sábado, 27 de julho de 2013

Crítica: Wolverine - Imortal | Um Filme de James Mangold (2013)


De certo modo, não importa o que aconteça, mas Wolverine não morre. Primeiramente na ficção, onde seus poderes de regeneração dificultam a chegada a condição de morto. Depois disso, visto pela perspectiva real do negócio (leia-se comercial), mesmo após o negativo (X-Men Origens - Wolverine, 2009) que era o filme solo do integrante mais cultuado do grupo dos X-Men, o personagem continua com força para continuar sua jornada imortal. Como o universo das HQs está complexamente conectado, "Wolverine - Imortal" (The Wolverine, 2013) não passa de um preparo de terreno para "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido" previsto para 2014 (e sim, é onde a Marvel pensa em ganhar milhões em bilheterias). Mas a diferença entre "Wolverine - Imortal" do filme anterior é que além da fórmula de ação de sucesso aplicada, essa produção revela-se mais próxima da essência do personagem. Só isso já lhe confere alguma credibilidade. Infelizmente ainda está longe de ser impecável, porém o conjunto da obra conduzida por James Mangold está anos luz a frente do resultado conturbado promovido por Gavin Hood em 2009.



E se essa produção revela-se superior ao filme anterior, muito deve-se ao roteiro que explora melhor as nuances em volta do personagem, que dá oportunidade ao ator Hugh Jackman (em sua sexta interpretação do personagem) mostrar ao público porque ele ainda é a materialização cinematográfica perfeita desse cultuado ícone dos HQs. Em "Wolverine - Imortal" acompanhamos Logan (Hugh Jackman) distanciado do mundo e recluso feito um eremita em um habitat selvagem. Invariavelmente atormentado por pesadelos decorrentes de seu passado (mais especificamente sobre um período passado na Segunda Guerra no Japão) além da perda de um grande amor (Jean Grey), Logan não encontra paz. Quando um antigo conhecido de seu passado no Japão, Yashida (Hal Yamanouchi) a quem ele salvou na guerra o chama através de Yukio (Rila Fukushima) sua protegida, para ir para a terra do sol nascente com o intuito de lhe prestar um último agradecimento por seu ato heroico, Logan se mete em várias confusões passando a proteger sua neta, Mariko (Tao Okamoto). Aos poucos começa a perceber que sua volta ao Japão envolve uma série de mistérios a serem revelados.

O roteiro de Christopher McQuarrie, Mark Bomback e Scott Frank explora bem sua base, aqui focada em um arco de histórias de Frank Miller e Chris Claremont intitulada: Eu, Wolverine. E justamente pela exploração competente desse conteúdo, criou-se um roteiro superior se comparado ao filme de 2009. Aqui, traços relevantes do personagem estão na história (o desenvolvimento de suas motivações, de sua personalidade temperamental e de dramas conflitantes a volta de sua imortalidade) que enriquecem a narrativa, desmistificando essa produção como um produto meramente visual. Naturalmente esse elemento se destaca veemente (considerando que o diretor James Mangold tem priorizado esse fator em seus últimos trabalhos), mas não monopoliza sua narrativa. Habilidoso em conduzir tramas ágeis (Encontro Explosivo, 2010) ou produções de ambientação bem climatizadas (Os Indomáveis, 2007), Mangold se mostra uma escolha acertada a essa sequência. Existe um equilíbrio harmonioso entre a ação (produzida com esmero e requinte visual atribuído a uma direção de fotografia sombria e bem delineada) e a história que faltava para um dos personagens mais humanos do X-Men, ainda pouco explorado com competência desde que os dois primeiros episódios dos X-Men foram lançados.


Se a presença de Jackman se mostra excelente em vista aos filmes anteriores, a presença de seus adversários se apresenta oscilante, apesar do clima gerado sobre a presença do Samurai de Prata. A aparição dos ninjas são um espetáculo de coreografias marciais que floreiam o submundo da Yakuza de modo exagerado. Víbora (Svetlana Khodchenkova) balanceia com uma funcionalidade de tom caricato não negando as origens dos quadrinhos. Infelizmente, apesar dos oponentes serem ligeiramente fascinantes, há uma ausência de expressividade deles na película revertendo de forma negativa no conjunto. Suas presenças soam artificiais diante um longa que se vendia com realista. Consequentemente todo mérito dessa produção se volta para o protagonista (demonstrando que Hugh Jackman é um ótimo ator digno de habitar renomadas premiações) ao se apresentar bem à vontade em seu papel. 

No fim das contas, "Wolverine - Imortal" é uma gratificante aventura, emocionante e com um desenvolvimento simples e funcional. Mostra o brilhante ator que Hugh Jackman representa ser, como também demonstra a importância do personagem diante dos demais integrantes do X-Men, mesmo que essa produção não seja vista pela produtora, com o mesmo carinho que os fãs o veem. Contudo, uma cena pós-créditos fazem a alegria de fãs (não somente de Wolverine, mas do Universo dos X-Men) aguçando a imaginação antes do lançamento de "X-Men: Dias de um Futuro Esquecido". Imperdível.    


Nota:  8/10
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quinta-feira, 25 de julho de 2013

Crítica: Um Método Perigoso | Um Filme de David Cronenberg (2011)


Os trabalhos do cineasta canadense David Cronenberg sempre geram uma grande expectativa entre a crítica e fãs, onde a cada anúncio de lançamento vem seguido de várias especulações (todos querem prever o futuro em volta de suas realizações). Entretanto, às vezes acontece que essas expectativas são maiores do que seus próprios filmes. Por isso, uma das maiores desvantagens de ser um cineasta cultuado (onde os apreciadores de seu trabalho esperam constantemente a realização de projetos de inquestionável brilhantismo) é quando essas expectativas são afrontadas com uma produção de pouco efeito. Nem sempre o apelo por genialidade pode ser atendido, e uma vez ou outra, seu trabalho ganha contornos menos ousados e adjetivos menos acalorados. "Um Método Perigoso" (A Dangerous Method, 2011) converteu-se em completa decepção pelo resultado mediano que apresentou, e acima de tudo, contrário as expectativas. Toda a expectativa que a premissa desse longa-metragem sugeria, apenas resultou em um filme bem realizado e convencional que não reflete a capacidade dos envolvidos, principalmente de seu realizador. Em sua história acompanhamos a princípio quando o Dr. Carl Jung (Michael Fassbender) aceita tratar a doença da jovem Sabina Spielrein (Keira Knightley) através de um método criado por seu mestre, Sigmund Freud (Viggo Mortensen) o pai da psicanálise. Disposto a se aprofundar cada vez mais nos mistérios da mente, Jung testemunhará suas ideias colidirem com as teorias de Freud, como ao mesmo tempo, verá seu código de ética ruir diante de uma paixão conflitante e perigosa.

