quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Crítica: O Procurado | Um Filme de Timur Bekmambetov (2008)


Depois de chamar a atenção de Hollywood com o filme “Guardiões da Noite – um filme de fantasia carregada de efeitos visuais e delírios que rondam o universo vampiresco – o russo Timur Bekmambetov alcançou um considerável sucesso pelo mundo, que consequentemente gerou uma curiosa sequência chamada “Guardiões do Dia”, erguida nos mesmos moldes do anterior. Como acontece com todo o bom cineasta estrangeiro, não demorou muito para ele ingressar na indústria cinematográfica americana para dar segmento ao seu sucesso.

Em O Procurado (Wanted, 2008), conta a história de uma organização secreta que se intitula “A Fraternidade” composta por matadores profissionais munidos de habilidades sobre-humanas a centenas de anos trabalham para manter o delicado equilíbrio da paz mundial. O jovem Wesley Gibson (James McAvoy) é um jovem existencialmente frustrado com sua vida, descobre ser filho de um assassino profissional do mesmo grupo. Assim esse jovem é recrutado por (Angelina Jolie) uma mulher sedutora e enigmática, amando de Sloan (Morgan Freeman) o líder dessa organização, com a intenção de matar um integrante rebelde que tem dizimado todos os integrantes dessa misteriosa organização de justiceiros. Porém aos poucos Wesley descobre que às verdadeiras razões pelas quais houve foi recrutamento não transparecem a verdade.

O ator James McAvoy traz uma interpretação interessante para um personagem que é o reflexo de uma geração angustiada em tempos modernos. Apesar da razão de sua angustia não ter nada com a realidade, expressa um sentimento comum, visto por sua rotina profissional desgastante e vida pessoal deteriorada. Saber que você, como indivíduo se encontra apenas na posição de mais um número dentro da sociedade, e não como um elemento necessário – como nos imaginamos – para bom funcionamento do mundo. E quando McAvoy já conformado com sua situação degradante é salvo pelo personagem de Angelina Jolie que revela sua verdadeira vocação no universo. Apesar de ser o terceiro nome de destaque na trama, o pouco que aparece já ofusca a importância de Morgan Freeman dentro da história, que mesmo improvável é divertidíssima. 
  
O filme equilibra bem a ação e o humor, numa história fantástica, onde a direção caprichada do russo abusa da câmera lenta – um pouco demais – criando sequências visuais muito criativas e ao mesmo tempo absurdas. Porque não houve outro cineasta que tenha conseguido inserir elementos incomuns como quando os personagens conseguem disparar armas onde as balas fazem curvas com tanta naturalidade. Uma perseguição de carro improvável, mas ainda assim emocionante, onde é destruído um Dodge Viper num desfecho com uma pitada de humor insinuante. 

Por fim, O Procurado não tem nada que evidencie inovação, ou que apresente algo novo visualmente ao espectador, até porque esse certamente não era o real objetivo do longa. Mas revela toda a envergadura de Timur em criar entretenimento de qualidade que transborda empolgação, como também transparece uma transição tranquila ao cinema americano que muitos outros diretores não tiveram a mesma facilidade para se adaptar. 

Nota: 7,5/10

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Crítica: Por Uma Vida Menos Ordinária | Um Filme de Danny Boyle (1997)


O amor está se extinguindo. O verdadeiro amor. Diante desse desolador panorama, o anjo Gabriel (Dan Hedaya), pressionado pela maior de todas as divindades é incumbido da tarefa de mostrar que esse triste quadro pode mudar. Com isso Gabriel delega a tarefa a dois anjos, O'Reilly (Holly Hunter) e Jackson (Delroy Lindo), os enviando a Terra para unir o mais improvável dos casais numa paixão avassaladora para dar uma força ao destino. Mas a escolha desse par romântico não deixará essa tarefa nada fácil, sendo que de um lado da equação temos Celine Naville (Cameron Diaz), filha mimada de um multimilionário nada simpático, enquanto do outro lado há Robert Lewis (Ewan McGregor), um pobre faxineiro recém-desempregado que aspira ser escritor. Caso os anjos não consigam cumprir sua missão, serão penalizados tendo que viver para sempre na Terra. Tudo o que eles não querem. Assim em meio a um desengonçado sequestro de condução duvidosa, situações bizarras e a tentativa de realizar o impossível, O'Reilly e Jackson tentarão levar esperança a humanidade juntando esse curioso casal. "Por Uma Vida Menos Ordinária" (A Life Less Ordinary, 1997) veio em tempos onde a comédia romântica reinava absoluta na preferência do público em geral. Contudo, o gênero ainda assim tentava ao seu modo se reinventar antecipadamente antes que a fórmula se desgastasse excessivamente ao mesmo público que era consumidor de carteirinha, além de tentar cativar novos adeptos com suas peculiaridades. Assim o diretor do brilhante "Trainspotting", Danny Boyle e o roteirista John Hodge, uniram-se novamente para criar essa fita que foi uma estranha comédia romântica que misturava humor negro, fantasia e uma dose de violência nada característica do gênero numa produção que caso não se encontre no paraíso, mas é capaz de desencadear do espectador mais envolvido com a trama lúdica da intervenção divina terceirizada umas boas risadas.

