sábado, 15 de junho de 2013

Crítica: Maria Cheia de Graça | Um Filme de Joshua Marston (2004)


Poucas são as produções do cinema independente que conseguem encontrar a redenção numa disputa com milionárias campanhas de marketing dos grandes estúdios. Muito se deve aos poucos cuidados com um elemento icônico do cinema: o cartaz. A face gráfica do filme pode ser um diferencial em sua divulgação, que muitas vezes não lhe é dado o devido esmero e é criado apenas como uma formalidade necessária para o lançamento da produção. Em "Maria Cheia de Graça" (Maria, Llene ere de Gracia, 2004), filme escrito e dirigido por Joshua Marston é uma exceção a regra. Pois além do título, seu cartaz exprime toda contundência dessa produção. Se à primeira vista a imagem possa enfatizar um suposto enredo religioso em meio a ritual sagrado, a sinopse deixa claro a trama impactante que se esconde por trás da sugestão proposital do cartaz. Em sua trama acompanhamos Maria Alvarez (Catalina Sandino Moreno) uma jovem colombiana que trabalha nos campos de flores da Colômbia. Vivendo numa condição de miséria, sem chances de prosperar na vida e numa súbita reação de revolta, ela pede demissão de seu trabalho. Porém, ela se esquece que o dinheiro da sobrevivência de sua família vinha desse trabalho. Para piorar sua situação, descobre estar grávida de um namorado que pouco conhece e que não a ama. Posteriormente viaja para Bogotá, onde começa a se familiarizar com o universo dos mulas (pessoas que ingerem grandes quantidades de drogas com a finalidade de tráfico) e é seduzida pela oportunidade lucrativa desse ilícito trabalho. Através dessa ousada decisão acompanhamos essa jovem atravessar um mundo perigoso que ela conhece, mas que aos poucos podemos notar claramente, que não pertence a ele. 



No longa-metragem de estreia de Joshua Marston, além da direção, ele assumiu a elaboração do roteiro, após estudiosas pesquisas, inclusive de campo, sobre esse método de tráfico, onde essas pessoas que se propõem a realizar, colocam-se em situação de perigo. O diretor aborda profundamente o mundo em volta dessas pessoas, que indiretamente, são influenciadas pelo meio a por a vida em risco, além do método em si. Aborda o oportunismo dos traficantes sobre pessoas sem rumo perdidas na pobreza e dispostas a mudar de vida independente dos riscos. Sua câmera captura esse universo com uma dose moderada de crueza sem ser apelativa, mas distante de ser romanceada. Constrói bem seus personagens, apesar de se encontrarem e circunstâncias complicadas de difícil textualização, são retratados de modo realistas  bem próximos das verdades em volta desse deplorável submundo de crime e violência. Todo o elenco atende as expectativas da pretensão do projeto, onde muitas vezes esbarra numa linha mais documental, apropriada pela natureza do enredo, do que propriamente ficcional - interpretações inspiradas inseridas em um trabalho inspirador. Mesmo com uma produção de contornos estéticos simples, atinge um resultado funcional convincente e austero. "Maria Cheia de Graça" é uma dessas produções que agradam aos apreciadores de um bom drama baseado na vida como ela é, capaz de agradar desde o astuto cartaz, até o resultante desfecho da trama. Super recomendável. 

Nota: 8/10


2 comentários:

  1. Bom, pelo que eu pude entender, é realismo em fase extrema, né?
    E o pior é que não é nem pessimismo, é realismo mesmo.

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  2. Verdade! O mais puro realismo. São poucos os filmes que conseguem abordar o tema com a responsabilidade que esse longa ostenta.

    abraço e obrigado pela visita Marcelo.

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