Embora David Cronenberg traga ao espectador alguns aspectos interessantes da história da psicanálise, ele segue a trajetória rala e superficial do roteiro sem se aprofundar verdadeiramente sobre a questão (ponto de maior destaque é o foco dado ao rompimento entre mestre e aluno). Um dos maiores problemas dessa produção está no roteiro baseado no livro "A Most Dangerous Method" de John Kerr, e na peça teatral "The Talking Cure" de Christopher Rampton (responsáveis pelo roteiro) já que a produção em si é tecnicamente irrepreensível (elenco, figurino e direção de arte estão fabulosos), com uma ressalva sobre a trilha sonora, pouco expressiva. Sua narrativa até começa bem (na apresentação de Sabina Spielrein como ponto de partida) no entanto o progresso torna-se lento, que leva o espectador a uma jornada de constante e repentina descoberta, que nada revela, além de um conflito amoroso sem novidades. E se o desenrolar da história se mostra arrastado, poderia ser pior, caso o competente elenco envolvido não fosse capaz de conferir a devida credibilidade a essa produção. As interpretações estão ótimas, apesar de uma clara preferência sobre o personagem de Jung. O personagem de Viggo Mortensen em teoria é a motivo da existência dessa obra (o qual está interpretativamente bem composto) mas o o filme acaba sendo de Michael Fassbender, já que boa parte do enredo é focado em seus conflitos pessoais e em sua conturbada relação amorosa com Keira Knightley.

De certo modo "Um Método Perigoso" ainda é um bom filme, onde seu maior pecado reside em não atender as expectativas do público, mal acostumados em serem surpreendidos por obras estarrecedoras (leia-se Senhores do Crime e Cosmopolis) cada vez mais frequentes. Dentre suas obras mais convencionais, as quais detinham uma mensagem e seu estilo mais explicito, essa obra perde pontos pela exploração de um melodrama pouco enfático. Como um longa de estudo e conhecimento pode ter suas qualidades encrustadas e ocultas na narrativa (infelizmente distantes do grande público), mas como obra cinematográfica demonstra carência e distância do que se esperava do cultuado cineasta.  


Nota:  6/10

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quarta-feira, 24 de julho de 2013

Crítica: Guerra é Guerra | Um Filme de McG (2012)


Tuck (Tom Hardy) e FDR (Chris Pine) são dois experientes e bem sucedidos agentes da CIA. Grandes amigos dentro e fora do trabalho, ambos vivem uma rotina perigosa devido a sua profissão, onde a confiança depositada em seu parceiro é fundamental para sobreviver. Mas essa imprescindível confiança fica abalada quando descobrem estar namorando a mesma mulher, Lauren (Reese Witherspoon). A princípio para não abalar a amizade, decidem que cada um seguiria seu caminho deixando a moça fazer sua escolha de forma natural para resolver esse impasse. Porém em um ramo competitivo como na espionagem, ao qual fazem parte, seus instintos os levam a competir entre si pelo coração da poligâmica jovem numa disputa de forças nada comum. "Guerra é Guerra" (This Means War, 2012) é uma típica comédia romântica que mais promete do que cumpre. Se a premissa à primeira vista possa parecer interessante, sua realização demonstra um desperdício de uma ideia que fecha bem com gênero no qual habita: um trio romântico de grande evidência ao grande público, cenas de ação bem feitas e muitas extravagâncias a cerca de seus personagens que rendem boas tiradas de humor. O problema é que o processo de desenvolvimento da trama não leva a lugar nenhum, além do fato de que, as melhores piadas em volta da situação dos protagonistas, foram entregues de graça no trailer. E mesmo com uma produção competente, que remete a lembrança de "Sr. e Sra. Smith" (2005), não salva esse longa-metragem de um resultado mediano.



A escolha do elenco era apropriada demais para ser a culpada: tanto Chris Pine (Além da Escuridão Star Trek, 2013) quanto Tom Hardy (Batman - O Cavaleiro das Trevas Ressurge, 2012) estavam sob os holofotes por outras produções mais ambiciosas, lhes concedendo certo destaque na mídia antes mesmo das estreias; ao mesmo tempo em que Reese Witherspoon, mesmo sendo figurinha repetida em comédias despretensiosas como essa, e que já não convencia mais como antigamente, ainda assim trazia certo retorno nas bilheterias. Sem falar do vilão (Til Schweiger) que nem precisa ter, diante da capacidade de destruição das mazelas do amor. E o diretor McG (As Panteras, 2000) tinha em sua filmografia um sucesso bem ao estilo dessa produção, que já lhe concedia alguma experiência que poderia fazer a diferença no fim da história. E se o grande problema dessa comédia chamada "Guerra é Guerra" não está necessariamente na composição dos elementos, está na mistura. O roteiro não ajuda, a direção é apressada feito os clipes que diretor McG fazia no inicio de carreira e o trio romântico não é de todo harmonioso. De resto, sobra boas cenas de ação, umas tiradas de humor que podiam ser melhores e um desenvolvimento previsível para o espectador. Se no amor e na guerra vale tudo, no cinema essa regra não quer dizer nada.


Nota: 6/10


segunda-feira, 22 de julho de 2013

Dennis Farina (1944 - 2013)

O mafioso Abraham Denovitz, também conhecido como o "Primo Avi" em "Snatch - Porcos e Diamantes" (2000) foi o que mais me marcou! Vai deixar saudades. 