É difícil entender por que essa produção foi tão alvejada pela crítica. Sua proposta não vem a desfazer nenhum progresso do gênero, mas os aspectos que o diferenciam das demais obras, também não justificam tamanha aversão. O filme tem as suas qualidades, que em sua maioria está nas interpretações. Tanto Cameron Diaz, quanto o próprio Ewan McGregor (até então em sua terceira parceria com cineasta Danny Boyle) está em sua sintonia com a obra, por mais absurdo que o enredo possa parecer (mais no Céu do que na Terra). Cameron convence como a herdeira excêntrica de um império corporativo, que conduz seu próprio sequestro para se vingar de seu ganancioso pai. McGregor leva a seu personagem o ar desesperador de "Trainspotting" de modo mais cômico e por vezes (devido a influência de Cameron) patético. A abordagem do roteiro que confronta os opostos (a bela malévola contra o pobre de coração de ouro) não é suprido de originalidade, mas também não se condena, justamente por não se levar a tão sério como provavelmente a crítica especializada o fez. E a intervenção do divino através das irreverentes interpretações dos anjos caçadores de recompensa é o arrojo que proporcionam ao casal os melhores momentos dessa produção (o momento em que McGregor cava a própria cova é hilária). A ação projetada do roteiro tem as suas deficiências naturalmente, mas que diante de um conjunto divertido se tornam irrelevantes.

"Por Uma Vida Menos Ordinária" é um dos trabalhos menos fascinantes de um cineasta que tem em sua filmografia mais recente trabalhos realmente extraordinários. Essa produção tem mais a cara dos anos 90 mesmo, com violência estilizada, personagens caricatos interpretados por grandes atores e humor negro que não fere ninguém. Naturalmente não tem a audácia de "Trainspotting", uma produção que marcou uma geração inteira e que facilmente habita a lista de melhores filmes de qualquer cinéfilo. Entretanto, além de ser divertido de modo engraçado, também tem anjos empunhando pistolas e revólveres de grande calibre, e isso também pode ser encarado como algo bem cool mesmo depois da virada do milênio.

Nota:  8/10

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Crítica: 300 | Um Filme de Zack Snyder (2006)


Uma mistura inteligente de "Gladiador" com "Sin Cty". Através de cenários digitais e muito exibicionismo de masculinidade, o diretor Zack Snyder transpõe para tela a graphic novel intitulada “Os 300 de Esparta, de autoria de Frank Miller, onde há uma mistura de épico fantasioso, com violência performática, apresentados com efeitos visuais modernos. Disponibiliza ricos valores históricos da cultura grega espartana, através de soluções visuais apenas vistas antes em “Sin City – Cidade do Pecado”. Em "300(300, 2006), a história transposta para tela acompanha os percalços do Exército espartano liderado pelo imponente rei Leônidas (Gerard Butler), que composto por apenas trezentos soldados, se incumbem da tarefa suicida de impedir o avanço devastador das forças conquistadoras persas lideradas pelo imperador Xerxes (Rodrigo Santoro), sobre o território grego. Com inteligência, Leônidas conduziu seus soldados para o Desfiladeiro de Termópilas, consciente que os estreitos penhascos que serviam de trajeto, invalidariam a superioridade numérica de oponentes persas durante a batalha. Durante dois dias de batalha, os soldados espartanos dizimaram o efetivo persa. Porém traídos por Ephialtes (Andrew Tierman), que guiou por uma trilha escondida soldados persas, até a retaguarda dos espartanos forçou o rei Leônidas a uma medida desesperada - não para ganhar essa batalha, mas para vencer uma eminente guerra.

O diretor Zack Snyder levou aos cinemas uma das maiores histórias de heroísmo da humanidade, que Hollywood nunca havia notado. Através de uma estética, liberta das limitações factuais, criou um épico expressivo visualmente, com todos os elementos necessários para fazer sucesso nas telonas, atingindo um público que os estúdios não conseguiam alcançar com competência. Suas ramificações que mesclam história grega com efeitos visuais apurados deixam “300” colado com épicos dos games como “God of War”, famoso jogo e objeto de cult de jovens, enquanto filmes como “Tróia” e “Alexandre” estão para mais para o clássico filme “Ben-Hur”.

O elenco de 300 estava submergido profundamente nas interpretações, onde inclusive a direção de Snyder consegue arrancar de Gerard Butler – no papel de rei soberano – uma de suas melhores atuações no papel de guerreiro honrado e brutal, que segue a risca as leis, mas que não mede esforços quando a segurança de seu povo é colocada em risco. Enquanto Santoro, até então um de seus melhores desempenhos em Hollywood, apresenta a composição de um imperador com devaneios de Divindade, assustador e visualmente presente. As alterações digitais de sua voz, que lhe davam uma posição andrógena, ressaltavam a imponência de seu papel como Divindade. Mas nenhuma atuação do elenco se equipara a narração em off detalhada e eloquente  de Dilios (David Wenham), que dava a ênfase dos acontecimentos e a magnitude das consequências que se desencadeavam. 

Se há decisões certas para conceber um sucesso, no caso desse longa, uma delas foi a aplicação dos efeitos visuais e a estética diferenciada adotada na produção. O abandono da narrativa convencional, aplicada ao gênero “sandálias e espada” foi vital para cativar um público que não se impressiona com tanta facilidade. Junte esse detalhe, com um roteiro enxuto, cheio de passagens espertas e frases de efeito, o resultado é brilhante. Além disso, a guarda de elite persa (Os Imortais) seguem as origens dos quadrinhos de Miller, porém quando as máscaras caem, vem à adição de faces horrendas como um incremento da fonte, dando mais estilo ao longa e deixando os personagens mais sinistros do que já eram anunciados pelos oponentes. Soluções visuais assim foram perpetradas em vários personagens do Exército persa, dando a Snyder à oportunidade de um retorno ao gênero ao qual o consagrou quando lançou um remake de “Madrugada dos Mortos”. 

