segunda-feira, 28 de abril de 2014

David Lynch + Moby + Mindy Jones = The Big Dream


Fonte | RollingStone

sábado, 26 de abril de 2014

Crítica: As Vantagens de Ser Invisível | Um Filme de Stephen Chbosky (2012)


Em 1999 Stephen Chbosky lançou um livro chamado “As Vantagens de Ser Invisível” (The Perks of Being a Wallflower) que abordava os dilemas comuns da adolescência: a receosa incursão no colegial, a paixão, os encontros e desencontros das amizades, drogas e além do mais, um assunto que não poderia faltar, sobre questões voltadas aos mistérios emocionantes da sexualidade. Aclamado pela crítica, o livro foi um sucesso de vendas. Após mais de uma década veio à oportunidade para Stephen Chbosky de adaptá-lo para o cinema, como também de dirigir está adaptação. “As Vantagens de Ser Invisível” (The Perks of Being a Wallflower, 2012) é uma comédia dramática juvenil onde acompanhamos Charlie (Logan Lerman) um garoto de 15 anos que após um período afastado da escola por causa de uma depressão causada pelo trauma do suicídio de seu único amigo, o garoto retorna ao colegial marcado pela tragédia. No processo de se sociabilizar Charlie faz contato com Patrick (Ezra Miller) e sua meia-irmã, Sam (Emma Watson), duas figuras que lhe chamaram a atenção e que o acolheram solidariamente. Assim, com a ajuda desses dois jovens começa uma sensível e profunda jornada de como encarar o passado e o futuro da inquietante juventude.

O que poderia ser apenas mais uma realização que aborda o universo juvenil com um resultado limitado igual a tantas outras produções parecidas, “As Vantagens de Ser Invisível” ganha pontos preciosos devido a três aspectos que se sobressaem diante de outros filmes similares. 1 – O elenco: a escolha dos jovens protagonistas não poderia ser melhor. Logan Lerman mostra um amadurecimento impossível de não ser notado em comparação a seus trabalhos anteriores. Emma Watson prova que jamais será estigmatizada com seu papel desempenhado na franquia “Harry Potter”, e mostra que promete para o futuro, enquanto Ezra Miller rouba a cena a cada aparição na película conferindo a seu personagem um toque de sensibilidade profunda e cativante. 2 – O roteiro: Stephen Chbosky esbanja fluência na abordagem das diversas faces da juventude com uma trama bem construída e inteligente que liga todas as pontas soltas em volta dos personagens em uma história bem delineada. Dono da história, Chbosky a filma com delicadeza e consciente das possibilidades realizando um trabalho formidável. 3 – A trilha sonora: por último, mas não menos importante, a trilha sonora desse longa-metragem se mostra muito bem escolhida e simplesmente pontual nos desdobramentos da trama. Um dos grandes acertos desse filme que deve ser observado com a devida atenção.

Em resumo, “As Vantagens de Ser Invisível” é um filme surpreendente que se distância de muitos outros filmes parecidos. Se a premissa sugere um desenvolvimento ralo, o ótimo trabalho de Stephen Chbosky surpreendeu por criar um produto que é capaz de agradar até aos espectadores que não apreciam filmes juvenis. Divertido quando deve ser, também emociona sem fazer força. Afastado do cinema como diretor desde 1995, quando escreveu, dirigiu e atuou em um  filme completamente independente, Stephen Chbosky não tem mais razões para ficar tanto tempo longe das câmeras novamente. Seu trabalho está aprovado e pode ser abertamente recomendado.

Nota:  8,5/10


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Crítica: Divisão de Homicídios | Um Filme de Ron Shelton (2003)


Joe Gavilan (Harrison Ford) e Kasey Calden (Josh Hartnett) trabalham juntos como parceiros na divisão de homicídios na cidade de Los Angeles. Mas além da atividade policial investigativa que desempenham, ambos exercem atividades profissionais paralelas ao exercício do trabalho policial. Enquanto Gavilan negocia propriedades residenciais com a pretensão de garantir uma aposentadoria mais feliz, Calden dá aulas de Yoga e busca realizar seu grande sonho: ser um ator. Assim ao investigarem um caso de homicídio de um famoso cantor de Rap, os dois misturam suas atividades profissionais paralelas com suas obrigações policiais gerando as mais divertidas situações. "Divisão de Homicídios" (Hollywood Homicide, 2003) é comédia policial descompromissada dirigida pelo californiano Ron Shelton, que também assina o roteiro junto com Robert Souza. Shelton realizou outras comédias divertidas e irreverentes (O Jogo da Paixão de 1996 e Homens Brancos Não Sabem Enterrar de 1992) além de ter seu nome envolvido como escritor em grandes blockbusters como "Bad Boys 2". Em "Divisão de Homicídios" entrega igualmente irreverente sem maiores pretensões que não fosse o entretenimento. Curiosamente aborda um aspecto curioso acerca dos policiais: suas atividades profissionais que complementam sua renda e ocupam seu tempo de folga. E é desse aspecto que o roteiro tenta extrair as melhores piadas (e em sua maioria bem sucedidas) dessa produção que cria uma parceria policial imensamente descontraída e que não se leva a sério em momento algum.

Com o astro consagrado Harrison Ford encabeçando o elenco com o papel de um policial em fim de carreira, Josh Hartnett faz o papel do policial galã cheio de motivação para tudo. Como de praxe, essa relação do cansado policial com aspirante leva tanto destaque nessa produção quanto o crime que requer um desfecho. Ainda que tenha cenas de ação policial com direito a tiroteios, perseguições de carro e algumas outras extravagâncias ligadas ao gênero, todas carregadas com um tom cômico em sua narrativa, Shelton explora ao máximo todos os aspectos em volta da dupla. Não deve-se levar a ação que transita pela película muito a sério, aquela  mesma ação que move muitos espectadores a buscar filmes como esse. Existe um nível de agito bem orquestrado, mas descompromissado com esse aspecto. Obter risadas é o objetivo supremo de Shelton, tanto em sua condução quanto no próprio roteiro que não explora com profundidade o tempo ocioso de seus protagonistas. Por fim, "Divisão de Homicídios" não é um filme memorável como "Máquina Mortífera" ou "Os Bad Boys", ambos sendo longa-metragens que exploram o mesmos aspectos de destaque dessa produção com algo mais a oferecer. Mas diverte de modo descompromissado que se encaixa em uma Sessão da Tarde sem grandes atrativos. 