Crítica: Falcão Negro em Perigo | Um Filme de Ridley Scott (2002)


Em outubro de 1993, os Estados Unidos da América interveio na Guerra Civil da Somália enviando um grande contingente de soldados para dar suporte através de comida e ajuda humanitária para a população abandonada a própria sorte. Em uma ação paralela, cerca de 100 soldados foram enviados para capturar dois generais do exército somaliano do regime do ditador Mohamed Farrah Aidid em uma operação que em teoria não se apresentava um desafio. Contudo, quando dois helicópteros Black Hawk foram abatidos por atiradores do exército local, começa um grande conflito entre soldados americanos e radicais somalis que se perpetuou em batalha pela sobrevivência que durou por mais de 15 horas e resultou em centenas de mortes. "Falcão Negro em Perigo" (Black Hawk Down, 2002) como todo filme produzido por Jerry Bruckheimer é tecnicamente impecável: tem sonoridade e apelo visual de contornos marcantes. Ultrapassada a barreira da necessidade de uma produção convincente, esse filme é preenchido com a condução de um cineasta que demonstrou através de sua filmografia, que tem apreço por retratar conflitos armados, desde o medieval (O Gladiador, 2000), aos modernos círculos militarizados (Até o Limite da Honra, 1997) ou (Rede de Mentiras, 2008) da sociedade contemporânea. O diretor Ridley Scott é o elemento imprescindível que organiza e condiciona todo o ambiente brutal desse evento em uma exibição bem realizada que transporta o espectador para a ação. 


Baseado no livro de Mark Bowden, acompanhamos através do roteiro de Ken Nolan as consequências de uma equivocada operação militar baseada em fatos verídicos. Com uma retratação focada no caótico ambiente em questão, a narrativa presa por uma retratação visual realística e ao mesmo tempo brutal. Perde carisma pela apresentação de uma série de clichês batidos, ao mesmo tempo que não desenvolve uma história relevante que margeie de modo significativo a premissa. Apesar de um elenco repleto de experientes atores (Josh Hartnett, Eric Bana, Tom Sizemore, entre outros), a direção de Scott não se aprofunda em explorá-los, se restringindo apenas em conduzir o espectador por um campo de guerra explosivo e violento. Com um tom exageradamente patriótico, a narrativa cujo lema "não deixaremos ninguém para trás" se mostra filosoficamente maravilhosa, mas que na prática, somente irá gerar mais baixas de soldados devido à feitos heroicos despreparados. Perde pontos por causa desse aspecto que mina a funcionalidade desse longa: o fato das rédeas criadas pelo roteiro que prioriza uma retratação solene da luta pela sobrevivência dos soldados, mas não cria uma drama cinematográfico importante. Se os fatos ganham contornos eficazes, há uma séria falha na construção de uma ficção dramática original que ligue o espectador com a produção. Por fim, "Falcão Negro em Perigo" se mostra um fluente espetáculo visual recriado brilhantemente em detalhes. Todo caos bélico da ação ganha uma condução que no fundo não passa de uma veneração a supremacia americana sobre outro povo - querendo ou não, ainda assim trata-se de uma demonstração de uma surra que a ofensiva levou dos somalis por subestimá-los. Além disso uma justificativa indireta para incursão militar americana em outra nação. Se não fosse pelas qualidades técnicas, essa produção seria um tiro no pé dos envolvidos.     

Nota:  6,5/10

sábado, 20 de julho de 2013

Crítica: O Homem de Aço | Um Filme de Zack Snyder (2013)


O Super-Homem retorna as telas de cinema. Em "O Homem de Aço" (Man of Steel, 2013) somos apresentados a um reboot que leva o nome de Zack Snyder nos créditos de realizador, embora seja evidente a influência de seu produtor, Christopher Nolan nas qualidades em volta dessa produção. E uma das qualidades mais expressivas desse filme reside na ação interrupta, diferentemente do fracassado longa "Superman - O Retorno" dirigido por Bryan Singer em 2006 (que muitos fãs querem esquecer). Outra virtude que compõe a obra seria o tom reflexivo e ao mesmo tempo realista dado ao personagem, perfeitamente conectado a aclamada franquia Batman que foi de toda responsabilidade de Christopher Nolan. Contudo, o roteiro se mostra maduro ao equilibrar toda a explosiva ação com uma dose expressiva de dramaticidade, de uma forma diferente de como já havia sido abordado em outras produções acerca desse, que é um dos mais conhecidos super-heróis do mundo. Naturalmente trata-se de um reboot que apenas se propõe a recontar a história bem conhecida sobre Ka-El (Henry Cavill) kryptoniano enviado a Terra ainda um recém-nascido  por seu pai, Jor-El (Russel Crowe) antes da completa destruição de seu planeta, Krypton. Ka-El é encontrado e criado por Jonathan e Marta Kent (Kevin Costner e Diane Lane) ao qual o chamaram de Clark Kent. No processo de crescimento logo descobre que tem super-poderes e dúvidas sobre si mesmo, o confrontando com um dilema existencial: ser um herói ou um conquistador. Para piorar a Terra é invadida por um semelhante, também Kryptoniano chamado General Zod (Michael Shannon) que havia sido aprisionado na zona fantasma, mas que com a destruição do seu planeta escapou e veio na busca do herdeiro de seu maior inimigo. Além da vingança, Zod planeja dominar a Terra e reerguer sobre suas ruínas o extinto planeta Krypton.


"O Homem de Aço" era um grande e difícil desafio a ser roteirizado, porém não impossível. Como em Batman, lhe foi dado contornos interessantes. E se as cenas de ação que permeiam a longa duração desse filme acabam tendo um grande destaque por seu condicionamento técnico impecável ou pela condução visual imaginativa (a destruição de Krypton nunca antes havia sido abordada com tanto destaque, materializando esse evento na mente de fãs com o devido respeito) como também a batalha decisiva entre Super-Homem e o General Zod com um ofuscante brilho de Blockbuster , as relações pessoais de Clark não hostis (entre seus pais adotivos principalmente) ganha uma abordagem dramática convincente e de uma profundidade razoável. O inglês Henry Cavill (Os Imortais) funciona adequadamente no papel de Homem de Aço (unindo na medida do possível talento de atuação com uma postura física respeitável e condizente com a estética do personagem). Cavill não envergonha a memória do icônico Christopher Reeve, como também o coadjuvante de luxo, Russel  Crowe mostra presença de tela semelhante ao seu antecessor, Marlon Brando. Entretanto, o destaque dado a Louis Lane (Amy Adams) causa certa estranheza e por vezes soa um pouco forçada, embora atenda as necessidades do conjunto. A escolha de Michael Shannon no papel de vilão Kryptoniano não podia ser mais feliz, já que concedeu ao personagem uma magnitude de contornos fantásticos incrivelmente fascinante, auxiliado pela presença de Antje Traue. O roteiro aborda bem o universo do Homem de Aço, e acima de tudo, em aspectos diferentes e inéditos na telona. A narrativa aplicada por Zack Snyder para essa produção sobre as origens do personagem soa um pouco arriscada em vários momentos, como no uso exagerado de flashbacks se mostra excessivo e desrespeitoso com a cronologia dos acontecimentos. O efeitos visuais, exagerados que fazem lembrar várias outras superproduções de sucesso cansam um pouco (o tom grandioso e épico nem sempre funciona acertado como um relógio). A icônica trilha sonora é substituída por uma trilha diferente. Entre erros e acertos, Snyder nos apresenta uma aventura nos moldes de superproduções do gênero, bem realizada, mas diferentemente do que se esperava.

