sexta-feira, 27 de junho de 2014

Crítica: Caníbal | Um Filme de Manuel Martin Cuenca (2013)


Carlos (Antonio de la Torre) é um solitário e respeitado alfaiate na cidade de Granada, no sul da Espanha. Dedicado ao seu trabalho, mora do outro lado da rua a poucos passos de sua alfaiataria, na qual ocupa maior parte de seu tempo. E se ao dia ele confecciona os mais elegantes trajes a seus clientes, a noite ele cuidadosamente prepara seu jantar e se prepara para dormir dando continuidade a sua metódica rotina diária que curiosamente esconde um certo aspecto bastante particular sobre sua distinta figura. Carlos também é um canibal. Um homem que não se abstém do desejo que tem por essa incomum iguaria.  Diariamente ele alimenta-se de mulheres, vítimas de imprevisíveis ataques violentos e sem remorsos que ocasionalmente ele põe em prática para se reabastecer. Porém, sua ordenada rotina é arruinada quando Nina (Olimpia Melinte) uma imigrante romena se muda para um apartamento no andar de cima a procura de sua irmã desaparecida, Carlos encontra no perigo da presença dessa mulher uma ameaça e uma inexplicável atração. “Caníbal” (Cannibal, 2013) é um drama espanhol realizado pelo cineasta Manuel Martin Cuenca (em seu quarto longa-metragem), no qual o cineasta entrega uma história de amor bastante diferenciada, desde o curioso título ao elegante desenvolvimento da trama brilhantemente arquitetada por um enxuto roteiro de Manuel Martin Cuenca e Alejandro Hernandez baseado no romance de Humberto Arenal.


Uma pergunta que não quer calar. O que faz um ser humano buscar seu alimento no semelhante? Talvez diante de um irreversível apocalipse ou num caso de sobrevivência diante de uma eminente morte. Curiosamente Manuel Martin Cuenca não se propõe em responder a essa pergunta, e ao invés disso, busca mostrar um estranho relacionamento amoroso de contornos minimalistas cercado de obsessão e paixão. As motivações do indigesto gosto gastronômico de seu protagonista não é o foco de sua trama, e por vezes foi ignorado e deixado para trás sem importância. Como a atriz Alfonsa Rosso a certa altura da trama menciona desavisada dos gostos que marcam a personalidade de Carlos: “às vezes as pessoas são do jeito são, e pronto”. Uma boa explicação, embora não justifique seus atos. O ator Antonio de la Torre concilia bem um homem de gosto incomum para a alimentação, com um seleto membro de uma comunidade civilizada. A certa altura até nos sentimos cativados por sua figura, abandonando julgamentos (já que carne humana que o personagem come é resultante de um assassinato). Manuel Martin Cuenca descarta qualquer clichê que remeta a lembrança de outros canibais já retratados na sétima arte. A despeito de sua inclinação ao canibalismo, existe um desejo de se habituar ao comportamento comum. E um pouco da trama é bem voltado a esse aspecto. Tratado com elegância e muita descrição, “Caníbal” também é desprovido de cenas indigestas ou banhos de sangue extremados, embora apareça sangue escorrendo acompanhado com toda precisão de uma câmera atenta no destino de sua primeira vítima. Os enquadramentos precisos do cineasta no que realmente interessa ao conjunto é outro destaque desse longa. Apesar do ritmo contido, tudo que é mostrado, seja em palavras ou em imagens, tudo tem a sua relevância bem adequada a proposta de seu realizador.

É importante que seja dito que “Caníbal” também não é para todos os gostos. Fãs de produções ligadas ao longa-metragem “Os Silêncio dos Inocentes”, ou talvez ao estilo do próprio seriado “Hannibal” reprovem o resultado desse drama, seja pelo ritmo lento, quase contemplativo da trama e da paisagem apresentada por seu realizador, ou por sua conclusão inesperada que surge de um silêncio que praticamente monopolizou sua estrutura. Manuel Martin Cuenca não busca causar choque, mas sim reflexão acompanhada de momentos tensos e passagens de suspense de bom nível.

