quinta-feira, 14 de junho de 2012

Crítica: Dublê do Diabo | Um Filme de Lee Tomahori (2011)



Quando eu era ainda adolescente o Iraque havia invadido o Kuwait no início da década de 90 com a intenção de tomar o território e a posse do petróleo kuaitiano, e quando a nação americana intrometeu-se no conflito entre as nações árabes como força repositora da paz, de forma duvidosa devo dizer, eu sempre ouvia nos noticiários de que Saddam Hussein havia sido possivelmente alvejado em um bombardeio aéreo, porém a informação era complementada pela CIA com a possibilidade de ser apenas mais um de seus inúmeros sósias que desempenhavam seu papel de presidente com a função de resguardar sua segurança e confundir seus inimigos. Divulgava-se a notícia de que ele tinha dezenas de homens idênticos a ele, que ficavam expostos em lugares públicos em seu lugar caso houvesse um atentado que pusesse sua persona em perigo. Por isso quando me deparei com esse filme chamado "Dublê do Diabo" (The Devil`s Double, 2011), de cartaz de divulgação incomum e baseado em fatos reais, sabia que estava prestes a ver uma história inédita de interesse nostálgico, e ainda que distribuído pela Califórnia Filmes – que lança filmes que geralmente tem um acerto em cinco tentativas – poderia trazer uma surpresa. 



A trama é baseada na trajetória verídica de vida de Latif Yahia (Dominic Cooper), um soldado iraquiano que devido suas semelhanças físicas com Uday Hussein, filho do ditador Saddam Hussein, foi obrigado a se tornar sósia dele, onde testemunhou contra sua vontade as perversidades de um lunático homicida. Fez algumas cirurgias plásticas que apenas intensificaram suas semelhanças, tornando uma espécie de irmão gêmeo de aparência, contudo de caráter plenamente diferenciado. E como a goiaba não cai muito longe do pé, Uday faz jus ao título do filme, pois se comporta como sendo o próprio anticristo, pelas atrocidades que cometia impunemente durante o regime político do pai. Dominic Cooper faz o papel duplo, tanto de bravo sobrevivente e inevitável herói quanto o de vilão real, convincente em ambos os papéis, salva esse filme de ser uma bomba como corria o risco de ser. Sua interpretação é louvável mesmo não sendo uma estrela do primeiro time. Obviamente não se trata de nenhuma obra prima, nem nada disso, mas é um filme interessante pelo seu conturbado aspecto histórico, que em várias passagens é lembrado através de cenas reais de noticiários da época; pelo ambiente modificado lentamente pela tensão da população iraquiana; pelo avanço das tropas inimigas Xiitas sobre o solo do Iraque e pela eminente derrota da guerra. A direção encomendada fica a cargo de Lee Tomahori, que foca a trama pela perspectiva de Latif, frustrado com o destino que sua vida tomou depois que sua existência lhe foi negada em prol da sobrevivência de um pervertido sádico.  A narrativa adotada pela direção não da margem para erros grosseiros por sua experiência na direção de produções muito mais complexas como o da série "007", a qual já foi responsável no passado. Apesar do final simplório e preguiçoso, preso aos fatos como rédeas para um bom desenvolvimento de uma história cativante, basta assistir alguns minutos para ver que não se trata de nenhuma bomba lançada direto em DVD como estamos acostumados a ver nas prateleiras da locadora. "Dublê do Diabo" é apenas um filme sem o apelo de estrelas, erguido sobre um argumento interessante e sem espetáculos. 

Nota: 7/10

2 comentários:

  1. Eu nem saberia que esse filme existia se não fosse seu texto, e eu devo agradecer porque eu gostei muito do filme, principalmente por se tratar de uma história que eu não conhecia, e como ela é desenvolvida no filme que, por mais que esteja no ponto de vista do herói, ela não deixa de lado os traumas que o Uday passou e que formaram sua personalidade insana.

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Peguei esse filme na locadora sem expectativa nenhuma. Gostei da capa e levei para casa. Fiquei de cara.... gostei muito mesmo do filme, considerando que não esperava nada. Tenho apreciado o trabalho do ator (Dominic Cooper) que protagoniza esse longa. Seu trabalho em "Sem Perdão" (deixo o link: http://marcelokeiser.blogspot.com.br/2013/09/critica-sem-perdao-um-filme-de-niels.html) só me convenceu definitivamente quanto ao seu talento. Excelente ator!

      abraço

      Excluir