escrito e dirigido por Kevin Smith. Responsável por obras cult como “O Balconista” e trabalhos polêmicos como “Dogma”, Kevin Smith se aventura em um gênero diferente da comédia, pois é na comédia de onde vem seus melhores trabalhos. Embora não seja propriamente um terror declarado, sendo que seu desenvolvimento se pareça mais com um suspense arrastado, “Seita Mortal” detêm vários elementos que o caracterizam como um terror light. De pouco valor estético e de enredo batido, essa produção não entra para rol de melhores filmes de seu realizador.



Mas para quem conhece o trabalho de Kevin Smith, “Seita Mortal” felizmente herda algumas características de seu realizador, o que ameniza a pouca fluência do resultado que mais promete do que cumpre. Com excelentes desempenhos do elenco principal (destaque para o pastor fanático interpretado por Michael Parks), atores como John Goodman, Melissa Leo e Kyle Gallner impressionam na medida do possível pelos diálogos bem escritos. Mas a produção em si, não tem o charme de outros exemplares do gênero e nenhum atrativo que ao menos a diferencie. Pelo contrário, “Seita Mortal” apenas mescla alguns diferentes elementos (cenas de tortura física de violência tarantinesca com tiroteios caóticos mais interessantes quando exibidos em trailer de cinema) num desenvolvimento pouco profundo ligado ao tema principal. É gritante a forma como o desenvolvimento soa inúmeras vezes destoante ao que se sugeria em premissa. Por fim, essa incursão de Kevin Smith num gênero diferente do qual estava habituado, a comédia, embora “Tiras em Apuros” (2010) seja muitíssimo fraco, “Seita Mortal” não pode ser rotulado como um completo fracasso. Longe disso. Lançado de modo contido, não conseguiu causar alvoroço e consequentemente o resultado demostrou ter mais falhas do que qualidades. Simplesmente poderia ter sido melhor do que é, ou pelo menos do que parecia ser (mas também não muito mais).

Nota:  5,5/10

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Moleskine Também é Cool

 

Já faz algum tempo que o Moleskine deixou de ser apenas uma marca e virou estilo. Um simples caderno que associa charme e funcionalidade. Apesar das inúmeras inovações do mundo tecnológico a nossa disposição (notebooks, tablets, smartphones), nos oferecendo inúmeros recursos de se organizar em meio às correrias da vida contemporânea, há algumas pessoas que não abrem mão do hábito de carregar consigo o tradicional caderno de anotações. Desenhar, esboçar, anotar ideias, escrever pensamentos, agendar compromissos, são algumas das inúmeras possibilidades que o simpático caderno possibilita. Com dezenas de finalidades diferentes, seu uso demonstra versatilidade, atendendo prontamente seu usuário de forma simples e imediata as suas necessidades. E de uns tempos para cá, inclusive virou sinônimo de style. Há vários modelos e marcas diferentes sendo comercializados em papelarias (todos com sutis diferenças, diga-se de passagem), entretanto, o Moleskine ganhou o status icônico devido ao fato que vários artistas e pensadores como Pablo Picasso e Ernest Hemingway que o adotavam explicitamente como ferramenta de trabalho pessoal em função de sua praticidade. No cinema, também há dezenas de personagens emblemáticos que o adotaram carinhosamente, como o professor Henry Jones (pai de Indiana Jones interpretado por Sean Connery, que mantinha todas as suas anotações de pesquisas em um caderno “Moleskine”) no longa-metragem, “Indiana Jones e a Última Cruzada” (1989). Há vários filmes onde o tal caderno faz aparições especiais sem nomeação, mas irremediavelmente presente como em “Do Inferno” (2001), “Magnólia” (1999) e “O Talentoso Mr. Ripley” (1999). 