Nota:  7/10

quarta-feira, 25 de junho de 2014

Crítica: Paranóia | Um Filme de D. J. Caruso (2007)


A morte do pai em um acidente de automóvel deixou marcas profundas em seu filho que presenciou todo o trágico acontecimento com os próprios olhos. Kale (Shia LaBeouf) tornou-se um jovem bem agressivo após a tragédia, que lhe custou a liberdade devido a um súbito ataque violento ao seu professor de espanhol. Desta forma, Kale passou a ficar em prisão domiciliar por um período de 3 meses como penalidade por sua injustificada atitude. Porém, essa medida prisional seria revogada caso ele não a respeitasse, e ele seria punido severamente como qualquer criminoso se não respeitasse as limitações de sua prisão. Mas uma prisão é uma prisão independente de onde ela está. Desprovido de confortos do mundo moderno ao qual ele se utilizava para passar o tempo enquanto cumpria a pena, sua atenção se volta às redondezas de seu lar, onde descobre algumas inacreditáveis verdades sobre sua vizinhança em um inocente ato de voyeurismo ocupacional. “Paranóia” (Disturbia, 2007) é um suspense dramático dirigido pelo norte-americano D. J. Caruso. Sua trama remete a lembrança do clássico suspense “Janela Indiscreta”, de Alfred Hitchcock, sem ter nenhuma semelhança física com o próprio (uma clara inspiração sem influência direta ou explícita com o mestre do suspense). Os roteiristas Christopher Landon e Carl Ellswort entregam sim, aproveitando bem as possibilidades da história com uma trama modernizada de posição sólida com o contemporâneo e bem focada no público alvo (basta vermos o elenco de destaque para constatar isso). Unindo a essa composição de envolvidos um realizador habilidoso em criar ritmo e suspense em boas doses, essa produção se mostra um produto de entretenimento divertido.


Como no trabalho de Hitchcock, “Paranóia” tem o seu maior atrativo na trama bem aproveitada. Ao fazer no seu desenvolvimento conexões bem pontuais entre um serial Killer que tem perturbado o sono da comunidade, e o solitário e misterioso vizinho (David Morse), Shia LaBeouf, Aaron Yoo e Sarah Roemer em atuações divertidíssimas e convincentes, o elenco principal combina com a proposta aqui oferecida. Obviamente o dilema do espectador não mora em quem é o assassino, ou até mesmo se as suspeitas dos jovens tem um real fundamento, mas em como e quando ele será revelado ao espectador. E é nesse processo, em unir as pontas soltas do roteiro que seu realizador ganha a devida atenção do público ao aplicar o método. Criando um grande efeito de tensão e suspense nivelado que define bem o gênero em que essa produção habita, humor descompromissado para causar momentos de leviandade como um bom programa de entretenimento requer e um desfecho adiado até o limite exato, Caruso apresenta um de seus melhores filmes em meio a uma filmografia regular. Em seu primeiro trabalho com o ator Shia LaBeouf (o segundo filme em que trabalharam juntos foi o improvável “Controle Absoluto” de 2008), apesar de dominar a mídia cinematográfica com habilidades mais técnicas do que autorais, seu trabalho é mais presente em séries de televisão como “Smallville”, “The Shield”, entre outras mais. Por fim, “Paranóia” está longe de ser inesquecível, como também seria uma injustiça rotula-lo como uma produção de suspense totalmente descartável como inúmeros mais. Seu atrativo e mérito está em sua funcionalidade precisa e ligeiramente cativante.

Nota:  7/10

terça-feira, 24 de junho de 2014

Verdade

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Crítica: O Besouro Verde | Um Filme de Michel Goldry (2011)


Britt Reid (Seth Rogen) é um playboy inconsequente que somente tem olhos para farras. Porém quando seu pai, James Reid (Tom Wilkinson) morre surge uma inesperada obrigação de dar segmento ao império jornalístico da família representado pelo jornal “The Daily Sentinel” de Los Angeles. Uma tarefa vista como um fardo pelo jovem herdeiro. Mas quando se forma uma improvável amizade com um genial funcionário de seu pai, Kato (Jay Chou), ambos buscam um novo sentido para suas vidas, combatendo o crime. Contudo, para combater o crime eles precisam tornar-se criminosos aos olhos da lei. Assim Britt torna-se o lendário herói mascarado Besouro Verde, e ao lado de seu destemido parceiro Kato, ambos passam a combater o crime todas as noites pelas ruas da cidade em um poderoso carro. “O Besouro Verde” (The Green Hornet, 2011) é um filme estadunidense de ação e comédia realizado pelo cultuado cineasta francês Michael Goldry (responsável pelo sensível “Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças” e pelo cult movie “Rebobine Por Favor”, entre outros filmes de aspectos bem autorais). Baseado no programa de rádio da década de 30, que inclusive virou revista em quadrinhos, série de televisão nos anos 60 e passou por outros formatos de mídia no decorrer do tempo, essa produção teve como base o antigo seriado televisivo, aqui roteirizado e estrelado pelo ator canadense Seth Rogen. “O Besouro Verde” segue uma promissora tendência de materialização de personagens heroicos (diga-se com base ou trajetória em revistas em quadrinhos), que previsivelmente ruiu diante dos anseios do público.