Somente um diretor antenado e com estilo para dar vida ao trabalho de Frank Miller. Como Robert Rodriguez fez em Sin City – transpondo a graphic novel de Miller com fidelidade –, Zack Snyder deu perfeitamente segmento através de 300, reafirmando que até velhos tabus podem, e devem ser quebrados para se contar uma trama, mesmo tão antiga quanto à história grega. Deve-se ter coragem para arriscar mesmo quando tudo parece perdido. Porque mesmo em si tratando dos gregos, nem tudo é tragédia.

Nota: 8,5/10

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Crítica: Cidade dos Sonhos | Um Filme de David Lynch (2001)



Enquanto alguns cineastas, para não dizer quase todos, criam filmes direcionados para as massas, o diretor David Lynch desempenha um trabalho no extremo oposto desse objetivo. Quando cada vez mais cineastas procuram servir o público com o que ele deseja, Lynch está pouco se importando com a satisfação do espectador. Se houve ou não um perfeito entendimento de seu raciocínio, não importa, porque cinema é como a vida, que nem sempre tem explicação para acontecer. E o mais provável é que o tiro saia pela culatra com uma teorização tão arriscada assim, porém às vezes, de forma inusitada, sua capacidade de realização ainda consegue surpreender.

Nesse filme chamado Cidade dos Sonhos (Mulholland Drive, 2001), apresenta uma trama esquisita, cheia de personagens que vem e vão sem explicação, mas que ao decorrer do tempo, quando comtemplados mais de longe, nota-se a razão de suas presenças dentro da película. No filme que acompanha duas mulheres: onde a primeira é Rita (Laura Harring), que perde a memória depois de um acidente de carro, e sai cambaleando pela rua que dá título ao filme, e encontra a segunda, Diane Selwyn (Naomi Watts, em uma interpretação maravilhosa), que faz o papel de uma aspirante a atriz em Los Angeles, que busca o tão sonhado estrelato. Juntas tentam juntar as peças desse quebra-cabeça que gira em volta da amnésia de Rita, e de uma pequena fortuna em dinheiro que ela carregava sem saber a origem.

O filme se apresenta de forma confusa, distante de um entendimento sincronizado, e uma realidade linear, que aborda através de sutis metáforas, questões como falsidade, troca de identidade, e sobre um dos maiores mistérios que rondam Los Angeles, que é a própria Hollywood. Os bastidores da indústria do cinema, apresentado com a perspectiva de Lynch, serve como pano de fundo para a trama protagonizada pelas duas mulheres. Lynch, de forma sutil, não perde a oportunidade de criticar todo aquele glamour do cinema, que apenas serve como uma fina cortina para camuflar um emaranhado de superficialidades do meio e o jogo de interesses mesquinhos que rondam nos bastidores do poder de grandes estúdios – que naturalmente ele também é vítima.  
    
Esse longa foi idealizado com a intenção de virar uma série de televisão, mas foi rejeitada pela rede ABC, e para não descartar por completo o material pronto – o equivalente a três capítulos – David Lynch incluiu mais 40 minutos de filmagens extras e remontou todo projeto, para entrar nos moldes de um longa-metragem. Uma tentativa de reciclar todo seu trabalho, ao qual ele desconhecia a razão da rejeição dele.

Cidade dos Sonhos é um trabalho de Lynch um pouco esquisito, com passagens poéticas, porém também um pouco inexplicáveis. É o resultado talvez da costura do passado (quando o material era televisivo) com o presente reciclado. Por mais que a direção aborde certas superficialidades do meio, sua obra apresenta um material totalmente desprovido do mesmo. E ainda que não agrade a maioria, uma coisa é certa: David Lynch não está nem aí para isso.
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Crítica: Os Agentes do Destino | Um Filme de George Nolfi (2011)


O gênio indomável de Matt Damon deixa claro que seu futuro é ele que faz

Baseado em um dos contos do guru da ficção cientifica Philip K. Dick, que já teve vários de seus trabalhos transpostos para telona, como: "Blade Runner", "O Homem Duplo", "Minority Report", entre outros, é levado outra vez ao cinema através desse longa instigante, chamado "Os Agentes do Destino(The Adjustment Bureau, 2011), que apresenta uma expressiva lição sobre destino e livre arbítrio.

A história trata de um grupo misterioso de homens, munidos de poderes e artifícios capazes de influenciar e alterar o destino da humanidade de acordo com a necessidade voltada a um bem maior. Sob o olhar atento desses homens, o ambicioso político David Norris (Matt Damon), um candidato a Senador dos Estados Unidos é observado zelosamente por eles. Prestes a fazer um discurso para uma multidão de eleitores, ele acaba antes conhecendo uma dançarina de balé chamada Elise Sellas (Emily Blunt), onde ocorre uma química entre os personagens e uma inusitada paixão após um simples beijo. Essa mudança inesperada de acontecimentos, desperta um alerta entre os vigilantes, que não previam tal acontecimento, mobilizam-se com todas as forças para impedir a continuidade e o sucesso dessa paixão.

A trama apesar de flertar com a ficção cientifica, transpira romance. Começa ingênuo e despretensioso e atinge patamares de desespero por trás dessa história de contorno fantástico. A natureza desses homens que intermedeiam as decisões de alguém (ou algo) funcionam como um rico pano de fundo para um amor proibido. O elenco encabeçado por Damon e Emily, que cumprem o papel do par romântico de forma simples e natural. Damon usa bem seu carisma a favor de seu personagem, de forma magistral, enquanto Emily atende a promessa de ser uma das atrizes mais talentosas da nova geração. Terence Stamp compõe um vilão, por ofício, perfeito dentro do contexto sugerido pelo roteiro. Ele funciona como a espada ou o escudo na mão de uma força maior, que depois de muito tempo, acaba se tornando autônomo e consequentemente irrepreensível. Sem violência explicita, e apenas com palavras demonstra ser intimidador. Talvez o personagem mais envolvente dessa história.