Apesar de o nome fazer referência ao tecido moleskin, o caderno fabricado pela empresa italiana Moleskine SRL não é feito com ele, e sim com uma capa dura de cartão e materiais impermeáveis. Com cantos arredondados e tira de elástico para mantê-lo fechado ou aberto, também possui uma dobradura em tecido que lhe permite ficar plano quando aberto. Empresas como a TilibraSaraiva, entre muitas outras, tem produzido suas versões genéricas do famoso caderno de anotações, popularizando seu estilo e seu charme. Maiores informações veja no site http://www.moleskine.pt/


domingo, 21 de setembro de 2014

Crítica: Cão de Briga | Um Filme de Louis Leterrier (2005)


Danny (Jet Li) é o último recurso de persuasão adotado por Bart (Bob Hoskins), um ambicioso gangster do submundo de Londres, quando o assunto é a cobrança de dívidas. Quando seus clientes não honram seus compromissos, Bart usa as fantásticas habilidades marciais de Danny para lhe favorecer, o que lhe rende muito dinheiro. Danny é adotado por Bart desde criança e criado como um animal obediente, mas que quando diante da necessidade de suas habilidades de luta é solto da coleira, torna-se uma fera de combate incontrolável. Quando em um acidente de carro Danny se perde de seu “dono” e acaba conhecendo um sensível afinador de pianos cego chamado Sam (Morgan Freeman) e sua neta Victoria (Kerry Condon), que juntos mostram a Danny que a vida tem muito mais para lhe proporcionar do que ele um dia imaginou. “Cão de Briga” (Unleashed / Danny The Dog, 2005) é uma produção de ação dramática escrita e produzida por Luc Besson. Dirigida por Louis Leterrier, frequente colaborador de Luc Besson, essa produção vai contra tudo que é plausível e lógico. Entretanto, curiosamente essa estranha história de um homem educado como um cão funcionário de um emergente mafioso que acaba caindo nas graças de uma atenciosa família, não é que convence? Mescla com habilidade elementos como ação e dramaticidade na mesma proposta de modo convincente, onde que Jet li entrega uma atuação habilidosa não somente nas sequências de ação genialmente coreografadas, mas na materialização das sutis nuances em volta de seu personagem que tem um comportamento muito similar a de um cão realmente.


Definitivamente “Cão de Briga” é uma grande surpresa considerando o seu nível elevado de funcionalidade. Uma história extremamente bizarra que vista de cabeça aberta até pode se tornar um passeio agradável. O equilíbrio acentuado de ação e drama na mesma produção se mostra uma mescla interessante, embora não detenha excelência em nenhum dos dois gêneros de modo exuberante. Ainda que as cenas de ação executadas por Jet Li sejam fantásticas (cortesia do coreógrafo Yuen Wo Ping), o roteiro de Besson tem lacunas que freiam o desenvolvimento dos personagens e consequentemente prejudicam o desempenho do elenco principal (se Danny é um talentoso lutador, obviamente não foi por influência do personagem de Bob Hoskins). Mas a direção de Louis Leterrier sana qualquer deficiência dramática com sequências de ação frenética. A montagem rápida com o uso adequado de passagens em câmera lenta, todas genialmente inseridas no tempo certo da trama, proporciona certo charme à produção sem parecer forçado. A história tem tanto a oferecer quanto a própria ação, detalhe esse conferido por atores como Bob Hoskins, o desonesto gangster e Morgan Freeman, como o sensível sábio que encontra todo potencial benevolente oculto na figura de Danny. “Cão de Briga” não é somente ação desenfreada como se esperaria de atores como Jet Li. Tem uma realidade palpável pela forma como seus realizadores imaginaram e colocaram em perspectiva (cheio de falhas e com um ritmo impecável). Um dos melhores filmes do astro, que inclusive até ele mesmo o menciona em entrevistas mais recentes com certa dose de nostalgia.

Nota:  7/10

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Crítica: Albergue Espanhol | Um Filme de Cédric Klapisch (2002)