Entre a comédia e a ação, em “O Besouro Verde” nada tem um firmamento que se mostre significativo em nenhum dos dois aspectos. Embora se inicie bem, com uma apresentação de personagens justa e coerente, seu desenvolvimento transpõe um produto fardado a desgraça. O humor se apoia infindavelmente no visual (piadas gestuais e bobocas atribuídas a performance deslocada de Seth Rogen), e a ação se confunde visualmente devido uma edição frenética e superficial, cheia de maneirismos que mais conferem confusão ao espectador do que atribuem emoção. Ainda que o protagonista, Seth Rogen ostente certo carisma, não é o suficiente para sustentar o carisma do espectador. Enquanto Jay Chou arrasa como o fiel e talentoso ajudante de Besouro Verde (seja com suas habilidades marciais ou sua capacidade de criar recursos mecânicos de combate ao crime), obtendo uma presença de sucesso superior ao personagem título. Até mesmo o vilão, Chudnofsky (Christopher Waltz) se mostra em ótima forma, caricato na medida certa. Entretanto, presenças como a de Cameron Diaz e o ator Edward James se mostram escolhas desperdiçadas dentro do conjunto. Entre acertos e erros, a segunda condição infelizmente prevalece sobre o trabalho de Michael Goldry, seja pela abordagem em que trata o personagem se conhecimento de causa (suas motivações que o levam de bagunceiro inveterado a justiceiro são de uma artificialidade imensurável) ou pela estética de produto de entretenimento descartável que consequentemente ele assume ser ao se visualizar a subida dos créditos finais. Por fim, “O Besouro Verde” é o que parecia ser: um filme de entretenimento que não vai mudar a vida de ninguém, inclusive a dos envolvidos nessa realização.

Nota:  5,5/10

Eu sempre quis ser policial...

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Crítica: Sem Escalas | Um Filme de Jaume Collet-Serra (2014)


Bill Marks (Liam Neeson) está no aeroporto prestes a embarcar em um voo de Nova York a Londres. Ainda no aeroporto passa a receber mensagens de SMS de origem desconhecida, as quais não confere credibilidade até o momento quando, agora em pleno voo sobre o Atlântico, surge uma intrigante ameaça: caso não sejam transferidos US$ 150 milhões para determinada conta bancária, um passageiro será morto a cada 20 minutos. A princípio a ameaça não é levada a sério, porém quando o primeiro assassinato toma forma no avião, Bill passa a tomar a frente de uma investigação em pleno voo para identificar o autor da ameaça e impedir uma tragédia maior. No entanto, quanto mais ele se aproxima de descobrir a identidade do criminoso, mais ele se afunda em um elaborado esquema onde todas as pistas levam todos os passageiros e tripulação a crer que ele pode ser a verdadeira a esse voo. “Sem Escalas” (Non-Stop, 2014) é um thriller de suspense que reacende a parceria do superlativo ator Liam Neeson com o diretor espanhol Jaume Collet-Serra iniciada em “Desconhecido” de 2011. Com uma proposta narrativamente arriscada ao comprimir sua trama ao espaço reduzido de um avião, com uma corrida contra o tempo para ajudar a criar um repertório de obstáculos, Jaume Collet-Serra consegue, logicamente ajudado pelo talento de seu protagonista também, trabalhar os clichês necessários para elaborar uma quantia suficiente de material para prender a atenção do espectador antes da chegada ao destino final.


Realizado de modo inteligente, sobretudo com um toque de elegância notável, o diretor aproveita ao máximo as possibilidades que o espaço oferece. Uma enorme gama de passageiros, e como não tripulantes passam de paisagem a possíveis responsáveis pela a ameaça de forma tensa com direito a boas reviravoltas genialmente orquestradas no tempo certo. É quase impossível que a estratégia adotada pela direção não desperte no espectador uma ansiedade incontrolável de deduzir quem é o propenso terrorista antes da famigerada revelação. Artifício necessário e usado ao extremo para prender a atenção nesse jogo de gato e rato, idealizado pelo roteiro escrito a três mãos (John W. Richardson, Ryan Engle e Christopher Roach). Liam Neeson se mostra uma escolha de protagonista mais do que acertada, transparecendo de forma orgânica seu passado sem apelar para explicações detalhadas, como também justifica suas motivações (lógicas e emocionais) para impedir o sucesso das ameaças com uma presença de tela marcante e muita atitude. Embora o elenco de apoio (Julianne Moore, Michelle Dockery, Corey Stoll, entre outros) colabora para o bom andamento da ação em um formato Whodunit (filmes realizados integralmente em um único ambiente com doses bem niveladas de tensão e mistério). Ainda que a história rume em direção a um desfecho escancarado (acompanhados de efeitos visuais de filmes B para pousar o avião e emoções paternais desnecessárias para nosso protagonista), “Sem Escalas” se mostra um filme previsível e inegavelmente divertido, por mais absurdo que se mostre integralmente.