Havia uma promessa de reinvenção nessa produção que não se cumpriu devidamente. Os nomes de Christopher Nolan e David S. Goyer associados a essa produção (após a materialização de uma franquia milionária através de Batman) aliados a um diretor experiente na condução de transposições de HQs para telona (300 e Watchmen), deixou fãs em polvorosa. Obviamente mais pela associação de Nolan ao projeto, do que propriamente de Snyder, que somente tinha em sua filmografia um único sucesso de bilheteria apesar da oscilante genialidade. Embora "O Homem de Aço" seja um filme de ação impressionante (diferente do que se viu antes acerca do personagem) não é revolucionário como se imaginava. Naturalmente é uma história competentemente orquestrada e respeitosa ao personagem, repleta de bons momentos e merecidamente necessária. Contudo demonstra dividir opiniões, apesar da receptividade nas bilheterias que lhe garantem uma provável continuação.

Nota:  8/10

quinta-feira, 18 de julho de 2013

Crítica: Tron - O Legado | Um Filme de Joseph Kosinski (2010)


Exatamente 28 anos após o lançamento de "Tron - Uma Odisséia Eletrônica" (1982), a Walt Disney lançou uma sequência de um longa-metragem clássico ao qual muitos sempre consideraram uma irremediável obra incompeendida por um seleto grupo de admiradores. Em contrapartida, para outros sempre foi visto apenas como um filme regular (visualmente interessante, mas pobre de roteiro) que não teve um envelhecimento saudável, já que para as gerações mais recentes, tratava-se de um filme completamente desconhecido. Se o filme original virou foco de culto, o destino não reservou o mesmo status a sua continuação. Porém "Tron - O Legado" (Tron Legacy, 2010) é inegavelmente melhor em vários aspectos, apesar de seguir na mesma linha narrativa: um roteiro que perpetua suas fraquezas e um visual fabuloso dominado por neons e luzes translúcidas que enchem os olhos do espectador. Essa produção é favorecida pelas melhorias de geração de efeitos visuais que o original não dispusera em seu tempo. Em sua história acompanhamos Sam Flynn (Garrett Hedlund) filho do gênio da tecnologia que misteriosamente desapareceu sem deixar rastros. Kevin Flynn (Jeff Bridges) está desaparecido desde a década de 80, mas seu filho acredita que ele ainda está vivo, o que o leva a buscar informações que esclareçam que destino seu pai teve ou nas melhores das hipóteses, o levem ao paradeiro dele. Quando inexplicavelmente é chamado para o velho arcade do pai, onde é engolido pelo mesmo mundo de ferozes programas e gladiadores virtuais onde seu pai se encontra a anos.



De visual único e uma história questionável, essa produção procura ganhar o espectador pelos olhos, desde a abertura (com o logotipo da produtora), passando pelo mundo real (quando Sam custura o trânsito da cidade com sua moto e salta de paraquedas do topo de um prédio) até culminar antes da metade no universo virtual de inúmeras passagens deslumbrantes. Portanto, qualidades técnicas para essa produção não faltam: direção de fotografia, arte e montagem estão em plena sintonia com a proposta dessa produção. Entretanto, nem tudo é luzes. O elenco demonstra equívocos, essencialmente na escolha de Garrett Hedlund (Na Estrada, 2012) como filho de Jeff Bridges - o jovem se mostra pomposo. Enquanto Bridges está a vontade em seu papel, apenas se diverte ao reviver um personagem depois de décadas. Contudo, Olivia Wilde (O Preço do Amanhã, 2011) surpreende, se mostrando um grata e bela surpresa. Com uma trilha sonora elegante de Daft Punk acentuado a riqueza visual do filme, essa produção se mostra um bom programa de entretenimento para os sentidos. Mas a direção de Joseph Kosinski (oriundo da publicidade) em seu primeiro longa cinematográfico presa pela estética ao invés da substância - a artificialidade do enredo é levada ao processo do conjunto da obra. Mas apesar de algumas deficiências óbvias em volta desse longa-metragem (considerando inegavelmente de que se trata de apenas mais produto para Disney)  "Tron - O Legado" funciona melhor do que seu antecessor, tornando-se um raro caso onde a continuação é melhor do que o original embora não seja muito diferente em seu conceito. 

Nota: 7/10



quarta-feira, 17 de julho de 2013

Crítica: Os Gatões - Uma Nova Balada | Um Filme de Jay Chandrasekhar (2005)


Em uma pequena cidade sulista dos Estados Unidos, os jovens primos Luke (Johnny Knoxville) e Bo (Seann Willian Scott) são especialistas em arranjar encrenca. Dentro de um Dogde Charger alaranjado carinhosamente apelidado de General Lee, os dois jovens tem uma reputação bem conhecida de arranjar problemas e de se meterem em confusões: correm como loucos de carro pelas ruas da região, comercializam ilegalmente bebidas fabricadas pelo tio Jesse (Willie Nelson) debaixo do nariz da polícia, e arranjam intrigas amorosas que fogem do controle constantemente. Mas seus problemas começam mesmo, quando o poderoso da cidade, o coronel chefe Hog (Burt Reynolds) intenciona tomar as terras da família Hazzard para explorar petróleo. Assim a dupla de primos, com a ajuda da belíssima prima Daysy Luke (Jessica Simpson) farão de tudo para que os planos de Hog não tenham sucesso. "Os Gatões - Uma Nova Balada" (The Dukes of Hazzard, 2005) é um remake de uma famosa série de televisão lançada no final dos anos 70, onde cada episódio era estruturado nos seguintes moldes: a dupla espontânea de primos lutando contra algum ricaço sem escrúpulos da cidade, tendo a prima (uma beldade desfilando em tela) como atrativo para as aventuras embaladas pelo carrão descontrolado. Essa produção segue a mesma fórmula que consagrou o seriado, que automaticamente exala nostalgia, sem substância e muita diversão.