A história é bem conduzida pelo diretor e roteirista George Nolfi, que estreia aqui depois de ter roteirizado vários suspenses bem sucedidos, como "O Ultimato Bourne", "Sentinela" e "Doze Homens e outro Segredo". As passagens presentes são bem executadas, alternando os momentos românticos que requerem cuidado com precisão, entre o suspense e a ação presente, aproveita bem o orçamento de 50 milhões disponibilizados pela Universal Pictures. O filme "Os Agentes do Destino" apresenta um romance provido de paixão, bem convincente, mesmo alternado com muitas correrias e perseguição – as perseguições mais estranhas e visualmente interessantes que se poderia imaginar. Com personagens entregues a emoção, e a seus papéis principalmente, mostram uma história de vitória do amor sobre a importância do destino, enfatizando que o futuro é construído todos os dias. 

Nota: 7,5/10


quinta-feira, 16 de agosto de 2012

Crítica: Sucker Punch – Mundo Surreal | Um Filme de Zack Snyder (2011)



Bem-vindo ao mundo de um diretor visionário

Dezenas de diretores tem feito o mesmo do mesmo sem vergonha dos resultados. Contudo o diretor Zack Snyder é um dos poucos que podem se orgulhar de tentar impor um estilo, revolucionário dependendo da perspectiva, mesclando elementos distintos em um só longa-metragem, para apresentar algo diferente do habitual. Certamente que esse longa divide opiniões e causa reações extremadas, principalmente por seu foco cego em um determinado público. Porém é unânime afirmar que apesar de suas extravagâncias narrativas e seu roteiro deficiente, a capacidade do diretor de realizar espetáculos visuais continua e está acima do esperado para quem começou a carreira nos apresentando um simples remake de “Madrugada dos Mortos”.

O filme "Sucker Punch – Mundo Surreal" (Sucker Punch, 2011), é um desfile cuidadosamente articulado sobre, e através de referências culturais, fetiches e homenagens. Zack Snyder condiciona o público para uma viagem delirante, criada pela mente de uma garota órfã chamada Babydoll que, para escapar da realidade, cujo destino foi traçado pelo padrasto quando a internou em um hospício, após ser acusada injustamente do assassinato de sua mãe e irmã caçula, busca irremediavelmente seu refúgio em um mundo imaginário habitado pelas mais estranhas criaturas. Sua sobrevivência depende unicamente, do sucesso de seus confrontos épicos, que trava com zumbis nazistas da segunda guerra mundial, dragões flamejantes, Orcs, samurais gigantes oriundos do Japão feudal e robôs monocromáticos. Entretanto o maior adversário dessa jovem na realidade, pelas circunstâncias apresentadas, ainda é o tempo que se esgota rapidamente.

Com um elenco potencialmente feminista (Emily Browning, Abbie Cornish, Jena Malone, Jamie Chung e Vanessa Hudgens), provido de requintes fetichistas e bravura colossal, consolidam a grandeza do alinho visual que reverência a beleza empregada nesse longa. A beleza hormonal das protagonistas somente se equivale à destreza com que combatem as feras imaginárias, frutos da mente delirante de uma jovem, que através de sua obstinação distorcida, procura desesperadamente – aliada a suas amigas – executar a elaboração de um plano de fuga dessa prisão em que se encontram. Que além do exorcismo das bestas materializadas em sua mente, precisa enganar os ditadores de seu cárcere, que margeiam com segundas intenções sua sensualidade.

Todos estão certos que a protagonista Babydoll foi destinada a um manicômio, porém em uma mudança vertiginosa de narrativa, a mesma locação ganha contornos explícitos de uma casa de shows, onde usa as internas como “atrações”, entre uma viagem e outra ao mundo imaginário de Babydoll. As incursões nesse delirante mundo são um espetáculo: não pelo que podemos ver, mas pelo que ouvimos, pois a canções que compõem a trilha sonora demonstram ser um elemento extremamente necessário para dar o tom preciso do efeito intencionado pela direção.   

Snyder nos presenteia com belos momentos de apuro visual também, com seus ótimos efeitos de câmera lenta – sempre bem pontuados – efeitos especiais que são um deleite aos olhos atentos e uma abertura magistral, condicionada por uma trilha sonora hipnótica. Detalhe que não surpreende de maneira alguma, sendo que ele fez uma das melhores aberturas de filme que já vi, quando resumiu precisamente algumas décadas da história e da cultura americana na abertura de “Watchmen. Além de uma fotografia que enriquece todas as ambientações, que oscilam entre a escuridão sinistra da abertura até o último embate com os robôs no trem-bala, tendo ao longe um horizonte paradisíaco.  

Se esse filme tivesse suas origens em um game da moda, desses de estratégia, seria a versão definitiva de uma transposição perfeita de um jogo para as telonas, visto que seu desenvolvimento parece uma crescente evolução de fases, onde os ambientes, os adversários e os objetivos são atingidos para desencadear o início da próxima fase. Apesar de seu roteiro ser seu maior calcanhar de Aquiles, causador de protestos exaltados, os trailers disponibilizados pela produtora deixavam claro que a exibição desse longa não seria nenhum anúncio de uma revelação transcendental, deixando evidentes indícios que sua narrativa era mais um óbvio culto a estilo, do que propriamente sobre intelectualidade e coerência. Deixou margens enormes para escolhas equivocadas, mas ainda sim corajosas.
Por fim, "Sucker Punch – Mundo Surreal" pode passar a ser uma ode ao exibicionismo sexista em detrimento a sutileza puritana de adoção tão comum na indústria hollywoodiana.