Xavier (Romain Duris) é um jovem estudante francês de economia que almeja um cargo no departamento governamental através de um contato influente da família. Profissionalmente limitado, o jovem é aconselhado pelo contratante a fazer um intercambio na Espanha para se familiarizar com sua economia e idioma. Assim ele decide viajar para Barcelona através de um programa de intercâmbio chamado “Erasmus” em busca de melhorias em relação a seus conhecimentos técnicos e culturais. Mantendo um relacionamento à distância com Martine (Andry Tautou), passa a morar provisoriamente na casa de um médico francês chamado Jean-Michel (Xavier de Guillebon) e de sua jovem esposa Anne (Judith Godrèche), quase sempre mantida no estado de solidão. Após algum tempo Xavier passa a morar em uma república com estudantes das mais variadas nacionalidades, que irão direta ou indiretamente render as mais diferentes emoções ao jovem estudante, além do que ele imaginava a princípio. “Albergue Espanhol” (L `Auberge Espagnole, 2002) é uma deliciosa comédia romântica com toques de dramaticidade bem nivelados escrita e dirigida pelo cineasta francês Cédric Klapisch. Trata-se de uma realização que também faz parte de uma trilogia que teve sequência com “Bonecas Russas” em 2005 e brilhantemente finalizada com “O Enigma Chinês” em 2013. “Albergue Espanhol” desencadeia nostalgia no espectador, onde acompanhamos seu protagonista em suas experiências de vida onde ele aprende a compartilhar barreiras verbais e culturais, a superar dificuldades profissionais e pessoais, a lidar com o amor e seus desejos sexuais, tudo de forma natural e conectada com uma realidade perfeitamente articulada em sua proposta.


Se o “Albergue Espanhol” tivesse sido realizado no Brasil, poderia muito bem ser oriundo ou destinado para a televisão. Sua narrativa e estética tem um forte ar televisivo em seu formato. Embora esse aspecto transpareça ligeiramente, seu realizador busca afirmar seu trabalho como sendo um longa-metragem. Um conto encantador com diversas passagens hilárias ligadas a assuntos bem humanos que se afirmam como universais ambientados numa Europa unificada. Cada personagem designa da nacionalidade que representa, como as nuances de suas origens vem a engrandecer a trama no todo. Longe das estereotipadas fraternidades americanas que enaltecem o estilo de vida rebelde de seus alunos, “Albergue Espanhol” está muito bem conectado com o realismo que rodeia a vida de jovens que traçam seu rumo em direção da maioridade na conquista de sua identidade própria e independência. Visualmente simples, ainda que a direção de fotografia venha a conferir certa beleza aos contornos da cidade de Barcelona, Cédric Klapisch não aplica floreios desnecessários para embelezar seu trabalho. A riqueza de seu filme consiste na harmonia dos acontecimentos que rondam cada personagem, sempre se conectando com os demais personagens no foco principal da trama: a jornada de transformação de Xavier por uma terra estrangeira. Grande sucesso de bilheteria no ano de seu lançamento, o filme agrada os mais variados públicos, embora seja composto em sua maioria por personagens jovens que sugere ser o público alvo. Mas curiosamente essa produção detem um ar nostálgico agradável a quem passou pela experiência retratada no filme, esse um público de uma faixa etária mais elevada. Ainda que “Albergue Espanhol” não seja perfeito, é surpreendentemente simples e divertido.

Nota: 8/10

terça-feira, 16 de setembro de 2014

Crítica: Desafiando os Limites | Um Filme de Roger Donaldson (2005)


Após Herbert (Burt) James Munro (Anthony Hopkins) passar quase 20 anos modificado sua motocicleta Indian Scout de 1920, na Nova Zelândia, ele embarca rumo aos Estados Unidos da América decidido a realizar um sonho: bater o recorde mundial de velocidade com motocicletas de motores até mil cilindradas. Com uma inimaginável determinação, perseverança e com um toque de irreverência, James Munro viaja para competir com sua moto nas planícies de sal de Bonneville, no estado do Utah durante a década de 60. E contra todas as expectativas acaba fazendo uma história de vida repleta de recordes que inspiram os mais diferentes esportistas do mundo inteiro. “Desafiando os Limites” (The World’s Fastest Indian, 2005) é um inspirado drama biográfico escrito e dirigido por Roger Donaldson (O Novato, 2003), que retrata a difícil jornada percorrida pelo neozelandês Herbert (Burt) James Munro (1899-1978) para alcançar por fim seus recordes de velocidade (Munro bateu três recordes de velocidade como motociclista, sendo que um deles permanece seu até hoje). Em suma, a surpreendente mistura de emoção e motocicletas faz desse longa-metragem uma retratação de um homem simples e espirituoso em busca de um sonho. Realizado com competência, Roger Donaldson entrega um conto charmoso que emociona sem ser piegas, e baseado em fatos reais, funciona como uma verdadeira ferramenta de comoção até para quem jamais teve carisma pelo motociclismo.