O diretor Jay Chandrasekhar leva à risca sua narrativa que homenageia o seriado gerando uma consequência: gerou um déficit arrebatador acerca do roteiro que acaba por desagradar quem não aprecia aventuras escrachadas - o resultado é quase uma paródia do sucesso da série. Embora isso não tire o carisma da produção necessariamente, já que todo conjunto da obra é explicitamente erguida em prol do entretenimento nostálgico e descompromissado, que esbanja diabruras por parte dos anti-heróis e sensualidade pela parte do elenco feminino, essa produção funciona. Se a sensual Jessica Simpson atrai os olhares dos marmanjos, a dupla de atores, Johnny Knoxville (Jackass, 2002) e Sean Willian Scott (Bem-Vindo à Selva, 2003) demonstra entrosamento com boas piadas e muita sacanagem mesmo sem ostentar interpretações primorosas, que agrada ambos os sexos. O personagem de Seann Willian Scott deve ser brasileiro de alma. Por quê? Por causa da quantidade de piadas acerca de seu carro e o ciúme que demonstra sobre ele - seu personagem praticamente o idolatra proporcionando ao espectador momentos muito bem aproveitados e divertidíssimos. Essa conveniente parceria rende boas risadas que até poderia ter rendido uma boa dupla de humor a longo prazo, caso essa produção não tivesse se saído tão mal nas bilheterias após ser ostensivamente alvejado por críticas negativas. Quanto ao restante do elenco principal, entre interpretações clichês o experiente Burt Reynolds está no auge da mediocridade. Com uma boa trilha sonora e boas cenas de ação e perseguições, o filme tem momentos inspirados que despertam empolgação e expectativa no espectador - o assalto do carro é uma loucura. 

"Os Gatões - Uma Nova Balada" não vai mudar a vida de ninguém, e até porque, mudanças não eram nem de longe a pretensão dessa produção. Trata-se sim, de uma típica aventura Hollywoodiana como tantas outras, com cenas de ação frenéticas, piadas preconceituosas e alguma nudez gratuita para colorir a película, e que no caso dessa, foi baseada num clássico seriado americano protagonizada por heróis incomuns, e que por aqui nem era visto como aquilo tudo. Essa produção teve um resultado meio que decepcionante nos cinemas, entretanto, talvez igual a sua inspiração, pode funcionar melhor na telinha mesmo.  


Nota: 7/10




terça-feira, 16 de julho de 2013

Crítica: Um Ato de Coragem | Um Filme de Nick Cassavetes (2002)


A goiaba não cai muito longe do pé. Filho de John Cassavetes, o diretor Nick Cassavetes além de hábil roteirista (Profissão de Risco, 2002) tem tato para direção – isso sem contar seu gosto pela atuação. Se seus trabalhos mais recentes não foram marcados de relevante presença, houve outros mais antigos que foram mais expressivos. “Um Ato de Coragem” (John Q, 2002) uma produção que potencializa o inconformismo diante da impotência de não poder fazer nada, consegue prender a atenção do espectador do começo ao fim, quando não fazê-lo se esvair em lágrimas. Em sua história acompanhamos John Quincy Archibald (Denzel Washington) um sujeito normal que anda passando por problemas financeiros. A única coisa que mantém sua sanidade diante das dificuldades econômicas é a vida familiar. Mas quando seu filho tem um ataque durante um jogo de beisebol, levando a ser hospitalizado em um hospital particular. Depois do susto causado pelo ataque, vem o drama de Archibald: o estado de saúde do garoto é crítico, e ele precisa de um transplante de coração urgente, mas seu plano de saúde não cobre a operação. Embora com toda a ajuda de amigos e conhecidos, ele está longe de alcançar o valor necessário para o tratamento. Pressionado pela mulher e completamente desesperado para salvar a vida do filho, ele resolve invadir o pronto-socorro do hospital e fazer um grupo de pessoas como reféns até que seu filho seja atendido – com ou sem cobertura do plano de saúde.


Com um elenco afinadíssimo composto por Denzel Washington, Robert Duvall e James Woods, entre outros, o diretor Nick Cassavetes realiza uma produção tensa, polemica e emocionante. O astro Denzel Washington acerta precisamente na carga dramática de seu personagem, como também Robert Duvall, mediador nas negociações desta delicada situação. Enquanto James Woods estremece o espectador a certa altura em sua postura de médico e louco, o filme toma todos os rumos possíveis até um desfecho vibrante – inevitavelmente previsível.  A produção tem os contornos precisos de um filme feito sob medida para emocionar, que faz de uma trama simples, algo surpreendente. Apesar de resultado improvável – como destino resolve tudo quando se menos se espera - a fita convence até o mais cético dos espectadores. E muito se deve ao desempenho do elenco, comprometido com a proposta da produção e do diretor, que apresentou as tramas paralelas em volta dos reféns no hospital – que entreteve o espectador por quase a metade da duração do filme – com a mesma qualidade que focou em seu elenco principal. “Um Ato de Coragem” é um excelente filme, embora pouco conhecido da filmografia de Denzel Washington. A montagem que apresenta algumas cenas costuradas dá a dica do previsível desfecho, entretanto isso não tira de certo modo o brilho do conjunto, já que a inevitável choradeira, começa bem antes mesmo do final.