Nota:  7/10

terça-feira, 22 de abril de 2014

Crítica: Histórias Que Nossas Babás Não Contavam | Um Filme de Osvaldo de Oliveira (1979)


A Pornochanchada foi um gênero de cinema nacional nascido na década de 70 na região de São Paulo e que contou com inúmeras produções de grande apelo comercial que compõe um acervo gigantesco de filmes. Vários diretores e atrizes conceituadas hoje tiveram seu início de carreira envolvidas em produções daquela época e desse gênero. Normalmente esses filmes eram providos de muita criatividade e poucos recursos que geraram produções no mínimo interessantes, algumas pérolas que levaram muita alegria a uma geração. "Histórias Que Nossas Babás Não Contavam" (1979) é um bom exemplo dessa fase cinematográfica nacional. Numa mistura temperada de bom humor e fantasia com toques de erotismo soft, o diretor Osvaldo de Oliveira desconstrói o icônico conto de fadas da Disney (Branca de Neve e os Sete Anões), transformando-o em uma animada paródia pornô suavizada. Em sua história acompanhamos a princesa Clara das Neves (Fátima Adele), uma voluptuosa linda mulata que sempre despertou  inveja na rainha (Meiry Vieira). Assim, quando o rei morre a rainha encomenda a morte da princesa com um caçador (o saudoso humorista  Costinha). Mas seu plano não corre como planejado e Clara das Neves foge e vai morar com uma turma de anões (6 héteros e um homossexual) bastante curiosos e tarados.

Naturalmente com pouca qualidade de roteiro (os diálogos são ridículos), uma produção rala de qualidade técnica (hoje qualquer vídeo postado no YouTube não perde em quase nada para essa produção), um figurino feito nas cochas, "Histórias Que Nossas Babás Não Contavam" não tem momentos de genialidade ou passagens inspiradas como outras produções do gênero. Em contrapartida tem uma simplicidade interessante que diverte e seduz sem fazer esforço. A pornochanchada vista com um olhar nostálgico tem mais força, embora esteja sempre disponível para ser descoberta em alguns canais do YouTube por aspirantes descobridores (igual a mim). Criticado por uns e idolatrado por muitos outros, esse celebrado gênero marcou a história do cinema nacional de forma a se tornar memorável criando clássicos que frequentemente são relembrados em blogs cinéfilos e grandes portais de cinema. Filmes como "Dona Flor e Seus Dois Maridos" de 1976, dirigido por Bruno Barreto; "A Dama da Lotação" de 1978, baseado em um romance de Nelson Rodrigues; "O Bem Dotado, O Homem de Itu" de 1979; entre outros que se tornaram clássicos inesquecíveis são filmes que tem lugar garantido no gosto de apreciadores do gênero. Em resumo, "Histórias Que Nossas Babás Não Contavam" é o tipo de filme que irá agradar um público mais específico, não sendo para todos os gostos. Tem as cicatrizes do tempo em sua estética narrativa, além das limitações óbvias. Mas apesar da idade, mostra que pode agradar tanto quanto as comédias nacionais mais contemporâneas (apesar de toda a estrutura atual que a indústria do cinema nacional dispõe) essas muitas vezes, produções de resultado tão limitados que dariam vergonha as suas antepassadas. 

Nota:  7/10

NY de um Ângulo Ciclístico | Fotografia

Eu já postei antes sobre a curiosa perspectiva de Tom Olesnevich sobre Nova York. Agora gostaria de mostrar o trabalho de Tim Sklyarov, um designer, ciclista e um grande entusiasta da fotografia que conferiu um ângulo diferente as ruas dessa grande cidade. Pelo ponto de vista de um ciclista podemos ver os cantos e encantos agitados das rua de Nova York por uma perspectiva no mínimo interessante. 
  









 Descubra um pouco mais sobre o fotógrafo e seu trabalho aqui:

sábado, 19 de abril de 2014

Alguns Cartazes de Cinema de Sivakumar

Como eventualmente gosto de postar algo mais ilustrativo, eu recentemente cruzei com o trabalho de um artista indiano onde sua autodefinição no devianatart define bem seus anseios: "Sou um entusiasta da arte desde a infância, um artista digital de profissão, mídia e estudante de psicologia para sempre, o que seria uma introdução suficiente para mim escrever. Eu escrevo. Eu expresso. Eu crio. Com esperança na arte e não por amor à arte." Seu nome é Sivakumar, dono de uma criatividade sem igual para expressar a essência de uma obra cinematográfica em apenas uma imagem, que entre suas mais variadas ilustrações os seus cartazes de cinema se destacam. Deixo alguns trabalhos do artista abaixo e link para outros de seus trabalhos expostos no Tumblr

Noé 

Gravidade

2001 Uma Odisseia no Espaço

A Vida de Pi

Oblivion

Depois da Terra

Crítica: O Livro de Eli | Um Filme de Albert Hughes e Allen Hughes (2010)


 “Eu não sei como será a terceira guerra mundial, mas com certeza a quarta será com tacapes”. A citação profética nada otimista do futuro feita pelo gênio Albert Einstein pode ainda não ter sido levada aos cinemas em sua totalidade, mas ela flerta constantemente com a visão do cinema sobre esse assunto. Hollywood não vê no futuro chances de reconstrução no caso de desastre global. Por essa razão o mundo pós-apocalipse já teve dezenas de abordagens no cinema. Umas retratações interessantes, outras descartáveis, embora quase todas providas de uma perspectiva de futuro negra para a humanidade. E como o universo cinematográfico sempre teve fascínio pela temática, ocasionalmente volta a mexer no tema com alguma nova produção, e com a promessa embutida em sua estrutura de enriquecer o gênero de alguma forma. 

O Livro de Eli” (The Book of Eli, 2010) é um raro exemplar que leva ao espectador mais uma visão sinistra do futuro. Embora esta com um sutil diferencial: além do condicionamento e representação técnica instigante da obra (o visual é uma mistura bem realizada de vários outros filmes), O Livro de Eli” leva em seu enredo uma crítica social diferenciada sobre a religião, fé e oportunismo que como várias obras cinematográficas que fazem menção do futuro, tem um toque de imediatismo em sua narrativa. De certo modo mexe com um assunto delicado e contemporâneo. Dirigido pelos irmãos Hughes (que retornaram ao comando de um longa após um hiato de 9 anos desde "Do Inferno, 2001") essa fita conta a história de Eli (Denzel Washington) um homem solitário e misterioso que vaga por um mundo devastado e quase desértico após um holocausto nuclear. Seu objetivo é direcionado a Costa Oeste dos Estados Unidos, onde espera encontrar civilização e levar um livro que carrega consigo. Mas em sua caminhada encontra um obstáculo materializado em Carnegie (Gary Oldman), chefe de uma pequena comunidade que sobrevive num árido deserto. Igual a Eli, Carnegie também tem um objetivo acerca desse livro: encontrar o livro cujo conteúdo lhe concederá tanto poder quanto possível. Então quando ele descobre que Eli detém esse livro, passa a caça-lo sem medir esforços para conseguir o que quer. 