Pode ferir os conceitos de admiradores de filme ação, colocando garotas com poder destruição que deixaria qualquer marmanjo no chinelo. Pode causar à sensação de um necessário desfecho arrebatador a altura do desenvolvimento. Pode ser taxado com os adjetivos mais simplistas possíveis, por não estar de acordo formula estrutural habitual do cinema convencional. Contudo, essa obra mesmo tendo seus defeitos e limitações ostenta um caráter que prega a revolução, do que interessa para o autor acima de tudo. Snyder não se censurou na hora de criar algo novo a partir do mesmo, através de declarações visuais exageradas, proclama que cada um pode criar o seu o mundo como quiser, independente do seu estilo.

Nota: 7,5/10
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terça-feira, 14 de agosto de 2012

Crítica: À Prova de Morte | Um Filme de Quentin Tarantino (2007)



Um Tarantino mais anos 80 do que em qualquer outro filme

Particularmente, esse é um dos filmes da autoria de Tarantino ao qual menos criei simpatia. Sempre gostei de seus filmes, desde “Cães de Aluguel”, por razões diversas que nem sei explicar direito. Seus filmes sempre tiveram elementos narrativos originais – entre outras coisas – que sempre me chamavam a atenção, inclusive quando dirigiu “Jackie Brown”, o único filme cujo roteiro não é de sua autoria até então. Contudo essa responsabilidade foi delegada – de criar um roteiro – ao Papa dos romances policiais, chamado Elmore Leonard. O que não é pouco. Quando Tarantino e Robert Rodriguez criaram a iniciativa “Grindhouse” – uma homenagem aos filmes de sessão dupla de baixo orçamento – onde o filme “Planeta Terror”, de autoria de Rodriguez, apesar de cumprir sua proposta, foi mal recebido e consequentemente. Assim “Death Proof”, que fazia a segunda parte da exibição, nem sequer era comtemplada pelo espectador que saia do cinema após a primeira exibição, o que resultou em fracasso nas bilheterias americanas. No Brasil o filme foi exibido separadamente, porém “Planeta Terror” também não foi bem recebido por aqui. E, portanto muito tempo depois, o filme À Prova de Morte (Death Proof, 2007), foi lançado diretamente em vídeo por aqui (somente em 2010) em receio a pouca receptividade do público quanto à ideia original.

A história do piloto maníaco que se auto intitula “Dublê Mike”, não passa de um exercício mais profundo das possibilidades de se fazer filmes com pouco dinheiro, ao mesmo tempo fazendo uma homenagem aos filmes Grindhouse pouco conhecidos por aqui. A coisa mais interessante desse longa – principalmente para os fãs do cineasta – ainda consiste em ver mais uma vez sua emblemática estilização da violência, os diálogos longos e marcantes e seu senso de humor negro afiado, sempre presentes em seus roteiros. Portanto, para quem se dispõe em assistir a um filme dele – preferência que nãos seja esse o primeiro – deve ter a consciência que seu estilo fala mais alto, independente do tema escolhido, e que seu vinculo com o cinema B somente ganha mais força nesse longa, produzido e realizado com recursos contemporâneos
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Dublê Mike (Kurt Russell), é um maníaco que tem em seu rosto uma enorme cicatriz, e dirige um carro que é à prova de morte – automóvel usado por dublês em cenas de capotagem e perseguição na indústria cinematográfica – mas somente do lado do motorista evidentemente. Esse alerta infeliz Mike fez a uma jovem que havia pegado carona com ele, um pouco antes de matá-la. Depois ele segue pela rua na caça de mais vitimas e bate de frente com outras quatro garotas que bebiam em um bar, em um acidente intencional que foi fatal para elas. Nesse momento o filme parece que acaba e se inicia outro. Assim são apresentadas outras quatro garotas à procura de diversão, apaixonadas por carros velozes e por filmes que idolatram essas máquinas. Quando essas garotas cruzam o caminho de Mike, ele encontra nelas uma nova oportunidade de saciar seu desejo de matar novamente, porém o que se apresenta para a surpresa do espectador é uma fascinante reviravolta nessa história que o maníaco jamais esperava. Para quem gostou dos exageros e excessos de Planeta Terror, encontrará uma violência mais sutil e menos escrachada. Os diálogos banais fazendo referência à cultura Pop, característicos de Tarantino – varias citações de filmes da mesma época em que a trama se desenrola –, não falta e é um show a parte. Toda aquela conversa mole bem cotidiana demonstra como o autor sabe criar interações reais de grande veracidade, que demonstra perfeitamente como se trata de pessoas comuns. E ainda que ocorram acontecimentos extraordinários com os envolvidos, esse detalhe é muito bem salientado. Tarantino apresenta todas as semelhanças comuns de produções as quais o inspiraram, com uma direção de fotografia coerente, perseguições de carros bem focadas nos atores reais, erros de continuidade impossíveis de passar despercebido. Tudo elaborado para uma ambientação realista de uma época especifica, porém concebida com os cuidados das grandes produções contemporâneas. E o suspense e a tensão que se firma durante a duração, bem conduzido aos extremos das possibilidades pela direção e o roteiro de Tarantino, nos leva a um desfecho cômico que ultrapassa as expectativas depositadas nesse longa, de fachada pobre, estilo antiquado, bem feito a moda antiga, e que serve como exercício experimental para homenagear suas maiores fontes de inspiração, além de uma manifestação feminista sutil que habita as entre linhas. 