Nota: 7,5/10

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Crítica: Uma Ladra sem Limites | Um Filme de Seth Gordon (2013)

 

O diretor Seth Gordon foi mais feliz na realização de “Quero Matar Meu Chefe” (2011). De uma história absurda em todos os sentidos, ele conseguiu um resultado no mínimo inusitado, sendo que esse longa em sua premissa não tinha nada de novo, mas tudo acertadinho para se apresentar uma comédia repleta de personagens interessantes e excêntricos bem ao estilo dos filmes dos irmãos Farrelly. Agora, “Uma Ladra sem Limites” (Identity Thief, 2013) erra feio ao apresentar uma trama desinteressante nos moldes de um road movie que não chega em lugar nenhum ao unir diferentes personalidades numa mesma jornada. Se a ideia em teoria tinha seu brilho, acabou perdendo pontos por não cumprir a promessa de ser engraçada como aparentava. Em sua história acompanhamos Sandy Patterson (Jason Bateman) um morador de Denver que tem um nome que remete ao nome de uma mulher. Mas ele é homem, e tem uma bela esposa (Amanda Peet) e duas lindas filhas. Detalhes a parte, certo dia ele descobre que sua identidade foi usada numa fraude de cartões de crédito por uma golpista chamada Diana (Melissa McCarthy) que lhe conferiu dívidas e deixando seu nome associado à série de delitos. O único jeito dele reverter essa situação é encontrar a tal mulher que anda pela Flórida e trazê-la para Denver para responder por seus crimes e limpar o nome de Sandy. Mas o que parecia ser uma tarefa fácil em teoria, se mostra uma jornada bem complicada permeada por uma série de obstáculos e personagens que dificultarão que a justiça se faça.


A eventual viagem da Flórida a Denver poderia ter sido mais bem explorada. De estampa humorística, o longa pisa muito forte em terreno dramático, mexendo em assuntos delicados sem uma abordagem verossímil - o filme costura situações e invalida o sistema da justiça, deixando crer que a única forma de alcança-la é fazendo você mesmo. Aos poucos a comédia vai se perdendo ao decorrer do trajeto, repleto de solavancos emocionais, e ainda mais com o surgimento de mais e mais personagens para dividir a atenção do espectador. Assim tudo vira muito papo, bastante correria, e poucas tiradas de humor que funcionem de verdade. Por fim, nem mesmo os talentosos protagonistas conseguem dar o tom certo a essa produção. Enquanto Jason Bateman é a imagem do cidadão norte-americano ideal, a atriz Melissa McCarthy retrata o inverso, num confronto que até rende bons momentos, mas que não se multiplicam ao decorrer de toda duração do filme. Naturalmente tem um final feliz e politicamente correto pouco expressivo, mas que pouco importa sendo que se trata mesmo de uma comédia, onde sua glória deve ser encontrada acima de tudo no processo. “Uma Ladra sem Limites” se mostra um desfalque na filmografia dos envolvidos – pelo menos de modo crítico. Sucesso de bilheteria, produções do gênero tem tido sempre uma boa aceitação de público independente do resultado.

Nota: 5,5/10

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Crítica: Dezesseis Luas | Um Filme de Richard LaGravenese (2013)


Dezesseis Luas (Beautiful Creatures, 2013) foi constantemente comparado a Crepúsculo, embora não seja diretamente igual. Mas a semelhanças existem, sutis no produto e gritante nas pretensões. Esse modismo de romancear tramas sobrenaturais protagonizadas por jovens que vivenciam conflitos Shakespearianos tem rendido um novo filão lucrativo para o cinema, e esse é o principal motivo das inevitáveis comparações. A existência do segundo veio em função do sucesso do primeiro. De resto, os universos abordados se diferem totalmente, apenas deixando a sensação de que "Dezesseis Luas" segue no rastro de um mercado que demonstrou uma energia empolgante para os estúdios Hollywoodianos. Baseado na série literária de Kami Garcia e Margaret Stohl, os contornos dados ao trabalho das autoras acabou se assemelhando em muito com o de Stephenie Meyer (justamente porque seu foco é no mesmo público alvo) órfão de um objeto de culto cinematográfico após o término de outras franquias juvenis, além de "Crepúsculo", inspiradas em sucessos literários. Se o materiais impressos das histórias não possuem uma conexão presente, o mesmo não pode-se dizer das transposições cinematográficas das obras. A história  dessa produção se passa na cidade de Gatlin, na Carolina do Norte, onde acompanhamos Ethan Wate (Alden Ehrenreich) um estudante do terceiro ano, ansioso em se formar e sair daquela cidade o breve possível. Mas para sua surpresa ele acaba conhecendo Lena (Alice Englert) uma jovem misteriosa que acaba de se mudar e está morando com seu tio, Macon Ravenwood (Jeremy Irons) um homem visto com muito preconceito pelos demais moradores da cidade. Aos poucos os jovens vão se conhecendo e apaixonando-se, o que resulta consequentemente em um grande amor. Contudo, Ethan descobre que Lena é uma conjuradora (bruxa) e que aos 16 anos ela passará por uma transformação que determinará para que lado seu destino a levará: o da luz, ou das trevas. Com o peso de uma maldição na família, o espírito de sua mãe (Emma Thompson) fará de tudo para levar Lena para as trevas e se tornar a conjuradora mais poderosa da história.


Com uma estética visual que atende ao enredo, efeitos visuais de funcionalidade comprovada em outras produções que não geram decepção, uma direção competente de Richard LaGravenese (Escritores da Liberdade e PS: Eu te Amo) apesar de ainda assim nada inovadora, o conjunto da obra somente perde intensidade devido a falta de química de seus protagonistas - são raros os momentos que trazem emoção. Um pouco pela falta de expressividade do casal, mas também por culpa de algumas deficiências do roteiro, que apesar de alguns diálogos inspiradores retirados de grandes obras da literatura, está repleto de frases inocentes e situações constrangedoras que não ajudam numa composição madura ao filme - apesar do desenvolvimento simpático, está distante de ser inovador. Em contrapartida, a parte do elenco mais experiente equilibra a balança, presenteando o espectador com grandes interpretações (clichês) que trazem um certo carisma a produção como um todo. Diga-se Emma Thompson, numa interpretação caricata e divertidíssima da imprescindível bruxa má da história. 

Por fim, "Dezesseis Luas" tem uma trama divertida, um romance adolescente sem grandes reviravoltas e um toque sobrenatural que não encanta tanto quanto os estúdios imaginavam. Demonstra ao final, não ser um produto que garanta o apreço de fãs de outras franquias juvenis, como ao mesmo tempo, também abre margem para conquistar novos apreciadores desse formato de entretenimento que anda moda. Se a produção não atende aos apreciadores da Saga Crepúsculo, culpa dos realizadores que tentaram vender gato por lebre sem ter o total domínio da magia.