Apesar da estrutura dessa produção visar o óbvio entretenimento, tendo um vasto repertório de clichês de filmes do gênero em sua essência, o desenvolvimento da trama consegue equilibrar bem vários elementos diferenciados na mesma história: estilo visual, ação e um claro alerta com um toque dramático funcional. Com uma fotografia praticamente sem cores, o diretor de fotografia Don Burgess cria uma atmosfera perfeita que descreve bem a hostilidade do ambiente no qual Eli atravessa. Desde seu prólogo ao desfecho temos uma terra devastada e de difícil sobrevivência. Com cenas de ação bem orquestradas e pontuais que garantem toda a adrenalina dessa produção, também há no enredo dramático uma grande qualidade. Se pouca coisa esclarece as causas que levaram a atual condição do ambiente que estampa a película, menos informação o espectador terá sobre o herói solitário. Misterioso, preciso e de uma incomum generosidade, o ator Denzel Washington confere ao personagem um magnetismo impressionante. Ao mesmo tempo, Gary Oldman que entrega uma interpretação muito parecida com que deu a outros de seus famosos personagens (em tempos em que trabalhava frequentemente com o cineasta Luc Besson), o ator encontra um rumo tardio para sua interpretação nessa produção. O duelo de ideais travado por essas duas figuras (Carnegie quer usa-lo como ferramenta de poder e controle, enquanto Eli o vê como uma forma pura de expressão de fé) que gera os melhores momentos do desenvolvimento da história. Se roteiro de Gary Whitta desvia-se pelo uso abusivo de clichês em sua criação, ainda que demonstre toques de genialidade em seu desenvolvimento, a direção dos irmãos Hughes arredonda essa produção e equilibrar tudo de modo funcional sem deixar pontas soltas. Outro aspecto positivo seria a trilha sonora épica que acentua todo o desenvolvimento, seja nos momentos de ação como também nos de reflexão.
   
O Livro de Eli” pode não ter a jornada épica de fé mais original de todos os tempos (sua inspiração vem de uma arquitetura claramente inspirada nas escrituras sagradas), mas sem dúvida é uma ótima adição ao gênero, quando os irmãos Hughes criam um mundo pós-apocalíptico plausível erguido de convencionalidades com algo a dizer além de um pedido de socorro pela sobrevivência. Mais acessível do que "A Estrada", realizado por John Hillcoat, Livro de Eli” conta a missão e sentença de um homem que carrega com fé e fidelidade tanto seu fardo quanto uma benção, essa desconhecida ao mundo que retardou na evolução e sugere ser um resort para homens de pouca fé e muita astúcia. Esse povo espera sem saber, que a esperança está para ganhar vida novamente, seja pela perseverança de um andarilho solitário ou pelas páginas de um livro salvo de uma campanha incendiária. 

Nota: 9/10

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Crítica: Spring Breakers – Garotas Perigosas | Um Filme de Harmony Korine (2012)


O cineasta californiano Harmony Korine já não se satisfaz em criar polemica apenas com que escreve. Escritor de filmes como “Kids” de 1995 e “Ken Park” de 2002, ambos dirigidos por Larry Clark, Harmony Korine também tem em seu currículo a direção de alguns filmes de qualidade oscilante que dividem opiniões e que buscam firma-lo com um grande diretor de um cenário autoral inovador. Para sua infelicidade, curiosamente sua figura é quase sempre mais lembrada pelo que ele escreveu do que propriamente pelo que dirigiu em sua carreira. Portanto, sabendo disso talvez seja interessante alertar o espectador de que não espere muito de “Spring Breakers – Garotas Perigosas” (Spring Breakers, 2012) longa-metragem escrito e dirigido por Harmony Korine. O cineasta tenta unir o útil ao agradável (sua habilidade de escrever histórias marcadas de polemica com seu desejo de dirigi-las). Habituado a enfeitar seus longas para assim preenche-los, Korine é um artista que recorre a criação de imagens bem editadas que dão a profusão de sua obra (a estética acima da substância). Em “Spring Breakers”, Korine apresenta lindas e esculturais garotas em vestimentas sumárias, festas psicodélicas regadas a drogas e álcool e um rapper/gângster bem diferente dos personagens mafiosos mostrados pelos clássicos filmes de gângster do passado (como os realizados por Brian De Palma) para criar um filme contemporâneo que explora o fascínio que a vida criminosa exerce sobre algumas pessoas com algo a mais a dizer. Em sua trama acompanhamos quatro colegiais (Vanessa Hughes, Selena Gomez, Ashey Benson e Rachel Korine) que roubam um restaurante para financiar suas férias de verão. Se o plano inicial dá surpreendentemente certo, outros problemas vêm a impedir o total sucesso das férias. Nessa hora entra em cena Alien (James Franco) de sorriso dourado em com uma proposta inesperada que pode ser a salvação das garotas ou uma descida mais rápida ao inferno.

Mais acessível do que os filmes anteriores de Korine, “Spring Breakers – Garotas Perigosas” dissecado com cuidado esconde qualidades. Em sua inspiração comum, onde há uma representação interessante da glamorização do poder oriundo da criminalidade que fascina algumas pessoas, principalmente aquelas com uma séria crise de identidade própria num mundo de artificialidades necessárias. Sua estética viva, em cores e na musicalidade que desforra a narrativa também é outro ponto positivo desse longa-metragem. Situações corriqueiras de um belo pôr-do-sol ganham contornos de grande beleza pela câmera de Korine, como as festas oníricas acompanhadas com flashes em câmera lenta que ditam o ritmo da devassidão que sucedem o crepúsculo. O representativo elenco feminino (aonde Vanessa Hughes e Selena Gomez vão dando adeus à imagem das princesinhas da Disney que elas representavam a longos anos), além das poucas conhecidas Ashey Benson e Rachel Korine (a segunda esposa do diretor) se mostram de grande acerto a essa produção. Como também há uma interessante interpretação do ator James Franco em sua materialização de um mafioso excêntrico em aparência, amedrontador em sua postura. Bom de lábia, seu mundo abrilhantado seduz e convence como na referencial situação aonde meninas de interior vão a cidade grande tentar a sorte e atraem magneticamente os mal-intencionados. Repleto de situações clichês que ganham uma sobrevida pela forma que foram filmadas, “Spring Breakers – Garotas Perigosas” não é mais do que parecia ser. Mas também não é a mesma coisa que todo mundo achou (para quem viu os cartazes de divulgação com garotas seminuas e trailers carregado de alucinados excessos de uma juventude descompromissada) sendo que mostra, ainda que sutilmente algo mais.