E se “Desafiando os Limites” é cercado de qualidades, muito se deve a presença do astro Anthony Hopkins na produção, ainda que certas curiosidades em volta da figura histórica de Munro já tenham o seu brilho independente. Numa atuação genial, Hopkins equilibra com habilidade o peso dramático de seu personagem com o tom cômico de suas perspectivas para alcançar o sucesso (pneus dilacerados e camuflados com graxa de sapato são justificados com um raciocínio lógico que somente fazia sentido para Burt Munro), fazendo de sua interpretação um agradável investimento de tempo. Roger Donaldson capta com clareza e simplicidade a alma de um homem transparente e verdadeiro como era de ser. O filme, bem ambientado com um ritmo discreto de cinema independente e doses de emoção que pode pegar de surpresa alguns espectadores, Donaldson entrega uma jornada onde Munro cruza com outros personagens incríveis movidos a certa altura por sua busca. Se “Desafiando os Limites” é iniciado com a premissa de um homem comum em busca de um sonho, ele termina surpreendentemente com um aspecto vital para se conseguir o sucesso. Dentre todas as virtudes necessárias para se tornar um vencedor, o trabalho de Roger Donaldson enfatiza através de pequenas nuances que determinação e perseverança fazem expressivamente frente a outros inúmeros recursos artificiais supervalorizados. Esse longa-metragem é merecedor de ser descoberto, sejam pelas apaixonadas façanhas de Burt Munro pela modalidade esportiva a qual dedicou grande parte de sua vida, embora jamais a tenha adotado como profissional ou pelo trabalho de Anthony Hopkins em materializa-lo com uma peculiar sinceridade. Enfim um filme bastante elogiável.

Nota: 7,5/10


segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Crítica: Rápida Vingança | Um Filme de George Tillman Jr. (2010)


Após James Cullen/Driver (Dwayne “The Rock” Johnson) sair da prisão depois de cumprir uma pena de 10 anos, seu único objetivo em vida é caçar aqueles que o traíram após um assalto e também mataram o seu irmão nessa traição. Traído, seus comparsas o alvejaram com um tiro na cabeça e o deixaram a mercê da própria sorte. Entretanto, milagrosamente Cullen sobrevive e passa anos atrás das grades arquitetando um plano de vingança sobre aqueles que participaram no golpe. Mas nessa jornada de vingança ele encontra alguns obstáculos, seja no fato de desconhecer a verdadeira identidade do autor dessa traição ou na figura de um egocêntrico matador de aluguel contratado para rastreá-lo e impedir a conclusão de seu plano de vingança. “Rápida Vingança” (Faster, 2010) é um longa-metragem de ação dramática estrelado por Dwayne Johnson, Billy Bob Thornton, Oliver Jackson-Cohen, Carla Gugino e Maggie Grace. Escrito pelos irmãos Joe e Tony Gayton (Operação Fronteira, 2007) e dirigido por George Tillman Jr. (Notorious, 2009), essa produção é amparada por muita violência (sendo o primeiro filme com censura de 17 anos estrelado por Dwayne Johnson) em um tema clássico do cinema e a muito desgastado: a vingança. Partindo do principio do “Olho por olho, dente por dente”, Dwayne Johnson traz a tona a figura do anti-herói que não mede esforços para cumprir sua missão de vingança numa trama policial sem grandes novidades, embora com algum charme e ligeiramente divertida.


