sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Crítica: Polissia | Um Filme de Maïwenn (2011)


Ganhador do prêmio do júri no Festival de Cannes de 2011, em 13 indicações ao César (o equivalente ao Oscar) o filme francês “Polissia” (Polisse, 2011) aborda um tema espinhoso que causa revolta somente de ouvir: violência contra menores (ainda um tema pouco abordado pela sétima arte com eficiência). Baseado em histórias reais mescladas em um único longa, o roteiro de Maïwenn (que também dirige e atua nessa produção) e Emmanuelle Bercot, tem nesse longa a sua trama erguida na rotina da BTM (Brigada de Proteção à Menores) na cidade de Paris. Crimes como pedofilia, tráfico de menores e prostituição de crianças, são a especialidade de investigação dessa força policial. Com policiais que buscam a solução dos crimes, a rotina de buscar evidências de abuso infantil, a prisão de menores infratores, a execução de interrogatórios em pais suspeitos de abuso e a coleta de depoimentos de pequenas crianças que muitas vezes desconhecem sua condição de vítimas de um crime, compõe o repertório de situações que essa produção objetiva. Além do mais, joga um certo foco sobre particularidades em volta dos membros dessa força policial, que retratados com realismo, transparecem naturalmente imperfeições.


Polissia” prega sem dúvida pelo realismo. Para começar pelo título, que escrito errado, remete ao fato dessa produção lidar com crianças em fase inicial de alfabetização, que consequentemente provoca alguns erros gramaticais grosseiros. Um aspecto interessante embutido na proposta oferecida de modo genial. Com uma narrativa convencional, a direção de Maïwenn (em seu terceiro longa) descarta qualquer invencionalismo. Pela impressionante ótica dos policiais, as chocantes histórias que inspiraram esse longa são contadas. Com a maior parte da trama se passa em ambientes claustrofóbicos, como nas pequenas salas da delegacia, Maïwenn constrói sua trama reduzindo o alcance do ambiente, mas ao mesmo tempo dando contornos de veracidade a sua trama (a câmera da diretora é frenética). Apesar de ser uma produção pequena, sem esmero visual que esbanja recursos, tem em sua aparência simples uma conexão forte com o espectador. Com um grande elenco, a repleta gama de personagens tem uma divisão de tela equilibrada e uma profundidade interessante, sendo todos os personagens bem aproveitados. O que sumariamente parecia um filme onde o destaque eram as crianças (o que na verdade não deixa de ser), a forma de se contar a história passa a ser os bastidores da delegacia e dos membros da força policial. E através desse grande elenco, o roteiro se aprofunda de modo interessante e necessário na rotina desses policiais, que lidam com alguns casos cruéis que não deixam às vezes muitas alternativas.

Polissia” perde um pouco de seu impacto pela repetição da rotina da polícia, mas ganha força pelo tom de alerta ao espectador quanto aos problemas indigestos da sociedade. Ver como os mesmos policiais que possuem sérios problemas de estrutura familiar em casa, precisam muitas vezes lidar em seu trabalho com crimes causados pela mesma escassez de estrutura de seus lares. Com um final provido de impacto, após um desenvolvimento formal de inquestionável funcionalidade, a diretora entrega um filme sincero e forte. Mesmo sendo uma obra necessária de ser conferida, possui ressalvas: devido a algumas cenas mais fortes que incomodam, também não é para todos os públicos.

Nota:  8,5/10

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