Nota:  6,5/10

terça-feira, 15 de abril de 2014

Crítica: Aposta Máxima | Um Filme de Brad Furman (2013)


Falar mal de "Aposta Máxima" (Runner, Runner, 2013) é como chutar um bêbado, não tem a menor graça. Entretanto, acredito que até alguns filmes ruins, ou pelo menos de resultado mais limitado são capazes de gerar eventualmente alguns bons textos. Então aí vai... Dirigido por Brad Furman, e escrito por Brian Koppelman e David Levien, essa produção habita o gênero do suspense policial estranhamente. Parte da história foi baseada na vida de Nat Arem, um jogador de poker profissional e ex-contador da Deloitte Touche (uma conceituada empresa de auditoria e consultoria financeira que têm filiais pelo mundo inteiro). O jovem participou numa fraude que em um site de poker online ao usar métodos estatísticos para analisar milhares de jogos. Mas sua respectiva base é somente um pequeno fragmento da narrativa de Furman e certamente uma incrível inspiração para criar um projeto original se tivesse caído nas mãos certas. Já que de resto, "Aposta Máxima" tenta, mas não consegue se aprofundar no universo lucrativo (muitas vezes ilegal) dos jogos online ainda pouco explorado pelo cinema. A soma de uma premissa até interessante e um elenco de destaque não ajudam no desenvolvimento da trama que carece de atmosfera que propague alguma emoção no espectador. Em sua trama acompanhamos Richie Furst (Justin Timberlake), um estudante de Princeton que passa por dificuldades financeiras. Em um ato desesperado se lança de cabeça numa jogatina online que por ventura após perder o pouco dinheiro que ainda tinha, Richie descobre que havia um esquema fraudulento que lesava seus usuários. Na tentativa de obter seu dinheiro de volta, ele embarca para Costa Rica para falar com o chefão dos jogos online, Ivan Block (Ben Affleck). Surpreendentemente não somente consegue seu dinheiro de volta, como também passa a trabalhar para o mesmo envolvendo-se em um mundo de criminalidade que o obrigará a tomar decisões desesperadas para se manter vivo.

Com um elenco de causar inveja, infelizmente para o público o filme carece profundamente de ritmo. Sua estrutura ajustada se mostra demasiadamente artificial. Ao esbanjar os recursos a sua disposição, Furman não consegue criar uma trama realmente interessante, ocupando-se em produzir material para somar no tempo de duração dessa fita. O desenvolvimento da trama soa extremamente forçado. E a culpa nem pode se dar necessariamente ao elenco, já que a trama em si é que mostra as maiores deficiências desse longa (situações desnecessárias como a do rio envolvendo os crocodilos famintos ou reviravoltas de pouco efeito como quando Furst trabalha para virar o jogo a seu favor) evidenciam o descontrole desse filme. A máfia dos jogos online também não teve uma abordagem coerente e criativa, limitando-se a uma abordagem ligeiramente didática para não passar completamente em branco. No elenco principal há outras divergências dependendo do ponto de vista: embora a presença de Gemma Arterton funcione supostamente como um colírio para os olhos em seu papel de prostituta de luxo, sua presença se resume a isso mesmo e mais nada; como também é difícil ao espectador ver Ben Aflleck como um bandido implacável após inúmeros papéis de mocinho. A popularidade de Justin Timberlake (cada vez mais presente nas telonas numa carreira paralela a da música) talvez ainda não tenha caído a ficha completamente. Suas responsabilidades mudaram quando ele deixou de ser coadjuvante de luxo para a função de protagonista de carreira. Seu personagem é a vítima desesperada e o esperado herói, a ligação que criará a empatia com o espectador e definirá o sucesso ou o fracasso de uma produção. Suas responsabilidades aumentaram, mas parece que ainda não foram bem compreendidas pelo ator. No final, entre locações exóticas e muita correria desnecessária de estrelas de Hollywood, "Aposta Máxima" é de fato um programa insatisfatório por sua estética ajustada demais e que não causa uma emoção significativa. Se a premissa soava interessante, ele precisava ser mais bem escrito, fugindo dos moldes de um filme excessivamente projetado (leia-se clichê) e de pouca profundidade. Seja qual for a razão que o leve a assistir essa produção, com essa resenha deixo as cartas na mesa. Façam suas apostas...

Nota:  4/10

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Crítica: Os Contos Proibidos do Marquês de Sade | Um Filme de Philip Kaufman (2000)


Autor de obras literárias como Justine e 120 Dias de Sodoma, Donatien Alphonse François, o Marquês de Sade (Geoffrey Rush), nascido em 1970 e morto em dezembro de 1814 estudou em um internato jesuíta e obteve uma carreira gloriosa no exército francês. Mas sua derradeira fama veio posteriormente de suas publicações cujo conteúdo sexual pornográfico desestabilizou a moralidade da sociedade conservadora francesa. Seus escritos que tornavam o ato sexual algo profano e carregado de perversão que transformava sua figura na realeza um incômodo. Dado como louco por Napoleão Bonaparte, Sade é trancafiado no sanatório de Charenton por seu comportamento libertino e para impedir que ele publique suas novelas. Aprisionado no sanatório sob a coordenação do padre e diretor Abbé Coulmer (Joaquim Phoenix) com a finalidade de aquieta-lo, Sade abusa da hospitalidade do padre ao continuar contrabandeando suas histórias para fora das limitações de Charenton através de uma serviçal, Madeleine (Kate Winslet) uma jovem que balança entre as curiosidades em volta da sexualidade e a repressão educacional de seu tempo. Quando observado que as medidas adotadas de encarcera-lo não vinham dando resultados, Napoleão delega a tarefa de silenciar o intransigente escritor ao alienista Royer Collard (Michael Caine), um homem de métodos severos e uma visão conservadora que andava de mãos dadas com as expectativas da sociedade. Mas o que era visto como a cura, somente veio a instigar ainda mais seu desejo por escrever. “Os Contos Proibidos do Marquês de Sade” (Quills, 2000) é um filme produzido em associação entre Estados Unidos, Alemanha e Reino Unido, dirigido por Phillip Kaufman e escrito por Doug Wright, adaptado de sua própria peça teatral. Tentando resumir os últimos anos da vida do controverso Marquês de Sade, Kaufman entrega um drama marcado por leveza e com excelentes atuações.