Rápida Vingança” oscila entre a crueza da ação violenta e uma forte estética comercial típica dos filmes estrelados pelo astro “The Rock”. Se por um lado essa produção apresenta um olhar curioso sobre alguns aspectos dramáticos do gênero policial (sobre a ressocialização de criminosos, obstáculos da vida familiar de policiais como a de Billy Bob Thornton e a linha tênue entre criminoso e herói), pelo outro lado, não passa de uma típica produção cinematográfica clichê de cujo comercial (a presença de um assassino profissional repleto de excentricidades materializado por Oliver Jackson-Cohen é prova disso). Embora a soma de todos os aspectos seja até certa altura bem equilibrada, onde Dwayne “The Rock” Johnson entrega um interpretação curiosamente bem sucedida (muito se deve a atmosfera divagante criada por seu realizador) fazendo frente a outros grandes talentos da interpretação que compõem o elenco principal, o filme não apresenta nada de surpreendente em sua totalidade, mas consegue entreter com um bom nível de sucesso. “Rápida Vingança” não oferece ameaça há outros exemplares do gênero ao qual habita, como também não traz um olhar nada original ao tema que serve de alicerce para trama criada pelos irmãos Gayton, mas apresenta boas passagens de ação e violência crua, personagens interessantes e interpretações louváveis em um produto de foco claramente comercial resultante de uma direção dinâmica. Um sólido entretenimento escapista derivado de um gênero movediço.

Nota: 7/10

domingo, 14 de setembro de 2014

John Wick

Pôster Oficial

sábado, 13 de setembro de 2014

Crítica: Amnésia | Um Filme de Christopher Nolan (2000)


Amnésia” (Memento, 2000) é um suspense noir que é acima de tudo uma experiência cinematográfica gratificante. Filmes fragmentados não é nenhuma novidade para os espectadores contemporâneos, sendo que há centenas de exemplares que adotaram esse recurso pelas mais diferentes razões. Mas poucos dão tanto sentido a esse recurso quanto essa produção independente (produzida na época ao custo de 5 milhões de dólares), pela forma com que se encaixa no contexto. “Amnésia” é narrativamente fragmentado, e esse artifício adotado por seu realizador, o cineasta Christopher Nolan busca simplesmente transferir para o espectador a experiência sensorial pela qual o protagonista desse longa-metragem passa devido às consequências de uma amnésia resultante de uma tentativa de assassinato que sofreu. A típica estrutura de começo, meio e fim se alteram significativamente em benefício da trama, armada de uma boa ideia e gente comprometida com sua proposta. Esse artifício de começar seu desenvolvimento do fim rumo ao evento que culminou nessa ação não é um mero recurso de estilização da trama utilizado como recurso decorativo sofisticado, mas a essência suprema da história criada por seu realizador. Na trama acompanhamos Leonard Shelby (Guy Pearce), um homem em busca de vingança, cujo objetivo é vingar o estupro e assassinato hediondo de sua esposa. Mas um grave empecilho surge dificultando a realização dessa vingança. Shelby foi ferido durante o mesmo crime, adquirindo um tipo de amnésia peculiar que o impede de formar novas memórias. Embora se recorde de toda a sua vida antes do incidente, por qualquer descuido desencadeado por sua condição médica ele pode esquecer-se de seu objetivo. E por isso ele passa a marcar seu corpo com mensagens de relevância futura (que como para o espectador acabam virando verdadeiros enigmas) que podem fazer toda diferença em sua jornada de vingança.


O conceito cru de “Amnésia” tem o seu valor, embora esse valor venha da inquestionável habilidade de seu realizador de estrutura-lo de modo envolvente. O filme é muito bom, mas não somente pela ideia em si, e sim pela composição de elementos que compõem sua duração. Apresentando atuações inspiradas por parte de todo elenco principal, onde Guy Pearce entrega talvez uma de suas melhores representações de sua carreira, além dos demais nomes que integram o grande elenco dessa produção (Carrie-Anne Moss, Joe Pantoliano e Mark Boone Junior), todos se destacam ao seu modo com certos ressaltos de brilhantismo diante da ousadia da proposta (Amnésia sempre pode ser citado como um dos melhores filmes de Christopher Nolan, ainda que não faça frente a gigantes mais recentes e elaborados em orçamento e composição de elenco). Mas ainda que os recursos utilizados por seu realizador não tenham presença num cenário cinematográfico hollywoodiano, essa produção se faz através de boas ideias e muito comprometimento presente. A cada personagem que surge na tela durante o desenvolvimento da ação desse longa-metragem surgem dúvidas e conexões bem amarradas pelo roteiro. Como o personagem Jenkins, de Stephen Tobolowsky que não é apenas uma aparente figura passageira na película, mostrado sua importância num plano maior para responder certas questões que eventualmente poderiam surgir ao espectador. Ainda que o roteiro de Christopher Nolan tenha tomado como solução algumas liberdades artísticas para acentuar sua trama de modo orgânico, não traduzindo a realidade clínica de um paciente real em sua plenitude, a forma como ele a desenvolve torna essa peculiar enfermidade crível e em harmonia com o drama de Leonard Shelby. O suspense criado por Nolan em redor de seu protagonista prende a atenção do espectador com facilidade, ainda que não se mostre bonito visualmente, o filme tem uma atmosfera intrigante. Um elemento que foi vital para firmar “Amnésia” no sucesso em sua época, e mesmo após muito tempo ainda ser lembrado como um grande filme a ser descoberto ou revisitado.