Nota:  8/10

Crítica: Os Indomáveis | Um Filme de James Mangold (2007)


Um western com cara de filme de ação

O título nacional que foi adotado para esse longa, eu julgo ter sido infeliz, pela forma intrigante que esse filme se apresenta. Acho título muito simplista, considerando as proporções da história. Trata-se de um remake de um faroeste de 1957, escrito por Elmore Leonard, também chamado de 3:10 to Yuma (intitulado por aqui como Galante e Sanguinário). O título original, bem ao estilo western anuncia o maior objetivo da trama: a chegada do trem para a cidade de Yuma, exatamente às três e dez da tarde. Por aqui houve a inserção de um título expressivo, provido de valentia, que remete a lembrança irônica de “Os Imperdoáveis”. Mas por mais indomáveis que pudessem ser os personagens, o título original encarna melhor as motivações dos envolvidos na trama sem demagogia. 

A história de "Os Indomáveis(3:10 to Yuma, 2007), acompanha Dan Evans (Christian Bale), um pobre rancheiro à beira da completa falência, manco e que observa aos poucos sua família perdendo o respeito e a admiração por sua pessoa. Após a captura de um temido criminoso chamado Ben Wade (Russel Crowe), é organizado uma diligência para escoltá-lo até a estação de trem de Condention que irá levá-lo a Prisão de Yuma para enforcá-lo. Dan se oferece para integrar o grupo em troca de uma recompensa satisfatória. Assim conseguindo cumprir a missão, ele pode saldar suas dividas ao mesmo tempo em que pode reconquistar o respeito de sua família – principalmente de seu filho mais velho. Porém está tarefa não será fácil, já que todo bando de Ben Wade, agora liderado por Charlie Prince (Ben Foster), fará de tudo a seu alcance para resgatar seu comparsa.


O diretor James Mangold está mais para diretor competente do que para gênio. Apesar de sua filmografia demonstrar que, parcerias passadas geraram sucessos pessoais para os envolvidos, como quando lançou Sylvester Stallone como ator sério depois de sua interpretação em “Cop Land, ou mostrou que Angelina Jolie não era apenas um rosto bonito, depois de “Garota Interrompida”. O diretor, ao usar enquadramentos comuns de filmes de ação, faz um remake ágil e inteligente, com sequências eletrizantes. Aproveita os bem escritos diálogos, com cenas diferentes do que normalmente estamos acostumados em ver nos filmes do gênero. Aproveita ao máximo a paisagem árida do deserto através de uma direção de fotografia soberba, bem aliada com uma trilha sonora de presença elaborada por Marco Beltrami. 

Mas nem toda produção do mundo, substitui o afinado elenco desse longa. Christian Bale, encarna um homem marcado por uma vida sem grandes feitos, que estabelece uma meta suicida para provar ao filho, e a si mesmo, sua nobreza apesar dos fracassos. Enquanto Russel Crowe balanceia perfeitamente a mistura de violência com carisma em sua interpretação de vilão esquemático. E margeando a interpretação dos astros, Ben Foster – que não teve seu nove no cartaz com o devido destaque – é uma das grandes surpresas desse filme, com sua interpretação assustadora de fora da lei. Além do ótimo elenco de apoio pertinente, desempenhado pelo experiente Peter Fonda.


O elenco inicialmente tinha nomes como Tom Cruise e Eric Bana, nos papéis de Dan Evans e Ben Wade, e Kris Kristofferson no papel de Peter Fonda. Isso quando Cruise fazia parte da produção, assim com sua desistência, houve um consenso entre Crowe e Mangold e produtora, em chamar Christian Bale para o papel. 

Apesar de muitas críticas negativas deferidas a esse remake, não há problemas expressivos em sua composição. Infelizmente os melhores faroestes ainda (sempre) serão aqueles feitos antigamente, de preferência por Sergio Leone. Mas "Os Indomáveis", certamente sofre do mesmo mal que assola Bravura Indômita, dirigido pelos irmãos Coen. É difícil agradar um público, fã de western, conhecedor das obras originais, que sente a necessidade compulsiva de fazer comparações, muitas vezes desnecessárias. Particularmente, “Os Indomáveis está perfeito como está, mesmo que não possa chamar James Mangold de gênio, como podemos dizer de Sergio Leone.

Nota: 7,5/10

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Crítica: 16 Quadras | Um Filme de Richard Donner (2006)