Nota:  7/10

Caricaturas de Pessoas Famosas | Arte Digital de Jeff Stahl

A caricatura é sempre uma expressão de arte bem particular. Nunca uma retratação da mesma pessoa tem o mesmo efeito quando é realizada por artistas diferentes. Que digam os apreciadores dessa arte que se deparam com o trabalho de Jeff Stahl, um ilustrador francês especializado em caricaturas de personalidades da música e do cinema. Seu trabalho é resumidamente único, seja na escolha dos retratos reproduzidos ou no traço marcante dos rostos retorcidos que são em alguns casos, uma mistura de técnicas em um misto de criatividade e arte digital. Para conhecer mais do trabalho do artista acesse: aqui.   

Jean Reno

Liam Neeson

Sam Neill

Sigourney Weaver

Harrison Ford

Tom Sellick

Russel Crowe

Christopher Walken

Interessados em aquisições: jf.stahl @ yahoo.fr 

terça-feira, 17 de junho de 2014

Crítica: Amor Sem Escalas | Um Filme de Jason Reitman (2009)


Ryan Bingham (George Clooney) tem como função profissional demitir pessoas, e fazendo disso uma ciência, ele executa essa tarefa de modo indolor (pelo menos para ele). Solteirão convicto, habituado a viajar pelo país a trabalho, viver em aviões, aeroportos ou em hotéis acabou se tornando um estilo de vida ao qual ele simplesmente adora. Mas quando seu chefe busca uma forma de abatimento de custos com a iniciativa de uma jovem funcionária, Natalie Keener (Anna Kendrick), que desenvolveu um barato sistema de videoconferência que descarta a forma como o trabalho de Ryan é feito, esse estilo de vida é colocado sob ameaça. Sob uma cuidadosa avaliação, o sistema é posto em teste enquanto Ryan e Natalie viajam juntos por todo país. E durante esses testes, Ryan acaba por conhecer Alex Goran (Vera Farmiga), outra executiva que demonstra ter muito em comum com Ryan, criando um inesperado envolvimento que vai contra tudo o que esse experiente solteirão pregava. “Amor Sem Escalas” (Up In The Air, 2009) é uma comédia romântica dirigida por Jason Reitman (realizador de “Obrigado por Fumar” de 2006; “Jovens Adultos” de 2011; entre outros filmes). Essa produção é co-escrita ainda por Reitman em parceria com Sheldon Turner. Se há uma palavra para definir essa produção, essa palavra seria: Oportunismo. Baseado em um romance homônimo de 2001, escrito por Walter Kirn, sua trama fecha com perfeição com o momento econômico em que os Estados Unidos passavam em 2009 (como o restante do mundo também) consequentes da crise de 2008. Estagnação econômica, crescimento da inflação e desemprego. Mas esse terceiro item mencionado é simplesmente apenas mais um dos brilhantes elementos que compõem esse brilhante longa-metragem marcado de humor e muita emoção.


Naturalmente Amor Sem Escalas poderia previsivelmente ser confundido como sendo apenas um simples produto de entretenimento fácil comum em Hollywood. E inclusive ele até flerta com essa expectativa. Mas a sua abordagem distante do lugar comum em que a maioria das comédias românticas habita, aliada a um conjunto de outros elementos bem escolhidos, Reitman faz dessa produção um programa fascinante e divertido. Com papéis escolhidos sob medida para o elenco principal, além da contratação de pessoas recém-desempregadas que interpretam papéis que desempenharam na vida real (o de serem despedidas de suas responsabilidades profissionais), Reitman acerta no tom desse drama ao qual qualquer pessoa pode ser golpeada. Reitman mescla de modo habilidoso a ficção com a realidade, com as emoções que marcam essa situação retratada com simplicidade e sensibilidade. Se George Clooney e Vera Farmiga conferem química e credibilidade ao romance que surge da casualidade e do descompromisso com o modo conservador de viver, Anna Kendrick se destaca imprescindivelmente por protagonizar excelentes passagens nesse filme. Com a ambição de almejar o sucesso profissional em meio a seus dramas pessoais comuns, a atriz equilibra bem as necessidades de seu papel. Aclamado pela crítica especializada, Amor Sem Escalasse mostra uma mistura equilibrada de humor e emoção legítima, curiosamente distante de ser piegas em sua essência, embora esboce isso em sua estrutura muitas vezes ainda que busque um destino diferente ao gênero no qual habita. Autentico em vários quesitos, “Amor Sem Escalas é uma produção que se propõe a expor entre muitas coisas, aspectos da delicada economia na qual vivemos e o quanto sensíveis os indivíduos que integram a sociedade contemporânea podem ser apesar de se esforçarem em mostrar o contrário. Alguns costumes vistos como antiquados se mostram mais do que necessários para se alcançar a tão sonhada felicidade. Uma produção altamente recomendada à espera de ser descoberta, se não ocasionalmente revisitada.  