Nota: 8/10


quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Crítica: Lucy | Um Filme de Luc Besson (2014)


Lucy (Scarlett Johansson) é uma jovem inocente que foi forçada a trabalhar como mula para o transporte de drogas para máfia de Taipei, em Taiwan. A droga foi implantada cirurgicamente em sua barriga, no entanto um pouco antes de embarcar no voo o pacote que transporta no interior de seu corpo vaza derramando a substância em seu organismo. Porém ela não morre, e para sua surpresa, melhora incrivelmente seus sentidos. A sua capacidade cerebral restringida a apenas 10% se torna gradativamente ilimitada a tornando uma supermulher. Lucy evolui radicalmente passando a ter a capacidade de ler mentes e mover objetos apenas com o pensamento, entre muitas outras poderosas habilidades. Com a ajuda do professor Norman (Morgan Freeman), que a ajuda entender sua transformação, Lucy busca impedir que malfeitores venham a colocar as mãos no que resta da droga, ao mesmo tempo em que segue numa incrível jornada de autoconhecimento. “Lucy” (Lucy, 2014) é um thriller de ação realizado pelo renomado cineasta francês Luc Besson (realizador de filmes como “O Quinto Elemento” (1997), “O Profissional” (1994), entre outros mais). Também colaborador de argumento e financista de outros sucessos como “Carga Explosiva” (2002) e “Busca Implacável” (2008), em “Lucy” Besson assina o roteiro, produz e dirige. Trata-se de um filme eficiente no que se propõe: divertir o espectador. Completamente distante da realidade (justificando o rótulo da ficção científica com o qual é vendido) onde alguns conceitos científicos se tornam risíveis e implausíveis, Besson apresenta acertadamente boas escolhas que se mostram visualmente geniais. Portanto além de deter um desenvolvimento ritmado repleto de referências cinematográficas com uma ação de qualidade impecável típica de seus filmes, Besson mostra que embora não evolua em seu ofício também não regride.



Certa vez eu disse e volto a repetir: "Besson é um realizador mais esperto do que inteligente". Por quê? Ele sabe mesclar clichês como nenhum outro cineasta em atividade para começar (onde até a ideia mais batida do mundo pode continuar a ter o seu brilho se lapidada com o devido cuidado). Hábil condutor de cenas de ação estilizada, sabe aplicar efeitos visuais baratos com uma funcionalidade acima da média. Sabe escolher atores e atrizes que possam cumprir com eficiência suas conturbadas tramas, até quando suas primeiras escolhas não se concretizam as alternativas saem melhor do que o esperado (o papel de Lucy era sumariamente elaborado para ser desempenhado por Angelina Jolie, mas ela não aceitou a tarefa). Seus roteiros quase sempre simplistas em teoria, ganham certo brilho por diálogos afiados e proferidos por experientes atores que conferem certo charme ao seu trabalho. Além do mais, responsável empreendedor, Besson consegue conferir esmero técnico aos filmes que produz com orçamentos medianos que apresentam faturamento em média três vezes maior ao custo. Em "Lucy" não é diferente. Embora não confira nada de novo ao gênero ao qual habita, trata-se de produto extremamente ágil e engenhosamente divertido. Scarlett Johansson está bem no papel de heroina, podendo entrar orgulhosa para rol de personagens femininas providas de valentia criadas pelo diretor, como também, Morgan Freeman em sua milésima interpretação de sábio guru ainda convence e não se mostra totalmente cansativo. Montado com boas ideias (a progressão do efeito da droga em Lucy acompanha o avanço da trama do filme de modo curioso), essa produção tem as suas qualidades se destacando de seus defeitos. Mesmo não sendo tão bom quanto poderia, "Lucy" pode divertir facilmente o espectador desde que ele embarque nas suas viagens psicodélicas de ficção científica de seu realizador. 