Com uma história contida que poderia muito bem ultrapassar alguns limites

A história de "16 Quadras(16 Blocks, 2006), segue a missão Jack Mosley (Bruce Willis) de escoltar o preso Eddie Bunker (vivido pelo famoso rapper afro-americano Mos Deff) até o Tribunal para testemunhar em um importante caso de corrupção policial. Porém, ambos acabam sofrendo uma "pequena" alteração de percurso até seu destino. Por isso o que parecia uma tarefa chata e corriqueira para Jack, acaba se tornando um inferno, quando descobre que a testemunha é vital, desencadeando a fúria de vários tiras corruptos. Jack luta contra tudo e contra todos para salvar a vida do jovem Eddie e mudar o curso de seu destino antes que seja tarde demais. Esse filme começa como qualquer filme policial e ganha contornos imprevisíveis numa corrida de gato e rato pelas ruas de Nova York. As típicas perseguições de carros – mais do que necessárias em um bom filme de ação policial – são substituídas por correrias entre transeuntes em becos e subsolos de Chinatown. Os tiroteios ficam mais contidos e menos monstruosos que em outros filmes de Richard Donner (Máquina Mortífera, Assassinos). A câmera segue os envolvidos de perto, tremulada e segura da narrativa. Donner tem um passado no gênero de ação carregado de glórias que ele tenta trazer para esse filme. O percurso de 16 quadras, não chega a ser uma maratona, porém para Jack, com ares de cansaço, consumido pela desgastante rotina policial, inevitavelmente vira uma jornada física quase impossível. Bruce Willis está bem pançudo para caracterizar o policial alcoólatra com veracidade. Acomodado e desprovido de entusiasmo para desempenhar a função de servir e proteger.  Inclusive colocou pedras no sapato, para tornar o andar desconfortável e legitimar uma postura de policial debilitado pelos anos dedicados ao trabalho. Mas sua maior fraqueza, a consciência pesada por uma vida marcada por decisões erradas, ele não consegue transpor com credibilidade. Sua maior qualidade como ator, quando investe no tom cômico de seus personagens, não é adotado aqui. Essa responsabilidade foi delegada a Mos Deff. 

Enquanto Eddie transpõe um personagem ingênuo distante da importância de seu papel dentro da trama, cumpre a tarefa de seguir o astro na fuga. O roteiro se arma de algumas peripécias para deixa-lo um pouco mais interessante – como a questão do ponto de ônibus em meio ao furacão – mas falha com uma série de outros furos que giram em volta de seu personagem. Se houve a intenção de criar um personagem irritante, essa meta foi obtida com sucesso. Ele desgasta a paciência de qualquer um quando começa falar de trivialidades para Jack. Mas suas deficiências de transpor um personagem intrigante acabam não sendo compensadas com o estrelismo de Willis. Mesmo com uma direção tentando escapar dos clichês, infelizmente o roteiro limitado por sua natureza não contribui no conjunto. Ainda mais armado do antagonista Frank Nugent (David Morse), com uma atuação elegante, mas exageradamente burocrática. O desfecho da trama, apesar de imprevisível e improvisado, não trazia nada de novo até mesmo para época. A história que não causava envolvimento no processo, não empolgou nos acertos, e errou feio em salvar os bonzinhos ao mesmo tempo em que quis levar a redenção aos arrependidos. Uma proposta muito politicamente correta, em um filme que até o segundo ato, parecia que ninguém se salvava. Assim "16 Quadras" demonstrou ser um filme legal, menos empolgante do que outros da autoria de Donner, mas melhor do que vários filmes, nos quais Willis atuou entre os sucessos da franquia Duro de Matar, ao qual o papel de policial beberrão é magistralmente bem desempenhado por ele. 

Nota: 6,5/10

sábado, 11 de agosto de 2012

Crítica: Busca Implacável | Um Filme de Pierre Morel (2008)


O cinema francês reciclando ideias e criando grandes filmes

“Não sei quem são vocês. Não sei o que querem. Se querem um resgate, eu não sou rico. Porém, possuo habilidades muito especiais. Habilidades que adquiri durante uma longa carreira. Habilidades que me tornam um pesadelo para gente como vocês. Se soltar minha filha agora, tudo termina aqui. Não irei procura-los nem persegui-los. Caso contrário, irei atrás de vocês. Eu os encontrarei... e os matarei.” A voz estranha do outro lado da linha apenas deseja: “Boa Sorte”.

O que o sequestrador não sabia, era que ele mexeu com o cara que acaba de declarar guerra contra ele, ou qualquer um que tente impedi-lo de salvar sua filha. Kim (Maggie Grace), filha de Bryan Mills (Liam Neeson) um ex-espião agora aposentado, é sequestrada em Paris – sequestro acompanhado pelo pai através do telefonema desesperador da filha – o fazendo partir para França para resgatá-la. Bryan não irá medir esforços para localizar e declarar guerra contra uma gangue do submundo parisiense. Assim "Busca Implacável(Taken, 2008), através dessa premissa torna-se um suspense de ação à altura da trilogia Bourne. Liam Neeson encabeça uma trama simples, porém bem conduzida por Pierre Morel, um dos maiores cineastas do gênero de ação do cinema francês. Mais um diretor francês que sabe bem reciclar ideias do cinema americano, convertendo uma fórmula batida, em transposições arrojadas. Por mais que a história tenha início em território americano, toda trama se desenrola na Europa – mais especificamente em Paris. Uma viagem turística da filha e de uma amiga se resulta em um sequestro comum para as autoridades locais, mas que deixam o experiente Bryan horrorizado com tamanha violência. A caçada pelo paradeiro da filha começa do momento da chegada a Paris até o desaparecimento dramático que foi acompanhado por telefone a milhares quilômetros.  Ponto para o roteiro. Mantém uma linha lógica com um toque perspicaz de dramaticidade, que passa normalmente batido pelos roteiros Gringos, mas que é aplicado em pequenas proporções por todo o longa. Detalhes e procedimentos de campo de um verdadeiro agente – usados pelo protagonista – são ferramentas essenciais para ambientação convincente, e vitais para dar segmento à trama, que sobe a cadeia hierárquica do crime e da corrupção na cidade.