Os Contos Proibidos do Marquês de Sade” é um relato cinematográfico suave e acessível de uma figura histórica de uma reputação brutal e egoísta que não se resguardava de excessos. Simplesmente não havia qualquer coisa que lhe impedisse de ser violento quando bem entendesse. Talvez esse aspecto contido da transposição de Philip Kaufman (A Insustentável Leveza do Ser e Henry & June) seja seu único defeito. Embora esse longa-metragem ganhe pontos pelas atuações, não somente de Geoffrey Rush que monopoliza grande parte do espetáculo com sua interpretação inspiradora do personagem histórico, como dos demais membros do elenco principal que entregam personagens fascinantes tão deslumbrados por Sade quanto o próprio espectador. Enquanto Rush confere uma personalidade cômica a Sade que casa bem com a proposta de Kaufman (uma visão mais comercial para o personagem), os demais atores interpretam com muita seriedade seus respectivos papéis. Cria de forma espontânea um equilíbrio agradável no desenvolvimento da trama. Além do mais, os aspectos técnicos (a direção de arte de Martin Childs e a direção de figurino de Jacqueline West) mostra um nível de competência e comprometido com uma recriação histórica acentuada. Mesmo não sendo a melhor retratação cinematográfica do escritor (cujo nome gerou o termo médico Sadismo, que define o prazer sexual obtido da dor física ou psicológica do parceiro ou parceiros), o filme agrada com facilidade. Por fim, “Os Contos Proibidos do Marquês de Sade” trabalha o tom melancólico da época com habilidade e competência, usa a literatura do escritor como uma metáfora gritante para criticar a miopia da censura e apresenta um elenco afinadíssimo onde a química entre Geoffrey Rush e Kate Winslet (repleta de insinuações provocantes) mexe com o imaginário do espectador sem causar dor.

Nota:  7/10
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sábado, 12 de abril de 2014

Crítica: 47 Ronins | Um Filme de Carl Rinsch (2013)


Quando Lord Asano (Min Tanaka) recebe o grande Shogun Tsunayoshi (Cary-Hiroyuki Tagawa) em seu vilarejo para um tradicional evento comemorativo, Kira (Tadanobu Asano) Senhor do vilarejo rival que junto com sua concubina e feiticeira (Rinko Kikuchi) tramam um plano que provoca a desonra de Lord Asano e consequentemente o seppuku (ritual de suicídio). Com o vilarejo órfão de um mestre, o Shogun estabelece que a filha de Asano, Mika (Ko Shibasaki) deva se casar num prazo de um ano com Kira para que a paz reine entre os reinos. Mas com todos os samurais banidos do vilarejo e a certeza da culpa de Kira, o samurai-chefe de Lord Asano, Oishi (Hiroyuki Sanada), agora um ronin passa a recrutar seus antigos subordinados junto com um servo mestiço chamado Kai (Keanu Reeves), para iniciar seu plano de vingança antes que a filha de Lorde Asano se case com Kira. “47 Ronins” (47 Ronin, 2013) é uma adaptação hollywoodiana dirigida pelo estreante publicitário Carl Rinsch (pupilo de Ridley Scott) e escrita por Hossein Amini e Chris Morgan. Baseado numa das mais importantes lendas japonesas passadas no período do Japão Feudal no século 18, o filme é desenvolvido nos moldes de um blockbuster. Contudo, Rinsch falha em transpor para o cinema a sua visão do épico conto em que os espectadores acompanham as causas e consequências da ação de um grupo de 47 ronins (samurais sem mestre) que partem em busca de vingança pela morte de seu mestre. Fracasso de bilheteria e detonado pela crítica especializada, “47 Ronins” se mostra um filme perturbadoramente indeciso (explico isso mais abaixo), ainda que visualmente bem cuidado e narrativamente corajoso. 

Embora Rinsch exiba uma dinamica criativa em relação ao visual herdada de sua experiência em comerciais que flertavam com a sci-fi, sua estreia no comando de um longa épico não foi das mais felizes. Claramente Rinsch teve uma preocupação que priorizava os aspectos visuais de seu trabalho, deixando o desenvolvimento de sua trama em segundo plano. O cartaz de divulgação deste post evidencia isso. O sinistro personagem do cartaz acima foi prestigiado com um pôster individual tendo apenas cerca de 5 a 10 segundos de presença de tela. Sem nenhuma relevância a trama ou uma passagem realmente inspirada, a adoção de sua instigante figura é meramente decorativa (um conveniente apelo a curiosidade do espectador). Essa preocupação excessiva com esse aspecto, o visual, além do fato de seu realizador não estabelecer fluência em sua narrativa que mescla fantasia extraordinária com autenticidade histórica levam essa produção a ruína. Sem mencionar na falta de clareza em saber quem é o protagonista: Keanu Reeves ou Hiroyuki Sanada? É certo que o espectador foi conferir a performance do primeiro, mas a determinação que move essa produção parte de do segundo. O design de produção e a cenografia bem cuidada conferem uma materialização impecável do período. Porém, a inserção de efeitos em CGI (como a rápida caçada da besta entre outras passagens marcadas de artificialidade) despertam no espectador um sentimento de estranheza. O problema não seria necessariamente a existência desses efeitos e seu propósito, mas por parecer um corpo estranho dentro do conjunto. "O Último Samurai", outro blockbuster, esse totalmente ficcional, que aborda parte da história do Japão e os costumes da cultura dos samurais de modo que desperte interesse no rumo dos acontecimentos. "47 Ronins" como drama não funciona; e como filme de ação (mesmo tendo cenas de luta bem orquestradas) não empolga. 

"47 Ronins" sente pela falta de amadurecimento de seu realizador. Entretanto, mesmo que não beneficie o resultado limitado desse lendário épico, essa produção é marcada pela coragem não só dos personagens que independente do desfecho de sua missão de vingança teriam conscientemente um destino fatal. Carl Rinsch também teve coragem em realizar um filme de difícil realização além do que sua experiencia permite. Eu sei que isso não ajuda no filme, mas particularmente julgo ser uma atitude honrada. 

