segunda-feira, 12 de maio de 2014

Crítica: O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus | Um Filme de Terry Gilliam (2009)


Estamos na Inglaterra e um grupo teatral chamado “O Mundo Imaginário do Doutor Parnassus” vaga pelas ruas de Londres na clandestinidade em busca de público para suas apresentações itinerantes. O grupo comandado pelo beberão imortal Doutor Parnassus (Christopher Plummer), além do mágico de truques baratos Anton (Andrew Garfield), pelo anão e eterno amigo do doutor, Percy (Verne Troyer) e por sua linda filha, Valentina (Lili Cole), a companhia oferece ao público um espetáculo diferenciado. O espetáculo é capaz de levar o espectador através de um espelho mágico a um mundo fantástico e inexplorado da imaginação ligado à mente do Doutor Parnassus, no qual esse show surgiu, como a imortalidade do Doutor, de um pacto com o Diabo no qual o pagamento seria a alma de sua filha quando completasse 16 anos. E com essa data se aproximando, o Diabo (Tom Waits) volta para cobrar a dívida. Com a certeza que iria perder sua filha, esperançoso Parnassus realiza uma nova aposta: quem conseguir seduzir primeiro a alma de cinco pessoas terá posse de Valentina. E quando as coisas iam mal, surge o aparentemente desmemoriado Anthony “Tony” Shepherd (Heath Ledger), para ajudar Parnassus a salvar Valentina. “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” (The Imaginarium of Doctor Parnassus, 2009) é um longa-metragem independente de fantasia dirigido pelo lendário cineasta Terry Gilliam (responsável por “Brazil” (1985), “12 Macacos” (1995), “Medo e Delírio (1998), “Os Irmãos Grimm” (2005), entre outras produções). Com uma narrativa gritantemente nonsense, Gilliam, um dos sobreviventes do icônico “Monty Phyton” (1975) cria um trabalho repleto de simbolismos visuais delirantes materializados nos sonhos que deve ser lembrado não apenas sendo a última performance de Heath Ledger em vida, mas como uma divertida fantasia para adultos, diferente do que a maioria das pessoas estão habituadas a ver.
  
Como é de conhecimento público, Heath Ledger morreu enquanto o longa-metragem estava sendo filmado, e por essa razão, o trabalho do ator foi complementado com o envolvimento de Johnny Depp, Jude Law e Colin Farrel na produção. Ledger havia realizado cerca de um terço de suas cenas, e para que todo seu trabalho não fosse descartado algumas decisões estratégicas foram tomadas para se mantivesse a integridade do trabalho já realizado. Devido a isso, parte do roteiro de Terry Gilliam e Charles McKeown teve de ser reescrito para adequar as inesperadas mudanças ocasionadas pela fatalidade. Alterações essas bem pontuadas que não prejudicaram em quase nada (há um convincente justificativa para que Heath Ledger demonstre mudanças físicas em sua face estando no mundo de Parnassus), incrementado o conjunto da obra em sua totalidade como a própria permanência do ator no filme. Mas ainda assim, “O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus” soa levemente inacabado, ainda que isso não gere um incômodo gritante. Talvez apenas presente no ritmo do desdobramento da trama. Da premissa interessante de um primeiro ato de descobertas necessárias ao espectador, Gilliam conduz um desenvolvimento de pouca clareza e sem tensões e emoções que se façam valer realmente. Ainda que o visual criativamente belo conferido por efeitos visuais modernos associados a técnicas de animação tradicionais alegrem os sentidos, o espectador pode sentir estranheza pela fundamentação das ideias opacas de seu realizador, que culminam num terceiro ato coerente com ares de reviravolta com um bom nível de genialidade, embora não seja dos melhores de sua filmografia. Como Heath Ledger, a grande estrela do elenco ausente, Johnny Depp transpôs a melhor continuidade de seu trabalho (em aparência estética e comportamental), ainda que a apresentação do destino de seu personagem tenha caído nas mãos de um Colin Farrel exagerado e não tão funcional como se esperaria de um ator de seu quilate.

O Mundo Imaginário do Dr. Parnassus estreou no Festival de Cannes de 2009 fora da competição, e depois participou em vários outros festivais pelo mundo. Concorreu ao Oscar 2010 nas categorias de Melhor Direção de Arte e Melhor Figurino, aos quais não abocanhou nenhum deles. Como homenagem ao falecido ator, Gilliam alterou os créditos do filme de “Um Filme de Terry Gillian” para “Um Filme dos Amigos de Heath Ledger”. Em resumo, essa produção tem o seu charme desde que o espectador o veja com olhos e cabeça aberta. Querendo ou não, trata-se de uma fábula direcionada a um público maduro que nem sempre vê essas produções como as mais atraentes, ainda que tenha uma perspectiva bem criativa sobre escolhas e sonhos adiados com sutil toque crítico.

Nota:  7/10  

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