Nota:  8/10

segunda-feira, 16 de junho de 2014

Crítica: O Capital | Um Filme de Costa Gravas (2012)


O presidente de um renomado banco francês é diagnosticado com uma doença que requer um afastamento imediato. Diante dessa situação, os membros que compõem o conselho do banco planejam uma conveniente sucessão. No entanto, a escolha feita pelo presidente para sucedê-lo, o jovem Marc Tourneuil (Gad Elmaleh) não foi vista com bons olhos pelo elitizado conselho, além do fato, de que sua inesperada ambição acabe por torná-lo um grande problema para integridade da instituição financeira que recentemente lhe foi conferida à responsabilidade. “O Capital” (Le Capital, 2012) é mais um drama consistente realizado pelo cineasta grego Costa Gravas (responsável por “Z” de 1969; “O Quarto Poder” de 1997; entre outros mais) que adaptou o romance de “Le Capital” do francês Stéphane Osmont. Ao discutir alguns aspectos da crise mundial e suas conseqüências no panorama financeiro europeu desde a crise de 2008, Costa Gravas (um especialista em filmar dramas políticos que lhe conferiram a batuta de “cineasta político”) entrega um filme com uma abordagem crítica sobre o capitalismo com um tom de cinismo bem elaborado e um protagonista representativo que casa bem com a proposta desse longa-metragem.


Se no passado a maioria dos seus filmes eram armados com críticas aos regimes militares que regiam o curso das sociedades internacionais, em “O Capital” Costa Gravas disseca a corrupção, os jogos de tramoias políticas e os acordos financeiros escusos para compor seu filme mais contemporâneo. Os bastidores do poder, a ascensão e o declínio dos poderosos são os elementos chaves desse trabalho do cineasta. Com ótimas atuações, uma ambientação elegante dos relacionamentos de interesse de grandes executivos que regem o curso do ambiente financeiro mundial comprimido em um roteiro elaborado de modo magistral, Costa Gravas entrega um filme que não deve em nada aos seus mais antigos longa-metragens. Embora aos 80 anos de idade, ainda que suas críticas sociais e políticas voltadas ao lado oculto do poder estejam mais sutis e discretas, seu olhar crítico continua afinado como nos tempos de “Z”, quando ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrageiro. Por fim, “O Capital” é uma vitrine para o mundo corporativo composto por articulações financeiras hediondas. Não trás necessariamente nenhuma novidade que não tenha sido contemplada em forma de uma breve sinopse em algum noticiário dotado de credibilidade, mas também se destaca pelo foco competente desse ambiente no qual há poucos filmes realmente competentes. Indicado para apreciadores de filmes como: “Margin Call – O Dia Depois do Amanhã” ou “Tudo pelo Poder”.

Nota:  7/10

domingo, 15 de junho de 2014

Crítica: O Homem Duplicado | Um Filme de Denis Villeneuve (2013)


Adam Bell (Jake Gyllenhaal) é um professor universitário extremamente frustrado com sua monótona rotina. Entre as repetitivas e entediantes aulas de história que leciona na universidade e uma vida social desinteressante, Adam se mostra um refém de sua própria vida. Quando ele descobre a existência de um sósia chamado Anthony Saint Claire (também interpretado por Jake Gyllenhaal) nas entrelinhas da exibição de um filme qualquer atuando como um mero figurante quase invisível aos olhos devido a sua pequena importância na desconhecida produção, Adam passa a ficar obcecado a conhecê-lo pessoalmente. Mas essa obsessão o leva a ser confrontado com uma situação diferente do que esperava, está imprevisível e indubitavelmente estranha, quando não fatal a eles e suas respectivas ligações amorosas. Se “O Homem Duplicado” (Enemy, 2013) fosse uma doença, logicamente rara, seria precoce diagnosticar um tratamento antes de fazer exames mais detalhados sobre seus sintomas. Há muitos aspectos ocultos em seus contornos. Diferente dos trabalhos anteriores do cineasta canadense Denis Villeneuve, em seu segundo trabalho com o ator Jake Gyllenhaal, “O Homem Duplicado” é um filme de uma lógica pouco clara, repleta de simbolismos e menos atraente ao grande público como seus trabalhos anteriores (o aclamado “Incêndios” de 2010 e o espetacular suspense policial “Os Suspeitos”, também de 2013). Adaptado do livro homônimo de Jose Saramago, Denis Villeneuve busca igual ao seu protagonista, uma identidade própria para os enigmas que os rondam.