Nota:  5/10  

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Crítica: Ender’s Game - O Jogo do Exterminador | Um Filme de Gavin Hood (2013)


Adaptado do premiado romance de ficção científica de Orson Scott Card, o longa-metragem “Ender’s Game - O Jogo do Exterminador” (Ender’s Game, 2013) teve sua estreia sobrecarregada de expectativas por parte de fãs da obra. Isso porque após anos de especulação sobre sua materialização na película, junto com as expectativas vinha uma consequente dúvida de que os desafios de expor na tela às qualidades literárias da obra, não seriam possíveis serem traspostas para um filme de modo que não soasse forçado (o livro é um estudo genial de âmbito filosófico e psicológico sobre o caráter humano num ambiente futurístico militarizado também permeado de aspectos políticos embutidos). Pode-se dizer que Gavin Hood (X-Men Origens - Wolverine) conseguiu um nível razoável de sucesso em sua empreitada, ao conciliar as qualidades de sua inspiração em um produto de entretenimento de base sólida e bem ritmado. Em sua trama somos lançados a um futuro onde a humanidade quase foi devastada por uma invasão alienígena por seres extraterrestres denominados Formics. Após demasiados esforços, a ameaça alienígena foi contida e dizimada. Contudo governos se organizaram para treinar novos comandantes de esquadras, peças fundamentais numa estratégia de assegurar o futuro da humanidade numa próxima batalha. Assim acompanhamos o treinamento do jovem Ender (Asa Butterfield) um possível candidato a ser a salvação da raça humana diante de uma eminente guerra que a cada momento se aproxima mais. Na Escola de Combate é observado com atenção pelo experiente Coronel Graff (Harrison Ford), que a cada etapa do exaustivo treinamento, passa a ver em Ender não somente a salvação necessária, mais a única.

O livro de Orson Scott Card foi durante muito tempo leitura sugerida para acadêmicos de instituições militares dos Estados Unidos devido à importância de seu material (uma leitura que concilia lógica e ficção em um ambiente futurista que desafia a imaginação). Embora o universo criado por Card para seu livro seja bem íntimo e construído para seus leitores, e os que conferiram o resultado na película tornou-se familiar, o filme de Gavin Hood era certo que fosse causar no mínimo estranheza num espectador desavisado (jovens e adolescentes sendo submetidos a treinamento militar muitas vezes extremado passando por situações onde tomam decisões de vida e morte). A tarefa de condessar todo material impresso em um roteiro cinematográfico que justifique sua realização foi o primeiro desafio superado para o roteirista/diretor de “Ender’s Game - O Jogo do Exterminador”. A transição de sua base para o formato de cinema se mostra satisfatória. O filme tem sim, um aspecto apressado sem a profundidade política que demostra consequentemente claras concessões em sua estrutura, embora não sabote o desenvolvimento de forma gritante. Com uma estrutura narrativa onde o treinamento militar ressoe sobre o trabalho de Stanley Kubrick em “Nascidos para Matar”, no qual os jovens adolescentes sofrem o mesmo teor de cobrança e responsabilidade que soldados adultos são incumbidos, o elenco mirim confere credibilidade à produção. Talvez o aspecto mais positivo do trabalho de Gavin Hood, já que conduzir uma trama impulsionada por pequenos gênios militares com uma atmosfera séria não seria fácil. Entretanto, Asa Butterfield como seus demais colegas conseguem vender a proposta (seja na dramaticidade ou nas passagens que envolvem ação) com muita habilidade.

A cenografia, efeitos sonoros e visuais criada para esse longa se mostram interessantes mesmo sem apresentar um resultado que se tenha como inovador. Os jovens simplesmente transportam o espectador para seu campo de batalha virtual ou físico, com a devida emoção das circunstâncias de forma crível e sem exageros desnecessários. Em resumo, “Ender’s Game - O Jogo do Exterminador” é um filme divertido se o espectador comprar a sua difícil ideia na íntegra. Está anos luz distante de ser revolucionário em questões visuais, uma preocupação cada vez mais sumaria aos longas de ficção cientifica, ou até mesmo se tornar memorável no gênero no qual orbita. Sobretudo, o filme se mostra uma produção interessante que vale uma conferida.

Nota:  7/10

terça-feira, 8 de abril de 2014

Crítica: Assassinos por Natureza | Um Filme de Oliver Stone (1994)


Mickey Knox (Woody Harrelson) e Mallory Knox (Juliette Lewis) tiveram uma infância conturbada sobrecarregada de traumas de difícil digestão. Ao se uniram pelo descontrolado amor que um sente pelo outro, além do inexplicável gosto pela violência que ambos dividem em suas matanças, esse estranho casal traça um destino polêmico lavrado com sangue. Atravessando a América numa jornada sem um destino certo, o casal deixa um rastro de violentas mortes por onde passa e um conveniente sobrevivente para contar sua chocante história. Rastreados pelo policial Jack Scagnetti (Tom Sizemore), que também não é o total reflexo da lei e da justiça, o casal é elevado ao patamar de celebridades pela imprensa sensacionalista. O repórter Wayne Gale (Robert Downey Jr.) responsável por um programa de televisão chamado American Maniacs os torna verdadeiros ícones a serem reverenciados, que mesmo com uma captura, não impediu que a popularidade de Mickey e Mallory caísse. Enquanto Wayne Gale se esforça de todas as formas para que o espetáculo televisionado não esfrie e baixe a audiência de seu programa, o casal só quer saber de botar fogo no circo da mídia e ver queimar até não sobrar nada. “Assassinos por Natureza” (Natural Born Killers, 1994) é um filme dramático dirigido por Oliver Stone, baseado na história de Quentin Tarantino que tem o argumento do mesmo, além do envolvimento de Oliver Stone, Dave Veloz e Richard Rutowski. Ácido, frenético e perturbador, esse longa-metragem mencionado por muitos como um dos filmes mais violentos do cinema é uma louca inserção fictícia no universo dos seriais killers cujo resultado exagerado e controverso inspira debate entre os espectadores sobre a violência no cinema e seu consequente culto por parte da sociedade.