Nota: 7/10

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Crítica: 13° Distrito | Um Filme de Camille Delamarre (2014)



O ano é 2018. Em uma área da cidade de Detroit chamada Brick Mansions (o famigerado 13° Distrito) devido a incorrigível situação de criminalidade e violência que o toma, simplesmente é ignorado pelas autoridades locais. Isolado da cidade por um enorme murro, seus moradores vivem sob uma condição precária de vida sem expectativas de um futuro. E nesse cenário o crime e o tráfico de drogas comandado por Tremaine Alexander (RZA), ganha força livremente. Tendo como um obstáculo incômodo o jovem Lino (David Belle), um morador de Brick Mansions que busca a todo custo justiça em sua localidade, o policial Damien Collier (Paul Walker) incursa em uma perigosa missão ao lado de Lino para salvar sua namorada que está em poder dos mesmos criminosos que detêm uma bomba de grande poder de destruição mirada para a cidade de Detroit. “13° Distrito” (Brick Mansions, 2014) é um remake estadunidense dirigido por Camille Delamarre. Baseado em um filme francês de 2004 chamado “B13” (que inclusive gerou uma sequência chamada “13° Distrito – Ultimato” lançado em 2008), tanto essa refilmagem Hollywoodiana como os demais filmes foram produzidos por Luc Besson e estrelados por David Belle (um dos pioneiros da Arte do Movimento chamada Le Parkour). Ainda que “B13” tivesse interpretações rasas e uma trama com muito pouco a oferecer, as peripécias acrobáticas do elenco conferiu ao longa-metragem o rótulo de cult entre muitos espectadores. E como em “Taxi” (1998), outro sucesso francês de Besson, não demorou muito para ganhar uma refilmagem estadunidense.


Reflexo de sua base, “13° Distrito” reproduz sua inspiração em vários aspectos, seja em sua trama que apresenta apenas pequenas alterações ou no estilo ágil da ação e da inexistente coerência dela. Infinitamente mais elétrico do que o original, o ritmo dessa produção está repleto de exaustivas correrias, malabarismos e perseguições, agora muitas delas na condução de potentes automóveis. Se David Belle melhora em muito seu desempenho de interpretação desde 2004, embora não seja essa a razão pela qual ele habite os créditos dessa produção, Besson tem sua grande sacada na presença do astro Paul Walker. Além de bom ator, quando ele está atrás da direção de carros o seu desempenho ressoa automaticamente sobre seu personagem na franquia “Velozes e Furiosos”, que lhe conferiu o estrelismo em Hollywood e uma legião de fãs. Ainda que tenha sofrido para acompanhar as coreografias de Belle, Walker faz uma parceria harmoniosa. Sobretudo, RZA se mostra caricato ao extremo. Mas se ainda assim sendo apenas uma derivação desinteressante e clichê da figura criminal a ser combatida, muitas vezes inclusive cômica demais para ser levado a sério, o sujeito consegue entregar uma performance curiosamente simpática antenada com proposta descompromissada e improvável dessa produção (um criminoso declarado dando sermões sobre desigualdade social). Infelizmente, Camille Delamarre entrega um filme tão parecido com o original que se mostra quase desnecessário aos conhecedores e fãs do filme europeu. Vale sim, por conferir pela presença saudosa de Walker, ou pelo esmero de Belle em situações de risco. Mas “13° Distrito” não tem a magia que fez de sua base uma obra de culto. Divertido como passatempo, desnecessário a longo prazo.