O Homem Duplicado” tem uma narrativa pouco convencional, que beira quase a um surpreendente experimentalismo que abandona o convencionalismo de se contar uma história com começo, meio e fim claramente definidos. O filme de Denis Villeneuve ressoa sobre o trabalho de outro renomado cineasta, David Lynch; no longa-metragem “Mulholland Drivede 2001, David Lynch também nos leva descobrir a sua maneira, alguns mistérios que cercam sua protagonista que busca descobrir os segredos de sua verdadeira identidade. Denis Villeneuve adota o mesmo clima de mistério, aproveitando bem a atmosfera urbana de Toronto com interpretações bem fundamentadas pelo elenco principal. Se o destaque é Jake Gyllenhaal em seu papel duplo, conferindo contornos bem particulares a cada personagem, a presença de Mélanie Laurent, como namorada de Adam Bell, além da Sarah Gadon e a rápida passagem de Isabella Rossellini, todas essas mulheres entregam presenças marcantes na enigmática proposta cinematográfica de Villeneuve. Curiosamente o diretor se propõe a entregar um filme de poucas respostas e muitas perguntas que instigam a curiosidade do espectador. Um dos aspectos mais louváveis dessa produção. Com um desenvolvimento extremamente diferente dos filmes convencionais (onde a trama flui através de simbolismos de difícil interpretação colocados através pequenos detalhes, muitas vezes expostos no ambiente) o grande destaque fica por conta do curioso desfecho que finaliza esse longa-metragem e causa uma estranheza pelo tamanho do surrealismo que marca essa obra e que deixa as mais variadas interpretações possíveis para o conjunto. Particularmente aprecio filmes de estética diferenciada e de proposta mais enigmática, embora “O Homem Duplicado” força a me abster de um diagnóstico precoce, pelo menos antes que eu possa realizar uma revisão mais atenta sobre a verdadeira natureza da doença.

Nota: 7/10

quinta-feira, 12 de junho de 2014

Crítica: Pompeia | Um Filme de Paul W. S. Anderson (2014)


Pompeia” (Pompeii, 2014) é o mais recente filme-catástrofe dirigido por Paul W. S. Anderson, diretor responsável por uma série de filmes de qualidade cambaleante. Inspirado pelo fato histórico no qual a cidade de Pompeia foi completamente destruída pela erupção do Monte Vesúvio no ano de 79 D.C., qualquer vestígios de fatos que possam marcar essa produção acabam por aí, em sua inspiração. Previsivelmente Paul W. S. Anderson entrega uma produção similar a sua extensa filmografia: um blockbuster, este catástrofe com todos os requintes e contornos de exagero possíveis que se poderia conceder aos rios de lava que consumiram as imediações da cidade portuária de Pompeia. E por essa razão qualquer crítica negativa ao seu trabalho se mostra mais do que desnecessária, sendo que vindo dele, não poderia ser diferente. Depois de fazer uma releitura do grande sucesso de Alexandre Dumas, (Os Três Mosqueteiros, 2011) com várias liberdades poéticas, era mais do que esperado vermos um produto desprendido de fidelidade, sobretudo de originalidade. É óbvio que o trabalho de Anderson passa longe de querer ser relevante historicamente, como transparece que o fatídico momento da erupção é onde o diretor melhor orquestra seu espetáculo visual de chamas que o desastre natural possibilita. “Pompeia” de Anderson transporta os espectadores aos tempos em que gladiadores eram usados para entreter multidões, política já era associada a jogos de interesses e corrupção. Carregado de clichês e personagens estereotipados, e a sua trama? Nela acompanhamos um escravo celta, Milo (Kit Harington) um hábil gladiador que chamou a atenção de Cassia (Emily Browning), filha do governador de Pompeia que também é vista com interesse por tirano senador romano (Kiefer Sutherland). Assim, enquanto Pompeia desmorona, Milo corre contra o tempo para salvar a vida de sua amada ao mesmo tempo em que busca sua vingança contra o senador romano que no passado assassinou sua família.