Extremado nas imagens, Oliver Stone cria uma narrativa exagerada em vários aspectos. Mas apesar dos infinitos excessos distribuídos ao longo dessa produção que torna extremamente acessível à interpretação de sua mensagem principal, mostra também um desenvolvimento coerente com a proposta embutida de criticar um comportamento humano ainda hoje muito comum, onde que a violência (os causadores, suas causas e consequências) consegue despertar fascínio nas pessoas. Com atuações convincentes por parte da dupla de protagonistas, Woody Harrelson e Juliette Lewis esbanjam talento em suas interpretações. Acrescido ainda pelo carisma de Robert Downey Jr., a competência de atores como Tom Sizemore e Tommy Lee Jones, o diretor mostra que fez excelentes escolhas de elenco, embora não tivessem sido as primeiras opções de uma extensa lista (vários atores haviam sido cotados para desempenharem os papéis principais, mas foram substituídos por questões de apelo de público ou se negaram a se envolver no projeto). Apesar de a narrativa lisérgica adotada por Oliver Stone funcionar, pondo a prova o talento do elenco, a estética ritmada que permeia toda duração desse filme desfavorece uma maior profundidade na patologia dos personagens limitando as possibilidades de desenvolvimento do roteiro. Ainda que demonstre um objetivo de mostrar ao público uma mensagem de alerta, a violência descontrolada vai ganhando um demasiado destaque a certa altura do desenvolvimento limitando as possibilidades de estruturar a história de modo mais objetivo e menos delirantemente distrativo. Com uma direção de fotografia marcante que confere um visual alucinante que mescla bem realidade e alucinação, cores marcantes com o preto-e-branco, essa produção ganha ritmo pela delirante edição de imagens.

Entretanto, “Assassinos por Natureza” não é feito somente de imagens, já que a trilha sonora de responsabilidade de Brent Lewis, que enriquece o visual com belíssimas canções (como: “Waiting For The Miracle” de Leonard Cohen ou “You Belong To Me” de Bob Dylan”)  antenadas com a proposta delirante do longa somente enriquece sua narrativa. Com uma dose de humor negro que gera boas passagens e muitas referências icônicas (a entrevista de Mickey concedida na prisão teve sua inspiração na verídica entrevista de Charles Manson ao repórter Geraldo Rivera), “Assassinos por Natureza” está repleto de curiosidades e fatos de bastidores que fazem dessa produção um filme marcante dentro e fora das telas. Trata-se de uma produção que lhe pode causar reflexão ou repulsa. Por isso sua estrutura diferenciada dos padrões de filmagem convencionais, seu contexto alarmante e sua estética sangrenta é de dividir opiniões. Provavelmente você irá amá-lo ou odiá-lo, isto é certo.

Nota:  8/10
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domingo, 6 de abril de 2014

Quando a Pixar se Apoderar da Franquia Star Trek

Espera pra ver!

sábado, 5 de abril de 2014

José Wilker (1947-2014)


sexta-feira, 4 de abril de 2014

Crítica: Amor Bandido | Um Filme de Jeff Nichols (2012)


Dois jovens aventureiros, os adolescentes Ellis (Tye Sheridan) e Neckbone (Jacob Lofland) são grandes amigos que dividem o gosto pela aventura e a exploração.  Ao navegarem pelas águas do Rio Mississipi em uma curiosa jornada de exploração, os dois encontram em uma ilha deserta um barco danificado que está abandonado estranhamente sobre o topo de uma enorme árvore. Embora o barco aparentasse um completo abandono, na verdade ele serve de um conveniente abrigo ao misterioso Mud (Matthew McConaughey), um foragido da polícia que tem utilizado a ilha como esconderijo após ter cometido um assassinato. Desenvolvendo um pacto de cumplicidade com os dois adolescentes, Ellis e Neckbone passam a ajudar Mud restaurando o barco para sair da ilha antes que as autoridades e um perigoso caçador de recompensas o encontrem, além de reencontrar sua amada, Juniper (Reese Whiterspoon) uma bela mulher que se envolveu com as pessoas erradas. “Amor Bandido” (Mud, 2012) é um drama escrito e dirigido por Jeff Nichols (responsável pelo excelente O Abrigo, de 2011) que traz com habilidade para tela uma notável história detentora de emocionantes e expressivas atuações de um inspirado elenco juvenil que não perde em nada para o experiente ator vencedor do Oscar de Melhor de Ator de 2014 (Matthew McConaughey).

É fácil entender porque McConaughey ganhou o Oscar de Melhor Ator por sua atuação em “Clube de Compras Dallas”. Observando com atenção seus últimos trabalhos (Killer Joe - Matador de Aluguel, Bernie, O Poder e a Lei; todos de 2011) o reconhecimento era inevitável, considerando todavia o número de produções esquecíveis (leia-se comédias românticas) que marcaram sua trajetória inicial em Hollywood. McConaughey demonstra estar bem a vontade em seu papel de fugitivo apaixonado (que justifica a escolha desse desprezível título nacional). A atuação de McConaughey se mostra mais do que competente, fazendo com que o rumo de sua carreira seja uma experiência mais do que grata. Porém o brilhantismo desse longa na verdade se encontra principalmente nas interpretações dos jovens (principalmente de Tye Sheridan, que promete muito para o futuro) que possuem várias subtramas bem verdadeiras de um cotidiano real envolvendo seus personagens.  Os dois jovens materializam com talento o ar de dúvida sobre o personagem de McConaughey, ao mesmo tempo em que transpareçam a certa altura nuances de devoção sobre sua figura. Se sua história não se mostre totalmente original, a forma como ela se desenvolve e como é apresentada nos sons e nas cores faz de "Amor Bandido" uma realização bem feita em vários aspectos. A relação de amizade desenvolvida entre Mud e Ellis, contada por Jeff Nichols, que disseca ambas as personalidades é o grande atrativo desse longa, mesmo que ainda haja nomes de peso como Sam Shepard, Reese Witherspoon e Michael Shannon no elenco. Em resumo, "Amor Bandido" é um grande filme de amadurecimento que merece ser descoberto.

Nota:  8/10

quarta-feira, 2 de abril de 2014

Crítica: Invocação do Mal | Um Filme de James Wan (2013)


No ano de 1971, a família Perron decide mudar-se para uma fazenda que existe a mais de 150 anos na cidade de Harrysville (Rhode island). Mas logo após sua chegada em seu novo lar, o pai Roger Perron (Ron Livingston), a mãe Carolyn Perron (Lili Taylor) e suas cinco filhas começam a ver coisas estranhas acontecendo na casa devido a presença de espíritos malignos. Forçados a buscar ajuda, eles contratam um casal de investigadores paranormais, os demonologistas Ed (Patrick Wilson) e Louraine Warren (Vera Farmiga) que encontram no combate a essas entidades sinistras o maior desafio de suas vidas. Baseado em fatos reais, "Invocação do Mal" (The Conjuring, 2013) pode ser encarado a primeira vista, como sendo mais um filme de terror ambientado em uma casa mal-assombrada como tantos outros. Mas ele se diferencia largamente de seus antecessores em função  de uma condução magistral que equilibra bem os típicos sustos necessários ao gênero com uma atmosfera de suspense brilhantemente angustiante. Dirigido por James Wan (Jogos Mortais) e escrito pelos irmãos Chad Hayes e Carey Hayes, independente do uso excessivo de clichês ligados a esse gênero, seus realizadores entregam um longa acima da média apenas por saber manuseá-los com habilidade, além de conferir um toque autoral ao longa que foge um pouco de uma filmagem convencional cada vez mais presente em produções desse segmento.