Nota: 7/10
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quarta-feira, 10 de julho de 2013

Crítica: Ataque ao Prédio | Um Filme de Joe Cornish (2011)


Um gangue de adolescentes do subúrbio de Londres capturam e matam uma espécie alienígena em uma de suas andanças noturnas. Com intuito de ganhar alguma coisa com a descoberta, levam os restos mortais do alienígena para chefão do crime do bairro. Mas o que eles não imaginavam, era que eles haviam capturado apenas o primeiro de uma agressiva invasão. Fugindo pelas ruas de um bairro pobre da cidade, a gangue se refugia nas dependências do prédio onde moram, ao qual irão defender com todas as forças. Curiosamente essas criaturas estão passando totalmente desapercebidas pelos cidadãos, mas estranhamente estão obstinadas em persegui-los, os encurralando no prédio, que passa a virar um grande campo de guerra. "Ataque ao Prédio" (Attack the Block, 2011) remete a produções dos anos 80 que misturavam terror, humor e aventura com eficiência e carisma. Oriundo da Inglaterra, essa produção está segura de sua proposta (descompromissada), evidenciada na direção de Joe Cornish, e principalmente no baixo orçamento típico de filmes B aos quais tem como referência. Enquanto seu concorrente estadunidense (Super 8, 2011) ostentava uma campanha milionária e renomados nomes na produção, "Ataque ao Prédio" surpreende pelo resultado bacana, apesar da pouca estrutura disponibilizada e a aplicação escancarada de inúmeros clichês.



Com um elenco relativamente desconhecido, não há um claro favoritismo de sobreviventes explícito na história, deixando todos os personagens até um segundo ato, ser uma vítima em potencial do confronto homem vs alien. Confronto esse que rende boas risadas e muita ação, já que os jovens delinquentes não se rendem fácil a ostensiva caçada dos alienígenas (os extraterrestres visualmente mais criativos do cinema em anos) criados com efeitos especiais competentes que atendem a necessidade da produção. No meio da correria, surge discussões convenientes sobre desigualdade social, dificuldades econômicas e companheirismo, numa trama erguida de forma maniqueísta, embora estrategicamente funcional. "Ataque ao Prédio" nasceu para ser Cult. Diferentemente de grandes produções de ficção científica que tem tomado as salas de cinema em 2013, essa produção funciona melhor na telinha, ou pelo menos não perde suas mais enfáticas virtudes: uma história simples contada de modo linear, efeitos bacanas sem exageros visuais e um desfecho suportadamente previsível (mas feliz) como tem que ser, se quiser fazer uma boa homenagem as produções que possui como referência. Enfim, uma fita para ser conferida por fãs do gênero ou espectadores cansados de mega-produções.

Nota: 7/10  

sábado, 6 de julho de 2013

Brokeback Mountain 2


A sequência que jamais será filmada...

sexta-feira, 5 de julho de 2013

Crítica: Killer Joe – Matador de Aluguel | Um Filme de William Friedkin (2011)


Esse filme não existe. Dirigido pelo responsável de filmes icônicos como “Operação França” (1971) e “O Exorcista” (1973) entre muitos outros menos relevantes, William Friedkin tenta a todo custo voltar ao brilho dos holofotes, misturando uma dose ardente aos olhos de violência e um humor negro inesperado. O que torna esse longa-metragem improvável é justamente o nome de seu realizador. Essa viagem white trash realizada por William Friedkin beira a uma tentativa desesperada de novamente fazer parte do primeiro time de Hollywood. “Killer Joe – Matador de Aluguel” (Killer Joe, 2011) é a materialização de uma peça de Tracy Letts, também responsável pelo material de “Possuídos” (2006), filme anterior do cineasta. Em “Killer Joe – Matador de Aluguel” acompanhamos uma família disfuncional, na qual Chris (Emile Hirsch) planeja mandar matar a mãe para pegar o dinheiro de um seguro de vida de cinquenta mil dólares para pagar uma dívida com traficantes. Com a ajuda do pai, Ansel Smith (Thomas Haden Church) e a aprovação da madrasta, Sharla (Gina Gershon) entram em contato com um detetive da polícia de Dallas, chamado Joe (Matthew McConaughey) que faz eventuais trabalhos de assassino de aluguel nas horas vagas. O problema é que Chris não tem o dinheiro para pagar o serviço até que receba o dinheiro do seguro, e Joe não o fará até que receba o pagamento. A solução se encontra, no uso da irmãzinha de Chris, Dottie (Juno Temple) como garantia pelo serviço. Mas como esperado, o que não parecia em momento algum uma boa ideia, tornou-se um pesadelo incontrolável.


Se há uma verdade em volta dessa produção, é que ela serve mais para causar polemica do que propriamente divertir. Profundamente estranha, da premissa ao desfecho, talvez essa tenha sido a verdadeira intenção do cineasta. Com cenas de violência cruas, e duas sequencias de sexo – uma envolvendo pedofilia, e outra com um sexo oral indigesto, com destaque para Gina Gershon e uma coxa de frango – requer do espectador estômago para acompanhar os eventos protagonizados por essa família. E se a estética e narrativa dessa produção se apresenta incômoda, ela acaba por ganhar pontos pelo desempenho do elenco, sem exceção, profundamente comprometido com a proposta diferenciada da produção. Sobretudo, ao papel de Matthew McConaughey, que habituado a estrelar comédias românticas insonsas e filmes óbvios, emerge completamente num papel diferente da cartilha premeditada a galãs de seu quilate. Sua presença em tela é o elemento mais gratificante dessa produção, como também o mais inquietante. No entanto, o restante do elenco não faz feio, e completa as possibilidades do roteiro, dando vigor para essa trama energizada com absurdos e fatalidades que não irão agradar a todos os espectadores, fãs ou não do cineasta. “Killer Joe – Matador de Aluguel” é um longa com diálogos ligeiramente interessantes, cenas antológicas e atuações fortes que levam o espectador a um clímax no mínimo desconcertante, deixando o espectador perdido, para não dizer confuso. Mas seu maior problema reside no conjunto que não funciona de modo natural, quando que, evidencia uma clara tentativa do cineasta de chocar mais o público, do que propriamente de contar para ele uma história.