Pompeia” é um filme de uma ideia só. Além dos espetáculos visuais flamejantes naturalmente esperados pela tragédia, há pelo menos para mim um aspecto curioso que reside nas imagens criadas por Anderson: os habitantes petrificados pela lava do vulcão (imagens essas que foram inseridas na introdução acompanhada pelos créditos iniciais). Petrificados, alguns moradores permanecem até hoje visíveis como esculturas de pedra carbonizadas com as mais variadas reações imprimidas e preservadas apesar do tempo (pessoas deitadas nas ruas demostrando fuga, pessoas abraçadas que buscam proteção ou deitadas no que poderiam ser seus leitos de repouso transparecendo conformismo ou desaviso). Essas esculturas humanas são visitadas por turistas do mundo todo. No desfecho, um pouco dessa dramaticidade também é inteligentemente aplicada com sutileza em uma Pompeia de arquitetura romana inflacionada. Um pequeno estalo de genialidade que conecta o passado com o presente que se ofusca diante das proporções épicas que a cidade ganhou sob a responsabilidade de seu realizador. Inclusive tudo em “Pompeia” inspira exagero voltado para acomodar incessantes correrias aventurescas e uma ação que talvez seja o aspecto de maior valor a essa produção. Em meio a um amontoado de equívocos, iniciado desde o roteiro, “Pompeia” não sabe dizer no final das contas por que veio a ser materializado. Será que era realmente necessário que essa produção viesse a existir? Acho que não. Mas certamente dentro de alguns anos será esquecido mesmo, ao contrário da milenar tragédia de Pompeia.

Nota: 5/10

quarta-feira, 11 de junho de 2014

Crítica: Expresso do Amanhã | Um Filme de Bong Joon-ho (2013)


São poucos os filmes que podem se orgulhar de ter explorado todas as possibilidades possíveis de contar a sua história e mostrar que é mais do parece ser em premissa. “Expresso do Amanhã” (Snowpiercer, 2013) talvez seja um forte candidato há produções que ostentam essa qualidade, ainda que não seja também de um brilhantismo unânime. O que começa com uma premissa curiosa ao gênero de filmes que se passam num futuro pós-apocalíptico, se sucede um desenvolvimento de aparência de filmes B com contornos de game (cada obstáculo superado para se concluir o objetivo remete a uma fase de jogo de videogame) levando a ação a um desfecho que entrega uma série de esclarecimentos arrebatadores e inesperados. Baseado numa HQ francesa chamada “Le Transperceneige”, em sua trama o espectador é levado ao interior de um trem chamado Snowpiercer que percorre todos os extremos do mundo, já a cerca de 17 anos onde dá voltas ao mundo. Após a equivocada aplicação de um experimento científico cuja finalidade era frear o aquecimento global, mas que consequentemente acabou criando um fenômeno glacial fatal por todo planeta dizimando praticamente toda vida, os poucos sobreviventes da humanidade residem confinados ao trem como sendo o único refúgio para sobrevivência. Mas nesse limitado habitat ferroviário, o trem é dividido por classes sociais, onde os desfavorecidos passageiros que permanecem no último vagão sobrevivendo sob condições miseráveis e misteriosas passam a arquitetar uma rebelião para tomar o controle do trem e iniciar uma revolução que irá mudar não somente suas vidas, mas do futuro da humanidade.


Expresso do Amanhã” é o primeiro longa-metragem na linha inglesa conduzido pelo diretor sul-coreano Bong Joon-ho (Memórias de um Assassino, 2003). Em um trabalho multinacional entre Estados Unidos, Coreia do Sul, França e República Tcheca, essa produção é produzida pelo realizador do icônico “Oldboy”, Park Chan-wook. Com uma realização visualmente arrojada, narrativamente inventiva que acomoda cenas de extrema brutalidade com momentos de inspirado lirismo que são compilados em uma apresentação bem fundamentada em vários aspectos (já que o roteiro não deixa pontas soltas negligentemente), “Expresso do Amanhã” se mostra uma produção fascinante repleta de surpresas, embora as melhores sejam adiadas genialmente para o último ato. Muitas das nuances que provavelmente possam passar despercebidas ao espectador, onde um motivo para isso ou aquilo, ou até mesmo um olhar de divagação ganham lógica e a devida atenção a certo ponto da história, mostram as verdadeiras intenções dessa produção. Com um elenco multicultural de performances mais do que funcionais contribuem para solidificar a proposta oferecida por esse longa-metragem de ficção. Repleto de dilemas, onde o moral é o mais dos expressivos, decisões difíceis e atitudes sem volta compõem um repertório variado de aspectos bem elaborados que se revelam no tempo certo. “Expresso do Amanhã” é bem mais do que parece ser e somente por isso, já vale ser conferido com a devida atenção. Os mistérios a serem revelados a cada vagão que é transpassado em direção a casa das máquinas é uma surpresa não somente aos sofridos personagens, mas acima de tudo ao espectador.