Além das soluções criativas encontradas por James Wan para transportar o espectador para o interior dos cômodos apertados da casa, que resultam numa mistura de medo e expectativa fantástica, o elenco (principalmente o feminino composto pela Vera Farmiga e Lili Taylor) entregam interpretações extremamente naturais que fecham com a proposta oferecida pelo cineasta malaio James Wan, um constante realizador de filmes de terror. Realizador do perturbador "Jogos Mortais" (2004) que acabou virando uma extensa cinessérie de qualidade variável, James Wan é inclusive responsável pelo fenomenal longa-metragem "Sobrenatural", filme de suspense e terror realizado em 2010 e sua sequência que estreou em 2013. Em sua trama, sem se prendendo necessariamente aos fatos ocorridos realmente (embora enfatize esse aspecto como modo de fazer o marketing da produção funcionar), é certo que o roteiro se mostre bem ajustado, como é certo que o brilhantismo desse longa se encontre na forma como foi executado seu desenvolvimento. O casal de demonologistas também são curiosamente os que estavam envolvidos no evento de Amytiville, que inclusive gerou um filme em 1979 e um remake em 2005. Por fim, sem apresentar banhos de sangue apelativos, "Invocação do Mal" se mostrou um grande filme no gênero do terror em 2013 que merece ser descoberto o mais breve possível, como no futuro será um forte candidato a ser revisitado.

Nota:  8/10

terça-feira, 1 de abril de 2014

Crítica: Elysium | Um Filme de Neil Blomkamp (2013)


Após o sucesso de “Distrito 9” em 2009, o cineasta sul-africano Neil Blomkamp tornou-se um fenômeno de realizador que angariou muitos fãs pelo mundo. Mas junto com o derradeiro sucesso que todo grande realizador anseia alcançar veio às consequentes responsabilidades que a fama concede, principalmente quando aportou em Hollywood. Se o cineasta conseguiu fazer muito com pouco, imaginem o que ele faria tendo uma imensidade de recursos? Estrutura técnica de primeiro mundo para materializar até o mais absurdo delírio visual, um elenco de estrelas que funcionaria como grande chamariz para um lançamento de causar inveja. Entretanto, a mesma estrutura que dá também tira, que no caso de Hollywood é a liberdade criativa de seu realizador. “Elysium” (Elysium, 2013) é uma produção de ficção cientifica e ação que realizada sob os moldes da indústria cinematográfica americana, e dependendo do ponto de vista, sob as amarras da mesma, apresenta um raso confronto de classes que não gera uma reflexão fluente (como em seu trabalho citado acima) sobre os problemas da exclusão social com o devido embasamento que merecia, embora se mostre visualmente atrativo aos olhos dos espectadores. Em sua trama somos apresentados ao mundo no ano de 2154, onde o planeta Terra vive em um completo caos, excessivamente povoado, degradado e sob o comando de um governo negligente e corrupto. Enquanto a Terra se decompõe gradativamente, os ricos e poderosos habitam uma estação espacial chamada Elysium que é vista como a única chance de sobrevivência para muitas pessoas doentes em virtude de sua estrutura tecnológica possibilitar a cura a qualquer doença. Assim acompanhamos Max Costa (Matt Damon) um órfão criado por freiras em um orfanato e que se tornou um ladrão de carros, mas que tenta a todo custo se regenerar com um trabalho honesto numa linha de produção de uma fábrica. Ao sofrer uma exposição nociva de radiação em seu trabalho e abandonado a própria sorte pela empresa, Max se alia a um grupo de traficante de pessoas que envia clandestinamente alguns enfermos a Elysium para se curar. Com pouco tempo de vida, poucos recursos e sem grandes chances de sucesso, Max pode sem saber fazer toda a diferença do mundo nesse contexto de desigualdade que assola o planeta.


Escrito e dirigido por Neil Blomkamp, todo o arrojo visual exibido nessa produção se perde pelo contexto social e político mal enfatizado e simplista (os pobres são vítimas e os ricos são vilões egoístas). O problema da desigualdade social, tanto em suas causas quanto nas consequências, transparece ter uma lógica muito mais complexa do que um dia “Elysium” sonhou apresentar. Portanto, o trabalho de Blomkamp se resume em apresentar um pouco do mesmo de sempre, com uma abordagem comprometida com um espetáculo recheado de cenas de ação explosivas e efeitos visuais de encher os olhos, já que esse aspecto recebeu toda a atenção que a estrutura disponibilizada poderia proporcionar. E com o mau aproveitamento da história (que em premissa até se mostra interessante) vem outra consequência: o desperdício do elenco principal. Matt Damon faz o papel do herói predestinado pelas circunstâncias, como os vilões surgem em transformações tão rápidas quanto o próprio desenvolvimento que é marcado por incessantes correrias. O ator Sharlto Copley é um bom exemplo da perda do potencial de um personagem afundado em clichês, embora numa disputa homem a homem, o ator brasileiro Wagner Moura (em sua estréia em Hollywood) se sai muito melhor do que o experiente e competente William Fichtner. Como a presença de Jodie Foster, elegante e que confere uma atuação convincente se perde pelas mudanças de rumo da trama, confirmando estranhamente o brilho de Alice Braga nessa produção, embora todos os atores sejam prejudicados pelos rumos traçados pela trama de Blomkamp. Por fim, “Elysium” se mostra pouco ambicioso ao se tornar um filme de ação convencional que desperdiça uma boa ideia que poderia render um filme impecável. O talento dos nomes envolvidos (tanto da direção de Blomkamp quanto do elenco) nessa produção não anula o debilitado roteiro, que buscou soluções fáceis para seu desenvolvimento. “Elysium”  precisava de algo mais para se tornar memorável como "Distrito 9"; precisava de muito mais. Ninguém espera que o fim da desigualdade social, como da segregação racial venha a acabar, ou pelo menos diminuir na melhor das hipóteses com apenas um reset.

Nota:  6/10
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