Nota:  5,5/10

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Isaac Asimov Continua em Alta


Basta vermos o trailer de "Automata" (2014), uma nova obra de ficção científica estrelada por Antonio Banderas, que já podemos facilmente constatar isso. Numa aparente mistura atmosférica de "Blade Runner - O Caçador de Andróides" (1982) com "Eu, Robô" (2004), o cineasta espanhol Gabe Ibanez cria um mundo distópico com seu curioso olhar europeu sobre questões ligadas ao livre arbítrio e a consciência artificial. É de certo modo a essência do trabalho de Isaac Asimov. Inclusive há uma citação fazendo referência as "Três Leis da Robótica" presentes na obra do escritor. Até então nenhuma novidade para fãs da sci-fi, porém a visão de Gabe Ibanez é segura de seu propósito e sempre podemos ser surpreendidos por produções de baixo orçamento bem elaboradas. Essa pode resultar em surpresa para o gênero devido alguns aspectos curiosos em volta do trailer (lembram-se de Melanie Griffith? Pois é, ela também faz parte do elenco). Confira:

Crítica: O Homem do Tai Chi | Um Filme de Keanu Reeves (2013)


Há vários astros do cinema que já arriscaram a incursão na cadeira de diretor. Nomes como Ben Affleck, George Clooney, Sean Penn, Mel Gibson, Jodie Foster e Joseph Gordon-Levitt são alguns exemplos de grandes atores e atrizes que buscaram elevar seus sucessos pessoais através da direção de longa-metragens. Mas naturalmente, nem todos foram tão bem atrás das câmeras quanto enfrente delas, ou pelo menos permaneceram no auge por muito tempo nessa função. Por isso, “O Homem do Tai Chi” (Man of Tai Chi, 2013) é uma produção de ação ambientada na China focada nas artes marciais que também é a estreia de Keanu Reeves como realizador de um longa-metragem. Anulando esse interessante aspecto, o da estreia de Reeves como diretor, essa produção carece infinitamente de qualidades. Ainda que tecnicamente impecável até certa altura do desenvolvimento, com todos os requintes visuais típicos de filmes made in Hong Kong, seu filme se perde pela estrutura clichê que foi adotada e pela história pouco fundamentada sobre a essência do Tai Chi. Reeves limita-se a realizar uma história desnecessária de ser contada que ressoa sobre produções B protagonizadas por Jean-Claude Van Damme como “O Grande Dragão Branco” (1988). Em sua trama acompanhamos um jovem praticante de Tai Chi que se distancia de sua vida pacata em Pequim e se envolve em um jogo de lutas ilegais comandado por um grupo criminoso que faz desses combates mortais um reality show direcionado para seletos espectadores.

 
O Homem do Tai Chi” é protagonizado por Tiger Hu Chen (artista marcial presente em filmes como Matrix Reloaded e Kill Bill), que como ator ele é um exímio lutador. Pouco expressivo e limitado pelo roteiro simplista, sua participação só não é mais constrangedora quanto à do próprio Reeves, que após uma desconcertante participação em “47 Ronins” (2013), prova o quanto alheio está sobre as particularidades do Oriente. Enquanto Tiger Chen não convence como protagonista e não desperta o carisma necessário para envolver o espectador em sua jornada para a redenção, como Keanu Reeves se mostra deslocado como vilão, tanto nas passagens de interpretação quanto em um combate de força desproporcional que parece oriundo de alguma sequência de “Matrix” (1999). Automaticamente se reduz em seu próprio filme. Por isso “O Homem do Tai Chi” é, sobretudo um espetáculo visual garantido por ótimas cenas de luta e nada mais. Coreografadas e executadas com precisão, os embates são violentos e por vezes exaustivos aos oponentes, mas completamente desprovidos de sangue para desagrado dos mais aficionados por violência crua. A inserção de uma trama policial paralela aos eventos em volta de Tiger Hu Chen vem somente para engordar um material desprovido de foco, como o próprio romance dele que não esboça a menor química e empolgue os mais sensíveis. “O Homem do Tai Chi” é cercado de propósito, embora jamais se firme nele com o devido embasamento. Se para os espectadores dessa produção o Tai Chi ainda está cercado de mistérios, isso é porque Keanu Reeves ainda não entende o Oriente e muito menos de direção.

Nota:  4/10