Nota:  8/10


domingo, 8 de junho de 2014

Crítica: A Recompensa | Um Filme de Richard Shepard (2013)


Ouvir o nome “Hemingway” e não pensar no renomado escritor americano Ernest Hemingway (1899–1961) é quase impossível. Homem de personalidade forte e dono de obras emblemáticas da literatura como “O Velho e o Mar” e “Por Quem os Sinos Dobram”, seu trabalho e sua figura o tornaram um sujeito icônico da história dos grandes escritores americanos. Quase impossível, sendo que o diretor/roteirista Richard Shepard traça uma espirituosa parceria com o ator britânico Jude Law para dar um novo sentido ao nome “Hemingway”. Shepard criou em teoria um personagem antipático, violento e demasiadamente egocêntrico chamado Dom Hemingway que foi brilhantemente materializado por um Jude Law em uma interpretação completamente irreconhecível e arrebatadoramente inspirada (uma atuação que o faz dar adeus aos tempos onde era galã de dramas pesados e romances conturbados). Dom Hemingway é um sujeito que promete além de divertir e chocar os espectadores, também ficar gravado na memória do público, ainda que não seja de modo tão marcante quanto nome do saudoso escritor. “A Recompensa” (Dom Hemingway, 2013) é um longa-metragem de humor negro ambientado no submundo do crime londrino cuja narrativa muito se assemelha ao estilismo textual de outro cineasta britânico, Guy Ritchie, que se fez um grande realizador de sucesso ao abordar os desdobramentos do universo dos gângsteres na terra da rainha. Assim Shepard nos apresenta sua história na qual acompanhamos Dom Hemingway (Jude Law), um habilidoso arrombador de cofres que acaba de sair da prisão após cumprir uma pena de 12 anos de encarceramento. Hemingway manteve em sigilo os segredos de seu contratante que lhe custou preciosos anos de liberdade. Em função disso, ele parte junto com seu grande amigo (Richard E Grant) em busca de uma recompensa em dinheiro como presente por sua fidelidade a um delicado código de honra de criminosos. Mas nem tudo, ou quase nada ocorre como planejado e ele se mete em um monte de encrencas que o deixam sem alternativas de conseguir a tão sonhada redenção.


A Recompensa” talvez seja um marco na carreira de Jude Law. Com uma atuação estilosa e repleta de exageros (que vão desde a escabrosa introdução apresentada por uma ode ao pênis do protagonista ao momento em que Dom Hemingway mostra porque é um dos melhores arrombadores de cofres da Inglaterra), o ator casa bem com o papel que lhe foi conferido se reinventando de modo fenomenal. Essa talvez, a mais grata surpresa dessa produção. Apoiado por outras atuações formidáveis do elenco de apoio que vão da estranha presença de Richard E. Grant, ou pela delicada atuação de Emilia Clarke no papel de filha distanciada de Dom Hemingway, essa produção impressiona pelo conjunto afinado da obra ainda que não apresente nada de novo ao gênero das comédias politicamente incorretas, carregadas de grosserias, mesmo como aos violentos filmes de gângsteres. Abusando de palavrões, acasos extremados e humor negro temperado com muita violência, tanto o roteiro como a própria direção do nova-iorquino Richard Shepard lembra demais o estilo de Guy Ritchie, embora mais enxuto e sem os inúmeros personagens que se acumulam em suas Ritchianas tramas. O foco de Shepard se concentra na trajetória do personagem principal, ao som de uma boa trilha sonora e situações curiosas que explora seus conflitos profissionais, de relacionamentos e familiares de modo arrojado tentando equilibrar os excessos narrativos do filme com as particularidades dos personagens. “A Recompensa” é divertido de um modo restrito. Seus diálogos shakespearianos não negam suas origens ainda que nem todos soem tão verborrágicos como imaginados em teoria. Decididamente essa produção não é para todos os gostos, embora se aproprie de um estilo que já foi mais popular, se valendo mais pela atuação de seu protagonista do que propriamente pelo filme em si.

Nota: 7/10

segunda-feira, 2 de junho de 2014

Zoológico Steampunk

Fazer arte com lixo não é apenas reciclagem. Nas mãos do escultor francês Edouard Martinet é pura inspiração. Ao transformar restos mortais de objetos corriqueiros de nosso cotidiano (correntes, molas, peças de bicicletas, talheres antigos) em elegantes esculturas de insetos no estilo steampunk, o artista confere ao lixo um notável status de luxo harmonioso, rico em detalhes e de uma genialidade criativa fascinante. Criando peças esculturais inspiradas em uma vasta variedade de animais, sobretudo em insetos, Edouard Martinet cria obras bem particulares de estilo e resultado. 
   








Na rede há inúmeras outras imagens fantásticas do trabalho do artista, tanto antigas quanto mais recentes. Busquem e se surpreendam!