Nota: 6/10

quinta-feira, 4 de julho de 2013

Crítica: Choke - No Sufoco | Um Filme de Clark Gregg (2008)


Victor Mancini (Sam Rockell) é um trapaceiro, viciado em sexo e de personalidade expressivamente perturbada. Trabalha como ator em um parque temático, tem amigos tão excêntricos quanto ele, e uma família que lhe confere mais problemas do que soluções. Nunca conheceu seu pai, e sua mãe (Angelica Huston) está internada em uma clínica com Mal de Alzheimer. A intenção de visita-la constantemente é para ajudar, mas tem rendido mais aborrecimento do que resultado. Nesta mesma clínica, ele conhece uma médica, Paige  Marshall (Kelly MacDonald) a qual desenvolve uma espécie de relação afetiva estranha e que pode mudar a vida deles e rumo das coisas. Adaptado do romance de Chuck Palahniuk, "Choke - No Sufoco" (Choke, 2008) foi transposto para o cinema por Clark Gregg (mais conhecido como o Agente Phil Coulson do Blockbuster Os Vingadores) que tenta de ser modo, cativar o mesmo espectador que cultuou outro filme baseado na obra do escritor, o "Clube da Luta" (1999) - inclusive há vários elementos narrativos semelhantes em sua composição. Mas por mais interessante que possa ser essa produção, "Choke - No Sufoco" não tem o carisma e apelo (para não dizer a direção visionária de David Fincher) que fez de "Clube da Luta" uma produção icônica para cinéfilos do mundo inteiro, e por isso, acaba por perder um pouco do impacto dos diálogos, do humor irônico e das situações bizarras que são marcas registradas do autor. O lado subversivo continua presente, com personagens que andam a margem da sociedade, envoltos em situações incomuns, mas com um efeito menos instigante no conjunto.

Mas uma coisa é certa: como o ator Brad Pitt estava para Tyler Durden em "Clube da Luta", o ator Sam Rockell está para Victor Mancini - o ator confere todo o humor e a dramaticidade necessária para compor um personagem sensacional que cresce na trama de modo formidável. Seu par romântico não fica por menos, onde a atriz Kelly MacDonald (Onde os Fracos Não Têm Vez, 2007) está a altura, enquanto Angelica Huston transpõe uma mãe com os contornos que essa produção requer: diferente da habitual figura materna que consideramos natural. Porém, o diretor Clark Gregg peca por seguir a fórmula que consagrou o trabalho de Fincher - flashbacks, narrações em off, e ritmo excessivamente ágil, que aqui muito bem poderia ter sido repensado. Comparações são inevitáveis, deixando evidências da falta de originalidade do produto e de seu realizador, apesar de várias outras diferenças encrustadas na fita. Consequentemente o resultado ficou inferior ao seu irmão mais velho, no entanto mais sensível e romântico,  levando o espectador a uma jornada de auto-conhecimento através do mundo de Victor. "Choke - No Sufoco" tem uma coisa em comum com "Clube da Luta", que é imprescindível que seja dito antes que seja tarde: ele não vai agradar a um grande público, como o trabalho de Fincher não fez. Essa produção mexe em um mundo bizarro que causa certa estranheza no espectador comum, e que pode causar  uma insatisfação crônica. Mas isso não desqualifica essa produção, apenas a torna um pouquinho diferente do habitual e mais nada.    

Nota: 7/10

segunda-feira, 1 de julho de 2013

Crítica: Psicopata Americano | Um Filme de Mary Harron (2000)


Patrick Bateman (Christian Bale) é vice-presidente de uma grande companhia de Nova York. Jovem, educado e bem-sucedido, tem um hobbie no mínimo curioso: gosta de matar mendigos, prostitutas e qualquer um que lhe irrite, sem demonstrar nenhum problema quanto a isso. Se ao dia ele segue a rotina de um típico executivo de Wall Street (almoçando em luxuosos restaurantes, namorando um bela jovem, analisando criticamente detalhes sobre cartões de visita) a noite ele se transforma em um incontrolável serial killer. "Psicopata Americano" (American Psycho, 2000) é a transposição cinematográfica do polêmico livro de Bret Easton Ellis, que tem em sua essência uma forte crítica social em relação ao capitalismo. Com uma dose latente de humor negro, essa produção dirigida por Mary Harron, e apresentada de modo inteligente encara os anos 80 com uma dose cavalar de desdém, sem levantar um pingo sequer de nostalgia sobre esses tempos onde a cultura yuppies surgia sob uma aparência perfeccionista, que camuflava a verdadeira face materialista e fútil dessas pessoas.




Mais de uma década depois da realização desse filme, essa produção ainda se mostra atual. Se obras como "Clube da Luta" (1999) eram armadas com um discurso declarado anti-capitalista, além de retratar o rumo do consumismo contemporâneo, e acima de tudo, sobre os efeitos que ele exercia descontroladamente sobre o ser humano, "Psicopata Americano" tem em sua narrativa a sutil descrição metódica desse mal. Isso foi representado através das nuances em volta de seu protagonista, com imagens (e as imagens falam mais do que mil palavras), a condução de Mary Harron vai dando os contornos exatos da personalidade de Christian Bale, e tudo que ele representa. Por trás das aparências, há um homem frio e calculista, desprovido de sentimentos, sendo a retratação de uma geração inteira. Obviamente extremada devido a natureza do enredo, mas claramente evidenciada sob um olhar mais cuidadoso. Essa produção não é uma típica produção de um assassino em série, mas uma criativa metáfora cultural, materializada com muito sangue e sequências antológicas.


"Psicopata Americano" não impressionou nas bilheterias da época, mas com o tempo ganhou status de produção cult com facilidade. Existe uma forte pretensão em andamento de ser refilmado, embora essa produção não seja uma referência no gênero, conseguiu ao decorrer do tempo ganhar seu espaço no gosto de apreciadores de fitas que exibem uma substancia encrustada no enredo, sem abrir mão de um pouco de derramamento de sangue e violência em sua estética. Essa produção é um ótimo filme, que merece ser revisitado ocasionalmente, antes que seu remake destrua tudo o que ele obteve. 

Nota: 8,5/10