O roteiro, de criação de Luc Besson (também produtor) e Robert Mark Kamen, usa um mafioso esquema de prostituição como o estopim para alavancar toda trama, porém o andamento da história é onde mora sua virtude. Além do desencadeamento de situações que levam o protagonista mais próximo de sua filha de forma competente, todo desenvolvimento é intercalado com tiroteios bem conduzidos, perseguições legais e lutas executadas por Liam Neeson, que não fazem feio perto de um Jason Bourne. Mesmo tendo a idade que tem, visível aos olhos do espectador, sua interpretação – de experiência e motivação condicionada – convence como a de astros do naipe de Bruce Willis em Duro de Matar 4.0, que também não é mais nenhum garoto, mas que abusa na porrada sem ficar ridículo.

Embora os diálogos não sejam excelentes, as frases de efeito, imprescindíveis em um bom filme de ação não causam apenas efeito. Mas vários efeitos, dentre eles choque. Aguardamos que seja dito algo, uma frase, ou apenas uma palavra, que às vezes não chega nem sequer a se completar, e um tiro a queima roupa é disparado sem hesitação. O resultado é vibrante, pois dispensa um monte de conversa mole e papo furado que na maior parte do filmes se torna maçante, pelo som de um tiro dado no momento certo, que responde por mil palavras. "Busca Implacável" é um dos melhores filmes de Morel desde não sei quando. Cinema de ação de qualidade inegável e bem condimentada. Luc Besson sabe produzir bons filmes quando quer. Por isso é bonito, bem apresentado, gostoso de ver e que dá aquela sensação de satisfação, como somente a glamorosa culinária francesa é capaz de criar. E o melhor: com uma sequência estreando em breve, ainda por cima, poderemos repetir. Somente espero que não vire marmita feita "Carga Explosiva".

Nota: 8/10


terça-feira, 7 de agosto de 2012

Crítica: À Beira do Abismo | Um Filme de Asger Leth (2012)


Uma produção cujo titulo é um prato cheio para uma crítica indecorosa

O que começa com uma premissa interessante, bem traduzida em um trailer perfeitamente editado, se perde ao não apresentar nada mais novo do que a boa ideia. Uma ação desesperada do protagonista para mascarar um propósito mais ambicioso é uma ideia genial, porém que não se sustenta a longo prazo devido aos furos do roteiro de Pablo F. Fenjves e pela direção apressada de Asger Leth. "À Beira do Abismo(Man on a Ledge, 2012), conta a história de Nick Cassidy (Sam Worthington), que após fugir das autoridades depois de brigar com seu irmão (Jaime Bell) decide provar sua inocência através de uma tentativa de suicídio, onde se hospeda em um bem localizado hotel, e ameaça saltar do parapeito, caso a negociadora (Elizabeth Banks) não compareça a tempo. Ao mesmo tempo em que as atenções se voltam para essa negociação, apenas como distração, do outro lado da rua é executado um plano mirabolante para provar que Nick é vitima de uma trama criminosa elaborada pelo milionário (Ed Harris) que acusou Nick de roubo e lhe custou à liberdade.

Através dessas duas tramas conjuntas, a história se desenrola sem grandes surpresas. As boas ideias disponíveis foram desperdiçadas precipitadamente no trailer, mesmo que o resultado extraordinário desse longa agrade a maioria. Porém, se houvesse uma postura de segurar a trama de suspense por mais tempo, adiando as revelações inevitáveis para o segundo ato, e trabalhando as tramas separadamente, talvez o resultado ainda fosse melhor. O desfecho teria mais impacto e o processo não seria tão desgastante até a chegada do final previsível. Essa mistura cinematográfica de A Negociação” com um Um Plano Perfeito” funciona dentro do possível, mas não se iguala aos comparados.  Aquelas situações onde tudo dá errado, porém se não tivesse dado errado, não teria tido um final feliz, pode irritar o espectador mais exigente por um roteiro menos perdido, que apenas tem como recurso alternativo se apoiar no carisma do elenco ou do final feliz. Uma trama de premissa cerebral requer um desenvolvimento à altura. O elenco corre incessantemente na busca pela precisão, mas o único elemento benéfico da trama – caracterizando a improvisação como norma de conduta – mora no imprevisível, que até empolga, mas apenas como entretenimento rápido. Sam Worthington sustenta a trama unicamente a base de carisma, deixando seu talento muito superficial – principalmente na interação com a negociadora que não se destaca – onde não rola química nenhuma com Elizabeth Banks, deixando a dupla desproporcional. Ed Harris como vilão é fantástico, mas não foi nesse filme que ele demonstrou seu talento. Enquanto os destaques se equilibram numa trama que balança com o vento nova-iorquino, o irmão do protagonista com sua namorada roubam as melhores cenas da ação. 

Detalhe que sempre me chama a atenção nos pôsteres dos filmes é quando as distribuidoras colocam pequenas fotos do elenco principal para destacar de forma complementar as informações do longa e valorizar o mesmo. Valorizar o elenco ou cumprir com alguma cláusula de contrato que exija esse implemento. A narrativa adotada pela direção, que sustenta a trama prioritária de "À Beira do Abismo", onde há a negociação, mesmo sendo mantida até o ultimo segundo, descarta qualquer esforço para torná-la realmente relevante na história. Enquanto isso, a execução da trama paralela, rouba literalmente a cena. Enfim, com uma proposta ambiciosa e uma execução sem grandes surpresas, "À Beira do Abismo" nos apresenta um thriller de suspense despretensioso e comercial, distante da realidade, em um cenário meramente monótono diante das possibilidades. Com um desfecho bagunçado e de difícil compreensão, a satisfação do espectador fica por conta do formato tradicional que a história tomou, ao qual é feito para agradar o mais comum dos espectadores.